CARIRI
O Cariri é o principal polo de produção de seriguela do Ceará, que exporta para Bahia e Pernambuco. Os produtores ficam com menor parte dos rendimentos, por conta dos atravessadores
Melão é um dos produtos exportados pelo Ceará, que atualmente detém o segundo lugar no ranking da fruticultura. Instituto quer induzir cadeia produtiva da seriguela
24/1/2010
Tendo o Cariri como principal polo produtor, a seriguela ainda enfrenta baixos preço e qualidade nos cultivos da região
Fortaleza A seriguela é uma das frutas mais apreciadas na região Nordeste. Tem sabor de infância, de lembrança, renovada a cada colheita e que nos conecta a um tempo não totalmente perdido. Quem vive, viveu ou passou férias no Interior costuma guardar na memória afetiva e sensorial a coloração vibrante, o cheiro forte, adocicado e a textura suculenta ao deixar a boca tocar o fruto, cuja cor vai do amarelo, alaranjado até o vermelho vivo. E é com o objetivo de induzir uma produção de maior qualidade da seriguela e o aumento da renda dos produtores que o Instituto Frutal realizou uma pesquisa sobre a produção e comercialização da fruta nos municípios caririenses.
O estudo foi feito em parceria com a Fundação Mussambê e a participação dos alunos do curso de economia da Universidade Regional do Cariri (Urca). Financiada pelo Banco do Nordeste (BNB), a pesquisa aplicou cerca de 100 questionários em cada cidade do Cariri para elaborar um perfil da produção da seriguela na região. No Ceará, entre os meses de janeiro e março, período da colheita, a fruta pode ser encontrada facilmente em mercados e feiras, além de ser vendida na beira das estradas ou nos cruzamentos das cidades de maior porte.
"Acreditamos que a seriguela tem um alto potencial econômico, principalmente por conta da alta produtividade. Segundo os cálculos da pesquisa, um hectare plantado, com 445 pés, tem dado uma renda média de R$ 6 mil por ano aos produtores. Há ainda a vantagem da planta ser resistente à seca, o que permite uma garantia de renda quando as outras colheitas são perdidas, parcial ou totalmente, por conta da estiagem", comenta o presidente do Instituto Frutal, Euvaldo Bringel.
Fora produções isoladas nos municípios de Mombaça e Limoeiro do Norte, o Cariri é o principal produtor de seriguela no Ceará, com expectativa de colher, este ano, seis mil toneladas do produto. Apesar disso, segundo Bringel, a produção da seriguela é praticamente de "fundo de quintal", realizada por pequenos agricultores, que plantam seriguela como forma de complementar a renda.
A seriguela é comercializada pelo produtor a R$ 6,00 a caixa de 25kg. As frutas com muita qualidade chegam a alcançar até R$ 10,00 a caixa, valor muito baixo se comparado aos R$ 30,00 que o atravessador cobra para o consumidor pela caixa. Existe a perspectiva de mudança nesta cadeia a partir da construção de um centro de abastecimento na região do Cariri, o que permitiria aos produtores vender a seriguela sem passar pelo atravessador e a preços mais competitivos.
Dificuldades
Além do consumo interno, a produção de seriguela do Cariri é destinada para comercialização nos Estados da Bahia e Pernambuco. Mas, de acordo com o estudo, dois entraves dificultam a ampliação das exportações e do mercado consumidor: as baixas qualidade e resistência de algumas variedades cultivadas e a alta perecibilidade da fruta.
"Para alcançar novos mercados, é preciso investir no plantio de variedades com boa quantidade de polpa e sementes de tamanho pequeno, além de serem mais resistentes às pragas. Muitas das perdas ocorrem por conta do oídio, que provoca uma mancha na fruta popularmente conhecida como ferrugem e danifica o produto, que é rejeitado pelo mercado. Por outro lado, existe a vantagem de que é possível reproduzir as melhores variedades a forma assexuada. Ao tirar um galho da planta e colocando-a no solo, ela abrolha e desenvolve as mesmas características da árvore mãe", explica o presidente do Instituto Frutal, que também destaca a necessidade de trabalhar as questões do transporte e apresentação da fruta para o consumidor. "Quando se transporta a seriguela em caixas grandes, as frutas de baixo acabam sendo esmagadas pelo peso das de cima. O ideal seria comercializá-las em bandejas, o que também levaria a uma diferenciação de perfil de consumidor e de preço", explica.
Assim como o caju, a seriguela também sofre com a alta perecibilidade. Hoje,80% da produção é transformada em polpa para permitir maior durabilidade. Apenas o restante é comercializado "in natura". Para Euvaldo Bringel, uma forma de driblar o problema seria estimular o consumo interno, nas próprias cidades onde a seriguela é cultivada. "A fruta poderia ser processada nas próprias cidades que as produzem e destinadas, por exemplo, para a merenda escolar. Isto levaria um incremento para a alimentação local e evitaria o desperdício. Hoje, 50% da seriguela produzida no Ceará é perdida", lamenta. Todos estes fatores são perpassados, principalmente, pela falta de informação, a fim de que os produtores pudessem adotar outras práticas de manejo e comercialização.
AVANÇOS
CE é segundo em exportação de frutas
Apesar dos bons resultados, é preciso investir no potencial de novos produtos, como é o caso da seriguela
Fortaleza Em 2009, o Ceará alcançou a segunda posição entre os Estados exportadores de frutas no Brasil, com US$ 105 milhões. Perdeu apenas para a Bahia, que atingiu US$ 113 milhões no ano passado. Atualmente, o Ceará contribui com 18,7% das exportações brasileiras de frutas. Para o presidente do Instituto Frutal, isto representa um avanço significativo de um setor que, há 16 anos, contribuía apenas com 0,5% das frutas enviadas pelo País para o mercado exterior.
"Conseguimos um avanço significativo com o incremento da irrigação e a construção do Porto do Pecém, que se tornou um dos principais escoadouros da produção nacional", comenta Euvaldo Bringel. Mas para ampliar a produção e alcançar uma posição ainda melhor no ranking da fruticultura nacional, é preciso investir na qualidade dos potenciais produtos de exportação, como é o caso da seriguela, que pode ter um dia a mesma posição de destaque, como a banana e o melão.
"A seriguela é uma fruta praticamente desvinculada da questão da seca, cujas possibilidades devem ser melhor aproveitadas. Existe o potencial de casar a produção da seriguela com a criação de abelhas, que apreciam não a flor, mas a fruta. Também é preciso destacar o aspecto agroflorestal, já que o cultivo não envolve o desmatamento de áreas nativas e pode ser plantada de forma consorciada com o pequi e o babaçu".
Segundo o presidente do Instituto Frutal, o principal objetivo da pesquisa realizada na região do Cariri é promover e induzir a formação de uma cadeia produtiva da seriguela no Estado, gerando oportunidades de emprego e renda. Recentemente, foi realizado um workshop no auditório do Sebrae do Crato, a fim de apresentar a instituições ligadas ao setor as principais informações levantadas pelo estudo sobre o perfil da produção e comercialização de seriguela no Cariri. A ideia é que a pesquisa seja enviada a várias instituições para servir de base para políticas e outras ações para o setor.
"É preciso estruturar um modelo de negócio para a seriguela, abrir linhas de crédito para que os produtores possam aumentar a produção e investir em assistência técnica para chegar a um produto com um padrão apreciado pelo mercado externo. Tivemos discussões e mostramos a seriguela para investidores europeus e eles ficaram muito interessados. Na opinião deles é uma fruta que tem potencial. Mas é necessário que ela chegue com qualidade", avalia Euvaldo Bringel.
Ampliação
18,7
É o percentual com que o Ceará contribui na exportação de frutas, estando no segundo lugar no ranking nacional. Há 16 anos, a participação do Estado chegava a apenas 0,5%
Alternativa
"A seriguela resiste à seca, garantindo renda quando outras colheitas são perdidas"
Euvaldo Bringel
Presidente do Instituto Frutal
MAIS INFORMAÇÕES
Instituto Frutal
Av. Barão de Studart, 2360 - Sala 1305 Dionísio Torres, Fortaleza
(85) 3246.8126
Karoline Viana
Repórter
Fonte: Jornal Diário do Nordeste. Caderno Regional. Fortaleza, 24 de janeiro de 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário