quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Ceará - Funceme prevê pouca chuva



20/1/2010
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Workshop internacional reúne meteorologistas de vários Estados do Brasil para traçar o prognóstico de chuvas nos três primeiros meses para o Ceará e demais regiões


Funceme aponta que período de chuva será menor quando comparado com o do ano passado no Estado

Fortaleza. A quantidade de chuva para este ano, principalmente nos próximos três meses no Ceará, pode não superar as expectativas ou, mais precisamente, ir de encontro à previsão dos profetas do sertão. De acordo com o presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Eduardo Sávio Martins, "não se espera chuva na mesma proporção que o ano passado". A informação foi repassada durante a realização do XII Workshop Internacional de Avaliação Climática para o Semiárido Nordestino, iniciado ontem e que termina hoje, no Seara Praia Hotel, em Fortaleza.

Mesmo assim, Sávio Martins disse que o prognóstico oficial de chuvas no Estado só será divulgado amanhã, quando forem compiladas informações de todas as análises realizadas em parceria com instituições nacionais e internacionais, como da Alemanha e Estados Unidos, por exemplo. O objetivo do workshop é elaborar um prognóstico de chuvas para o Estado do Ceará durante a quadra chuvosa, que inclui os meses de fevereiro até maio.

Neste ano, participam, além da Funceme, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o "International Research Institute for Climate and Society" (do inglês, Instituto de Pesquisas Internacionais para o Clima e Sociedade) da Columbia University (USA), e representantes dos Núcleos estaduais de Meteorologia dos Estados do Maranhão, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia. Também participam pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

Os participantes fizeram avaliações das condições dos Oceanos Pacífico e Atlântico e dos resultados de modelos dinâmicos globais e regionais e de modelos empíricos de diversas instituições. Por se tratar de previsões meteorológicas, de acordo com Sávio Martins, os dados das outras instituições são considerados importantes porque têm sua contribuição para o cenário mundial e ajudam a entender as mudanças climáticas e a traçar uma previsão para a realidade local.

"Existem várias vantagens e quando se fala em Meteorologia, é a mesma língua tanto dentro quanto fora do País. A nossa atividade é global", salienta o presidente da Funceme. Além disso, Sávio Martins argumenta que devem ser observados inúmeros aspectos, como a vegetação, o solo e a temperatura das águas dos oceanos. "É um misto de informações que devem ser consideradas para traçar um prognóstico certo. Hoje, percebemos que os campos oceânicos não estão muito favoráveis à precipitação", diz.

Para o presidente do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Divino Moura, a participação das instituições é considerada importante para que seja realizado um prognóstico mais sólido, em que o índice de erros seja menor, além de contar com informações que são verificadas em todo o mundo. O trabalho feito junto com as instituições parceiras consiste em utilizar as mesmas informações coletadas sobre as mudanças climáticas e que podem ser úteis para projetar a quadra chuvosa no Ceará.

"Utilizamos informações não lineares e são muitos dados utilizados para que cheguemos a um consenso. Utilizamos informações sobre a atmosfera, conhecimento físico, termodinâmica entre outras, como as atividades oceânicas", diz. Para que se chegue a uma informação mais precisa, Moura explica que é preciso observar todos esses dados e elaborar uma média do que já ocorreu ou acontece com mais frequência.

"Ano passado nossa previsão foi muito acertada. O conhecimento científico nos proporciona esses acertos e temos a metodologia que nos garante maior índice de acertos", revela. Além disso, Divino Moura acredita que a região Nordeste é a mais previsível do mundo quanto à possibilidade de a meteorologia ser precisa. "É possível prever para qual lado está favorável a formação de chuvas", diz. Mesmo assim, Moura respeita - apesar de não adotar - a cultura utilizada pelos profetas da chuva quanto à possibilidade de acertarem, pela influência da natureza, se o ano será de muita ou pouca chuva.

"O que os profetas fazem é observar a natureza e isso já existe há muitos anos. Mas acredito que um animal, por exemplo, não é capaz de, pelo seu comportamento, prever o que acontecerá nos próximos três meses. Ele reage às mudanças, mas isso não garante que a previsão será de chuva ou de seca", diz Moura.

Ele também explicou que o fenômeno El Niño, caracterizado pela alteração na distribuição da temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico, não é igual todos os anos. A cada período, é preciso analisar suas interferências no clima para poder melhor prever como será o período de chuvas no Estado do Ceará.

Quando acontece o fenômeno El Niño, os ventos sopram com menos força em todo o centro do Oceano Pacífico, resultando numa diminuição da ressurgência de águas profundas e na acumulação de água mais quente que o normal na costa oeste da América do Sul. No Brasil, a variação no volume de chuvas depende de cada região e da intensidade do fenômeno. Na região Nordeste ocorre a diminuição de precipitação e secas, além de agravar a situação no sertão nordestino.

Sem chuvas

"Não se deve esperar por muita chuva como aconteceu no ano passado"
Eduardo Sávio Martins
Presidente da Fundação Cearense de Meteorologia

"2010 não é um ano muito bom para a ocorrência de precipitações"
Divino Moura
Presidente Instituto Nacional de Meteorologia

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Contradição

Ao contrário do que a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos do Ceará (Funceme) prevê, muitos profetas das chuvas, no Interior do Estado, acreditam que as precipitações ocorrerão com maior intensidade, já no começo da estação. Todos eles acreditam nos sinais revelados pela natureza para prever e indicar se 2010 será considerado um ano de cheia ou seca para o agricultor do semiárido nordestino.

MAIS INFORMAÇÕES
XII Workshop Internacional de Avaliação Climática para o Semiárido
20 de janeiro de 2010
Seara Praia Hotel - Av. Beira Mar, 3080

Maurício Vieira
Repórter

Fonte: Jornal Diário do Nordeste. Caderno Regional. Fortaleza, 20 de janeiro de 2010.

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=722367

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