quarta-feira, 24 de junho de 2009

100a. POSTAGEM NO BLOG DO SEMIÁRIDO!

Vamos comemorar o dia de São João!!!
Fiquei pensando qual seria o melhor tema para fazer parte da 100a. postagem do nosso Blog. E depois de separar algumas notícias, cheguei à conclusão de que não haveria melhor tema do que o dia de São João. O ápice das festas juninas, do tempo de grandes festas no nosso Sertão!
Lembrei da minha infância, das quadrilhas, das simpatias, das comidas gostosas: pé de moleque (o preferido da mãezinha), bolo de milho (nas casas das tias), muncunzá (feito pela vovó Fransquinha) e a deliciosa batata doce assada direto na fogueira (na casa do tio Neno)! Íamos de casa em casa, aproveitando o melhor de cada festa! E olha que morávamos (eu e meus primos) em Fortaleza. Mas, apesar de estarmos "na capital", ainda tivemos o privilégio de fazer parte de uma grande família, que manteve enquanto pode os costumes do interior. Morávamos perto uns dos outros, e ainda se podia deixar as crianças soltas na rua, a passear e brincar na noite de São João. Tempo bom!
E agora, aqui em Juazeiro do Norte, tive o prazer de presenciar um espétaculo. Ontem a noite (véspera de São João) o céu do Cariri mais parecia com o céu de Copacabana na noite de ano novo! Com uma diferença: a queima de fogos começou por volta das 8h da noite e já eram quase 2h da madrugada e eu ainda avistava fogos para as bandas do Parque do Juaforró e para as bandas de Barbalha. Pense num povo animado!
Viva São João! Viva o nosso Sertão de tantas tradições maravilhosas!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

AQUECIMENTO GLOBAL - Impactos no Semiárido brasileiro


A região Nordeste será uma das mais atingidas pelo aquecimento global, representando perda de 1/3 da sua economia
O problema do semiárido —atinge os nove estados nordestinos, além do Norte de Minas Gerais e o Espírito Santo — não se resume apenas à escassez de água e irregularidade climática. Um dos principais agravantes é a concentração de miséria, representada por baixos índices de educação, saneamento e saúde atingindo 2 bilhões de pessoas em quase todos os continentes, como destacou o professor Antônio Rocha Magalhães, diretor da II Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semi-Áridas (ICID+18). O evento será realizado de 16 a 20 de agosto, do próximo ano, no Ceará.


A solenidade de lançamento da conferência contou com a participação do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que fez o seguinte prognóstico: ´Estudos apontam que o semi-árido nordestino será o mais afetado pelo aquecimento, fazendo com que a região sofra perda de 1/3 na sua economia´. O ministro chamou a atenção , também, para a importância da preservação do bioma caatinga.


Um dos principais desafios da região é conciliar desenvolvimento econômico com preservação ambiental no semiárido que atinge cerca de 86% do território do Ceará. “A II ICID terá como foco o desenvolvimento nas regiões semi-áridas que poderão se tornar ainda mais áridas”, disse Magalhães. Devido à fragilidade dessas regiões, o agronegócio é indicado em apenas 3%. Em 97% pode acontecer a agricultura de sequeiro que precisa ser bem administrada.


Já Carlos Minc enfatizou que ´antes, o Ministério do Meio Ambiente se resumia em proteger a floresta Amazônica´. ele prometeu a criação de uma lei, denominado de Fundo de Clima que vai tirar 10% dos royalties do petróleo para aplicar na região do semi-árido.


´Serão R$ 900 milhões/ano sendo a metade destes recursos destinados ao Nordeste´, prometeu. Ele aposta no Ceará como o principal Estado brasileiro a produzir energia limpa, no caso, eólica. O governador Cid Gomes garantiu que, até o fim deste mês, o Ceará vai ser o Estado com maior potencial de energia eólica, estimando em 500 mega watts.


Fonte: Jornal Diário do Nordeste - Caderno Cidade - Fortaleza, 18-06-09
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=647396

quarta-feira, 17 de junho de 2009

World Day to Combat Desertification 2009

"Conserving land and water = Securing our common future"


This year's WDCD has a special significance for the UNCCD. 15 years ago on 17 June 1994, the Convention was adopted and opened to signature.


The World Day to Combat Desertification is observed every year on 17 June. This year, the Day's theme is "Conserving land and water = Securing our common future "


Desertification, land degradation and drought (DLDD) threaten human security by depriving people of their means of life – by taking away food, access to water, the means for economic activities, and even their homes. In worst-case scenarios, they undermine national and regional security, force people to leave their homes and can trigger low- or high-level intensity conflicts.

On this World Day to Combat Desertification, we would like to remind everyone threats to soil security unleashed by desertification, land degradation and the effects of drought constitute a peril to securing our common future.


The World Day to Combat Desertification has been observed since 1995 (General Assembly Resolution A/RES/49/1995) to promote public awareness relating to international cooperation to combat desertification and the effects of drought, and the implementation of the UNCCD. Last year, more than 40 events took place all over the world (see the 2008 report). We can celebrate the Day through organizing activities such as seminars, media events and campaigns. Every single activity involving community participation and cooperation is encouraged!
For more information about the Day, please contact: secretariat(at)unccd.int


17 de Junho - Dia mundial de Combate à Desertificação e à Seca


Hoje é mais um desses dias que devem ser encarados como uma oportunidade de reflexão. Um lembrete mais forte de nossa responsabilidade para com o Planeta e para com nossos semelhantes. Todo dia é dia de se cuidar da natureza de modo a evitar processos de degradação. A instituição de datas que marquem um movimento de luta é uma forma de chamar atenção de todos para o que se tem feito e para o que falta fazer. Assim é com o dia mundial de combate à Desertificação e à Seca.

Para o nosso Semiárido é um dia relevante uma vez que estamos inseridos em um dos Biomas mais vulneráveis a esse processo, com várias áreas da Caatinga já atingidas pela desertificação, e inúmeras famílias ainda susceptíveis aos efeitos das secas periódicas.

No Ceará, nesse dia 17 de junho de 2009, será lançada a da ICID+18 - Segunda Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas. Em 1992, precedendo a ECO-92, foi realizada no Ceará a primeira ICID, que lançou a Declaração de Fortaleza, docuemnto que buscava encontrar ações para a paromoção do desenvolvimento sustentável nas regiões semiáridas e serviu de base para as discussões sobre o tema na ECO-92.

Veja abaixo as notícias relacionadas com a ICID+18.
Solenidade contará com a presença do governador Cid Gomes e do ministro do Meio Ambiente Carlos Minc.

A solenidade de lançamento da ICID+18 - Segunda Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas – será realizada no próximo dia 17 de junho, às 17 horas, no auditório do Palácio Iracema. O evento contará com a presença do Governador Cid Gomes e do Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. A ICID+18 será realizada em Fortaleza, em 2010. O evento, que acontecerá de 16 a 20 de agosto do próximo ano no Centro de Convenções, servirá de base para as discussões da Rio + 20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, que se realizará em 2012.

A iniciativa do Governo do Estado do Ceará e Ministério do Meio Ambiente é organizada pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece), Coordenação de Combate à Desertificação do Departamento de Desenvolvimento Rural Sustentável, Ministério do Meio Ambiente e Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e tem o apoio Banco do Nordeste, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Mundial, Embrapa, INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Rede Clima, Ministério da Ciência e Tecnologia, Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade de Illinois, além de outras Universidades e Centros de Pesquisa.

A ICID +18 abordará os temas “Clima: Variabilidade e Mudanças Climáticas nas Regiões Semi-Áridas”, “Vulnerabilidade e Impactos das Variações Climáticas” e “Processos de Políticas Públicas para Adaptação a Mudanças Climáticas e para o Desenvolvimento Sustentável de Regiões Semiáridas”.

A expectativa é de que pelo menos 2000 participantes, de mais de 50 países participem do evento. De acordo com Antonio Rocha Magalhães, diretor da ICID+18, “antes do evento principal, serão realizados vários eventos preparatórios, ao longo de 2009 e primeiro semestre de 2010, com vistas a gerar trabalhos e informações de natureza científica e de políticas públicas sobre regiões semiáridas de todo o mundo”.
Cid Gomes e René Barreira se reunem em Washington (EUA) com BID e Banco Mundial para discutir a realização da ICID +18.

O governador Cid Gomes se reúne nesta semana, em Washington (EUA), com diretores do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID) e do Banco Mundial (Bird). Na pauta das reuniões estão as operações bancárias para o Estado, projetos para recursos hídricos, inovação tecnológica e a realização da II Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade em Regiões Semi-Áridas (ICID +18). O governador retorna ao Ceará na quinta-feira (21), quando participará da avaliação do PAC, juntamente com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, no Centro de Convenções, e da assinatura do memorando para a instalação da Companhia Siderúrgica do Pecém, no Palácio Iracema. Cid viaja acompanhado do secretário da Ciência e Tecnologia, René Barreira, e do técnico Joaquim Magalhães.

A ICID +18 será lançada no dia 17 de junho (Dia Internacional de Combate à Desertificação), em Fortaleza, com a presença do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. A Conferência será realizada em agosto de 2010 no Ceará. Durante um ano, cientistas, pesquisadores, entidades ambientalistas e os governos de mais de 50 países prepararão documentos e relatórios para serem debatidos durante o evento do ano que vem. O lançamento da ICID + 18 será acompanhado pela comunidade científica brasileira e internacional, além de veículos de comunicação dos cinco continentes. "A realização deste evento demonstra a preocupação mundial crescente de como as mudanças climáticas poderão afetar o desenvolvimento do semi-árido de vários países. O Ceará, por contar com grande área de semi-árido foi escolhido também por ter diversos estudos sobre este tema", afirma o governador Cid Gomes.

A ICID + 18 será o maior centro de discussões do mundo sobre o tema e acontecerá 18 anos após a sua primeira realização, também no Ceará. A ICID 92, realizada em janeiro de 1992, foi fundamental para que o tema do semiárido fosse debatido durante a ECO 92, no Rio de Janeiro. Assim como a primeira conferência, a ICID + 18 servirá como base para discussões na RIO + 20.
ICID + 18

A II Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (ICID + 18), acontecerá na Capital do Ceará, Fortaleza, entre os dias 16 e 20 de agosto de 2010. Ela está sendo organizada pelo Governo do Estado do Ceará e pelo Ministério do Meio Ambiente e já conta com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil, Embrapa, Universidade Federal do Ceará e Universidade de Illinois (EUA).

Os objetivos desta nova Conferência são reunir participantes do mundo inteiro para identificar e focalizar ações nos desafios e oportunidades que enfrentam as regiões áridas e semiáridas do planeta; atualizar o conhecimento sobre assuntos concernentes a regiões semi-áridas nos últimos 20 anos: aspectos ambientais e climáticos (variabilidade e mudanças), vulnerabilidades, impactos, respostas de adaptação e desenvolvimento sustentável; Explorar sinergias entre as Convenções das Nações Unidas no que concerne ao desenvolvimento de regiões semiáridas; e Gerar informações para subsidiar os governos e a sociedade com o objetivo de melhorar a sustentabilidade econômica, ambiental e social de regiões semiáridas.

Durante a ICID + 18, serão debatidos três temas principais: Clima. Variabilidade Climática Atual: secas, cheias. Cenários de Mudanças Climáticas; Vulnerabilidades e Impactos de variabilidade e mudança do clima; Políticas Públicas para adaptação a mudanças climáticas e para o desenvolvimento sustentável de regiões semi-áridas. Para embasar todo o conteúdo de debates para a ICID + 18, estão sendo encomendados cerca de 30 estudos de caso em todo o mundo para serem analisados por cientistas, pesquisadores e ambientalistas durante o evento.
A ICID 92
A primeira Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (ICID 92) foi realizada em Fortaleza entre os dias 27 de janeiro e 1 de fevereiro de 1992. Organizado pelo Governo do Estado do Ceará em parceria com a Fundação Esquel Brasil, a conferência recebeu ainda o apoio de entidades como Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Fundação MacArthur, Governo Holandês, Banco Mundial, Embrapa e CNPq.

A ICID 92 reuniu na época mais de 1200 pesquisadores e cientistas, que debateram sobre o semi-árido de cada região do mundo. Como resultado da Conferência, foi produzida a Declaração de Fortaleza - A busca do desenvolvimento sustentável para as regiões semi-áridas. Este documento serviu como base de discussões durante a ECO 92.

Além da Declaração de Fortaleza, a ICID 92 produziu uma série de documentos que contribuíram para o desenvolvimento de pesquisas em todos os países que contam com regiões semi-áridas. Entre estes documentos, estão os Anais da Conferência (publicados em português, espanhol, inglês e francês); o livro publicado pelo Ipea, Desenvolvimento sustentável no Nordeste; e o livro publicado pela Cambridge University Press, Climate Variability,Climate Change and Social Vulnerability in the Semi-arid Tropics.

Os representantes da ICID 92 na ECO 92, conseguiram ainda aprovar artigos dentro da Convenção de Combate à Desertificação (UNCCD). Para o Brasil, os resultados da ICID 92 culminaram na elaboração do Projeto Áridas: Uma metodologia de planejamento para o desenvolvimento sustentável do Nordeste. Uma conferência internacional sobre o tema foi realizada em 1995 em Pernambuco, que proporcionou a produção de planos de desenvolvimento sustentável para sete Estados brasileiros: Ceará, Bahia, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Rondônia (Projeto Umidas).
Fonte: http://www.sct.ce.gov.br/noticias/ceara-vai-sediar-conferencia-internacional-sobre
Para mais informações sobre desertificação no Brasil, consulte o Atlas das áreas susceptíveis à desertificação do Brasil / MMA, Secretaria de Recursos Hídricos, Universidade Federal da Paraíba; Marcos Oliveira Santana (org). Brasília: MMA, 2007. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/sedr_desertif/_arquivos/129_08122008042625.pdf

segunda-feira, 15 de junho de 2009

PECNORDESTE 2009 - Agronegócios para a pecuária

Fortaleza sedia, de hoje até quinta-feira, dia 18, o XIII Seminário Nordestino de Pecuária (PecNordeste 2009)

Fortaleza. Com expectativa de público de 40 mil pessoas, o PecNordeste acontece no Centro de Convenções do Ceará, objetivando fortalecer o agronegócio da pecuária, bem como estimular a integração dos diversos setores produtivos envolvidos. A meta é promover o desenvolvimento do setor na região Nordeste.

A abertura do evento acontece, hoje, às 19 horas, e contará com a presença da presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abre, e do titular do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Reinhold Stephanes. O tema deste ano será “Semi-Árido — pecuária e desenvolvimento”, a partir do qual o evento vai proporcionar palestras, cursos, mesas-redondas, simpósios, painéis, aulas práticas e oficinas de capacitação.

No total, as atividades promovidas no evento vão envolver dez segmentos produtivos: apicultura, aqüicultura e pesca, artesanato, avicultura, bovinocultura, caprinovinocultura, eqüinocultura, estrutiocultura (avestruz), suinocultura e turismo no espaço rural e natural. Também haverá um festival gastronômico durante a edição do PecNordeste 2009.

Durante a abertura do seminário, também haverá a entrega da Medalha Mérito Rural Professor Prisco Bezerra. A premiação é promovida pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), em reconhecimento aos relevantes serviços que os homenageados prestaram em prol do engrandecimento do setor agropecuário. A cada ano, a medalha é concedida a duas personalidades e a uma instituição. Pela área de política/administração pública, o deputado estadual Antônio Hermínio Bezerra Resende receberá a medalha deste ano. Pelo setor de produção/liderança classista, o escolhido foi o empresário Francisco de Araújo Carneiro, mais conhecido como Dico Carneiro. Já o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) será homenageado com a medalha na categoria instituição, representando a área científica, econômica, tecnológica ou de ensino. O prêmio será recebido pelo presidente da instituição financeira, Roberto Smith.

Dentre as atividades do PecNordeste 2009, uma das principais será a realização de oficinas tecnológicas, que serão realizadas em arenas especialmente montadas para as demonstrações práticas. A meta é aproximar os envolvidos nos diversos setores agropecuários daquilo que há de mais moderno para ampliar a produção e garantir qualidade ao consumidor. Segundo o coordenador da Comissão Técnico-Científica do PecNordeste, Antônio Peixoto, a expectativa é que 4 mil pessoas participem dessa programação durante o evento.

“A oficina é uma forma do produtor, do técnico ou demais interessados ficarem a par das principais inovações, das pesquisas em andamento e das tecnologias atualmente disponíveis para o setor. É aprender a fazer a partir da prática, capacitando nosso público para aplicar essas inovações em seu próprio negócio”, enfatiza Antônio Peixoto.


QUALIFICAÇÃO PRODUTIVA

Vitrine do Leite destaca tecnologias

Fortaleza. A caixinha de leite que as pessoas encontram diariamente no supermercado é resultado de uma série de procedimentos. Técnicas que englobam desde cuidados com a alimentação e a manipulação genética dos animais até procedimentos sanitários e de industrialização do produto. Durante o PecNordeste 2009, o público poderá acompanhar, passo a passo, as técnicas e procedimentos envolvidos para que o produto chegue de forma segura e com qualidade ao consumidor final.

Tudo isso será evidenciado pela Vitrine do Leite, um conjunto de estandes que vai mostrar, na prática, desde a forma correta da ordenha da vaca, as forragens e rações ideais para o animal leiteiro até demonstrações de higiene de uma mini-usina de pasteurização. Tudo para que o produtor possa saber o manejo correto e ampliar a sua produção.

Versatilidade do produto

O superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-CE), Eduardo Queiroz, disse que a idéia é mostrar que o leite é um produto sadio e de riquíssimos nutrientes, ideal para o consumo em qualquer idade, em especial para crianças e idosos. Ele acredita que, para continuar atraindo um maior número de consumidores de leite e derivados, deve haver investimentos do setor para garantir um produto higiênico e que consiga preservar todo o potencial nutritivo.

“Nosso principal desafio é levar a todos os setores envolvidos na produção e comercialização do leite informações sobre tecnologias, mercado, além de capacitá-los para que aquilo que ele produz não atenda apenas o mercado interno. O Brasil está caminhando para uma ampliação da produção, mas é preciso que o setor faça o dever de casa, elaborando uma agenda estratégica”.

Temas como inserção no mercado, tecnologias para prevenir a contaminação do produto, oficinas sobre inseminação artificial, vantagens do consumo de derivados do leite, produção de feno e forragens para o gado leiteiro serão abordados no estande. O objetivo é tentar, ao máximo, reproduzir as condições ideais de produção e industrialização nos estandes que estão montados no Centro de Convenções.

Aumento produtivo

“O importante é evidenciar que, quando o setor passa a adotar cuidados com o manejo, manipulação genética, prevenção de contaminação, controle de doenças no rebanho, é possível proporcionar um aumento significativo na produção de leite. A melhor forma de fazer isso é mostrar para o nosso público como deve ser o procedimento, quais os equipamentos envolvidos, os melhores insumos para alcançar determinado resultado”, explica Eduardo Queiroz.

Durante o evento, também será promovido o Encontro Nordestino de Produtores de Leite e Derivados, além de um concurso para escolha do melhor queijo coalho, nas categorias industrial, artesanal e também queijo manteiga.


FIQUE POR DENTRO

Revenda modelo vai orientar lojistas

A programação da PecNordeste traz uma série de novidades. Seguindo o modelo das aplicações práticas, o evento vai contar com a II Feira de Revenda de Produtos Agropecuários. Num espaço de 72 metros quadrados, será montada uma revenda agropecuária modelo, organizada e alinhada às principais tendências de mercado, conciliando um projeto de layoutização estratégica de loja e combinação adequado de produtos. Consultores vão ficar à disposição para fazer esclarecimentos relativos ao setor, investimento inicial estimado, a melhor forma de organizar o ponto de venda, entre outras dicas. Essa equipe permanecerá de plantão por toda a feira para atendimento a todos os visitantes que pretendam desenvolver o seu comércio ou montar um negócio desse tipo. O principal objetivo é modernizar e impulsionar o setor no Estado e região.



Karoline Viana
Repórter

Fonte: Jornal Diário do Nordeste - Caderno Regional - 15-06-09
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=646617

sábado, 13 de junho de 2009

Sobre o Filme Garapa - Os sujeitos da fome

Tema de livros e filmes, a fome e seus efeitos viram objeto de estudo de projeto de pesquisa.

Filme Garapa, de José Padilha




A barriga que dói sedenta de fome e dignidade das milhares de “Marias” e “Josés” que “farrapeiam” pelas ruas da cidade, seguem vencidas e presas a um tênue sôpro de vida. Nesse contexto, os “nossos sujeitos da fome” “cozinham” , diariamente, o pouco tempo que lhes restam... Tendo, apenas, como companhia o sono, o choro e a indiferença...
Muito mais que uma necessidade biológica ou uma consequencia de fatores climáticos como a seca e as inudações, a fome é um problema sócio-econômico grave responsável pela morte de milhares de pessoas em todo o mundo.
De acordo com pesquisas realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2004, cerca de 72 milhões de pessoas (39,8%) estão vulneráveis à fome em maior ou menor grau. Vale ressaltar que mais da metade (52%) da população afetada pela fome vive no Nordeste, e que o Maranhão é o Estado com maior percentual de lares com esse problema (18%).
Prova de existência
Com o objetivo de investigar os possíveis impactos da falta de alimentação durante a infância, e as diferentes estratégias de sobrevivência psíquica produzidas pela criança para agenciar uma experiência desta ordem; a professora doutora Karla Patrícia Martins, em conjunto com um grupo de psicólogas e alunas do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza (Unifor), desenvolveu a pesquisa “Infância e privação: a fome e a vontade de viver”. O estudo conta com a parceria do Instituto de Prevenção à Desnutrição (IPREDE), organização não-governamental, que há vinte e três anos intervém no campo das práticas e dos cuidados com crianças em sério estado de subnutrição.
Para a professora, a ideia de estudar a fome surgiu ainda em 2000, durante a elaboração de sua tese de doutorado, quando estudava as narrativas produzidas no sertão e a melancolia, articulando-as com os trabalhos de Freud sobre a construção do psiquismo. “Elegi a fome enquanto paradigma da dor psíquica aguda, aquela que nos remete à nossa condição de origem: a do desamparo primordial. A fome, levada à fronteira da dor sem palavras, expressão máxima do grito humano, colocaria o sujeito no limite da sua condição humana”, explica.
Na pesquisa, o grupo tentou identificar as múltiplas incidências da fome sobre a relação da criança com o brincar e os efeitos sobre a linguagem.“Encontramos grandes desafios e posso afirmar que só foi possível realizá-la com a parceria do IPREDE que, ao partilhar o interesse pelo tema, nos disponibilizou os seus arquivos, as suas instalações para os encontros com os pais e as crianças e o transporte da instituição para as visitas domiliciares”.
Garapa
Fonte de inspiração para filmes e livros, a fome é tema de discussão do documentário Garapa de José Padilha. Segundo Karla, o filme convoca os nossos sentidos a pensar na complexidade de respostas agenciadas pelas pessoaspara responder a experiência da fome. “Podemos ler algumas das críticas ao Garapa como testemunhos da recusa ao mal-estar diante da dor e da precariedade, em uma sociedade, onde o feio, o bruto, o vazio, devem ser calados”, frisa.
Embora haja políticas de combate a fome, a professora faz uma ressalva: “Percebemos que as políticas que se afirmam apenas pela distribuição do alimento correm o risco de fixar o sujeito na condição daquele que espera. Não significa dizer que os programas devem deixar de existir, mas apontar que apenas a doação não soluciona o problema. Sem dúvida, precisam considerar as implicações subjetivas e seus efeitos ”,finaliza ela.
ANA CECÍLIA SOARES
Repórter
FIQUE POR DENTRO
Em combate à desnutrição infantil
O Instituto de Prevenção à Desnutrição e à Excepcionalidade (Iprede) é uma ONG com 22 anos de atuação no combate à desnutrição infantil. Sendo referência nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil no tratamento do problema. Um dos principaisobjetivos da instituição é promover a saúde da criança, do adolescente e de suas famílias, com ênfase na nutrição e no desenvolvimento humano, produzindo tecnologias sociais replicáveis. Atualmente, conta com equipes multiprofissionais capacitadas para prestar assistência às necessidades globais de nutrição, crescimento e desenvolvimento da criança. Mantém em seu quadro profissionais de Nutrição, Medicina, Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia, Odontologia, Pedagogia, Assistência Social, Enfermagem e Psicomotricidade que prestam atendimento em base individual, em grupo e em atividades de estimulação precoce e terapêutica. Tem utilizado e testado os protocolos de atendimento para crianças desnutridas propostos pela Organização Mundial da Saúde. A ONG durante todos esses anos já atendeu 24.873 crianças e diariamente distribue 250 latas de leite em pó como parte do tratamento da desnutrição. O Iprede mantém um projeto piloto que realiza tratamento do sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes. Promove, também, o Leitura Solidária, que visa à venda de livros educativos.
DADOS
61,2% Segundo o IBGE, este é o percentual de domicílios com renda per capita de até um quarto de salário mínimo, com nível de insegurança alimentar moderada ou grave. Para os lares com rendimento superior a três salários mínimos per capita, isso só se aplica a 1%.
Fonte: Jornal Diário do Nordeste - Caderno 3 - Fortaleza, 14-06-09

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Recorde de reserva demanda novos açudes

Com o acumulado de água considerado recorde em 15 anos, o Ceará precisa de mais açudes para a próxima estação.


Açude Catanhão (Ceará). Foto: Melquiades Júnior


Limoeiro do Norte. Os reservatórios do Ceará entram na reta final do acúmulo recorde de água, e passados quatro meses do início da quadra chuvosa, o Estado desce da casa dos 95% da capacidade de reserva, um recorde em 15 anos de monitoramento da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh). A previsão é de que o Castanhão continue com quatro de suas comportas abertas por mais duas semanas. O Ceará está garantido de água por cerca de três anos de seca, mas, e os anos de cheia?
Mais 11 açudes serão construídos até o ano que vem, porque se em quatro meses de chuvas o acumulado subiu de 68% para 95%, o risco de colapso no abastecimento — em caso de inverno igualmente rigoroso no próximo ano — é maior. Na primeira quinzena de fevereiro, quando teve início a estação de chuvas, os 130 açudes monitorados pela Cogerh registravam 68,3% de acúmulo da capacidade. O Açude Trapiá III, em Coreaú, foi o primeiro a sangrar. Com 5,5 milhões de metros cúbicos, é um dos menores monitorados no Estado. Em 2009 houve sangria de pelo menos 117 açudes, dos quais 108 sangravam até ontem.
A Cogerh monitora 130 açudes no Ceará, mas existe um número maior de pequenos reservatórios, muitos em propriedades particulares, que não sofrem monitoramento, nem mesmo a fiscalização necessária desde a sua construção. Estes foram, em parte, responsáveis por casos de inundação em regiões habitadas próximas dos rios. Foi o caso de Morada Nova, onde 21 pequenos açudes arrombaram, aumentando a cheia na calha do Rio Banabuiú, provocando a cheia repentina no lugar. Em Iracema, também foi o arrombamento de um pequeno açude que levou água para parte da cidade, que em poucas horas atingiu 1,80 metros de inundação.
O Açude Castanhão, o maior do Estado, continua com quatro de suas comportas abertas, liberando ao todo 400 metros cúbicos de água por segundo (na cota 104,76 metros). Bem menos do que recebe do Rio Salgado, a montante – cerca de 150 metros cúbicos/segundo. O Castanhão atingiu seu recorde em 2009 na cota 105,65, e o percentual de 97,8% — em 2008 o seu volume durante as chuvas chegou a 84,5%. A cheia do açude fez o Dnocs liberar até mil metros cúbicos (ou um milhão de litros) por segundo para a calha do Rio Jaguaribe, que já estava muito cheio pelas mesmas chuvas e inundando parte das cidades de Limoeiro, Jaguaruana e Itaiçaba, pelos seus afluentes.
Conforme o engenheiro do Dnocs, Ulisses de Sousa, coordenador do Complexo Castanhão, as quatro comportas devem continuar abertas até que se reduza à cota 104 metros acima do nível do mar, o que deve acontecer nos próximos 15 dias. Ainda assim, o açude estará com mais de 90% da capacidade. Porém, a previsão do Dnocs é de que, mesmo fechado, o açude perca bilhões de litros de água por evaporação e desça para a cota 101 metros até o mês de janeiro de 2010.
Segundo Francisco Teixeira, diretor da Cogerh, o volume acumulado dá uma maior segurança ao Estado para os próximos anos que venham a ser de seca. O problema é se vier tanta água em 2010 quanto ocorreu neste ano. Em quatro meses, o aumento de 68% para 95% de água acumulada (de um total de 17,8 bilhões de metros cúbicos), somada às cheias dos maiores rios, já inundando as cidades, deixou preocupado o Governo do Estado. Foram 117 sangrando, dos 130 monitorados. Para se ter uma melhor idéia do aumento, basta saber que em 2006 houve sangria de 30 açudes monitorados. O período chuvoso de 2004 encerrou com reserva de 85,6%; 2005 com 71%; 2006 com 70,5%; 2007 com 62%; e 2008 com 85,8%.
Mas outros 11 açudes — três pelo Dnocs e oito pelo Governo do Estado — serão construídos até 2010, representando mais 1,57 bilhão de metros cúbicos de capacidade, aumentando em 8,8% o percentual de armazenamento. O mais aguardado é o Açude Figueiredo, localizado na região jaguaribana, com capacidade de 520 milhões de metros cúbicos.
Mais informações:
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) - Fortaleza - (88) 3218.7020
Melquíades Júnior
Colaborador
Fonte: Jornal Diário do Nordeste - Caderno Regional - Fortaleza, 12-06-09

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Mamona sem uso em Quixadá gera nova polêmica

Usina da Petrobrás em Quixadá - CE


Contratos da Petrobras com cooperativas para produzir biodiesel na mira da CPI da estatal


Os convênios firmados entre a Petrobras e cooperativas agrícolas no Nordeste para incentivar a produção da mamona para produção de biodiesel estão na mira da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que investiga denúncias contra a estatal no Senado. Os parlamentares pretendem cobrar explicações sobre os repasses de verbas do programa do biodiesel a entidades ligadas ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra) e à Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura).


As dúvidas surgiram porque apesar dos contratos terem sido assinados para estimular o plantio da oleaginosa para produção de biodiesel, nada foi utilizado até então pela Petrobras para esta finalidade. No Ceará, por exemplo, onde a empresa mantém uma usina para produção desse combustível, em Quixadá, a 160 quilômetros de Fortaleza, cerca de 1,2 tonelada de mamona, oriunda das safras de 2007 e 2008, estão estocadas em depósitos naquela Cidade e em Santa Quitéria, em condições apontadas como inadequadas. Estima-se que de março a setembro de 2008, a Petrobras tenha repassado pelo menos R$ 3,5 milhões a três cooperativas na Bahia e no Ceará.


Em maio último, conforme publicado na edição do dia 30 pelo Diário do Nordeste, o presidente da Petrobras Biocombustível, Miguel Rossetto, informou que foram assinados seis contratos de assistência técnica agrícola no valor total de R$ 22 milhões, para capacitação de 31.450 pequenos produtores de mamona no interior do Ceará e do Piauí. Os contratos foram celebrados com o Instituto Agropólos, com a Ematerce do Piauí e outras quatro cooperativas de microprodutores nos dois estados.


Questionada pela reportagem sobre as denúncias, a Petrobras rebate dizendo que não está utilizando o óleo de mamona para produção do biodiesel, porque a produção dessa oleaginosa ainda não atingiu a escala necessária, o que se reflete no preço atual do produto. ´Enquanto o litro do óleo da mamona custa R$ 3,00, o da soja é encontrado a R$ 1,90´, informa. Segundo a empresa, para obter escala e preço é essencial incentivar o aumento da produção e ela trabalha justamente para desenvolver o mercado agrícola regional e expandir a lavoura da mamona no semi-árido, ampliando, assim, a oferta do grão e reduzindo preços. Por isso, as usinas ainda operam apenas com óleo de soja e de algodão.


Com relação à mamona não utilizada para produção de biodiesel, guardada em depósitos no interior do Ceará, a Petrobras assegura que a oleaginosa está devidamente armazenada e está estocada para concentrar o transporte e o processo de esmagamento dos grãos, obtendo, assim, uma eficiência logística maior para escoamento.


Ainda de acordo com a estatal, a usina de Quixadá está em plena operação, porém utilizando óleo de soja e algodão, oriundos de outros estados do Nordeste e do Centro-oeste. No último leilão de biodiesel, a unidade vendeu a capacidade máxima autorizada de 11.280 m3 para entrega nos meses julho, agosto e setembro.

ANCHIETA DANTAS JR.
Repórter



Fonte: Jornal Diário do Nordeste - Caderno Negócios - Fortaleza, 09-06-09

sábado, 6 de junho de 2009

Cheias se agravam com desertificação

Foto: Melquíades Júnior


Alunos, professores e pesquisadores se reuniram, em Limoeiro do Norte, para debater sobre o meio ambiente.
Limoeiro do Norte. O volume de cheias e a rapidez com que as águas dos rios subiram não estão relacionadas somente com a quantidade de águas precipitadas em chuvas. O solo cearense está mais “nu”, devido ao acelerado processo de desertificação, por sua vez, influenciado pelo processo de aquecimento global, mas principalmente pela utilização predatória pelo homem. Têm se formado no Interior verdadeiros núcleos regionais de desertificação. O assunto está na programação da Semana do Meio Ambiente, que tem encerramento hoje na maioria das cidades. Na ocasião, estudiosos alertaram para a preservação do meio. Em questão não somente o comportamento das comunidades locais, mas dos modelos econômicos de utilização do território.
A semana destinada à conscientização ambiental ganhou, por um lado, dimensão mais séria na região jaguaribana e, também, a atitude além do discurso. Estudantes, professores e pesquisadores de vários cantos do Estado reuniram-se no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, campus Limoeiro, para o alerta que ganhou mais significado depois da força que a natureza mostrou com suas águas. Todo cuidado com preservação é pouco. E estudiosos alertaram para o aumento no processo de desertificação, o que aumenta a fragilidade do Estado com as chuvas que caem a cada ano. A professora Daniely Guerra, da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam), unidade da Uece, diz que a desertificação também é acelerada pelo homem, um gerador do desequilíbrio ambiental.
“Os níveis de degradação no Ceará estão caminhando para a desertificação. E um dos principais atributos para identificar é a vegetação. Ela se comporta como um espelho do ambiente. As espécies arbustivas têm sido preponderantes em lugares em desertificação, além da própria homogeneização da vegetação. A jurema, por exemplo, é um indicador de degradação, pois não é uma planta exigente de solo e água”, explica a geógrafa Daniely Guerra, que desenvolveu sua pesquisa de Mestrado em áreas com processo de desertificação no Vale do Jaguaribe, delimitando-se no município de Jaguaribe, a 200km de Fortaleza, que está com 37,7% do seu território em processo de desertificação.
Segundo Daniely, as conseqüências desse processo são o aumento da fragilidade do solo. E quando não há vegetação natural afixada, o solo fica desprotegido tanto dos raios solares como das chuvas. Assim, as gotas de chuva incidem diretamente na superfície e saem com uma velocidade bem maior que o normal, e que tende a degradar mais ainda o solo. Além disso, também aumenta o escoamento superficial, a água carrega sedimentos com maior velocidade para a calha dos rios, favorecendo o assoreamento, um dos diretamente responsáveis pelo nível de cheia dos rios neste ano. A desertificação ocorre nas áreas de clima árido, semi-árido e seco, e naturalmente esses ambientes estão suscetíveis à desertificação. Os participantes arrecadaram donativos para os atingidos pelas enchentes.


Mais informações:
Instituto Federal do Ceará
(88) 3423.6900


Melquíades Júnior
Colaborador


Fonte: Jornal Diário do Nordeste - Caderno Regional - Fortaleza, 06-06-09

sexta-feira, 5 de junho de 2009

REFLEXÕES SOBRE A CRISE AMBIENTAL: UMA VIAGEM ATÉ SUAS ORIGENS

Kênia - África
Brasil-América do Sul

Índia-Ásia


REFLEXÕES SOBRE A CRISE AMBIENTAL: UMA VIAGEM ATÉ SUAS ORIGENS

Por Suely Salgueiro Chacon



Introdução

Um sistema de desvínculo: Boi sozinho se lambe melhor... O próximo, o outro,
não é seu irmão, nem seu amante. O outro é um competidor,
um inimigo, um obstáculo a ser vencido ou uma coisa a ser usada.
O sistema, que não dá de comer, tampouco dá de amar:
condena muitos à fome de pão e muitos mais à fome de abraços.
Eduardo Galeano (1997)

O principal objetivo desse artigo é apresentar o processo histórico que levou a humanidade à crise ambiental que vem se acentuando desde as últimas décadas do século XX.
A humanidade parece perdida, a vagar por entre as conseqüências de uma crise de percepção que coloca em dúvida todo o processo civilizatório vivido até aqui. A análise aqui apresentada permite visualizar parcialmente o processo histórico pelo qual a humanidade conduziu sua relação com a natureza e com seus próprios semelhantes. O conhecimento adquirido pelos homens levou à geração de extraordinários avanços científicos, tecnológicos e econômicos, e, ao mesmo tempo, ao aumento dos problemas sociais e ambientais, resultantes do uso exacerbado e inconseqüente da natureza e dos próprios homens.
As reflexões conduzem a uma conclusão: só haverá uma real possibilidade de reversão dessa crise a partir de uma transformação profunda no pensar e no agir da humanidade, substituindo o ter pelo ser em sua ordem de prioridade.

1 As origens da crise

A ilusão de domínio sobre a natureza e a exacerbação do ter sobre o ser é um processo que surgiu com a criação do excedente, ainda no Modo de Produção Comunal Primitivo[1], o que permitiu a especialização e as trocas, e levou a uma contínua e crescente exploração da natureza pelo homem, bem como do próprio homem pelo homem. Essa exploração teve seu grande impulso com o surgimento de ideologias que pretendiam “libertar” o homem de qualquer tradicionalismo e/ou costumes arcaicos, normalmente ligados à vida rural, e à terra. Esse momento é também marcado pelo o fim do Modo de Produção Feudal e o surgimento do Modo de Produção Capitalista, que, transfigurando-se ao longo do tempo, é ainda hoje hegemônico. A crescente urbanização, bem como o crescimento exorbitante da população, a mudança da noção de distância e o poderio do mercado em detrimento da sociedade marcam essa época, quando a natureza é transformada em recurso natural e o homem em recurso humano.
Polanyi (1980), no capítulo 15 do livro A grande transformação, discute o processo histórico que transformou a terra em mercado e mercadoria, elucidando a diferença entre o uso e a propriedade privada dessa terra, que foi convertida pela economia em “recurso natural”. O autor compara esse processo ao processo análogo por que passou o trabalho, que levou o homem a se tornar “recurso humano”, ressaltando que essa transformação se deu mais rapidamente e mais facilmente do que a da terra.
“Imaginar a vida do homem sem a terra é o mesmo que imaginá-lo nascendo sem mãos e pés”. Essa frase de Polanyi (1980: 181) remete à colocação de Arendt (1997), de que a condição humana é dada pela natureza. Ser-se-á sempre um ser humano, onde quer que se esteja, mesmo fora do planeta, mas a condição humana é dada ao homem pela natureza, pela terra, que condiciona sua existência, permitindo sua sobrevivência no Planeta Terra. No entanto, terra é hoje, antes de tudo, uma fonte de lucro, não apenas per si, mas a partir de seus variados usos.

2 A natureza e o homem x a ciência e a produção

Em oposição à importância dada por Polanyi (1980) e Arendt (1997) à natureza, a maioria das teorias econômicas baseia o estudo da evolução do ser humano sobre a Terra na sua capacidade de produção. A partir de suas necessidades ele passa a interferir na natureza, observando-a até começar a transpor a etapa de total dependência para uma modificação lenta e gradual, que permitirá um domínio cada vez maior. O homem viveu diferentes períodos, de acordo com a evolução de suas forças produtivas, que por sua vez caracterizam os modos de produção[2] determinados historicamente, nos quais se encontram relações sociais de produção específicas.
O momento histórico que marcou a ruptura total do homem com a terra, quando ele foi dominado pela ilusão de dominar a natureza, de não pertencer a ela, mas de possuí-la, é muito bem caracterizado por Hobsbawm (1988). Ele analisa as duas grandes revoluções de cunho ideológico e econômico, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, respectivamente, que deram as bases para o predomínio da ciência e da técnica sobre todas as instâncias de atuação humana, quando a razão tornou-se soberana, descartando qualquer emoção, que supostamente impediria o progresso da raça humana. Esse momento histórico é baseado nas idéias do Iluminismo e do Liberalismo Econômico.
Hayward (1994) diz que o Iluminismo foi um avanço cultural a partir da ciência, e o domínio sobre a natureza foi considerado emancipatório teoricamente (ciência), materialmente (técnica) e praticamente (ética). Enquanto Hayward tenta desmistificar o Iluminismo, Hobsbawm (1988) descreve-o no contexto histórico, mostrando que na época essa doutrina de fato significou a libertação (da Idade Média).
Os dois principais centros dessa ideologia foram também o palco das duas grandes revoluções, França e Inglaterra. Ali a doutrina que pregava que uma sociedade livre era aquela comandada pela razão e pelo capitalismo floresceu. O objetivo do capitalismo era tido como do de libertar todos os seres humanos. “Todas as ideologias humanistas, racionalistas e progressistas estão implícitas nele, e de fato surgiram dele”. (Hobsbawm, 1988: 38) O capitalismo é visto então como o “libertador” – por isso Locke diz que a propriedade privada “liberta”.
Os príncipes usavam as idéias do iluminismo do mesmo modo que vários governos modernos usaram o planejamento. Mas eles estavam mais interessados em novos e mais eficientes métodos para arrecadar impostos e aumentar sua riqueza e poder, do que defender a idéias da nova sociedade “iluminada”. “Um príncipe necessitava de uma classe média e de suas idéias para modernizar o seu Estado; uma classe média fraca necessitava de um príncipe para quebrar a resistência ao progresso, causada por arraigados interesses clericais e aristocráticos”. (Hobsbawm, 1988: 39).
Esse é um processo muito semelhante ao que acontece hoje com o conceito de desenvolvimento sustentável, apropriado pelo discurso político como uma “palavra mágica”, que abre portas, consegue recursos e tudo justifica.
Hayward (1994) lembra que, segundo Kant, o iluminismo é a emergência do ser racional livre (Mündigkeit = autonomia madura: a liberdade de tomar uma responsabilidade e a capacidade de usar a própria liberdade). Ele surge com o intuito de libertar o homem do encantamento, dos mitos (da Idade Média), mas acaba levando a um novo culto, o “culto à razão”. Assim, o domínio sobre a natureza aparece dentro de um contexto moral determinado pela razão, que tudo justificaria. Fazendo par com as idéias iluministas, estão as idéias do Liberalismo econômico, base modo de produção capitalista, também inspiradas na razão e na lógica simples.
A ciência econômica tem evoluído em sintonia com os interesses das classes dominantes, forjando teorias que justificam e defendem o seu status quo, bem como a permanência e revitalização da estrutura e superestrutura necessárias.
O período histórico em que aconteceu a ascensão do capitalismo é também o momento da ascensão definitiva da economia à categoria de ciência. A doutrina clássica pregava as idéias liberais, por meio da crença irrestrita nos mecanismos de mercado, o qual seria regido por uma “mão invisível” que, segundo Adam Smith, faria as forças de mercado (demanda e oferta) permanecerem semrpe em equilíbrio, e não ocorressem crises no sistema produtivo. O sistema era assim perfeito, e por isso mesmo se conduzia pelas leis da “concorrência perfeita”. Era essa a base do Liberalismo Econômico, pelo qual o mercado era o ente fundamental, aliado à propriedade privada, para a organização social. O homem se curvava definitivamente aos ditames da produção e do consumo.
A partir desse ponto o que a humanidade passou a viver foi um processo de total subordinação aos ditames da produção, sempre justificados e amparados pela ciência. Para Leff (2001: 133):
“O processo civilizatório da modernidade fundou-se em princípios de racionalidade econômica e instrumental que moldaram as diversas esferas do corpo social: os padrões tecnológicos, as práticas de produção, a organização burocrática e os aparelhos ideológicos do Estado. A problemática ecológica questiona os custos socioambientais derivados de uma racionalidade produtiva fundada no cálculo econômico, na eficácia dos sistemas de seus meios tecnológicos”.
Buarque (In: Bursztyn, 1994: 77) vai além e diz que o século da economia foi na verdade o século XX. Para ele, enquanto a técnica surge como o grande instrumento de transformação do mundo físico, definindo-o como ele é, a economia se apresenta como a base racional para essa transformação, definindo como o mundo pensa, e até como ele desejou ser. “Para ser da ética, o século XXI terá que rever a maneira como a economia explica e intervém no mundo”.
Duas novas tensões surgem no final do século passado, segundo Buarque: “(...) a tensão entre realidade e desejo social; e a tensão entre o objeto limitado ao homem e seus produtos e um novo objeto capaz de incorporar toda a dimensão planetária”. (Buarque In: Bursztyn, 1994: 77) Essas tensões geram a necessidade de se revisar o pensamento no sentido de uma nova abrangência do objeto a ser estudado, de uma redefinição dos propósitos do processo social e de uma nova racionalidade, “(...) capaz de servir para a realização dos novos propósitos, levando em conta a nova abrangência”. (Buarque In: Bursztyn, 1994: 77)

3 Configurações da crise hoje

O homem, julgando-se acima de tudo e de todos, amparado pelo racionalismo e pelas descobertas da ciência, depositou seus principais desejos e aspirações na busca do sucesso econômico, pela vontade de ter, acumular cada vez mais riquezas, e, por conseguinte, mais poder sobre seus iguais, esquecendo-se assim da sua real condição de ser, na e com a natureza.
É inevitável diante dessa constatação que se busque explicações. A tomada de consciência cada vez maior leva a que o homem se questione acerca dos valores que guiaram o processo civilizatório dos últimos séculos, pelos quais a individualização, a competição, a dominação e exploração dos homens sobre os homens e sobre a natureza, se tornaram elementos essenciais da formação econômica e social, e como tais são vistos com naturalidade.
Tornou-se banal usar a natureza, devastando-a em prol do “progresso econômico”, que seria a única forma de gerar felicidade para todos. Como é normal usar a natureza, também o é usar o semelhante, explorando-o e, ao mesmo tempo, convencendo-o de que um dia ele será recompensado com a felicidade pelo seu “progresso econômico”, o que lhe garantirá sucesso social. Então, se ele derrubar o seu colega não estará errado, pois ele é na verdade um competidor, que poder roubar-lhe a possibilidade de ser o melhor. Assim torna-se também muito simples usar a natureza como depósito de lixo ou explorá-la até a exaustão. O que importa é o agora, o presente. Não há lições do passado, não há previsões para o futuro.
Herrera (In: Bursztyn, 1984: 57) diz que:
(...) o elemento de unidade histórica, fora dos períodos de transição, é a permanência de uma determinada “visão de mundo” entre gerações. Hoje ocorre que as novas gerações estão começando a ter uma visão de mundo bastante distinta da que tínhamos até agora. Não se utilizam de informações detalhadas sobre o passado, não tentam aprofundar muito a busca de novos modelos e têm uma percepção da coisas diferente das anteriores.
Para Herrera (In: Bursztyn, 1984) o primeiro esforço que se deve fazer é o de se ver como espécie. Para ele, o que de fato distingue o homem dos outros animais é a própria definição do homem, um animal não apenas social, mas cultural. E o homem pode mudar e superar momentos de crise, justamente por ser um animal cultural.
Herrera nos coloca uma pergunta essencial, que vem sendo repetida desde os primórdios da existência humana conhecida: qual o destino do homem? Que sentido tem o homem e a vida? Vai além, perguntando:
“O que aconteceu com o homem? O mais óbvio no Homem é que tem um aparato cognitivo, uma mente, que é infinitamente superior à capacidade de que precisa para sobreviver. Tanto é assim que o seu inimigo maior para sobreviver – e estamos agora em perigo de extinção – precisamente é essa capacidade mental infinita que tem”. (59)
E acrescenta:
(...) o Homem pela primeira vez tem a possibilidade de libertar-se realmente do meio. (...) não no sentido de ignorá-lo; libertar-se no sentido de não estar atado à escassez e ao trabalho rotineiro. (...) se não conseguirmos construir uma cultura que esteja de acordo com o verdadeiro destino humano, vamos destruí-lo.” (61)
Mas Herrera ressalta alguns pontos que ele considera favoráveis à humanidade nessa crise, que se arrasta cada vez mais grave, quais sejam:
- a miséria é um fenômeno sócio-político econômico, não um fenômeno natural, podendo o homem, com sua capacidade científica e tecnológica, satisfazer as necessidades básicas da humanidade. Ou seja, ele defende uma melhor distribuição da produção, em detrimento à concentração de renda crescente. É de fato a solução, mas infelizmente é uma colocação simplista, otimista e até ingênua, face aos interesses em jogo e ao fato da ciência está totalmente comprometida com o processo de acumulação capitalista que alimenta hoje a miséria crescente.
- existe uma “civilização mundial”, dada pelo “processo de unificação do mundo”, nunca percebido antes com tal magnitude e abrangência. É possível “conceber a diversidade das culturas humanas como uma totalidade orgânica”.
Porém, essa verdadeira “revolução” não se realizará sem que seja garantido a todos, sem distinção, o direito à vida. Para Sen (2000) não é possível falar de desenvolvimento sem antes tratar da liberdade do ser humano em seus aspectos primordiais, devolvendo às pessoas sua condição de agentes: “O desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços públicos e intolerância ou interferência excessiva de Estados repressivos”. (Sen, 2000: 18)
Como falar de agentes de desenvolvimento, ou de preservação da vida e dos recursos naturais para pessoas que vêm seus filhos morrendo de fome, seja no Sertão do Ceará, no interior da África ou nos guetos de Nova Iorque? Dos 6 milhões de habitantes da Terra, 2,8 bilhões vivem com menos de 2 dólares por dia e 1,2 milhões com menos de 1 dólar por dia. Nos países pobres um quinto das crianças morre antes de completar cinco anos e 50% das que sobrevivem são desnutridas (World Bank, 2000).
A busca de uma convivência mais saudável e equilibrada do homem com meio ambiente está implícita na busca por uma forma de viver mais digna e ética, que não mais exclua, porém que permita que cada um exerça sua liberdade, numa “cidadania planetária”, como propõe Boff (1998: 38), nos mesmos moldes da “sociedade civil planetária” de Leis (In: Viola et al, 1998:39), que vai mais além e propõe um “Governo Mundial” (In: Viola et al, 1998: 39 e 1996: Cap. 1), que priorizaria ações de defesa à vida na Terra, em todas as suas expressões.
Especificamente sobre a crise ecológica, Enzensberger (1976), nos diz que, antes de ter uma explicação eminentemente natural, ela é resultado de um processo social ligado intimamente ao modo de produção capitalista. O autor defende a seguinte hipótese central, levantada pela ecologia: “As sociedades industriais produzem contradições ecológicas que deverão conduzi-las à sua ruína em um tempo previsível”. (Enzensberger,1976: 9)
Essa hipótese, que pode ser vista também como um prognóstico, baseia-se em um conjunto de fatores sinérgicos: aumento incontrolável da população mundial; processos industriais que têm como base o uso de energias não renováveis, que dependem do uso de matérias-primas também não renováveis e que usam tal quantidade de água, que a recarga natural não é suficiente; o aumento da produtividade agrícola que tem levado a novos desequilíbrios ecológicos; contaminação do mundo: desequilíbrios e disfunções de todo tipo que resultam do intercâmbio entre a natureza e a sociedade humana, como conseqüência involuntária do processo de industrialização; poluição psíquica; poluição térmica (efeito estufa).
Enzensberger destaca ainda que:
“(...) uma dificuldade primordial da construção e refutação das hipóteses ecológicas está no fato de que todos os processos transcorrem de um modo paralelo, sem uma estreita interdependência; isto é válido também para os intentos de solução das crises ecológicas. Comumente, senão sempre, as medidas para limitar um dos chamados fatores críticos conduzem a que outro escape ao seu controle. Se trata de um sistema de regulações, ou melhor dizendo, de perturbações circulatórias unidas entre si de múltiplas maneiras.” (Enzensberger, 1976: 11)
Parece claro que apenas a partir de um processo longo e definitivo de tomada de consciência geral é que se pode esperar uma reversão desse quadro de crise.







Conclusão




É uma coisa ter cuidado com o ambiente,
de modo que perdure e permaneça benigno,
e outra inteiramente diferente é saber,
bem no fundo do coração,
que ele, como nós, é parte do planeta vivo.
Elizabet Sahtouris, 1998: 23.





A crise que vivemos hoje não é apenas ambiental, mas também é social, moral e econômica (inclusive!). É uma resultante da irresponsabilidade da humanidade perante si mesma, pela sua incapacidade de olhar o passado e de olhar-se no presente, ficando cega para o que pode vir depois, como conseqüência de seus atos, ou pela falta deles.
A rápida viagem aqui empreendida mostra, parcialmente, como o homem forjou os pressupostos dessa crise. Ao longo de sua história, a humanidade colocou-se em uma posição ilusória de comando, sentindo-se soberana diante da vida, da natureza, distanciando-se assim de sua origem, de seu estado natural.
Não existem “soluções mágicas”, capazes de reverter no curto prazo séculos de degradação ambiental e de reprodução de um modelo de dominação social excludente e explorador, contudo a tomada de consciência de cada um deve ser imediata.
A crise ambiental é também uma crise de percepção que coloca em dúvida todo o processo civilizatório vivido até aqui. A materialização de necessidades e desejos não significou a felicidade pretendida para todos, mas sim um movimento cada vez mais forte de exclusão e miséria de escala planetária, que se faz sentir em uma parcela cada vez maior da população.
Só haverá possibilidade de mudança real a partir de uma transformação profunda no pensar e no agir da humanidade, substituindo o ter pelo ser em sua ordem de prioridade. Esse é um ideal perfeitamente alcançável, no entanto, para se chegar até ele é preciso uma mudança radical na forma de sentir do ser humano, para que ele possa então perceber o seu entorno e renovar as relações na Terra e com a terra, promovendo um modo de vida mais digno e ético.
A ciência deve se posicionar corajosamente, libertando-se do jogo de interesses que tem comandado as ações humanas, e lutar para provar que é possível se alcançar um processo de desenvolvimento saudável e solidário, sem necessariamente promover a exploração do ser humano e a degradação ambiental. A ciência econômica, especialmente, deve, nesse contexto, se superar e encontrar soluções de desenvolvimento que levem em conta práticas sustentáveis de produção e, principalmente, definir mecanismos para a reversão da miséria, por meio de um melhor processo de distribuição das riquezas.
Mas entre a “moda” da proteção ambiental, que gera negócios e melhora a imagem de grupos, de políticos, de empresários e de governos, e a real consciência ambiental e social há ainda, em pleno século XXI, um longo caminho. Ao ser percorrido pode revelar diversas alternativas, não só para a valorização do meio ambiente, mas do próprio homem, levando este a despertar para sua real condição na natureza e não acima e fora dela.

Referências Bibliográficas

Arendt, Hannah. A condição humana. 8a Ed. Revista. Tradução de Roberto Raposo. Trad. Celso Lafer. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.
Aron, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. 5ª Ed. Trad. Sérgio Bath. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Boff, Leonardo. O despertar da águia: o dia-bólico e o sim-bólico na construção da realidade. Petrópolis- RJ: Vozes, 1998.
Buarque, C. O pensamento em mundo Terceiro Mundo. In: Bursztyn, M. (org) Para pensar o desenvolvimento sustentável. 2a. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Bursztyn, Marcel. O poder dos donos: planejamento e clientelismo no Nordeste. 2a Ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1984.
Cavalcanti, Clóvis (org.). Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. 2a Ed. São Paulo: Cortez: Recife: Fund. Joaquim Nabuco, 1999.



Chacon, Suely Salgueiro. O Sertanejo e o caminho das águas: políticas públicas, modernidade e sustentabilidade no semi-árido. Fortaleza: BNB, 2007. Série Teses e Dissertações. Vol. 8.
Chacon, Suely S. Desenvolvimento humano sustentável: (re)aprendendo com os excluídos. Projeto de tese apresentado para a Seleção de Doutorado do CDS-UnB. Brasília, 2000.
Chacon, Suely Salgueiro. Análise da sustentabilidade do projeto de implantação de sistemas de bombeamento de água movidos a energia solar no Estado do Ceará -Brasil. Fortaleza: UFC/CCA/DEA, 1994. Dissertação de Mestrado.
Enzensberger, Hans-Magnus. Contribución a la crítica de la ecologia politica. México: Univ. Autónoma de Puebla, 1976.
Galeano, Eduardo. O livro dos abraços. Tradução de Eric Nepomuceno. 5ª Ed. Porto Alegre: L&PM, 1997.
Goldblatt, David. Teoria social e ambiente. Lisboa: Instituto Piaget, 1998.
Hayward, Tim. Ecological Thought: an introduction. Cambridge/UK: Polity Press, 1994.
Herrera, Amílcar. A crise da espécie. In: Bursztyn, Marcel et al (orgs.) Que crise é essa? São Paulo: Brasiliense, 1984.
Hobsbawm, Eric J. A era das revoluções (1789-1848). Trad. Maria Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
Leff, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Trad. Lúcia M. E. Orth. Petrópolis/RJ: Vozes, 2001.
Leis, Héctor Ricardo. Ambientalismo: um projeto realista-utópico para a política mundial. In: Viola, Eduardo J. et al. Meio ambiente, desenvolvimento e cidadania: desafios para as ciências sociais. 2a. Ed. São Paulo: Cortez; Florianópolis: UFSC, 1998.
Leis, Héctor Ricardo. O labirinto: ensaios sobre ambientalismo e globalização. São Paulo: Gaia: Blumenau-SC: FURB, 1996.
Löwy, Michel. De Marx ao ecossocialismo. In: Sader, Emir e Gentilli, Pablo (orgs.) Pós-neoliberalismo II: que Estado para que democracia? Petrópolis: Vozes, 1999.
Ostrovitianov, K. V. et al. Manual de economia política. Vol. 1. 5ª . Ed. Tradução de Francisco Miguel. Lisboa: Editorial Estampa, 1972.
Polanyi, Karl. A grande transformação: as origens da nossa época. Trad. Fanny Wrobel. Rio de Janeiro: Campus, 1980. Cap. 15.
Sahtouris, Elizabet. A dança da Terra: sistemas vivos em evolução: uma nova visão da biologia. Trad. Ruy Jugmann. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1998.
Sen, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.
Shimidt, Alfred. História e natureza em Marx. In: Cohn, Gabriel. Sociologia: para ler os clássicos. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1977.
World Bank. World Development Report 2000: Attacking poverty. Washington: Oxford University Press, 2000.

[1] Utiliza-se aqui a caracterização dos Modos de Produção dada por Ostrovitianov (1972)

[2] Modo de Produção é um momento histórico de uma sociedade em função da evolução da produção; escrevem a história no tempo, as formações sociais escrevem-na no espaço.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

IV Congreso Iberoamericano sobre Desarrollo y Ambiente - CISDA IV


El IV Congreso Iberoamericano sobre Desarrollo y Ambiente “Construyendo Modelos Alternativos de Desarrollo” a celebrarse entre el 7 y el 10 de octubre de 2009, en la Pontificia Universidad Javeriana




Normas para la presentación de artículos y pósters

Todas las contribuciones al Congreso, ya sean artículos o pósters, estarán escritos en español o portugués. Igualmente, se aceptarán contribuciones en inglés resaltando que no habrá traducción simultánea.
Artículos para los seminarios
Los artículos presentados serán expuestos en los seminarios estructurados acorde a los ejes temáticos señalados anteriormente, y las personas u organizaciones interesadas en participar en esta actividad deberán enviar los resúmenes (abstracts) de los trabajos a la siguiente dirección electrónica: documentocisdaiv@javeriana.edu.co Los resúmenes (abstracts) deben tener el siguiente formato:

Título
Autor (es)
Filiación institucional
Correo electrónico, dirección postal y teléfono de contacto

El resumen o abstract debe tener entre 500 y 1.000 palabras a espacio sencillo en Times New Roman 12 pt.
Debe incluir introducción, metodología y resultados (si puede anexar una tabla o un gráfico sería importante)
Cinco (5) palabras clave, máximo
Eje temático en el que se encuadra el resumen
Evaluación de los resúmenes o abstracts para los seminarios: Los resultados de la evaluación de los resúmenes recibidos se notificará por correo electrónico previo concepto del Comité Científico
Recepción de artículos aceptados para los seminarios: el texto completo de los artículos que hayan sido aceptados se deberá remitir en formato electrónico (WORD únicamente) a documentocisdaiv@javeriana.edu.co a la mayor brevedad desde la notificación de aceptación del resumen o abstract.
El texto del artículo debe configurarse para papel tamaño carta, con las siguientes márgenes: izquierda (4 cm), derecha (3 cm), arriba (3 cm) y abajo (3 cm). El texto debe presentarse en letra tipo Times New Roman tamaño 12 pt. El trabajo debe tener una extensión de máximo 12 páginas, incluyendo figuras, tablas y referencias. Mayor información sobre las características del texto del artículo se dará una vez sea aceptado el resumen a través del documento denominado “Guía para la presentación de trabajos”. NOTA: Algunos de los artículos serán seleccionados por el Comité Científico, para su publicación posterior en la Revista REDIBEC, en las revistas de las Universidades organizadoras y en el libro de memorias del Congreso.
Pósters
Los posters tienen dos objetivos: i) Incluir los trabajos que aunque no han sido considerados para artículos, tienen la suficiente calidad para ser presentados como pósters. ii) Divulgar iniciativas, en la línea del tema central del Congreso, que lleven a cabo organizaciones sociales (ONG`s). Los pósters deben tener una dimensión de 130 cm de largo x 100 cm de ancho, y quienes quieran participar con este tipo de trabajo, deberán enviar a la dirección documentocisdaiv@javeriana.edu.co la siguiente información:
Título y eje temático del póster
Información de la persona u organización
Persona de contacto, teléfono y correo electrónico
Descripción del tipo de trabajo que realiza (máximo 2 hojas)

Aceptación de los pósters: la aceptación de los posters se notificará por e-mail, a medida que éstos lleguen a las oficinas de la organización del Congreso, y después de ser analizados por el Comité Científico y Organizador. Fechas claves para resumen, artículos y pósters En la siguiente Tabla se puede apreciar las fechas límites para estos tres productos.


Recepción de resúmenes: Julio 15 de 2009
Notificación de aceptación de resúmenes: Julio 31 de 2009
Recepción de Artículos: Agosto 30 de 2009
Recepción información relativa de posters: Julio 15 de 2009
Notificación de aceptación de posters: Julio 31 de 2009


“O capitalismo está evoluindo para níveis mais elevados de consciência”

Hazel Henderson

Graziela Wolfart
do IHU On-Line
03/06/2009 - 14:56:11

Em entrevista concedida por e-mail para a IHU On-Line, a economista inglesa, residente nos Estados Unidos, Hazel Henderson, afirma que sente a necessidade de uma nova economia e uma nova cultura do consumo que fossem mais condizentes com a sustentabilidade do planeta e declara que ajuda a promover isso com seus programas de televisão e sites - http://www.ethicalmarkets.tv/ e http://www.ethicalmarkets.com/. No Brasil, o endereço é http://www.mercadoetico.com.br/. Para ela, a principal limitação do pensamento econômico convencional, focado nos mercados e no PIB, é o “seu foco no dinheiro, que não tem valor intrínseco”. E explica: “O dinheiro é informação, uma invenção útil para rastrear as transações humanas com outros seres humanos e com a natureza, que são os ativos realmente valiosos. A ciência econômica está focada no materialismo e é patriarcal, visto que não valoriza o trabalho não-remunerado das mulheres e o trabalho voluntário nas comunidades”.


Henderson ainda acrescenta que, “quando os manuais de economia forem corrigidos e todos os custos sociais e ambientais da produção forem incluídos nos preços aos consumidores, perceberemos que a produção e o comércio locais e regionais são mais eficientes”. E continua: “O comércio mundial pode deixar de transportar bens e passar a intercambiar serviços - porque é melhor trocar receitas do que tortas e biscoitos. Nós, humanos, adoramos compartilhar arte, poesia, literatura, filmes, ideias e invenções uns com os outros. Isto é comércio mundial sustentável, que ajuda a desenvolver a solidariedade e consciência humanas”.


Hazel Henderson é colunista internacional e consultora de desenvolvimento sustentável. Como editora das publicações Futures (Reino Unidos) e WorldPaper (EUA), ela participa de muitos conselhos, inclusive do Worldwatch Institute e do Fundo Calvert de Investimento Social, ajudando a criar os Indicadores da Qualidade de Vida Calvert-Henderson. Foi assessora da National Science Foundation e dos US Office of Technology Assessment, de 1974 até 1980. Seu trabalho pode ser conferido na página www.hazelhenderson.com. Dos seus vários livros, foram publicados no Brasil Transcendendo a Economia (São Paulo: Cultrix, 1991), Construindo um mundo onde todos ganhem (São Paulo: Cultrix, 1996) e Além da globalização: modelando uma economia global sustentável (São Paulo: Cultrix, 1999).


Confira a entrevista.


IHU On-Line - Neste momento de crise global da economia capitalista, quais são as possibilidades e os limites de pensar uma economia que leve em conta a sustentabilidade da terra?


Hazel Henderson - O capitalismo está evoluindo rumo a níveis mais elevados de consciência em decorrência do colapso de seu maluco cassino global. Minha empresa, a Ethical Markets Media (Mercado Ético, no Brasil), defende a posição de que os mercados não podem existir durante muito tempo sem confiança, transparência, honestidade e prestação de serviço aos consumidores. Todos nós vemos a verdade desta posição agora. Assim, líderes econômicos e financeiros do Brasil, como, por exemplo, os do Instituto Ethos, muitas pessoas entrevistadas no programa de TV Mercado Ético e faculdades de administração de empresas, como a Amana Key, estão tomando a iniciativa de mudar o capitalismo e de tornar as empresas e os investidores mais responsáveis pela sustentação da Terra. Há iniciativas semelhantes nos Estados Unidos, no Canadá, na União Europeia, no Japão e na China. Os consumidores precisam de mais informações sobre produtos sustentáveis e precisam rejeitar as noções errôneas do materialismo e da acumulação que, pressupondo-se que as necessidades básicas estejam satisfeitas, não levam à felicidade.


IHU On-Line - Quais os desafios impostos pela globalização para o consumo sustentável?


Hazel Henderson - A globalização da produção e do consumo acarretou muito desperdício de energia no transporte e muita destruição da biodiversidade. Quando os manuais de economia forem corrigidos e todos os custos sociais e ambientais da produção forem incluídos nos preços aos consumidores, perceberemos que a produção e o comércio locais e regionais são mais eficientes. O comércio mundial pode deixar de transportar bens e passar a intercambiar serviços - porque é melhor trocar receitas do que tortas e biscoitos. Nós, humanos, adoramos compartilhar arte, poesia, literatura, filmes, ideias e invenções uns com os outros. Isto é comércio mundial sustentável, que ajuda a desenvolver a solidariedade e consciência humanas.


IHU On-Line - A partir dos novos indicadores de desenvolvimento sustentável e de qualidade de vida, quais seriam os novos conceitos de progresso e prosperidade para nossa época?


Hazel Henderson - Precisamos corrigir o PIB e incluir nele todos os custos e benefícios sociais e ambientais. O Brasil propôs isto na 1ª Conferência Internacional sobre a Implementação de Indicadores de Sustentabilidade e Qualidade de Vida realizada em Curitiba em 2003. Em 2007, o Parlamento Europeu realizou a Conferência Para Além do PIB, que eu tive a honra de ajudar a organizar, e meus Indicadores de Qualidade de Vida, junto com o Grupo Calvert, são atualizados regularmente em http://www.calvert-henderson.com/.


IHU On-Line - A senhora percebe a existência de uma dicotomia entre consumo ético e a economia capitalista da forma como está constituída hoje?


Hazel Henderson - Sim. Não pode haver consumo ético a menos que todos os custos sociais e ambientais sejam incluídos nos preços. A publicidade deveria ser regulamentada para ser veraz e não manipular os cidadãos apelando para o medo, a cobiça, a inveja e a vaidade, mas conscientizá-los a respeito dos imperativos da sustentabilidade. Em 2003, fundei a EthicMark for Advertising that Upflifts the Human Spirit and Society [Marca Ética para a Publicidade que Eleva o Espírito Humano e a Sociedade]. Nosso Terceiro Prêmio Anual será apresentado no Centro David Cooperriders para os Negócios como Agentes do Benefício Mundial na Universidade Case Western em junho.


IHU On-Line - Quais as principais limitações do pensamento econômico convencional, focado nos mercados e no PIB?


Hazel Henderson - Seu foco no dinheiro, que não tem valor intrínseco. O dinheiro é informação, uma invenção útil para rastrear as transações humanas com outros seres humanos e com a natureza, que são os ativos realmente valiosos. A ciência econômica está focada no materialismo e é patriarcal, visto que não valoriza o trabalho não remunerado das mulheres e o trabalho voluntário nas comunidades.


IHU On-Line - Quais seriam as mudanças necessárias para pensarmos em uma nova economia global que promova a justiça e a sustentabilidade em todos os níveis, do pessoal e local ao global?
Hazel Henderson - Para promover uma economia humana justa e sustentável, temos de deixar de lado Wall Street, Londres, Frankfurt e Tóquio, os chamados “centros financeiros”. Eles se revelaram como corruptos e destruidores da riqueza real nas comunidades e nos ecossistemas. Já que agora podemos nos comunicar de tantas formas novas, podemos deixar para trás o dinheiro e os grandes bancos e fazer comércio em nível local usando apenas a informação. Vemos todos os sistemas locais de escambo, bem como os sites de eBay, Craiglist, Freecycle, Microplace, Global Giving e outros. Podemos apoiar a agricultura local, os mercados de agricultores, intercâmbios livres e refazer nossos países para torná-los economias locais de fabricação caseira. Estas são as melhores redes de segurança - à medida que reformamos e regulamentamos o capitalismo no mundo inteiro.


IHU On-Line - Quais os principais desafios para a prática do consumo ético em nossos dias?


Hazel Henderson - Os antigos centros financeiros e seus autoproclamados “senhores do universo” ainda têm muitos lobistas e influenciam os políticos. Precisamos expulsar esses cambistas dos templos de nosso setor público e dos governos. Os meios de comunicação de massa ainda são apoiados por anunciantes que promovem mais consumo e desperdício. Podemos voltar nossa atenção para a mídia local e novas empresas que promovam produtos e serviços sustentáveis. Também precisamos de mais emissoras de rádio e televisão públicas e educativas.

(IHU On-Line)


Fonte: Mercado Ético

quarta-feira, 3 de junho de 2009

“Crise ambiental é o desafio central do século 21″

02/06/2009 - 15:48:22

“Vivemos meio século de um crescimento exponencial da população global, e os impactos da tecnologia e do crescimento econômico no ambiente planetário estão colocando em risco o futuro da humanidade, assim como ela existe hoje. Este é o desafio central que enfrentamos no século 21. Vamos ter que abandonar a velha crença - imposta não apenas pelos capitalistas - em um futuro de crescimento econômico ilimitado na base da exaustão dos recursos do planeta”. A afirmação é do historiador Eric Hobsbawm em entrevista exclusiva à jornalista Verena Glass e publicada na Revista Sem Terra, maio/junho 2009.

Eis a entrevista:

O planeta vive hoje uma crise que abalou as estruturas do capitalismo mundial, atinge indiscriminadamente atores em nada responsáveis pela sua eclosão, e que talvez seja um dos mais importantes “feitos” da moderna globalização. Na sua avaliação, quais foram os fatores e mecanismos que levaram a esta situação?

Nos últimos quarenta anos, a globalização, viabilizada pela extraordinária revolução nos transportes e, sobretudo, nas comunicações, esteve combinada com a hegemonia de políticas de Estado neoliberais, favorecendo um mercado global irrestrito para o capital em busca de lucros. No setor financeiro, isto ocorreu de forma absoluta, o que explica porque a crise do desenvolvimento capitalista ocorreu ali. Apesar do fato de que o capitalismo sempre - e por natureza - opera por meio de uma sucessão de expansões geradoras de crises, isto criou uma crise maior e potencialmente ameaçadora para o sistema, comparável à Grande Depressão que se seguiu a 1929, mesmo que seja cedo para avaliarmos todo o seu impacto. Um problema maior tem sido que a tendência de declínio das margens de lucro, típico do capitalismo, tem sido particularmente dramática porque os operadores financeiros, acostumados a enormes ganhos com investimentos especulativos em épocas de crescimento econômico, têm buscado mantê-los a níveis insustentáveis, atirando-se em investimentos inseguros e de alto risco, a exemplo dos financiamentos imobiliários “subprime” nos EUA. Uma enorme dívida, pelo menos quarenta vezes maior do que a sua base econômica atual foi assim criada, e o destino disso era mesmo o colapso.

Como resposta à crise econômica, governos e instituições financeiras estão concentrados em salvar os sistemas bancário e financeiro, opção que tem sido considerada uma tentativa de cura do próprio vetor causador do mal. No que deve resultar este movimento?
Um sistema de crédito operante é essencial para qualquer país desenvolvido, e a crise atual demonstra que isso não é possível se o sistema bancário deixa de funcionar. Nesse sentido, as medidas nacionais para restaurá-lo são necessárias. Mas o que é preciso também é uma reestruturação do Estado por exemplo, através das nacionalizações, a “desfinanceirização” do sistema e a restauração de uma relação realista entre ativos e passivos econômicos. Isso não pode ser feito simplesmente combinando vastos subsídios para os bancos com uma regulação futura mais restrita. De toda forma, a depressão econômica não pode ser resolvida apenas via restauração do crédito. São essenciais medidas concretas para gerar emprego e renda para a população, de quem depende, em última instância, a prosperidade da economia global.

Antes de se agudizar o caos econômico, o mundo começou a sofrer uma sucessão de abalos sociais e ambientais, como a falta global de alimentos, as mudanças climáticas, a crise energética, as crises humanitárias decorrentes das guerras, entre outros. Como você avalia estes fatores na perspectiva do paradigma civilizatório e de desenvolvimento do capitalismo moderno?

Vivemos meio século de um crescimento exponencial da população global, e os impactos da tecnologia e do crescimento econômico no ambiente planetário estão colocando em risco o futuro da humanidade, assim como ela existe hoje. Este é o desafio central que enfrentamos no século 21. Vamos ter que abandonar a velha crença - imposta não apenas pelos capitalistas - em um futuro de crescimento econômico ilimitado na base da exaustão dos recursos do planeta. Isto significa que a fórmula da organização econômica mundial não pode ser determinada pelo capitalismo de mercado que, repito, é um sistema impulsionado pelo crescimento ilimitado. Como esta transição ocorrerá ainda não está claro, mas se não ocorrer, haverá uma catástrofe.

O capitalismo tem adquirido, cada vez mais, uma força hegemônica na agricultura com o crescimento do agronegócio. Muitos defendem que a Reforma Agrária não cabe mais na agenda mundial. Como vê este debate e a luta pela terra de movimentos sociais como o MST e a Via Campesina?

A produção agrícola necessária para alimentar os seis bilhões de seres humanos do planeta pode ser fornecida por uma pequena fração da população mundial, se compararmos com o que era no passado. Isso levou tanto a um declínio dramático das populações rurais desde 1950, quanto a uma vasta migração do campo para as cidades. Também levou a um crescente domínio da agricultura por parte não tanto do grande agronegócio, mas principalmente de empreendimentos capitalistas que hoje controlam o mercado desta produção. Da mesma forma, têm aumentado os conflitos entre agricultores e iniciativas empresariais na disputa pela terra para propósitos não agrícolas (indústrias, mineração, especulação imobiliária, transporte etc.), bem como pela sua posse e pela exploração dos recursos naturais. A Reforma Agrária sem duvida não é mais tão importante para a política como foi há 40 anos, pelo menos Insustentável: crescimento econômico e da população colocam em risco o futuro da amizade na América Latina, mas claramente permanece uma questão central em muitos outros países. Na minha opinião, a crise atual reforça a importância da luta de movimentos como o MST, que é mais social do que econômica. Em tempos de vacas gordas é muito mais fácil ganhar a vida na cidade. Em tempos de depressão, a terra, a propriedade familiar e a comunidade garantem a segurança social e a solidariedade que o capitalismo neoliberal de mercado tão claramente nega aos migrantes rurais desempregados.

Na virada do século, um novo movimento global de resistência social tomou corpo através do que ficou conhecido como altermundialismo. Surgiu o Fórum Social Mundial, e grandes manifestações contra a guerra e instituições multilaterais, como a OMC, o G8 e a ALCA, na América Latina, ganharam as ruas. Na sua avaliação, o que resultou destes movimentos? E hoje, como vê estas iniciativas?

O movimento global de resistência altermundialista merece o crédito de duas grandes conquistas: na política, ressuscitou a rejeição sistemática e a crítica ao capitalismo que os velhos partidos de esquerda deixaram atrofiar. Também foi pioneiro na criação de um modo de ação política global sem precedentes, que superou fronteiras nacionais nas manifestações de Seattle e nas que se seguiram. Grosso modo, logrou formular e mobilizar uma poderosa opinião pública que seriamente pôs em cheque a ordem mundial neoliberal, mesmo antes da implosão econômica. Seu programa propositivo, porém, tem sido menos efetivo, em função, talvez, do grande número de componentes ideologicamente e emocionalmente diversos dos movimentos, unificados apenas em aspirações muito generalistas ou ações pontuais em ocasiões específicas.

Principalmente na América Latina, os anos 2000 trouxeram uma série de mudanças políticas para a região com a eleição de governadores mais progressistas. A sociedade civil organizada ganhou espaço nos debates políticos, mas os avanços na garantia dos direitos sociais ainda esperam por uma maior concretização. Como analisa este fenômeno?
O fator mais positivo para a América Latina é a diminuição efetiva da influência política e ideológica - e, na América do Sul, também econômica - dos EUA. Um segundo fator muito importante é o surgimento de governos progressistas - novamente mais fortes na América do Sul - , inspirados pela grande tradição da igualdade, fraternidade e liberdade, que comprovadamente está mais viva aí do que em outras regiões do mundo neste momento. Estes novos regimes têm se beneficiado de um período de altos preços de seus bens de exportação. Quão profundamente serão afetados pela crise econômica, principalmente o Brasil e a Venezuela, ainda não está claro. Suas políticas têm logrado algumas melhorias sociais genuínas, mas até agora não reduziram significativamente as enormes desigualdades econômicas e sociais de seus países. Esta redução deve permanecer a maior prioridade de governos e movimentos progressistas.

Diante da crise civilizatória, do fracasso do capitalismo e da inoperância dos sistemas multilaterais, que não foram aptos a enfrentar as grandes questões mundiais, as esquerdas têm se debatido na busca de alternativas; mas nem consensos nem respostas parecem despontar no horizonte. Haveria, em sua opinião, a possibilidade real da construção de um novo socialismo, uma nova forma de lidar com o planeta e sua gente, capaz de enfrentar a hegemonia bélica, econômica e política do neoliberalismo?

Eu não acredito que exista uma oposição binária simples entre “um novo socialismo” e a “hegemonia do capitalismo”. Não existe apenas uma forma de capitalismo. A tentativa de aplicar um modelo único, o “fundamentalismo de mercado” global anglo-americano, é uma aberração histórica, que potencialmente colapsou agora e não pode ser reconstruída. Por outro lado, o mesmo ocorre com a tentativa de identificar o socialismo unicamente com a economia centralizada planejada pelo Estado dos períodos soviético e maoísta. Esta também já era (exceto talvez se nosso século for reviver os períodos temporários de guerra total do século 20). Depois da atual crise, o capitalismo não vai desaparecer. Vai se ajustar a uma nova era de economias que combinarão atividades econômicas públicas e privadas. Mas o novo tipo de sistemas mistos tem que ir além das várias formas de “capitalismo de bem estar” que dominou as economias desenvolvidas nos trinta anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial.

Deve ser uma economia que priorize a justiça social, uma vida digna para todos e a realização do que Amaratya Sen chama de potencialidades inerentes aos seres humanos. Deve estar organizada para realizar o que está além das habilidades do mercado dos caçadores-de-lucro, principalmente para confrontar o grande desafio da humanidade neste século 21: a crise ambiental global. Se este novo sistema se comprometer com os dois objetivos, poderá ser aceitável para os socialistas, independente do nome que lhe dermos. O maior obstáculo no caminho não é a falta de clareza e concordância entre as esquerdas, mas o fato de que a crise econômica global coincide com uma situação internacional muito perigosa, instável e incerta, que provavelmente não estabelecerá uma nova estabilidade por algum tempo. Entrementes, não há consenso ou ações comuns entre os Estados, cujas políticas são dominadas por interesses nacionais possivelmente incompatíveis com os interesses globais.

Conceitos como solidariedade, cooperação, tolerância, justiça social, sustentabilidade ambiental, responsabilidade do consumidor, desenvolvimento sustentável, entre outros, têm encontrado eco, mesmo de forma ainda frágil, na opinião pública. Acredita que estes princípios poderão, no futuro, ganhar força e influenciar a ordem mundial? Vê algum caminho que possa aproximar a humanidade a uma coabitação harmoniosa?

Os conceitos listados estão mais para slogans do que para programas. Eles ou ainda precisam ser transformados em ações e agendas (como a redução de gases de efeito estufa, encorajada ou imposta pelos governos, por exemplo), ou são subprodutos de situações sociais mais complexas (como “tolerância”, que existe efetivamente apenas em sociedades que a aceitam ou que estão impedidas de manter a intolerância). Eu preferiria pensar na “cooperação” não apenas como um ideal generalista, mas como uma forma de conduzir as questões humanas, como as atividades econômicas e de bem estar social. Me entristece que a cooperação e a organização mútua, que eram um elemento tão importante no socialismo do século 19, desapareceram quase que completamente do horizonte socialista do século 20 - mas felizmente não da agenda do MST. Espero que esta lista de conceitos continue conquistando o apoio e mobilize a opinião pública para pressionar efetivamente os governos. Não acredito que a humanidade alcançará um estado de “coabitação harmoniosa” num futuro próximo. Mas mesmo se nossos ideais atualmente são apenas utopias, é essencial que homens e mulheres lutem por elas.

O senhor, que estudou com profundidade a história do mundo e as relações humanas nos últimos séculos, o que espera do futuro?

Se a crise ambiental global não for controlada, e o crescimento populacional estabilizado, as perspectivas são sombrias. Mesmo se os efeitos das mudanças climáticas possam ser estabilizados, produzirão enormes problemas que já são sentidos, como a crescente competição por recursos hídricos, a desertificação nas zonas tropicais e subtropicais, e a necessidade de projetos caros de controle de inundações em regiões costeiras. Também mudarão o equilíbrio internacional em favor do hemisfério Norte, que tem largas extensões de terras árticas e subárticas passíveis de serem cultivadas e industrializadas. Do ponto de vista econômico, o centro de gravidade do mundo continuará a se mover do Oeste (América do Norte e Europa) para o Sul e o Leste asiático, mas o acúmulo de riquezas ainda possibilitará às populações das velhas regiões capitalistas um padrão de vida muito superior às dos emergentes gigantes asiáticos. A atual crise econômica global vai terminar, mas tenho dúvidas se terminará em termos sustentáveis para além de algumas décadas. Politicamente, o mundo vive uma transição desde o fim da Guerra Fria. Se tornou mais instável e perigoso, especialmente na região entre Marrocos e Índia. Um novo equilíbrio internacional entre as potências - os EUA, China, a União Européia, Índia e Brasil - presumivelmente ocorrerá, o que poderá garantir um período de relativa estabilidade econômica e política, mas isto não é para já. O que não pode ser previsto é a natureza social e política dos regimes que emergirão depois da crise. Aqui as experiências do passado não podem ser aplicadas. O historiador pode falar apenas das circunstâncias herdadas do passado. Como diz Karl Marx: a humanidade faz a sua própria história. Como a fará e com que resultados, muitas vezes inesperados, são questões que ultrapassam o poder de previsão do historiador.

Fonte: Mercado Ético
http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/crise-ambiental-e-desafio-central-que-enfrentamos-no-seculo-21/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=mercado-etico-hoje