CEARÁ - VALE DO CURU
Na terra em que o bode é rei, programa busca incrementar renda de jovens e incentivar produção de carne e leite
Tejuçuoca O bode é a principal vitrine deste município, localizado a 155 quilômetros de Fortaleza. Detentora do título de "capital nacional do bode", Tejuçuoca é alvo de um programa inédito no Nordeste: o Bolsa Bode. Os 20 jovens já foram selecionados para fazer parte do programa. Metade do grupo ganhará dez cabras. A outra metade, dez ovelhas.
Um auxílio mensal de R$ 100,00 ajudará a cobrir gastos com vacinas e ração. Os jovens passarão por oficinas para aprender a criar os animais. Em contrapartida, a Prefeitura promete comprar a carne e o leite produzidos.
"Tenho recebido elogios dos colegas prefeitos e de órgãos de governo. A questão do Bolsa Bode criou um marketing, mas o essencial do projeto é a geração de renda, de inclusão social. Não recebi nenhuma crítica até agora, só muitos parabéns e elogios", conta o prefeito da cidade, Edilardo Eufrásio.
Símbolo da cidade
O bode é o verdadeiro xodó da cidade de 16 mil habitantes. Em muitas famílias, o bode é considerado animal de estimação, alimentado com mamadeira e criado dentro de casa. "As pessoas têm muita estima pelo bode. Às vezes, fica um filho rejeitado, a cabra não consegue criar porque falta leite, aí aparece a dona-de-casa que traz para si essa responsabilidade", observa o prefeito.
De acordo com o secretário do Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente, Paulo César, existem hoje 16 mil caprinos em Tejuçuoca, o equivalente a um animal para cada morador. Ele também dá nome a um festival realizado todos os anos, o Tejubode. "Ano passado, a melhor sobremesa eleita no festival foi o sorvete de leite de cabra", conta o prefeito. "Se o presidente Lula criou o Bolsa Bola e o Bolsa Olimpíada, agora em janeiro criamos o Bolsa Bode".
Sem indústrias, Tejuçuoca garante a maior parte de sua renda com agricultura familiar, cultivo de milho, feijão e criação de caprinos e ovinos. Para estimular a produção no município, restou recorrer à "vitrine" da cidade: o bode. O único porém era não copiar a fórmula do Bolsa Família.
"O Bolsa Família é um programa que traz apoio ao pequeno produtor, mas a gente sentiu que ele tinha que dar um retorno. A ideia era criar um programa que tivesse produção. Queria dar um valor, mas que gerasse renda". Cerca de 40 jovens se inscreveram para participar do programa.
Vocação
Foram selecionados os que estavam dentro da faixa etária indicada (entre 18 e 27 anos), com renda familiar baixa e incluídos no Bolsa Família. O principal critério de seleção, no entanto, foi a vocação. "Na ficha de inscrição, cada um teve que explicar por que queria participar do programa e seu objetivo. O critério era a gente sentir que ele queria participar e não só receber o benefício, o que mostra vocação para a atividade".
Os selecionados receberão "emprestado" um reprodutor para fazer o rebanho aumentar. O programa terá duração de 24 meses. O auxílio mensal de R$ 100,00 será concedido apenas nos 12 primeiros meses e o recebimento dependerá do cumprimento de metas como concluir cursos de capacitação, implantar infraestrutura etc. Nos outros 12 meses, os beneficiados continuarão a ter a compra do leite e da carne garantidos pela Prefeitura, mas deverão se manter por conta própria. "Os programas são necessários, mas tem que se pensar numa política de futuro, criar programas estimulando a atividade produtiva. Senão, fica como se fosse uma aposentadoria. E a pessoa, quando é cortada, fica revoltada, acha que aquilo tinha que ser a vida inteira. Tem que conscientizar que esse programa é uma forma de apoio para seu próprio negócio".
Ao final de cada ano, os bolsistas terão que devolver um animal, que será "reinvestido" em novas turmas do Bolsa Bode. A compra da carne e do leite, que terão preços fixos, atenderá a necessidades da prefeitura.
Segundo Edilardo Eufrásio, ao menos 30% da merenda escolar da cidade têm que ser adquirida da agricultura familiar. O prefeito também diz que quer inscrever os futuros produtores em programas de compra subsidiada do Governo Federal, para garantir a comercialização.
Outros R$ 100 mil vão para garantir assistência técnica do programa e garantir a sustentabilidade. Serão construídos 20 apriscos, implantadas 20 capineiras e plantadas 150 mil raquetes de palma numa área de 15 mil hectares, além de um banco de proteínas.
PERSPECTIVAS
Expectativa de fixar homem no campo
Tejuçuoca Francisco Micheldon dos Santos Mendes, de 19 anos, residente na localidade de Varzante Grande não esconde a alegria de estar participando do programa. "Antes não tinha nenhum tipo de renda, trabalhava para meu pai, hoje me sinto um cidadão responsável porque vou cuidar de meu próprio negócio". Micheldon estuda Agrotécnica em Umirim e faltam dois módulos para concluir o curso. Para ele, isso irá facilitar a sua vida, porque passará a trabalhar dentro de sua área e poderá ajudar na assistência dos colegas. Já Joelma Ferreira Bernardo, de 18 anos, já tem experiência com a criação de cabras e se mostra feliz com a inovação do programa. "Vai ser a grande oportunidade, para que eu possa ter o meu próprio negócio. Criar um animal que tem aptidão para nossa região é ótimo".
Na próxima edição do Tejubode, todos os 20 criadores irão expor seus animais em vitrines para dar um maior incentivo a outros jovens que queiram entrar no programa. Na cidade em que há um bode para cada morador, a tendência é que, com a inovação do programa, o número de animais aumente ainda mais. Na opinião do presidente da Associação dos Criadores de Caprinos Leiteiros do Ceará, Manoel Ricarte, os animais com uma qualidade racial leiteira e com aptidão e adaptação na região serão peça chave para o sucesso do projeto.
"Aproveitar os recursos naturais típicos de Tejuçuoca com um complemento de ração balanceada. Esta é a receita para produzir o leite com menor custo, e assim incentivar o produtor". Para o presidente, a maior riqueza do Bolsa Bode será o combate à desnutrição infantil. "Será um grande componente para combater a mortalidade de crianças, apoiar gestantes e pessoas da terceira idade", prevê. O gerente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão do Ceará (Ematerce), Fernando Castro, elogiou a iniciativa. "Estamos prontos para dar toda assistência ao Bolsa Bode", garante.
"Queremos dar oportunidade para que o povo possa trabalhar e viver com dignidade e cidadania, por meio de seu próprio esforço", finalizou Edilardo Eufrásio. O Bolsa Bode tem outra função social: fixar o jovem no campo, acabando com o êxodo rural. Outra inovação é a presença de duas mulheres no programa, as tecnológas Joelice Santos Silva e Maria Carla Ferreira Lima que dão assistência técnica ao projeto no campo.
MAIS INFORMAÇÕES
Prefeitura de Tejuçuoca
(85) 3323.1158 (85) 3323.1146
Secretaria de Desenvolvimento Rural
(85) 3323.1273
regional@diariodonordeste.com.br
Fonte: Jornal Diário do Nordeste. Caderno Regional. Fortaleza, 31 de janeiro de 2010 http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=728170
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