sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Felicidade Interna Bruta


Felicidade Interna Bruta é uma nova forma de medir a riqueza de um país

A riqueza de uma nação não está só nos bens materiais, mas também na capacidade de seu povo de viver bem.




Em vez de medir o Produto Interno Bruto, países como a França e o Japão propõem agora o cálculo da Felicidade Interna Bruta. A riqueza de um país não está só nos bens materiais, mas também na capacidade de seu povo de viver bem. O Conta Corrente Casual desta sexta-feira (30) vai falar sobre esse conceito mais amplo de medição da riqueza de um país. A FIB é um conceito que segue quatro diretrizes: desenvolvimento econômico sustentável, preservação da cultura, conservação do meio ambiente e boa governança. Nossos convidados são o economista Sergio Besserman, a pesquisadora do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP, Rosa Alegria; e o ator David Pinheiro. 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

ARTIGO - Leonardo Boof - Outro paradigma: escutar a natureza


Outro paradigma: escutar a natureza

26/12/2011
Agora que se aproximam grandes chuvas, inundações, temporais, furacões e deslizamentos de encostas temos que reaprender a escutar a natureza. Toda nossa cultura ocidental, de vertente grega, está assentada sobre o ver. Não é sem razão que a categoria central – idéia – (eidos em grego) significa visão. A tele-visão é sua expressão maior. Temos desenvolvido até os últimos limites a nossa visão. Penetramos com os telescópios de grande potência até a profundidade do universo para ver as galáxias mais distantes. Descemos às derradeiras partículas elementares e ao mistério íntimo da vida. O olhar é tudo para nós. Mas devemos tomar consciência de que esse é o modo de ser do homem ocidental e não de todos.
Outras culturas, como as próximas a nós, as andinas (dos quéchuas e aimaras e outras) se estruturam ao redor do escutar. Logicamente eles também veem. Mas sua singularidade é escutar as mensagens daquilo que veem. O camponês do antiplano da Bolívia me diz: “eu escuto a natureza, eu sei o que a montanha me diz”. Falando com um xamã, ele me testemunha: “eu escuto a Pachamama e sei o que ela está me comunicando”. Tudo fala: as estrelas, o sol, a lua, as montanhas soberbas, os lagos serenos, os vales profundos, as nuvens fugidias, as florestas, os pássaros e os animais. As pessoas aprendem a escutar atentamente estas vozes. Livros não são importantes para eles porque são mudos, ao passo que a natureza está cheia de vozes. E eles se especializaram de tal forma nesta escuta que sabem, ao ver as nuvens, ao escutar os ventos, ao observar as lhamas ou os movimentos das formigas o que vai ocorrer na natureza.
Isso me faz lembrar uma antiga tradição teológica elaborada por Santo Agostinho e sistematizada por São Boaventura na Idade Media: a revelação divina primeira é a voz da natureza, o verdadeiro livro falante de Deus. Pelo fato de termos perdido a capacidade de ouvir, Deus, por piedade, nos deu um segundo livro que é a Bíblia para que, escutando seus conteúdos, pudéssemos ouvir novamente o que a natureza nos diz.
Quando Francisco Pizarro em 1532 em Cajamarca, mediante uma cilada traiçoeira, aprisionou o chefe inca Atahualpa, ordenou ao frade dominicano Vicente Valverde que com seu intérprete Felipillo lhe lesse o requerimento,um texto em latim pelo qual deviam se deixar batizar e se submeter aos soberanos espanhóis, pois o Papa assim o dispusera. Caso contrário poderiam ser escravizados por desobediência. O inca lhe perguntou donde vinha esta autoridade. Valverde entregou-lhe o livro da Bíblia. Atahaualpa pegou-o e colocou ao ouvido. Como não tivesse escutado nada jogou a Bíblia ao chão. Foi o sinal para que Pizarro massacrasse toda a guarda real e aprisionasse o soberano inca. Como se vê, a escuta era tudo para Atahualpa. O livro da Bíblia não falava nada.
Para a cultura andina tudo se estrutura dentro de uma teia de relações vivas, carregadas de sentido e de mensagens. Percebem o fio que tudo penetra, unifica e dá significação. Nós ocidentais vemos as árvores mas não percebemos a floresta. As coisas estão isoladas umas das outras. São mudas. A fala é só nossa. Captamos as coisas fora do conjunto das relações. Por isso nossa linguagem é formal e fria. Nela temos elaborado nossas filosofias, teologias, doutrinas, ciências e dogmas. Mas esse é o nosso jeito de sentir o mundo. E não é de todos os povos.
Os andinos nos ajudam a relativizar nosso pretenso “universalismo”. Podemos expressar as mensagens por outras formas relacionais e includentes e não por aquelas objetivísticas e mudas a que estamos acostumados. Eles nos desafiam a escutar as mensagens que nos vem de todos os lados.
Nos dias atuais devemos escutar o que as nuvens negras, as florestas das encostas, os rios que rompem barreiras, as encostas abruptas, as rochas soltas nos advertem. As ciências na natureza nos ajudam nesta escuta. Mas não é o nosso hábito cultural captar as advertências daquilo que vemos. E então nossa surdez nos faz vitimas de desastres lastimáveis. Só dominamos a natureza, obedecendo-a, quer dizer, escutando o que ela nos quer ensinar. A surdez nos dará amargas lições.
Veja meu livro O Casamento do Céu com a Terra: mitos ecológicos indígenas, Moderna, São Paulo 2004.

Aditivo garante continuidade de parceria entre Governo Federal e Articulação no Semi-Árido (ASA)


Assinatura de aditivo com o MDS garante execução dos programas da ASA
Mariana Mazza - Asacom
23/12/2011
Após a realização de um ato público que reuniu mais de 15 mil pessoas em Petrolina (PE), representantes da Articulação no Semi-Árido (ASA) participaram nesta sexta-feira (23) de uma reunião em Brasília para definir os rumos da parceira com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Estiveram presentes na reunião a ministra Tereza Campello, o subsecretário Marcelo Cardona, a secretária de Segurança Alimentar e Nutricional em exercício, Mônica Schröder, o diretor de Promoção da Alimentação Adequada do Ministério, Marco Dal Fabbro, além do secretário Executivo de Agricultura Familiar de Pernambuco, Aldo Santos.


O Ministério decidiu assinar um aditivo que garante a execução do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) até abril do próximo ano. Além disso, o Ministério, conforme havia prometido, depositou o valor de R$23 milhões referente à segunda parcela do atual termo de parceria do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), que deverá ser executado também até o mês de abril.


Uma nova reunião entre representantes da ASA e do MDS está agendada para o próximo dia 03 de janeiro para discutir a assinatura de um novo termo de parceira que garanta a continuidade dos programas da ASA, com a incorporação de novas metas.


http://www.asabrasil.org.br/Portal/Informacoes.asp?COD_NOTICIA=7168

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Reservas particulares de preservação ambiental


19/12/2011
Biólogos estimulam criação de áreas particulares de preservação no Ceará

Área de preservação particular garante isenção de alguns impostos. Para biólogos, a preservação ajuda a preservar espécies da região

Biólogos estimulam a criação de reservas particulares do patrimônio natural em Barbalha, na região do Cariri, no Sul do Ceará. No estado há 20 dessas reservas, apenas uma no Cariri. As reservas particulares, de acordo com os biólogos, ajudam a preservar o meio ambiente, plantas e animais.

“As reservas particulares, juntas, podem fazer um rede de preservação desse ambiente especial. Essas unidades podem ajudar a evitar a extinção de pássaros e a perda da qualidade de vida das pessoas que vivem nela”, diz o biólogo Weber Girão.

No Cariri, a única reserva particular é a reserva Arajara, na encosta da Chapada do Araripe. O administrador do local, José Marcos Barros, diz que a reserva mantém preservada há 12 fontes de água mineral, que ajudam a manter no local o soldadinho do Araripe, pássaro que só é encontrado na região do Cariri.

Os proprietários de reservas particulares de patrimônio natural têm garantido a posse perpétua da área, isenção de alguns impostos e têm prioridade em análise de projetos com o governo.


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

PEC que cria Zona Franca do Semiárido Nordestino tramita na Câmara dos Deputados



19/12/2011 20:23

Fabio Trad conduz aprovação de PEC que cria Zona Franca do Semiárido Nordestino



Assessoria / WQ



A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania aprovou a admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 19/11, do deputado Wilson Filho (PMDB-PB), que cria a Zona Franca do Semiárido Nordestino. A PEC altera artigo do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCTs). O relator, deputado Fabio Trad (PMDB-MS), recomendou a aprovação da proposta.

A PEC prevê que a zona vai ter características de área de livre comércio, para exportação e importação, com incentivos fiscais pelo prazo de 30 anos. A proposta confere ao governo federal a atribuição de demarcar a área de forma contínua, com círculo de raio mínimo de 100 quilômetros e centro no município de Cajazeiras (PB). Além da Paraíba, a Zona Franca também beneficiará municípios de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará.

O Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene) estima que o Produto Interno Bruto (PIB) do semiárido corresponda a aproximadamente 1/3 do PIB nordestino. A renda média do cidadão que habita a região, segundo o órgão, equivale a apenas 34% da renda média brasileira.

Tramitação

O texto agora será analisado por uma comissão especial e votado em dois turnos pelo Plenário.



segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

PROTEÇÃO DA CAATINGA



Preservação da caatinga começa com o agricultor

18.12.2011

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A caatinga é vegetação presente no semiárido brasileiro, com chuvas no primeiro semestre e estiagem no restante do ano
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DIVULGAÇÃO/SILVANIA CLAUDINO
Em aulas de campo, os agricultores aprendem técnicas de queimadas controladas e manejo correto do solo. Ceará é um dos estados que mais devastou a caatinga
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Criado em 2006, o Pacto Ambiental reforça as ações conjuntos e o compromisso com preservação da caatinga
Projeto "No Clima da Caatinga" ensina comunidades a aliar proteção ambiental com trabalho agrícola
Crateús. O desmatamento e as queimadas são uma das principais causas da destruição da caatinga nordestina. No sertão brasileiro, as queimadas são usadas amplamente pelos agricultores para limpar a o terreno e preparar o solo para o plantio. E isso acontece justamente no período antes da chuva, quando a vegetação seca, o sol forte e os ventos favorecem o alastramento do fogo, podendo causar incêndios florestais. Dezembro é o mês em que mais ocorrem queimadas no Ceará.

Por isso uma das ações do projeto "No Clima da Caatinga", realizado pela Associação Caatinga e patrocinado pela Petrobras, através do Programa Petrobras Ambiental, está capacitando 300 agricultores e agricultoras de 20 comunidades do entorno da Reserva Natural Serra das Almas, neste Município. A ideia é ensinar aos agricultores técnicas de queimadas controladas e manejo correto do solo, reduzindo os impactos ambientais e evitando que a área entre em processo de desertificação.

Segundo a coordenadora de Tecnologias Sustentáveis do projeto, Railda Machado, a capacitação possibilita melhoria na qualidade de vida dos beneficiados, bem como maior sustentabilidade para uma dos biomas mais frágeis e degradados do País. "O projeto tende a melhorar a qualidade de vida das comunidades, de modo que possam desenvolver suas atividades na agricultura de maneira mais sustentável", reflete. A capacitação, transferência e apoio às comunidades na apropriação de tecnologias sustentáveis de conservação e uso sustentável da caatinga contribuirão para a redução da pressão degradadora sobre as matas.

Antes dos cursos, técnicos do projeto realizam reuniões nas comunidades para a apresentação do conteúdo aos agricultores. Após as reuniões, os agricultores que se interessam pela iniciativa já fazem suas inscrições. Seis novas capacitações acontecerão ainda este ano, a fim de ampliar o empoderamento dessas novas técnicas.

A Associação Caatinga, organização executora do projeto, é uma entidade sem fins lucrativos, reconhecida como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e cadastrada no Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas (CNEA).

Criada em Fortaleza em 1998 para conservar a biodiversidade de caatinga, mantém a Reserva Natural Serra das Almas em Crateús, uma área reconhecida como Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Caatinga pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), devido à conservação da natureza e de desenvolvimento sustentável desenvolvidos na região.

Com o projeto "No Clima da Caatinga", a Associação espera contribuir para a mitigação de efeitos potencializadores do aquecimento global através da conservação da caatinga e evitar consequente emissão de gases poluentes associados ao desmatamento. Promove de forma preventiva a conservação direta e o apoio à conservação de florestas em áreas susceptíveis ao desmatamento e às queimadas (incêndios florestais) e também apoia a restauração de áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos.

Ceará é campeão

A caatinga (do tupi, mata branca) é a região semiárida mais rica em biodiversidade do mundo e também uma das mais populosas. De acordo com o Relatório de Monitoramento do Desmatamento na Caatinga de 2010, 45,4% da área total do bioma está alterada, fato que o coloca entre os biomas brasileiros mais modificados pelo homem. Este também é o bioma mais desprotegido, pois somente 1% dele é protegido legalmente por unidades de conservação de proteção integral.

Segundo a Associação Caatinga, entre 2002 e 2008, o Ceará atingiu uma triste marca: ficou entre os estados que mais desmataram a caatinga e que já teve quase 40% da sua reserva destruída. Sete dos 20 municípios campeões de desmatamento na caatinga estão no Ceará. Em apenas sete anos, o Estado ampliou em quase 3% a área total desmatada, o que corresponde a uma área de mais de 400 mil hectares.

Desmatamento20 Municípios no País são campeões em desmatamentos em zonas de caatinga. Deste total, sete cidades estão no Estado do Ceará, com manejos incorretos que degradam o ambiente

MAIS INFORMAÇÕES 
Associação Caatinga
Rua Instituto Santa Inês, 658
Telefone: (88) 3691.8671, Crateús-CE Site: www.acaatinga.org.br
INHAMUNS
Pacto Ambiental celebra avanços
Quatro dos municípios signatários do Pacto conquistaram o Selo Verde, mostrando o resultado de suas ações
Independência. O Pacto Ambiental dos Sertões de Crateús e Região dos Inhamuns (Parisc) comemora a premiação de Crateús, Novo Oriente, Piquet Carneiro e Tauá no Selo Verde. O prefeito em exercício de Independência e presidente do Pacto, Bezaliel Pedrosa, comemora o desempenho dos signatários do Pacto, premiados com a mais importante certificação pública ambiental do Ceará, que reconhece o trabalho e os avanços em políticas ambientais.

"É para nós motivo de orgulho saber que estes municípios lograram êxito com seus projetos e programas. Esse consórcio ambiental regional agrega valores. A nossa meta será comemorar a obtenção do Selo Verde por todos os que compõem o Pacto Ambiental", declara.

Defensor do meio ambiente e especialmente do bioma caatinga, componente predominante da vegetação dos sertões de Crateús e Inhamuns, o Pacto Ambiental nasceu no âmbito do Programa Selo Município Verde. Foi criado por ocasião do I Seminário Regional do Programa Selo Verde, em maio de 2006, em Tauá. O objetivo é combater a degradação da caatinga através da adoção de políticas públicas e ações que detenham a degradação dos recursos naturais, priorizando a recuperação de áreas alteradas.

Por meio do Pacto, as cidades se comprometem em orientar a sociedade sobre a importância da preservação do patrimônio natural e sobre a Lei de Crimes Ambientais; sensibilizar os agricultores sobre queimadas e outras práticas agrícolas que agridam o meio ambiente; promover parcerias entre os municípios participantes; fortalecer seus Conselhos Municipais de Defesa do Meio Ambiente (Comdemas) e garantir a continuidade dos encontros de trabalho do Pacto Ambiental da Região dos Inhamuns, realizados a cada dois meses.

De acordo com o coordenador executivo, Jorge de Moura, em cinco anos de atuação o Pacto fortalece a ação voltada para a sustentabilidade ambiental. "Com a participação no Pacto, os municípios se fortalecem e gradativamente norteiam suas gestões com forte inspiração ambiental, passam a governar levando em conta a sustentabilidade", explica. O potencial ecoturístico também é desenvolvida. Segundo Jorge Moura, "muitos municípios estão vislumbrando estes potenciais, como os sítios arqueológicos de Independência".

MAIS INFORMAÇÕES:
Pacto Ambiental dos Sertões de Crateús e Inhamuns (Parisc)
Telefone: (88) 9427.6837
Região dos Inhamuns


Silvania ClaudinoRepórter
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1085120

sábado, 17 de dezembro de 2011

DISCURSO PROFERIDO NA CERIMÔNIA DE COLAÇÃO DE GRAU DOS CONCLUDENTES DE 2011.2 NO CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ NO CARIRI


Suely Salgueiro Chacon – Representante do Corpo Docente

Nesse momento em que celebramos um ritual de passagem, inicio agradecendo pela oportunidade de falar aos nossos concludentes, aos seus familiares e a toda a comunidade acadêmica aqui hoje reunida. Embora tenha sido indicada pelos formandos do curso de Administração, sinto-me ligada não somente aos novos Administradores, mas também a cada um dos novos Agrônomos, Biblioteonomistas, Engenheiros Civis, Filósofos e Médicos.  Não apenas porque fui professora de muitos de vocês, mas porque me sinto profundamente ligada ao Campus da UFC no Cariri, e a todo o processo de formação que resulta nesse momento simbólico, quando vocês deixam de ser alunos e se tornam profissionais.

Fazer parte dessa construção coletiva que é a Universidade é um privilégio, especialmente quando estamos aqui, no interior do Brasil, no interior do Ceará, no meio do Sertão. Estamos construindo aqui, nesse espaço, mais do que saberes, estamos construindo uma nova história. Ultrapassamos o discurso e pusemos em prática o que por décadas parecia utopia. A Universidade chega ao interior não apenas para trazer conhecimentos técnicos e científicos, ela chega aqui para incluir, para permitir que todos tenham a chance real de mudar sua vida, sua história, de suas famílias, de suas comunidades. Antes de formar novos profissionais, a nossa Universidade forma pessoas. Pessoas prenhes de sonhos, de confiança, que olham para sua terra e sentem orgulho de fazer parte desse lugar. A auto-estima, por anos destruída sistematicamente pela exclusão desse espaço do processo de desenvolvimento do país, volta a crescer e se fortalecer. Hoje vocês, queridos formandos, são a prova para suas famílias e para toda a sociedade, de que só precisavam de uma pequena chance para mostrar que são capazes de realizar proezas que antes pareciam reservadas apenas para poucos privilegiados que estavam nos grandes centros.

Essa cerimônia de hoje é um marco na vida de vocês, e representa mais que a conclusão de um curso de graduação. É o início de uma nova caminhada na vida de cada um, permeada pela busca da construção de suas identidades, pela consolidação de suas escolhas pessoais, e pela efetiva participação no processo de desenvolvimento do nosso país.

Nesse sentido, esse momento representa para todos nós que fazemos o Campus da UFC no Cariri, mais um passo no caminho que escolhemos trilhar, e que nos permite realizar o que eu considero a verdadeira revolução, que é dá acesso, ao maior números de pessoas possível, à uma educação de qualidade, inclusiva, crítica, empoderadora e transformadora da realidade. Sem armas, sem conflitos, nós estamos destruindo juntos e sistematicamente um muro de opressão e de exclusão que segregou por décadas parte da população desse país, condenando a grande maioria a sobreviver sem qualquer perspectiva de uma vida digna. A conquista de cada um de vocês é a conquista de todos nós, e de cada um dos habitantes dessa região.

Amartya Sen, um dos criadores do IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, nos diz que o desenvolvimento só ocorre se as pessoas são livres. E para que essa liberdade efetivamente exista na vida das pessoas, elas precisam ter acesso a condições mínimas, que as permitam escolher. Assim, pouco adianta se dissermos que os índices econômicos de nosso país e nossa região são cada vez melhores, isto não significa desenvolvimento, muito menos inclusão social. Significa apenas crescimento econômico, muitas vezes restrito a poucos. Foi esta a nossa história por muitos anos. Para que haja desenvolvimento é preciso mais que crescimento econômico, é preciso que as pessoas se beneficiem de forma igualitária do resultado desse crescimento, que tenham acesso a uma vida digna, que a natureza seja respeitada e as instituições da sociedade fortalecidas. Mas para que isto aconteça, é necessária uma base forte: o acesso ao conhecimento. O acesso à educação transformadora é essencial. Somente nesses termos podemos falar de desenvolvimento.

Assim, a inclusão gerada pela expansão do ensino superior no Brasil é um passo fundamental nesse processo de desenvolvimento que estamos ainda gestando, e pode gerar transformações profundas na vida de todos nós e de nossos filhos e netos. Conscientes de nosso papel nessa construção, assumimos a responsabilidade e o compromisso de promover nesse espaço de troca de saberes, não apenas a formação profissional, mas também a formação de pessoas. De seres humanos capazes de perceber que sem o devido cuidado com o seu semelhante e com a natureza, não alcançamos o desenvolvimento, ficamos apenas no crescimento econômico excludente.

Cada um dos novos profissionais que hoje se apresentam à sociedade é um agente de transformação, produtor de ideias e ideais que se materializarão no seu trabalho e nas suas escolhas. Muitos de vocês terão oportunidade de escolher: reproduzir a exclusão ou fortalecer a revolução que inclui.

Vocês, caros formandos, iniciam sua cainhada em um cenário promissor. Isto significa muitas oportunidades, mas também mais responsabilidades. Há menos de dez anos, quando o curso de medicina se instalou aqui, não se poderia prever esse cenário positivo. A realidade ainda era de incertezas, de poucas chances, mesmo para quem se graduava. A maioria de vocês teve acesso a diversos benefícios durante o curso, pode participar de atividades de pesquisa, de extensão, de viajar para congressos, de conviver em um espaço físico novo, com equipamentos modernos em laboratórios e salas de aula. Conviveram com professores qualificados e tiveram oportunidades de assistir a inúmeras palestras em eventos nacionais e até internacionais realizados aqui mesmo, no nosso lugar. Embora muitos insistam em enfatizar o que ainda falta, é possível perceber o grande avanço que já produzimos. Hoje, menos de seis anos da instalação do Campus do Cariri, que veio se juntar ao curso de Medicina, esse avanço se retrata na nota cinco no ENADE, alcançada pelo curso de medicina, na seleção de alguns para excelentes cursos de pós-graduação, com bolsa de estudos garantida, e nas várias ofertas de empregos para grande maioria. Vocês podem escolher os seus próximos passos. Tudo isto é fruto de uma conjuntura favorável, que trouxe oportunidades para todos. Cabe a vocês fortalecer e amadurecer esse processo.

Um cenário tão promissor não pode levar a acomodação, deve instigar todos a ousar. Ousar descobrir novas possibilidades para a profissão, ousar defender uma atuação baseada respeito à diversidade e ao meio ambiente, ousar na busca pela sustentabilidade da nossa região e do nosso país, pensando no atendimento das necessidades da nossa geração e das que vem por aí. Ousar admitir que nenhuma ciência é dona da verdade, por isto precisamos aprender todos os dias com os nossos colegas de outras aéreas, ousar olhar o outro como seu semelhante e não como um competidor. Ousar acreditar que somos melhores quando somos capazes de construir juntos uma nova realidade e dizer não à destruição das relações humanas em prol da ilusão do consumo e da acumulação. Ousar ser humano, antes de ser um profissional. Cuidar do Outro em um sentido amplo é a base da ética que vocês devem levar com vocês.

Exerçam suas escolhas com serenidade e intensidade. Serenidade para tomar decisões corretas e intensidade para abraçar os sonhos e ousar. Estejam prontos para surpresas e disponíveis para descobertas. Isto levará você aonde vocês quiserem ir. Repito: não é momento de acomodação, mas de ser protagonista de um novo tempo.

Diante de tantas possibilidades que esse tempo atual disponibiliza para vocês, quero enfatizar mais uma vez que a postura de cada um, as escolhas de cada um, é que irão garantir que alcancemos um patamar real de desenvolvimento. Para isto, não podemos confundir a sociedade com o mercado, ou a felicidade com o consumo e acumulação, nem o reconhecimento profissional com vaidades ou cargos efêmeros.

Parabenizo a cada um de vocês, não apenas pela conclusão do curso, mas por representarem a mudança, por provarem que é possível fazer o sonho acontecer. Cada um de vocês hoje redime um pouco todos os sertanejos que tiveram que ir embora de sua terra, que morreram nas secas, que se humilharam pedindo esmolas, que deixaram de acreditar em sua própria importância como ser humano.

Agradeço a vocês por me permitirem por em prática tudo que escrevi por anos, defendendo a inclusão de todos no processo de desenvolvimento. Vir para cá, no caminho inverso que fizeram meus avós, tios e pais, foi a melhor escolha que fiz na vida, porque me proporcionou a felicidade de conhecer vocês.
Desejo a todos muito sucesso e todas alegrias que cada um de vocês merecem. Sejam sementes da revolução por onde quer que seus caminhos os levem.








terça-feira, 29 de novembro de 2011

Caatinga preservada

Trabalho preserva caatinga nas obras de transposição do São Francisco

Biólogos lutam para preservar espécies vegetais na área de caatinga. Grupo resgata amostras de plantas e sementes.


O vai e vem dos caminhões e as máquinas não param, quilômetros de vegetação já foram desmatados desde que as obras da transposição começaram. Entre tantos operários, uma turma especial segue na linha de frente pela vida.

O grupo não mede esforços para realizar uma pesquisa coordenada pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, que se estende por 402 quilômetros no eixo norte e 220 quilômetros no eixo leste.
A elaboração do inventário florístico e o resgate de espécies permitem o reconhecimento da flora na região degradada. Nada passa despercebido, sementes são coletadas, árvores medidas e amostras de flores são colhidas. Tudo é registrado com a ajuda de um GPS, aparelho que registra a localização exata de cada planta.
O trabalho começou em 2008 e conta com a participação de biólogos e estudantes dos cursos de ciências biológicas, zootecnia, agronomia e engenharia agrícola e ambiental. Trabalhadores rurais também fazem parte do projeto que tem como objetivo, conhecer e preservar o bioma caatinga.
Assista ao vídeo com a reportagem completa e saiba como funciona os estudos dentro da universidade: http://g1.globo.com/economia/agronegocios/vida-rural/noticia/2011/11/trabalho-preserva-caatinga-nas-obras-de-transposicao-do-sao-francisco.html

Técnicas sustentáveis para a produção rural

Pasto agroecológico é novidade no Sertão




Porto da Folha (SE) - Pequenos produtores do sertão sergipano estão aprendendo a inovar com sustentabilidade. A tecnologia pasto agroecológico tem aumentado a produção e preservado o meio ambiente na região. A tecnologia é disseminada pelos consultores dos Frutos da Floreta, projeto desenvolvido pelo Instituto de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável (Icoderus), que conta com total apoio do Programa Petrobras Ambiental e tem como parceiro o Sebrae.

O pasto agroecológico é formado por árvores nativas, que além de gerar sombra serve para alimentar os animais. Um bom exemplo é o caso do mata pasto, que nasce com a chuva. Na maioria das vezes o produtor utiliza herbicidas para matá-lo. Indiretamente o consumidor acaba ingerindo no leite resquícios desses agrotóxicos. Mas se o mata pasto for cortado pela raiz, triturado e colocado no silo por um período mínimo de três semanas, ele se transforma num alimento nutritivo e saboroso para os animais.


Outro ponto positivo é que eles servem de corredores ecológicos, principalmente para os pássaros. “Além de preservar o ecossistema, reduzir gastos com ração e evitar a utilização de venenos. O pasto agroecológico tem melhorado a produtividade do leite”, explica o engenheiro florestal Ronaldo Fernandes, coordenador técnico do projeto.  “Já capacitamos 15 produtores com essa nova tecnologia. Os bons resultados que eles estão obtendo está chamando a atenção dos outros empreendedores rurais, e mais 20 pessoas já demonstraram interesse em conhecer a tecnologia”, explica.

Um bom exemplo é o caso do pequeno criador Manuel Soares Cardoso, que conseguiu um aumento de aproximadamente 20% na produtividade leiteira do seu rebanho bovino. Manuel Soares é integrante da Associação Comunitária dos Produtores Rurais da Lagoa do Rancho, em Porto da Folha, e há seis meses tem adotado a tecnologia do pasto agroecológico. “Utilizo vegetações nativas para alimentar o gado e outros animais. Estou economizando com a compra de milho e soja para ração. O mais interessante é que os animais preferem o pasto”, comenta Manuel.

No início, os vizinhos de Manuel até criticaram a opção dele pela novidade.  Diziam que a utilização da vegetação nativa para alimentar os animais era coisa de produtor preguiçoso, que não queria ter trabalho, e que os animais poderiam até morrer comendo esses matos. “Depois que viram que dava certo, que aumentei a produtividade e reduzi custos, ficaram interessados em aprender essa nova técnica”, explica. Além do leite bovino, Manuel trabalha com apicultura e cria porco e galinha. “A vegetação nativa também é o melhor alimento das abelhas. Alguém já soube de apiário que sobreviveu em pastos só com capim?”, questiona o produtor. 

Quem também aderiu à tecnologia do pasto agroecológico foi o produtor Edinildo Rodrigues de Medeiros, dono de uma pequena propriedade rural no povoado Lagoa da Entrada, em Porto da Folha. Além do leite de gado, Edinildo também trabalha com apicultura e planta palma. Ele é integrante da Associação dos Apicultores de Porto da Folha e somente há 30 dias vem utilizando à catingueira e outras vegetações nativas para alimentar os animais. “Estou satisfeito, a economia com a compra de ração está sendo ótima, os animais estão se alimentando bem, mas ainda não deu para perceber o aumento da produtividade de leite, pois tem pouco tempo que aderi ao pasto agroecológico”, diz o produtor.


Mon, 28 Nov 2011


http://www.tosabendo.com/conteudo/noticia-ver.asp?id=178855

Agroecologia no Semiárido


Agricultores do semiárido alagoano recebem da Codevasf kits para produção agroecológica de alimentos




imageUnidade PAIS doada pela Codevasf para instalação em Piranhas
A produção agroecológica de alimentos no semiárido alagoano será fortalecida a partir desta sexta-feira, 25 de novembro, com a entrega de 25 kits do programa Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS) doados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) a agricultores familiares de assentamentos da reforma agrária no povoado Juá, município de Delmiro Gouveia. A entrega dos kits está marcada para às 15h no povoado. No local, haverá uma unidade demonstrativa do PAIS já instalada.

Para o superintendente regional da Codevasf em Alagoas, Antônio Nélson de Azevedo, a instalação de unidade agroecológica no sertão alagoano demonstra a vocação da região do semiárido para produção de alimentos. “Há uma imagem de que o semiárido brasileiro é um local inapropriado para agricultura ou agropecuária. Isso é um erro grave. Com a aplicação correta de técnicas de manejo de solo e água, aliada a saberes milenares da agroecologia, com respeito e conhecimento das condições climáticas e de solo, o sertão pode tornar-se um polo de produção de alimentos”, destacou.

Ele ainda afirmou que a entrega dos kits adquiridos pela Codevasf integra a estratégia de desenvolvimento regional da companhia de fortalecer a agricultura familiar no Baixo São Francisco alagoano.

Participarão da cerimônia de entrega dos kits aos agricultores, além do superintendente regional da Codevasf em Alagoas, a vice-prefeita de Delmiro Gouveia, Ziane Costa, que representará o prefeito Luiz Carlos Costa, representantes da Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário de Alagoas (Seagri/AL), do SEBRAE/AL, da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Delmiro Gouveia (Coofadel), do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Delmiro Gouveia, vereadores, entre outros.

PAIS
O PAIS é uma tecnologia social criada pelo Sebrae com o objetivo de promover técnicas mais próximas da cultura tradicional natural, com isenção de agrotóxicos e aproveitamento integral de recursos, resultando numa dependência mínima de insumos externos à propriedade rural.

O kit PAIS é composto por um sistema de irrigação que possui uma bomba para captação de água de uma fonte já existente na propriedade. A água captada fica armazenada numa caixa de água de 5 mil litros e, por gravidade, através de mangueiras de irrigação, será transportada para irrigação das hortas do sistema PAIS utilizando o sistema de gotejamento e microaspersão.

2ª Conferência Estadual do Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário


Feira agroecológica e exposição na 2ª Conferência Estadual de Desenvolvimento Rural

29 de Novembro de 2011

Durante a 2ª Conferência Estadual do Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário, que será realizada entre nos dias 5 e 6 de dezembro, serão realizadas, no anel interno do Parque Solon de Lucena (Lagoa), em João Pessoa, uma feira agroecológica e uma exposição de produtos e serviços.
A conferência, promovida pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca (Sedap), ocorrerá no Cine Bangüê do Espaço Cultural.
Durante a conferência será definido um documento final sobre os temas debatidos pelos grupos de trabalho, que abordarão temas como capacitação, formação profissional, educação formal e informal, crédito, fomento, subsídios, legislação, infraestrutura, logística, mercados governamentais e livres, comercialização e feiras, pesquisa e desenvolvimento, agroindústria, mapa de oportunidades, comunicação e marketing e políticas públicas. O objetivo é criar uma política de desenvolvimento rural sustentável e solidário que contemple os setores produtivos, as forças sociais e as diversidades territoriais da Paraíba.
Na conferência haverá debates sobre irrigação, bovinocultura, caprinovinocultura, piscicultura e aquicultura, apicultura e meliponicultura, atividades não agrícolas, algodão, cana-de-açúcar, horticultura orgânicos/agroecológicos e fruticultura. Também serão discutidos temas transversais, como territórios rurais, assistência técnica e extensão rural, ciência, tecnologia, inovação, reforma agrária e matriz energética.
As empresas vinculadas à Sedap – Emater, Emepa, Empasa e Interpa – são parceiras na realização da conferência. Mais informações sobre o evento podem ser obtidas na Sedap (Avenida João da Mata, s/nº, Bloco II, 3º. Andar – Centro Administrativo – bairro de Jaguaribe, em João Pessoa).
Fonte: Governo da Paraíba

Artigo: Manejo de bacias hidrográficas

A água, os cientistas e as tecnologias de manejo de bacias hidrográficas

Publicado em novembro 24, 2011 por 


Confesso, para começar, que ando um pouco cansado desta história ‘hilariante’ que envolve as discussões sobre o novo Código Florestal. Além dos políticos, dos ambientalistas e dos ruralistas, até os cientistas se envolveram mal nessa batalha, que tem tudo para terminar com cheiro de água podre. Mas o uso do cachimbo acaba entortando a boca e aqui estou eu de novo, batendo bumbo, como diz o Henrique Cortez, nosso anfitrião aqui no Portal EcoDebate.
Com respeito aos cientistas, vale lembrar que os tempos atuais, com a ampliação do horizonte científico e com a rapidez com que as descobertas se multiplicam, não há mais lugar para a existência de pessoas querendo ser novas versões de Leonardo da Vinci.
Infelizmente, nas discussões do Código Florestal, vemos a qualificação de cientista como sendo uma pessoa apta a dar palpites sobre assuntos para os quais não têm preparo prévio. Vemos biólogos, por exemplo, falando em comportamentos de ciclos hidrológicos em bacias hidrográficas, não de maneira genérica, o que ainda poderia ser aceitável, mas com ares de que transmitem conhecimentos científicos. Tal comportamento é grave, pois pode estar passando para a sociedade uma versão equivocada dos fenômenos hidrológicos. Ao colocarem a mata ciliar como ícone da salvação de nascentes e cursos d’água, podem induzir os produtores rurais a acreditarem que elas são suficientes, provocando o desprezo dos trabalhos de conservação em outras áreas de importância para o abastecimento dos aquíferos subterrâneos. O mesmo erro, repetido à exaustão, é o que nomeia topos de morros como sendo as áreasde recarga de aquíferos. Em resumo, nas versões vendidas (até por muitos cientistas de outras especialidades), se protegidos os topos e as áreas ciliares, a produção de água estará garantida. A bacia hidrográfica passa a ser, nestas versões, apenas um acidente geográfico, servindo de endereço para os cursos d’água.
As chuvas, ao atingirem a superfície de uma pequena bacia hidrográfica, por exemplo, precisam ter a maior parte possível dos seus volumes de água retidos e infiltrados nos pontos de queda. Não há nenhuma lógica em justificar a mata ciliar como elemento de retenção de enxurradas (água + partículas de solo arrastadas). É como usar analgésico para aliviar a dor em vez de antibiótico para curar a infecção. E o manejo de bacias hidrográficas, multidisciplinar, tem o objetivo básico de analisar o comportamento hidrológico da bacia e propor tecnologias de conservação adequadas às condições físicas e socioeconômicas existentes e reinantes.
O manejo de bacias está em consonância com a Lei 9.433 (Lei das Águas) que diz que a bacia deve ser a unidade básica de planejamento para produção e uso de água. Se quiserem apontar a mata ciliar e de topo como unidades fundamentais para a fauna e a biodiversidade, tudo bem, não é minha especialidade e não discuto, mas deixem de lado muitas ilações que são feitas com relação a suas importâncias hídricas. Aí existem prós e contras que precisam ser analisados caso a caso e por quem entende do assunto. Num sistema já alterado pela atividade humana, os fluxos de energia, responsáveis pelo desenvolvimento do ciclo hidrológico em determinada área, não se comportam mais como no antigo estado natural e alguns capões de mata aqui ou ali podem ter comportamentos muito diversos daqueles esperados, com base na memória passada.
Há muitos casos de pequenas bacias que, ao serem novamente cobertas com florestas, formando uma ilha de vegetação no meio de áreas exploradas, acabam por secar os cursos d’água previamente existentes. Já discutimos isso aqui no EcoDebate, no artigo “A vegetação, o solo e a água em pequenas bacias hidrográficas”, publicado em 19/10/2011.
Há muitas tecnologias de conservação capazes de fazer com que ecossistemas hidrológicos funcionem bem, mesmo na ausência de florestas, pois elas, felizmente, não têm mais a primazia absoluta de proteção de recursos hídricos. No caso de áreas rurais, eu mesmo acabo de publicar um livro sobre os fundamentos hidrológicos de conservação de nascentes, com exemplos de tecnologias aplicáveis. O Álvaro Rodrigues dos Santos, por sua vez, já publicou recentemente, aqui no EcoDebate, uma série de artigos apontando soluções aplicáveis ao meio urbano, visando retenção de enxurradas em seus pontos de origem.
O jornalista André Trigueiro, em uma série de programas de televisão, com o título de Cidades e Soluções, tem mostrado inúmeras tecnologias de conservação ambiental, incluindo as relacionas com o uso racional da água, que merecem ser vistos e analisados. Não há nenhuma necessidade, portanto, de ficarmos a mercê de legislações que generalizam soluções para um território cheio de especificidades ambientais. Não há nenhuma razão, também, para tirarmos os problemas ambientais das respectivas áreas tecnológicas e jogarmos nas promotorias e nos juizados. Já temos uma massa de cientistas (relacionados com o assunto) e de profissionais capazes de realizar excelentes trabalhos de conservação ambiental. É só acreditar nisso e substituir parte da fiscalização por inovações e assistência técnica.
Como há grande preocupação com o pensamento do mundo sobre nossas decisões, vale mencionar que em regiões montanhosas de países como Portugal, Espanha e França há rios com ótimas vazões, e límpidos, provenientes de regiões que cultivam a terra em encostas íngremes, até nas áreas ripárias. Mantêm casas e outras benfeitorias aí, sem os danos hidrológicos catastróficos que são previstos por aqui. Basta, primeiramente, que as cidades parem de jogar todo o esgoto diretamente nos cursos d’água e que programas de assistência técnica repassem, aos produtores rurais, as tecnologias apropriadas ao uso racional da terra, dentro de programas de zoneamento ecológico e de políticas agrícolas adequadas aos vários ecossistemas brasileiros.
Osvaldo Ferreira Valente é engenheiro florestal, especialista em hidrologia e manejo de pequenas bacias hidrográficas e professor titular, aposentado, da Universidade Federal de Viçosa (UFV); colaborador e articulista do EcoDebate.valente.osvaldo@gmail.com
EcoDebate, 24/11/2011
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