domingo, 10 de janeiro de 2010

Desenvolvimento Regional

BNB já é do tamanho do BID

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Na opinião do seu presidente, Roberto Smith, o BNB precisa crescer. Para isso, já está sendo capitalizado

10/1/2010


Há quase sete anos na presidência do Banco do Nordeste, o economista Roberto Smith recolhe os bons resultados de uma gestão marcada pelo incremento das aplicações, que fecharam 2009 com crescimento de 50%. "O BNB já é do tamanho do BID", diz Smith. Ele acha que, no cara ou coroa da eleição presidencial, "ganhará a democracia"

Para o senhor, é melhor ser professor de economia ou banqueiro?

São estágios que a gente tem na vida. Acho que minha experiência - e hoje posso dizer que já tenho alguma, entre aspas, como "banqueiro" - é muito importante, pois é outra dimensão. Quando a gente é professor e vive no ambiente acadêmico, a gente está dentro de uma realidade que não toca de perto as coisas como elas são, nem aqueles problemas que são realmente preocupantes e que conformam nossa maneira de enxergar a realidade. Quando a gente está dentro da ação de um banco de desenvolvimento, como o Banco do Nordeste, a gente tem de fazer as coisas acontecerem. Nós temos aqui um exército de cerca de 12 mil pessoas, todas voltadas para o trabalho. As coisas acontecem efetivamente, e isso nos dá uma satisfação muito grande. Nós temos limitações, mas é uma experiência que vou carregar com uma gratidão de ter sido posto numa p osição como essa, na qual recolhi essa experiência de vida, que me deu uma maturidade e uma sensação de que é possível fazer as coisas acontecerem. E tudo isso acontece em uma quadra - eu diria uma oitava - histórica, que é o Governo do presidente Lula, no qual muita coisa de novo aconteceu com o reconhecimento nacional e internacional.

Há muita diferença entre a teoria acadêmica, que o senhor ministrava, e a prática de emprestar dinheiro?

Acho que sim. O trabalho na Universidade, no campo teórico da pesquisa, é muitas vezes solitário. Quando você está na sala de aula, há uma certa ruptura dessa solidão. Aqui, no BNB, estamos atuando sobre um conjunto muito mais amplo. Na Universidade, quem são avaliados são os alunos, e isso é até um erro, pois os professores deveriam ser melhor avaliados. Aqui no banco, temos uma avaliação externa, inclusive da imprensa, que surge a todo momento. Temos um alto nível de visibilidade que conduz a essa exposição e que leva a uma avaliação permanente. Uma vez, um repórter perguntou-me: essas coisas que vocês estão fazendo aí não são só para angariar votos? E eu falei: tudo o que fazemos tem o direcionamento do interesse público; agora, se a gente faz bem feito, os eleitores tenderão a avaliar nosso trabalho positivamente, dando o seu voto. Mas isso é uma faca de dois gumes: se não é bem feito, será mal avaliado e não terá o voto. Não há motivo para se ter uma visão negativa da política, porque ela tem a virtude de condensar os bons resultados e de punir os maus resultados.

No BNB, os pobres do Crediamigo têm inadimplência quase zero; mas os ricos do FNE atrasam o pagamento do que lhes foi emprestado? Qual dos dois é o melhor cliente?

Felizmente, no BNB, os níveis de inadimplência estão bastante rebaixados. Antigamente não era assim, mas hoje há uma mudança de visão. O empresariado amadureceu e reconhece a importância do crédito e, principalmente, a manutenção do crédito por meio da adimplência. Temos, realmente, uma camada de pequenos, que estão no Crediamigo, com taxa de inadimplência próxima de zero, algo em torno de 1%. Mas temos, também, pequenos com taxa de inadimplência elevada. Como exemplo, cito o pessoal do Pronaf-B, com renda familiar anual de até R$ 3 mil e com taxa de inadimplência de até 17%. No Crediamigo, a grande virtude é o sistema de concessão do crédito, que, até chegar à excelente condição de hoje, passou por 10 anos de aprendizado, de experiência. Mudamos o Pronaf-B, já rebatizado com o nome de Agroamigo, e mudamos a sua forma de concessão do crédito. Resultado: sua inadimplência já caiu de 17% para 2,2%. O que aconteceu? Passamos a conceder o crédito com assessoria de técnicos agrícolas que orientam a melhor forma de concedê-lo e de utiliza-lo.

Na sua gestão, prevalece ainda a cultura da renegociação de dívidas?

Na verdade, existe hoje no Governo Federal uma diretriz com a qual concordamos integralmente, segundo a qual não se pode acostumar mal os que contraem o crédito sempre esperando que haverá uma renegociação. O que temos observado é que as sucessivas leis que estruturam as renegociações se tornam mais restritivas e mais drásticas, de forma que aqueles que esperam por algo melhor à frente estão se enganando. Tanto é assim que, na última lei de renegociação, está determinado que quem não pagar terá inscrito seu débito na Dívida Ativa da União, de modo que o devedor não terá mais como bater às portas do Banco do Nordeste ou do Banco do Brasil ou de outros bancos. Tudo isso aumenta a distância da renegociação. De forma que aí vai também um apelo: aproveitemos os elementos favoráveis para a renegociação, porque se vierem outros eles serão muito piores.

O presidente Lula ou o ministro Mantega já chegou a ligar para o senhor pedindo por algum pleito de financiamento de alguma empresa da região?

Não, nunca recebi. Agora, eu gostaria de dizer o seguinte: quando eu entrei no banco, logo me aconselharam: olhe, o presidente do Banco do Nordeste não deve aceitar pedido de político. Eu afirmei: pelo contrário. Tenho uma visão muito positiva da política, ao contrario de muita gente que fica colocando a política como uma coisa ruim. Nós devemos, sim, atender à solicitação do político, porque se trata de alguém eleito, detentor de uma representação da sociedade. Agora, aqui no banco a análise que se faz do pedido leva em conta rígidos critérios técnicos e preceitos bancários. Não há nenhum preconceito em receber qualquer tipo de pedido, desde que ele encontre guarida nas normas do banco e não estabeleça formas desiguais de atendimento. Trata-se de algo que encaramos como normal. Eu até brinco, ao dizer que acho que os políticos da oposição têm maior clareza nas suas solicitações, mas nós atendemos aos políticos, independentemente de sua filiação partidária.

Para onde o senhor e seus diretores estão levando o Banco do Nordeste?

Esta é uma questão que nos traz preocupações. Estamos passando - e isto ficou claro durante a última crise - por uma fase de concentração bancária. A visão que nós temos a é de que o Banco do Nordeste necessita de crescer. Hoje, os custos de governança corporativa - todos aqueles elementos que compõem os organismos de controles externos, como o TCU, a CGU, o Banco Central, o Ministério da Fazenda - são custos muito elevados e que acabam se tornando exorbitantes para os bancos pequenos e mesmo para os bancos de médio porte. Então, é necessário crescer para fazer face a isso, para fazer face aos novos requisitos e aos padrões de contabilidade, e a saída é para o alto. Dou um exemplo, pois tenho esses dados junto a mim: o Banco do Nordeste, em um ranking dos maiores bancos brasileiros, levando em conta o saldo líquido de suas operações de crédito - ou seja, sem o volume dos provisionamentos - encontra-se hoje em oitavo lugar no Brasil. O primeiro é o Banco do Brasil, o segundo é o Itaú, o terceiro é o Bradesco, o quarto é o BNDES, o quinto é a Caixa Econômica Federal, o sexto é o Santander, o sétimo é o Votorantim, que em parte pertence ao Banco do Brasil, e o oitavo é o Banco do Nordeste, se forem incluídos os recursos do FNE que o BNB administra.

Qual é o número?

O banco do Nordeste tem, hoje, em sua carteira de aplicações um saldo da ordem de R$ 35 bilhões, o que nos coloca no oitavo lugar no ranking dos maiores bancos brasileiros.

Que posição nesse ranking deseja o BNB?

Veja, nós já somos maiores do que o HSBC, que é um banco de grande porte. Hoje, nosso saldo de aplicações corresponde a 23% em relação ao BNDES, ou seja, somos um pouco mais do que um quinto do BNDES. O tamanho do Banco do Nordeste hoje equivale, por exemplo, ao do Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID. Nós somos o maior banco presente no Nordeste em volume de saldo de operações de crédito, sobretudo de longo prazo.

Foi difícil chegar até aqui?

Todo o sistema bancário brasileiro passou e vem passando por um processo de alterações, fusões e tudo mais, o que exige de nós uma aptidão para a modernização, para buscar novos mercados, sobretudo dentro da região, e para atender melhor nosso cliente. Nós estamos expandindo, de forma gradual, nossa rede de agências e nosso volume tem crescido muito. Temos uma expectativa de que fechamos o exercício de 2009 com crescimento de quase 50% nas nossas aplicações, o que representará mais de R$ 20 bilhões.

O senhor pretende capitalizar o BNB em 2010?

Sim. A capitalização do banco está se dando por meio de um instrumento híbrido de capital e dívida. São mais R$ 1 bilhão tomados ao Tesouro Nacional em forma de empréstimo, já aprovado na Câmara dos Deputados e agora está no Senado Federal, onde já foi lido, devendo ser aprovado logo no começo dos trabalhos legislativos deste ano.

Este ano é de eleição presidencial. Vai dar cara ou coroa?

É claro que, neste caso, temos a nossa preferência. Sou um dos que ajudaram a fundar o Partido dos Trabalhadores, tenho uma enorme vinculação com toda a política econômica e social do Governo do presidente Lula. Mas a resposta encerra uma grande verdade interior, que é esta: vai dar a democracia. E a democracia brasileira está consolidada.

Fonte: Jornal Diário do Nordeste. Caderno Negócios. Fortaleza, 10 de janeiro de 2010.

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=717681

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