quarta-feira, 29 de abril de 2009

Crise e mudanças: a vez da solidariedade e da sustentabilidade

28/04/2009 - 16:01:37

Democratizando as finanças

Hazel Henderson

A crise financeira gerada por Wall Street e pelos bancos globais “muito grandes para quebrar” está gerando iniciativas locais e demandas para descentralizar e democratizar o mundo financeiro.
Ao mesmo tempo, em nível global, os países que formam o G-20 exigem a democratização das estruturas no FMI e no Banco Mundial, como condição essencial para refletir as mudanças no equilíbrio das forças econômicas. Os países do G-7 e G-8 não são tão importantes agora, quando o grupo G-20, que tomou o centro das atenções.
Enquanto redes de segurança nacionais são espalhadas, através de cortes em orçamentos, a liderança local cresce, oferecendo alternativas criativas para as comunidades que desejam estabelecer economias domésticas bem mais saudáveis:
Clubes locais de permuta, como o Freecycle.com, Craigslist e LETS e “scrip currencies” (moedas alternativas) proliferam - como ocorre sempre que os bancos centrais e o Fundo Monetário Internacional falham ou aplicam as alternativas erradas que só fazem com que as coisas piorem. Algumas das mais bem sucedidas moedas complementares locais são o WIR na Suíça e o Berkshare nos Estados Unidos, com o equivalente à $2 milhões em circulação e aceita por bancos e negócios em Massachusetts. Moedas complementares similares estão equilibrando necessidades e recursos e estão desobstruindo os mercados locais na Grã Bretanha, Canadá, Austrália, Argentina, Brasil e outros países.
Empréstimos interpessoais e projetos microfinanceiros estão florescendo em muitos países. Entre muitos podemos citar o Women’s World Banking, Grameen Bank em Bangladesh, hoje duplicado em muitos países, o FINCA e o ACCION na América Latina, assim como as novíssimas versões online, incluindo o Microplace, o Kiva, como também os que emprestam no Prosper.com, nos EUA e o Zopa.com na Grã Bretanha. As cooperativas de crédito, presentes na Europa e nos Estados Unidos há um século, agora estão mais pró-ativas. Essas entidades estão satisfazendo as necessidades locais, atendendo as pessoas mais pobres e melhorando o escopo micro-financeiro e emprestando para os pequenos negócios.
As associações que reúnem pequenos bancos e negócios locais estão trabalhando uma esfera mais política, se comparadas com as cooperativas de crédito. Nos EUA, elas estão exigindo tratamento igual no TARP e TALF do governo e junto a outros fundos de ajuda que atualmente trabalham junto aos grandes bancos, cujas temerárias políticas de empréstimo acabaram por desencadear a desordem financeira atual. O Venture capital (Capital Empreendedor) e empresas de filantropia empreendedoras, incluindo a Rudolf Steiner Foundation, Acumen e as entidades dos fundadores do Ebay Pierre Omidyar e Jeffrey Skoll estão investindo em empreendimentos sociais que satisfaçam necessidades sociais e, ao mesmo tempo, visem lucros modestos. Tal capital social está criando um novo setor híbrido em diversas economias.
A Business Alliance for Local Living Economics (BALLE) é uma grande rede nos Estados Unidos da América, como também o New Voice of Business, Green America, a Social Enterprise Alliance, o Fourth Sector Network e o Business-NGO Working Group. O Entrex.net se concentra em ajudar pequenos negócios com seu Índice de Empresa Privada (Private Company Index - PCI) que hoje supera a maioria dos índices do mercado. A britânica New Economics Foundation (NEF) tem gerado iniciativas locais, como o movimento Transition Towns, assim como seu Green New Deal e indicadores alternativos para corrigir o PIB (GDP), avaliando o bem-estar e a sustentabilidade ecológica. A proposta da NEF é de salvar 11.500 postos do correio na Grã Bretanha, com a adição de funções bancárias em todos eles, com o apoio das cooperativas comerciais, pequenos negócios, grupos de interesse público e aposentados e pensionistas.
“Time banking”, uma idéia de Edgar Cahn, nos EUA (visite o site www.ethicalmarkets.tv) hoje ajuda a população local a se conectar e compartilhar serviços com o Japão, Europa e outros países. Os vizinhos se comunicam, via um “time banker” local e oferecem refeições e auxílio para indivíduos reclusos, cuidar uns dos filhos dos outros, vigiar propriedades, cortar a grama e compartilhar eletrodomésticos. O compartilhamento de veículos já se espalhou, com novas empresas como o Zip Car, nos EUA e outras semelhantes no Canadá e na Europa, onde as pessoas podem dar/pegar caronas, rapidamente, acessando seus Blackberrys e laptops.
A China hoje abriga muitas iniciativas locais, relacionadas com pequenos negócios formando redes, incluindo o Baidu.com e o Alibaba.com, como também o Qifang.com que oferece empréstimos razoáveis para mais de 25 milhões de estudantes na China. O Circle Pleasure é uma empresa privada que vende cartões, pré-pagos, para o consumidor, uma parceria com a Qifang para oferecer serviços bancários do tipo pessoa-a-pessoa, a primeira empresa privada a receber uma licença bancária do Banco Central da China. Em muitos países na África, serviços bancários por celular já decolaram. Os celulares são a base para as “phone ladies” em vilas na Índia e em Bangladesh, que alugam seus celulares para outras pessoas no vilarejo. Os fazendeiros e pescadores, nas áreas rurais, podem consultar os preços que estão sendo oferecidos nas aldeias e mercados, ao redor de seus vilarejos, usando seus celulares, para obter os melhores preços e mercados para seus produtos.
Até onde os sistemas financeiros interpessoais podem ir, ultrapassando os grandes e gananciosos bancos, desafiando eticamente Wall Street e seus aliados políticos? O caminho é longo, graças a todas as ferramentas de comunicação que hoje dispomos em todo o mundo. O uso dessas novas ferramentas para compartilhamento de informações ajuda as pessoas a se dar conta, mais uma vez, do real significado do dinheiro, ou seja: apenas uma forma de informação. Hoje é possível fazer negócios usando apenas a troca de informações. Por exemplo, em áreas rurais da Flórida, as estações de rádio têm programas onde os fazendeiros podem anunciar, por exemplo, “Eu tenho certo tempo ocioso com o meu trator e gostaria de trocar por fertilizantes ou sementes de pimenta, melão e berinjela.” O fazendeiro informa seu telefone e as trocas são feitas “fora do ar”. Similarmente, o crescimento das trocas entre os fazendeiros e da agricultura sob contrato permite que os consumidores locais comprem produtos frescos diretamente das fazendas que ficam perto de suas residências.
Todas essas soluções locais e redes de segurança, nos levam a perguntar “Como é que deixamos os grandes bancos e sistemas financeiros centralizados crescerem tanto, até se tornarem predadores das economias de vida reais que produzem a real riqueza mundial”? As populações locais, em todo o mundo, estão se dando conta que podem, simplesmente, ignorar os grandes bancos e os mercados de ações, criando esses serviços localmente. Os velhos e inchados setores financeiros devem ajustar-se, cortar seus bônus e assumir as perdas causadas por suas apostas impensadas no cassino global que eles mesmos montaram. Serviços financeiros verdadeiramente eficientes devem representar menos de 10% do PIB do país. Os mercados financeiros na Grã Bretanha e nos Estados Unidos chegaram a crescer até 25% do PIB, formando metástases com seus “engenheiros financeiros”, predadores da economia real. Agora, alunos procuram trabalho como verdadeiros engenheiros, professores, médicos e empresários.
De maneira bastante real, nossa crise não é uma crise financeira, mas uma crise de percepção. Agora começamos a ver nosso mundo de maneira diferente, longe dos retratos pintados pela mídia em geral. Vemos nossas escolhas com novos olhos. Sabemos que o dinheiro não é sinônimo de riqueza real. Nós aprendemos enquanto testemunhamos os bancos centrais imprimindo dinheiro na TV. A riqueza real é aquela gerada por pessoas produtivas, usando sabiamente os recursos da Terra. O dinheiro é uma grande invenção. Quando administrado apropriadamente, localmente, nacionalmente, globalmente ou eletronicamente é uma ferramenta útil de troca. Acumular dinheiro não é mais uma maneira confiável de armazenar valor. Estamos todos redescobrindo muitos estoques de valor em nossas próprias comunidades. Nós encontramos riqueza muito além do dinheiro. Podemos mudar nossos valores para nos conformar aos novos tempos em que vivemos e restaurar as economias de amor aos seus papéis centrais em nossas vidas.

Hazel Henderson é economista, líder mundial da plataforma Mercado Ético. Autora de vários livros, entre eles Ethical Markets: Growing the Green Economy. Co-criadora do Calvert-Henderson Quality of Life Indicators, juntamente com o Calvert Group. Participou do Comitê Organizador da conferência Beyond GDP no Parlamento Europeu (www.beyond-gdp.eu).


Fonte: Mercado Ético (http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/democratizando-as-financas/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=mercado-etico-hoje)

Pesquisa internacional sobre o conceito de sustentabilidade

29/04/2009 - 14:55:43

A sustentabilidade, segundo especialistas internacionais

Ricardo Voltolini, da Revista Idéia Socioambiental

Seis em cada 10 especialistas em sustentabilidade acreditam que o conceito tem influenciado de modo crescente as decisões de mercado em seus países. Essa é uma das conclusões extraídas da Survey of Sustainability Experts, recente pesquisa feita pelo Instituto GlobeScan com 353 especialistas de países dos cinco continentes que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A experiência dos participantes no mercado de sustentabilidade (76% trabalham há mais de 10 anos com o tema), assim como a diversidade setorial dos participantes - empresas, governos, ONGs, acadêmicos e consultores - conferem ao estudo clara consistência e a possibilidade de comparar pontos de vista diferentes. Entre os respondentes, os executivos (67%) são os que mais consideram a sustentabilidade como uma ideia cada vez mais importante na hora de fazer transações comerciais, seguidos por consultores (57%) e acadêmicos (56%). Governos e ONGs (48%) se mostram bem mais reticentes. Regionalmente, a Ásia é o continente onde mais se acredita na capacidade de influência do conceito sobre o mercado, talvez pelo fato de que no último ano China e Índia têm demonstrado maior interesse discuti-lo em suas estratégias, especialmente as relacionadas a mudanças climáticas. Europa (59%) e América do Norte (55%) vêm na sequência.
Como era de se esperar a crise mundial não ficou de fora do estudo. Quando perguntados, por exemplo, se e como a desaceleração econômica impactará os avanços na sustentabilidade, uma maioria de 67% espera repercussões negativas (53% prevêem reflexos parcialmente negativos e 14%, muito negativos.) Os governos estão entre os mais pessimistas. Para 26% dos respondentes, o quadro tende a piorar porque as empresas (26empresas, deixando menos espaço para iniciativas voltadas para o meio ambiente; do governo estconcentrarão investimentos na recuperação financeira em detrimento das iniciativas socioambientais. Cerca de 17% acreditam que o dinheiro aplicado em pesquisa e desenvolvimento de energias e modelos de negócio vai sumir da praça. Entre os que apostam na expansão do conceito após a crise, 34% afirmam que isso será possível porque a onda de consumo começará a diminuir, reduzindo assim a pressão sobre os bens naturais. Há um consenso de que a recessão induz à mudança na medida em que reduz o crescimento (30%), promove a revisão de modelos mentais (27%) e estimula inovações tecnológicas voltadas para a ecoeficiência.
O aquecimento global também ganhou capítulo especial na pesquisa. E nem poderia ser diferente. Dos considerados “grandes problemas ambientais”, que podem impactar a economia, a questão das mudanças climáticas é apontada por 71% dos entrevistados e a escassez de água por 69%.
Entre as abordagens mais eficazes para controlar as temidas mudanças climáticas, a grande maioria (79%) indicou, como primeira alternativa, a criação de taxas sobre as emissões de carbono. Houve consenso entre os especialistas de diferentes setores. Governos e acadêmicos se mostraram os mais convictos. Concessão de incentivos fiscais (56%), financiamento governamental para pesquisa em tecnologias verdes (52%) e comércio nacional e internacional de carbono (52%) também foram apontados como possíveis soluções. Quase sempre discordantes em muitos pontos de vista, especialistas de governos e universidades estão entre os que mais concordam sobre o potencial do investimento público em desenvolvimento de tecnologias limpas. Os de ONGs, por sua vez, incluem-se entre os mais céticos quanto a eficácia do comércio de emissões.
Os aparelhos econômicos (27%), as ciências e novas tecnologias (25%) foram apontados pelos especialistas como as abordagens mais eficientes para as mudanças climáticas. Aumento de regulamentação (19%), educação pública e persuasão (11%), e melhoria nas relações diplomáticas (7%) vieram em seguida.
Para saber que tecnologias específicas os especialistas consideram as mais eficientes no combate às mudanças climáticas, o GlobeScan apontou oito. Pela ordem de importância, as três mais referendadas foram a melhoria na eficiência energética (88%), o incentivo à conservação de energia (79%), fontes de energia renováveis (74%) foram as três abordagens mais apontadas pelos especialistas. No pé da lista com 18% de respostas, os biocombustíveis tiveram mais respostas entre os executivos de empresas.
O estudo da GlobeScan revelou ceticismo sobre o que poderá acontecer em Copenhague, no final deste ano, quando os líderes das nações se reúnem para discutir o acordo pós-Kyoto. Para 48% dos entrevistados, há pouco ou quase nenhum consenso nas soluções para as mudanças climáticas. Em comparação com o estudo de 2006, que abordou essa questão, especialistas de governos, ONGs e consultores estão mais pessimistas quanto a respostas consensuais para o desafio de reduzir o aquecimento do clima.
Indagados se crêem na possibilidade de um grande acordo internacional, eles se dividem entre os que acham pouco provável (37%) e os que acham provável (33%). Três em cada dez especialistas preferiram ficar em cima do muro.
No bloco dos mais otimistas, puxam a fila os governos. Entre os mais pessimistas, estão os líderes empresariais. Os especialistas da América do Norte são os mais animados com a possibilidade de um acordo de curto prazo. Sinal de que o discurso verde de Barak Obama está fazendo efeito.

* Ricardo Voltolini é publisher da revista Ideia Socioambiental e diretor de Idéia Sustentável: Estratégia e Conhecimento em sustentabilidade. ricardo@ideiasustentavel.com.br

(Envolverde/Revista Idéia Socioambiental)

Fonte: Mercado Ético (http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/a-sustentabilidade-segundo-especialistas-internacionais/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=mercado-etico-hoje)

terça-feira, 28 de abril de 2009

Dia da Caatinga

Mandacaru - Vegetação típica da Caatinga
Sertão de Quixeramobim - CE (Foto: Suely Chacon)
Olá amigos!

Hoje (28-04) é comemorado o dia da Caatinga.

Mais uma oportunidade para refletirmos sobre o meio ambiente em geral e, em especial sobre este Bioma brasileiro.

O nosso Sertão semi-árido está inserido no Bioma da Caatinga, que é o único ecossistema exclusivamente brasileiro. A Caatinga é considerada uma das 37 regiões naturais do planeta, isto é, ainda abriga pelo menos 70% de sua cobertura vegetal original e por isso a é estratégica no contexto das mudanças globais.(*)

(*) Ver: TABARELLI, Marcelo e SILVA, José Maria Cardoso da. “Áreas e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da caatinga”. In: LEAL, Inara, TABARELLI, Marcelo e SILVA, José Maria Cardoso da. Ecologia e conservação da caatinga. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2003.(TABARELLI e SILVA, 2003).

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Dia da Terra

Imagem do Documentário "Terra"
Caros amigos!


Não poderia deixar passar esse dia sem um registro.

Hoje é o dia internacional da Terra.

Mais que uma data comemorativa, este deve ser um dia de reflexão sobre nossa atitude e nossa responsabilidade pelo Planeta.

O que estamos fazendo, ou deixando de fazer, para cuidar do Lar que herdamos de nossos pais e pedimos emprestado aos nossos filhos?

Aqui, onde estou agora, "num tantinho de terra perdido no mar" como dizem cá, diante dessa paisagem agora árida e seca, paro para pensar não só nessa terra aqui, mas também na nossa terra no Brasil, e em todo o planeta.

Não apenas estamos degradando nosso ambiente, mas também destruindo as relações e cultivando a solidão.

O cuidado com a Terra caminha junto com o cuidado com o Outro.

Pensemos hoje um pouco em como está sendo nossa estada aqui.


Abraço a todos!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Cabo Verde

Olá amigos!

Estou em Cabo Verde até o final de abril, de modo que estarei um pouco ausente do nosso Blog.
Estou adorando essa estadia aqui. Grande experiência! Na volta conto tudo a vocês.

Abraço a todos!
Suely

domingo, 12 de abril de 2009

Doença de Chagas completa 100 anos e persiste no local da descoberta

12/04/2009 - 10h26

EDUARDO GERAQUE
enviado especial da Folha de S.Paulo a Lassance (MG)



"Acho que tenho alguns aqui, peguei nessa parede da sala. Já volto", diz Tarciso da Rocha, 66, dentro de sua casa, num sítio simples na zona rural de Lassance. Em instantes, volta com a resposta em suas mãos: uma caixa de fósforos contendo cinco insetos mortos e dois vivos, recém capturados no galinheiro da casa. Eram espécimes do barbeiro, potencial vetor da doença de Chagas.
O relato do roceiro, dez dias atrás, poderia ser similar a outros obtidos em diversas outros lugares da América Latina, mas Lassance tem uma história especial. Foi lá que o médico Carlos Chagas (1879-1943) elucidou o mecanismo do mal que leva seu nome --ele concluiu o estudo em 14 de abril de 1909--, descoberta considerada a mais importante já feita por um cientista brasileiro. Aparentemente, porém, o cenário mudou pouco na cidade mineira.

Ao lado do marido, Inezina da Rocha, 59, exibia um sorriso fácil. Acolhendo a reportagem da Folha, há dez dias, não parecia estar abalada pelo convívio com a doença de Chagas, mal que provavelmente contraiu há tempos, "quando ainda morava em casa de barro".




Inezina da Rocha, paciente chagásica, se debruça na janela enquanto dedetizador Sílvio Santos borrifa inseticida em seu terreno. Foto: Lalo de Almeida/Folha Imagem



Hoje, a sede do sítio do casal, de onde não se sai sem tomar um café no copo, é de tijolo. Mas, a poucos metros, a velha casa de adobe ainda está de pé. "Criei toda a minha família lá. Hoje é um depósito", diz. Além da fadiga, dona Inezina toma remédio para controlar o baticum, palavra usada em Minas para arritmia cardíaca.
No dia seguinte, no centro de Lassance, a vigilância epidemiológica foi alertada pela reportagem da Folha e fez uma visita ao casal. Mais de vinte barbeiros foram capturados.
Silvio Santos, exterminador de barbeiros há 24 anos, é um dos responsáveis por borrifar o veneno nas casas de Lassance.
"A vantagem é que os produtos usados hoje não deixam cheiro", diz, sem mencionar que o veneno é considerado tóxico mesmo sendo inodoro.


Pau-a-pique
Casas de pau-a-pique, preferidas pelos barbeiros, são comuns na região, bem como a pobreza, que atinge 78% da população. O mal de Chagas, porém, é só um dos problemas de saúde numa população que já enfrenta males "modernos", como obesidade e diabetes.
Mas o contato com o inseto nem sempre transmite a doença. Para tal é preciso que ele esteja transportando o Trypanosoma cruzi, protozoário que ao alojar-se no coração humano deflagra a moléstia. A variedade de barbeiro achada na casa de seu Tarciso, Triatoma sordida, menos mal, dificilmente aparece portando o patógeno.
Apesar de a transmissão pelo próprio inseto estar reduzida a quase zero no sertão mineiro, notificações novas de Chagas aparecem todos os anos por lá, diz o veterinário Adriano Sanguinetti, coordenador de epidemiologia de Lassance. Os casos são novos, diz, mas de infecção antiga. O contato com as fezes do barbeiro contaminado, provavelmente, ocorreu há décadas, porque a infeção pode seguir assintomática por anos.

Mas, mesmo com o ciclo da doença quase interrompido agora na região (muito por causa do desmatamento, que afasta insetos contaminados de áreas habitadas), a transmissão é possível. "Ela existe, a doença não está erradicada", afirma o médico João Carlos Dias, filho de Emanuel Dias, um dos discípulos de Carlos Chagas.

Ele é pesquisador atuante do Centro de Pesquisa René Rachou (Fiocruz). Aos 70 anos, é um dos maiores especialistas em epidemiologia de Chagas do Brasil. "O controle do barbeiro é fundamental. Hoje, ele existe inclusive em São Paulo. Não é possível deixar que o inseto invada as residências", diz.

Tercília da Silva, 76 anos, outra moradora da zona rural de Lassance, é vítima de como uma certa negligência com o mal de Chagas continua, após um século. Há menos de cinco anos, ela descobriu estar infectada e, agora, integra a estatística de prevalência da doença --provavelmente subestimada.

Subnotificação

Na América Latina, 13 milhões de pessoas estão infectadas sem saber, estima a ONG Médicos Sem Fronteiras. Outras 16 milhões estão nos registros. No Brasil, 292 casos novos de Chagas agudo por ano foram notificados de 2006 a 2008.

Segundo Dias, Carlos Chagas teria muito orgulho hoje "de ver como a ciência que ele inaugurou andou mais no Brasil que no resto do mundo." Mas de tratamento e diagnóstico, ainda precários, não se pode dizer o mesmo. "Ele iria ficar um pouco impaciente." Chagas sabia que ações políticas são sempre arrastadas, afirma Dias.


Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u549465.shtml

sábado, 11 de abril de 2009

UFC firma convênios no Cariri


O Reitor da UFC, Jesualdo Farias, esteve nesta quarta-feira (8), no Cariri, onde participou de reuniões e assinatura de convênios. Às 9h, na sede do curso de Medicina, em Barbalha, o Reitor firmou convênio de cooperação com a Prefeitura municipal. Em seguida, recebeu, daquela Prefeitura, a doação do Solar Maria Olímpia. O histórico prédio vai sediar o Centro de Pesquisas e Pós-graduação do Semi-Árido (CPPS).

Ao meio-dia, na sede do Campus da UFC, em Juazeiro, participou de reunião com coordenadores de cursos daquele Campus. Às 15h, no Crato, com o Reitor da Universidade Regional do Cariri, Plácido Cidade Nuvens, assinou convênio de apoio interinstitucional. O primeiro passo é a realização de um curso de especialização na área de Geologia.

Às 17h30min, em Juazeiro, Jesualdo se encontrou com o Prefeito Manuel Santana para assinatura de convênio com a Prefeitura do município. O acordo contempla as áreas técnica, científica e administrativa, formação de recursos humanos e prestação de serviços de saúde.

Fonte: Gabinete do Reitor - (fone: 85 3366 7306)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Estudos regionais voltam à corrente principal da ciência econômica





Ensaios de Economia Regional e Urbana
Alexandre Xavier Ywata Carvalho, Carlos Wagner Albuquerque, José Aroudo Mota e Marcelo Piancastelli (organizadores)
Editora Ipea, 2008, 468 páginas, R$ 19,00



Estudos regionais voltam à corrente principal da ciência econômica

Estanislau Maria


Nas últimas décadas, os estudos de economia urbana e de economia regional ocuparam um papel secundário no mainstream das ciências econômicas. Os principais fatores da descrença ou da pouca atratividade desses estudos estavam relacionados à necessidade de se abandonarem pressupostos dominantes como retornos constantes de escala e competição perfeita. Além do mais, os estudos associados à economia regional e urbana se caracterizam por uma forte interdisciplinaridade, atravessando diversos campos do conhecimento.
Mais recentemente, observa-se uma nova tendência no papel desses estudos. A mudança se torna perceptível nos trabalhos relacionados a teorias urbanas que ressaltam formas de economias de aglomeração em contraposição a deseconomias de aglomeração ou de congestionamento proveniente da concentração espacial das atividades. E novas teorias do crescimento econômico sobre a importância dos rendimentos marginais não-decrescentes para o capital e retornos constantes (no âmbito da firma) contribuem para explicar a taxa de crescimento da renda per capita.Pode-se citar uma variedade de modelos nessa linha de pesquisa: capital humano, acumulação de capital físico e infra-estrutura, investimentos em novas tecnologias, pesquisa e desenvolvimento, criação e fortalecimento de instituições. Para contribuir com a evolução dos estudos aplicados à economia regional e urbana, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou este ano o livro Ensaios de Economia Regional e Urbana (disponível também em meio eletrônico no site da instituição).
Os textos apresentados buscam produzir uma visão integrada da economia brasileira, encadeando três pontos para discussão da economia regional e urbana. São eles: (1) urbanização, crescimento e bem-estar; (2) dinâmica da renda, mercado de trabalho e demanda por serviços públicos; (3) análise dos instrumentos de intervenção pública nas regiões. A essas três dimensões de discussão correspondem três seções separadas no livro.A primeira seção aborda o sistema urbano do Brasil, marcado pela convivência de dois grupos distintos: a extrema pobreza mora lado a lado da concentração de riqueza. Os textos dessa seção elucidam algumas das medidas a serem adotadas pelos gestores públicos, a saber: aumentar a qualidade e oportunidade de emprego, aprovisionar condições de moradia mais adequadas, elaborar sistemas de informações para a eficiência de políticas públicas de prevenção e maior eficácia e amplitude na provisão de serviços públicos.
A gestão das cidades exerce um papel primordial neste cenário de crescimento populacional intenso. O aprofundamento dos problemas urbanos é apontado como uma das conseqüências de uma potencial má gestão, em que a maioria da população continuará vivendo em moradias inadequadas, sem direito de propriedade, sem provisão de serviços públicos, sem acesso a amenidades básicas e expostas à marginalidade e a áreas de risco de saú de pública. Favelas e criminalidade são relacionadas com a desigualdade de acesso.
A segunda seção do livro aborda as várias implicações do crescimento econômico no país, com foco nas alterações no padrão de desigualdade regional, no fluxo migratório de pessoas de áreas estagnadas para outras mais dinâmicas e nos efeitos sobre o mercado de trabalho e a despesa pública. Para captar as inter-relações entre todos esses elementos, traz artigos que tratam do crescimento econômico comparado entre alguns municípios, do padrão de desigualdade nacional, do fluxo migratório, do mercado de trabalho rural e da demanda por serviços públicos locais.
A terceira seção do livro reúne um conjunto de cinco estudos voltados para a reflexão sobre políticas e instrumentos de desenvolvimento regional no Brasil ao longo do período (e/ou com ênfase) que se iniciou nos anos 1990 e até pelo menos o ano de 2003. Essa fase de adoção de reformas estruturais reflete-se na condução da política macroeconômica visando à ampliação da abertura comercial e liberalização financeira para o exterior como elementos atratores do investimento externo para o desenvolvimento.


quinta-feira, 9 de abril de 2009

Programa "Arquivo N" da Globo News homenageia Patativa do Assaré

O programa "Arquivo N" da Globo News fez uma bela homenagem a Patativa do Assaré. Foi no dia 4 de março, véspera do centenário do Poeta cearense, que tão bem contou o Sertão. Com sua arte, Patativa entrou para a história na literatura brasileira.

Asista o vídeo e acompanhe as homenagens ao nosso poeta:

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM976823-7823-AS+HOMENAGENS+AO+CENTENARIO+DE+PATATIVA+DO+ASSARE,00.html

Desigualdades Regionais - Exclusão democrática


As desigualdades regionais se apresentam como parte da própria história do Brasil. A exclusão gerada por esse fato não se restringe às regiões conhecidas como as mais pobres do país, Norte e Nordeste. Pelo contrário, se espalha por todo o território nacional.

Esse fenômeno demonstra uma cruel realidade: não há nada mais democrático no Brasil, em termos de análise territorial, do que a exclusão. Fatores como o processo desordenado de ocupação territorial, a urbanização acelerada e a total incapacidade do Estado de capitanear o planejamento regional, têm resultado não apenas na perpetuação de um quadro de exclusão no Norte e Nordeste.

Baixos índices de desenvolvimento e alta concentração de renda são também características encontradas nas regiões mais ricas do nosso país. Contudo, isso é reflexo de um processo desordenado de desenvolvimento regional. As dificuldades das regiões mais pobres "transbordam" para as mais ricas. A reportagem transcrita abaixo ilustra bem essa reflexão.Ao mesmo tempo em que não se resolvem os problemas estruturais no Norte e Nordeste, são gerado a cada dia mais problemas nas outras regiões. Por isso, discutir o Desenvolvimento Regional hoje não é apenas uma necessidade restrita a uma parcela da população brasileira, mas a todos nós. Um processo sustentável de desenvolvimento regional significa o fortalecimento do país como um todo.



Os meninos Davi e Jeferson andam de bicicleta em campinho ao lado de presídio e sonham em ser policiais quando crescerem
Foto: Flávio Florido/UOL



03/04/2009 - 07h20

Entorno de "Carandiru caipira" sofre com briga entre prefeitura e Estado

Rodrigo Bertolotto
Do UOL Notícias
Em Hortolândia (SP)

A cidade de Hortolândia (SP) tem dois lugares cercados de toda a segurança, dentro dos quais circulam diariamente por volta de 10 mil pessoas. Um deles é a Tech Town, condomínio empresarial especializado em tecnologia da informação, tendo a multinacional IBM como empresa mais famosa.

O outro é o complexo penitenciário que foi batizado de "Carandiru caipira", por sua dimensão semelhante e por albergar muitos detentos transferidos da célebre Casa de Detenção desativada em 2002 na zona norte de São Paulo. Fora das cercas prisionais, as pessoas estão realmente desprotegidas: bairros surgem, sem nenhuma infraestrutura, com população que mistura parentes de presos, agentes penitenciários e pessoas que vivem da economia em torno da cadeia.
A prefeitura local reclama uma compensação pelo ônus social de 8.000 detidos em um município de 200 mil habitantes. O governo, por meio da Secretaria da Administração Penitenciária, diz que sua ingerência se limita a fronteiras muradas. O atrito também acontece por motivos políticos: Hortolândia é um reduto petista em um Estado governado pelo PSDB.


Em torre de presídio, vigia observa os detentos de Hortolândia


Um episódio escancara a situação: familiares dos presos têm de chegar na véspera da visita (para conseguir senha de entrada), pagando R$ 10 pelo pernoite ao relento em colchonetes em uma das pensões da vizinhança. Um grupo de mulheres de presos descobriu que uma das pousadas era de propriedade de um carcereiro e quase lincharam a prima do funcionário público que tocava o empreendimento - revoltaram-se porque eram alojadas pela mesma pessoa que aprisionava seus parceiros.

"Aqui é um lugarzinho cheio de gente com parente em cana", define Eliana Guimarães, apontando a poeirenta Vila Guedes. Ela tem um filho preso há 11 meses. Ao seu lado está Jaqueline Fátima, cujo namorado vive do outro lado do muro. "Fui visitar meu irmão e me apaixonei pelo amigo dele. Tenho duas filhas desse relacionamento, de nove e sete anos", conta.
O entorno do presídio cheira a uma mistura de esgoto e queimada. Das ocupações correm línguas de água servida em direção a pastos com gado. O mato alto é constantemente incendiado, e a paisagem se perde em meio à fumaça. A horta que dá nome à localidade não se vê. Bosque frondoso só mesmo na bandeira do município.

No Parque Perón, o líder comunitário Juracir dos Santos atravessa um matagal cheio de ratos e cobras para mostrar que o rio Jacuba ganhou uma nova nascente: a cloaca que escoa 50% do esgoto do presídio ao lado. Metros abaixo está a mina originária de água que só serve para diluir um pouco a poluição. Galinhas ciscam nos dejetos. Crianças brincam perto. Os meninos Derek e Jeferson simulam uma perseguição em suas bicicletas.

"Vim da Bahia para cá em 1989 para construir a prisão e decidi ficar. O bairro era tranquilo e tinha água limpa para a gente tomar banho e lavar as roupas. Hoje, os problemas se acumulam, mas pelo menos tem menos fugas e crimes", diz Juracir. Cinco anos atrás, a cidade era a segunda no ranking de homicídios do Estado e acabou batizada como "Mortolândia".

O azulejista Juracir mostra o campinho em que treina o time do bairro e faz questão de mostrar um dos patrocinadores: o bar do Luisão, onde os agentes penitenciários se reúnem no final de expediente. Esses funcionários públicos não querem aparecer em reportagem. O temor é duplo. Por um lado, alguma punição das autoridades. Por outro, uma vingança de algum detento. Um carcereiro faz jornada também como cabeleireiro na vizinhança. "Vejo alguns detentos passarem na frente do salão, mas finjo que não vi", comenta sobre os presos em regime semiaberto, facilmente identificados por suas calças beges, que capinam e varrem nas vias públicas.

As histórias de ataques nos períodos de indulto são comuns. O último caso foi de um motorista de lotação que se engraçou com uma namorada de preso. Para se vingar, um comparsa deu uma descarga de tiros no peito do "talarico" (gíria para ladrão de mulher).

Mães, esposas e irmãs se aglomeram desde quinta para a visita do fim de semana. Depositam o "jumbo" (sacola com produtos de limpeza e higiênicos) num dia. Esperam as senhas no outro. E, finalmente, no sábado e domingo fazem horas de fila para verem seus entes encerrados. Elas desenvolveram uma economia paralela. Uma é manicure e banca os custos de viagem pintando as colegas de sina e as garotas das proximidades.


Jaqueline conheceu namorado em visita e teve filhas com ele

Maria Aparecida Barros sai da Casa Verde, bairro da capital paulista, e atravessa os 105 quilômetros até Hortolândia todas as semanas. Traz na bagagem uma sacola com calcinhas e sutiãs para a multidão predominante feminina na porta da cadeia. "Aqui é vida louca. Uma ajuda a outra porque não esperamos ajuda das autoridades." As próprias visitas organizam a entrada no presídio, criando um sistema de senhas que privilegia idosas, gestantes e quem chega antes (muitas acampam à beira da avenida).

Barraca próxima oferece aluguel de chinelo, afinal, tênis é proibido

Natural de Foz do Iguaçu (PR), Maria Aparecida conheceu seu amor quando estava presa na Penitenciária Feminina de Santana e começou a se corresponder com um preso no Carandiru. Ela foi solta, e ele foi transferido para Hortolândia. Como não há perspectiva de soltura, Maria Aparecida já se acostumou ao namoro que tem uma revista policial como preliminar.

O "Carandiru caipira" foi projetado para abrigar 5.300 presos, mas a estimativa atualmente é que o número passa de 8.000 em unidades que recebem nomes como P1, P2 ou P3, o que transformaria o local na maior concentração de detentos de São Paulo. A Secretaria da Administração Penitenciária não divulga a quantidade, mas, por seu lado, o sindicato dos agentes penitenciários dá conta que há pelo menos 500 detentos a mais em cada uma das seis unidades prisionais localizadas na divisa com Campinas. Por esses números, Hortolândia seria endereço de 4% da população carcerária do Estado - em contrapartida, aloja apenas 0,5% de toda a população paulista.

Entretanto, Hortolândia não atrai só os presos, suas famílias e suas facções (em 2006, uma rebelião mostrou a força do PCC por lá). Na base da renúncia fiscal, recebeu instalações de gigantes da indústria tecnológica e farmacêutica. Foi tema de várias reportagens do tipo "O Brasil que dá certo". Quando a Dell mudou para a mesma cidade da IBM, logo se ouviu que ali seria o "Vale do Silício" do Brasil.

Apesar da vocação industrial, com crescimento econômico em níveis chineses e mais de 250 indústrias instaladas, é um lugar pobre: 85% da população economicamente ativa recebe menos de cinco salários mínimos. Muitos dos trabalhadores especializados dessas fábricas vivem nas cidades vizinhas. Hortolândia se emancipou da vizinha Sumaré em 1991, quando já tinha a IBM e a penitenciária em seu território, e até hoje tem de lidar com esse contraste em sua realidade.

PERFIL DO ENTORNO DO COMPLEXO PENITENCIÁRIO:*

Renda média per capita: R$ 26
072% dos chefes de família são mulheres
50% dessas mulheres estão no mercado informal
48% dos domicílios há casos de desemprego

*dados da prefeitura local