terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Ceará - CORDEL NA FEIRA


Projeto lança ´Segredos da natureza´
23/2/2010 Clique para Ampliar
O cordel "segredos da natureza" é de autoria de Josenir Lacerda e João Nicodemos. No lançamento, o autor tocou rabeca, instrumento típico do Nordeste
ANTÔNIO VICELMO
O projeto do Sesc quer mostrar que o cordel era o principal meio de comunicação da zona rural no Interior

Crato. Com o lançamento do cordel "Segredos da natureza", de Josenir Lacerda e João Nicodemos, o Serviço Social do Comércio (Sesc) deu continuidade, ontem, ao projeto "Cordel na Feira". O objetivo é resgatar uma antiga tradição: a presença dos cordelistas nas feiras semanais das cidades do Interior, quando o cordel era o principal meio de comunicação entre os moradores da zona rural que fazem da feira o ponto de encontro para compra de mercadorias, troca de ideias e, principalmente, balcão de informações dos assuntos da semana.

A iniciativa lembra que, em um passado não muito distante, as feiras do Nordeste tinham um papel importante na vida sociocultural e econômica das vilas e municípios. "Era ali, no meio de ´souvenirs´, ferramentas, cereais, farinhas e bugigangas de toda a espécie que poetas e cantadores pelejavam entre si e os livretos no cordel davam a última notícia que percorria o sertão", lembra a cordelista Josenir Lacerda.

O cordel "Segredos da Natureza" é um diálogo poético entre dois matutos que trocam informações sobre crendices, mitos, lendas, contos, provérbios e axiomas populares que são transmitidos oralmente de geração para geração.

Descontração

"É a conversa descontraída dos sertanejos nas varandas e nos terreiros das residências rurais, iluminadas pela luz da lua e climatizadas pelos ventos com cheiro de flores silvestres", define a autora. Para o dentista e poeta Chico Nascimento, o cordel é "o jornal daqueles que não tem acesso ou não compreendem a linguagem dos meios de comunicação, como rádio, jornal e televisão".

O cordel, segundo Chico Nascimento, na sua função de tradutor de informações exerce a missão de jornalista popular.

O poeta lembra que a poesia popular impressa, denominada Literatura de Cordel, é uma das mais legítimas expressões culturais nordestina. Desde que surgiram os primeiros folhetos impressos, no último quartel do Século XIX, este modelo de comunicação tem sido poderosa ferramenta de alfabetização e incentivo à leitura junto às populações carentes do Nordeste.

Rabeca

O evento foi animado por uma rabeca, instrumento típico das feiras nordestinas, tocada por João Nicodemos, um dos autores do cordel que define a feira como o palco da cultura popular nordestina. A feira, segundo Nicodemos, é uma espécie de Shopping Center popular, que funciona como vitrine da criatividade do homem do campo com o seu rico artesanato. Ali, funciona também a "praça de alimentação" com comidas típicas: buchada, panelada, baião-de-dois, caldo de mocotó, galinha caipira, pão de milho. A parte humorística da festa ficou por conta do comediante "Tranquilino Repuxado".

Cego Oliveira

A rabeca, que antecedeu ao violino, sempre fez parte deste universo nordestino nas mãos de artistas do povo como o "Cego Oliveira" que se tornou famoso. Enquanto o violino se transformou um instrumento de elite das grandes orquestras sinfônicas, a rabeca, geralmente fabricada na região, ganhou as feiras como representante da cultura popular.

Para o cordelista João Nicodemos, que é um exímio tocador de rabeca, o evento realizado ontem repetiu a cena dos repentistas do passado. "É claro que já não existe mais aquele nomadismo, quando o violeiro andava de feira em feira, repassando informações, promovendo o seu jornalismo itinerante", comentou ele.


Fique por dentro
Origem em Portugal

A Literatura de Cordel chegou ao Brasil no Século XVIII, com os portugueses. Aos poucos, foi se tornando cada vez mais popular. Nos dias de hoje, podemos encontrar este tipo de literatura, principalmente, na região Nordeste do Brasil. Ainda são vendidos em lonas ou malas estendidas em feiras populares. De custo baixo, geralmente estes pequenos livros são vendidos pelos próprios autores. Fazem grande sucesso em Estados como Pernambuco, Ceará, Alagoas, Paraíba e Bahia. Este sucesso ocorre pelo preço baixo, do tom humorístico de muitos deles e também por retratarem fatos da vida cotidiana da cidade ou da região. Os principais assuntos nos livretos são: festas, política, secas, disputas, brigas, milagres, vida dos cangaceiros, atos de heroísmo, milagres, morte de personalidades etc. Em algumas situações, são acompanhados de violas ou rabecas.


Antônio Vicelmo
Repórter


MAIS INFORMAÇÕES 
Serviço Social do Comércio (Sesc), Rua André Cartaxo, 443, Bairro São Miguel
(88) 3523.4444

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