sábado, 20 de fevereiro de 2010

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL: DE PROTESTO À PROPOSTA

 Por Polliana de Luna Barreto [1]


O 1° FSM nasceu da necessidade da sociedade civil e dos movimentos sociais se oporem à globalização que se intensificou no início deste século. O fortalecimento do neoliberalismo e de suas práticas levou milhares de pessoas a participarem da primeira edição, que se contrapunha ao Fórum Econômico que acontece anualmente em Davos.

O Fórum Social Mundial (FSM)- 10 Anos – Grande Porto Alegre, ocorrido entre os dias 25 e 29 de janeiro, reuniu 35 mil pessoas, em atividades espalhadas por sete cidades gaúchas, o evento contou com expressiva participação de jovens e mulheres. As temáticas que caminhavam na direção de “Outro mundo possível” incluíam debates relacionados à educação, meio ambiente, cultura, economia solidária, democracia, direitos humanos, dentre outras.O FSM se propõe a ser espaço para a reflexão e debate, acerca de saídas possíveis para a redução das desigualdades sociais através da construção de um novo modelo de sociedade.

Na edição de seus dez anos a tentativa foi, não só analisar os frutos do Fórum, mas, sair da fase de protesto para entrar numa fase de propostas. Neste sentido, o principal Seminário, que contou com as presenças de vários dos mais renomados propulsores do Fórum Social Mundial, teve como tema “Dez anos depois: desafios e propostas para outro mundo possível”. Discutiram-se aí os elementos de uma nova agenda, que trouxe à tona temas como Bens Comuns, Bem-Viver e Sustentabilidade.

As crises que se instalam em vários países tendem a fundir-se, pois são processos que envolvem inclusive as questões ambientais. A falta de alimentos e de água potável já é uma realidade e se tornará maciça se o desenvolvimento não estiver alicerçado na sustentabilidade, sobre esse assunto, um dos pontos mais discutidos foi a Economia Solidária, defendida no painel intitulado “A Conjuntura Econômica Hoje” que contou com as presenças de David Harvey (City University of New York), Susan George (ATTAC) e Paul Singer (FEA_USP).

A mesa “Organização do Estado e Poder Político” mais uma vez se reportou à economia solidária, como um dos instrumentos para transformar a sociedade a partir da democratização da economia, para Nancy Neamtan – Chantier de l’Economie Sociale (Canadá) o caminho para um novo modelo econômico deve vincular o exercício do poder político com o exercício do econômico, a economia solidária, segundo ela, seria uma das formas para se alcançar esse objetivo. O indiano Prabir Purkayastha concordou com Nancy ao afirmar que existem dois tipos de crise no mundo hoje: a econômica e a política; e que a Economia Solidária seria um modelo a ser praticado na busca por uma lógica comercial diferente:“Talvez com a exceção da América Latina, no resto do mundo a esquerda não está avançando. Como podemos levar adiante um projeto pró-pessoas, vantajoso para todos? Como configurar o poder do Estado de forma diferente? Temos que redescobrir uma alternativa socialista. Que tipo de organização da economia e das instituições políticas queremos? A economia solidária pode ser parte da resposta”, disse ele.

Ainda como propostas, a  instituição de um governo nacional foi questão presente nas discussões, o mesmo deve funcionar sustentado em instituições internacionais, esse governo representaria as diversas partes do planeta. Nesse momento foi defendida uma reestruturação da ONU, que passasse a ser composta realmente pelas Nações do mundo inteiro e não por um número reduzido de membros, os quais nem sempre defendem as reais necessidades das nações pobres. O exemplo do Haíti foi apresentado para ilustrar como o estado não tem sido capaz de mitigar os efeitos da desestruturação daquele país, a ajuda humanitária tem sido dada em sua grande parte  através de exércitos, que mesmo levando alimentos e água, tem em sua própria essência o sentido da violência, o que acaba massificando uma imagem de invasão e não de auxílio.

Alem de propostas, essa mesa teve explanada na fala de Pablo Solón, embaixador da Bolívia na ONU e membro da Aliança Social Continental, a experiência da Bolívia em tentar construir um novo modelo de Estado, onde os excluídos façam parte do sistema, segundo ele mais que administrar o que existe é preciso recuperar os recursos naturais a fim de alcançar o Bem-Viver, que nada mais é do que compartilhar, já que tentar ser melhor que o outro tem um limite estabelecido pela própria natureza.

Em meio a tantas intervenções, a afirmação “Outro mundo é possível” nos chama atenção para um novo modo de encarar a globalização, num processo onde a competição dê lugar a cooperação entre as nações, visto que a globalização deve assumir dimensões como a valorização da diversidade cultural e étnica; o acesso universal aos direitos sociais e a compreensão de que o mundo terá um destino comum, portanto os esforços de todos os governos e movimentos devem confluir para a preservação da vida, através da igualdade de condições em todos os aspectos. Os países ricos não poderão suportar a pobreza absoluta do restante do mundo. O problema que enfrentamos não é a globalização como pensávamos num passado recente, mas os rumos que esse processo tem tomado, sedimentando o abismo entre nações pobres e ricas. Este é um momento oportuno para que sejam praticadas ações que visem à harmonia dos interesses de todos os povos, no intuito de que todos se beneficiem ao máximo dos recursos materiais e culturais do planeta, pois hoje somos capazes de admitir a derrocada do modelo econômico praticado hegemonicamente nas últimas décadas.

As críticas ao FSM são muitas, desde a fragilidade de seu caráter antipartidário; nesses dez anos, por exemplo, no Brasil, a esquerda chegou ao poder, Lula participou do primeiro Fórum como ativista e do último como Presidente da República, não seria essa a ”fragilidade” a qual alguns tem se referido? É criticada ainda a própria organização do evento, já que as atividades têm sido descentralizadas. De qualquer forma é fato que nos últimos dez anos a crise do neoliberalismo é evidente, testemunhamos o atual modelo econômico dando sinais de desgaste, cada vez mais percebemos que um modelo alternativo de sociedade é urgente e essa tem sido a principal questão discutida no FSM, e aí os movimentos sociais devem se aproximar dos governos para cobrar e propor políticas públicas, mas sem perder a autonomia.

No balanço, fundadores do FSM acreditam que o neoliberalismo foi vencido ao menos ideologicamente, e que o Fórum teve sua participação nesse processo, nos convencendo que um novo modelo econômico é possível, bem como uma organização de estado e poder político capaz de democratizar os recursos e acabar com as desigualdades sociais.


MARCHA DE ABERTURA FSM 



MARCHA DE ABERTURA – PORTO ALEGRE


ABERTURA DO FÓRUM -  GIGANTINHO


CONFERÊNCIA DE EDUCAÇÃO - SAPIRANGA

MARCHA DE ABERTURA – PORTO ALEGRE

MARCHA DE ABERTURA – PORTO ALEGRE


[1] Historiadora. Mestranda em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior (UFC). Assistente em Administração (UFC-CARIRI).

Nenhum comentário: