sábado, 24 de abril de 2010

Resenha do Livro "A Opção Terra"




A OPÇÃO TERRA
A Opção Terra - A Solução Para a Terra Não Cai do Céu
Leonardo Boff
Editora Record
HOMENAGEM
A Opção Terra
Neste livro, Leonardo Boff faz uma costura amorosa da história da Terra e das conseqüências de nossa atuação desde a Revolução Industrial, listando, também, os obstáculos que nos impedem de ver com clareza e tentar solucionar os problemas que assolam e desvastam a Mãe Terra. Seu texto é de fácil leitura fundado em grande erudição - característica daqueles que verdadeiramente meditam sobre um tema e sobre ele se debruçam com cuidado quase devocional.
José Eduardo Mendonça

O teólogo e ex-sacerdote Leonard Boff, que lecionou no Instituto Franciscano em Petrópolis durante 22 anos, é um dos expoentes da Teologia da Libertação, corrente da igreja que reflete sobre a situação dos excluídos à luz da fé cristã e cuja origem remonta aos anos 1950. Sua primeira colaboração sobre o tema foi o livro Jesus Cristo Libertador, de 1972. Sempre foi uma pedra no sapato na ala conservadora do Vaticano. Em 1985, foi condenado a um ano de “silêncio obsequioso” pelo arquiconservador diretor da Congregação Para a Doutrina da Fé, Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, por sua crítica à hierarquia da igreja. Em 1992, pediu dispensa do sacerdócio e uniu-se à educadora popular e militante dos direitos humanos Márcia Miranda. 

Intelectual coerente, autor de mais de 70 livros, professor visitante das universidades de Lisboa, Salamanca, Harvard e Heidelberg, e atualmente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Boff é membro da Comissão Internacional da Carta da Terra, documento gestado por quase três décadas, ratificado em 2000 e chancelado pela Unesco em 2003 como referência ética para o desenvolvimento sustentável e um instrumento educativo. 

Neste livro, depois de um elucidativo capítulo sobre a biografia da Terra e de uma apresentação do planeta como uma entidade viva, complexa e construída de interações (Gaia), Boff abre o terceiro capitulo com uma pergunta direta que traz em si uma sensação de alarme: “Haverá sabedoria suficiente na humanidade, vontade política dos chefes de Estado e sentido ético dos executivos das grandes corporações internacionais para começar imediatamente uma nova economia política e um novo modo sustentável de viver coletivamente que salve a Terra e a Humanidade?” 

Logo a seguir lembra que os dados do IPCC - Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas da ONU já atestaram que a humanidade ultrapassou o limite em seu movimento de predação de nossos recursos naturais, que tomou vulto mais sombrio após o início da Revolução Industrial: “Ultrapassado o limite, não conseguiremos mais parar a roda, apenas reduzir-lhe a velocidade”. 

Estas constatações não constituem uma novidade – estão em incontáveis livros sobre tema, e nos chegam diariamente pelos jornais, revistas e pela Internet. A contribuição de Boff é fazer deles uma costura amorosa e cristã, num texto de fácil leitura fundado em grande erudição – característica daqueles que verdadeiramente meditam sobre um tema e sobre ele se debruçam com cuidado quase devocional. Além de recorrer a cientistas e ecólogos, o autor ostenta na bibliografia contribuições do pensamento de Edgar Morin, Fritjof Capra, Eric Hobsbwan, Arnold Toynbee, Descartes, Heidegger, Max Weber, Karl Marx e Frederic Nietszche, alargando horizontes e guiando o leitor a reflexões preciosas. 

Dentre estas reflexões a que nos convida, Boff lista os obstáculos que nos impedem de ver com clareza e tentar solucionar os problemas que assolam e desvastam a Mãe Terra. O primeiro deles é a inconsciência acerca dos estragos que provocamos. O segundo, nosso arraigado antropocentrismo. O terceiro, nosso racionalismo e a falta de sensibilidade, de coração e de compaixão. Depois dele, nosso individualismo cultural e nosso reducionismo. O quinto obstáculo é formado pela competição e concorrência, que criam uma perversa desigualdade social. O sexto, e último, é o consumismo: “Se há 800 milhões de famintos, há por outro lado 1.2 bilhão de obesos. Desperdiçamos recursos que farão falta às gerações futuras”. 

Ao final, Boff compila uma série de dicas práticas e exemplares para cuidar de Gaia. São contribuições individuais – ninguém crê que se vá salvar o mundo com elas - mas servem, como se fossem exercícios de uma ioga ecológica, para nos educarmos em novas posturas e nos tornarmos mais que meros observadores de um planeta que pode estar fadado a nos expulsar dele num futuro nada distante.


Fonte: Planeta Sustentável - http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/estante/opcao-terra-551490.shtml

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