26/10/2009 - 19:41:43
As florestas e selvas do mundo são muito mais do que instrumentos para armazenar carbono e abrandar o aquecimento global, alertaram especialistas e ativistas aos governos que negociam um pacto para enfrentar a mudança climática. As florestas abrigam dois terços da diversidade biológica da Terra, proporcionam serviços vitais de fornecimento de água e alimentos, e sustentam a identidade cultural e espiritual de 1,6 bilhão de pessoas, muitas delas de povos ancestrais que devem sobreviver em seus hábitat.
Esta parece ser a principal conclusão deixada pelo XIII Congresso Florestal Mundial, realizado de 18 a 23 deste mês em Buenos Aires, com a presença de mais de quatro mil pessoas, entre acadêmicos, empresários, funcionários governamentais e de organismos multilaterais, e dirigentes de um amplo leque de organizações não governamentais.
“O XIII Congresso vê preocupado o impacto da mudança climática nas florestas e fortemente enfatiza o importante papel que têm na mitigação da mudança climática e a necessidade de as pessoas e o ecossistema se adaptarem a esse desafio”, diz um documento que será apresentado em dezembro na XV Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que acontecerá em Copenhague. Organizado pelo governo da Argentina, com patrocínio da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o Congresso teve seu eixo principal no vínculo entre floresta e mudança climática, do qual surgiu este documento.
A questão foi tratada no Fórum de Florestas e Mudança Climática, onde foram expostas estratégias para reduzir a quantidade de gases causadores do efeito estufa oriundos do desmatamento e da degradação das áreas florestais. O acúmulo desses gases que chegam à atmosfera por diferentes atividades humanas está elevando a temperatura do planeta, segundo a ciência. Como os vegetais absorvem carbono na fotossíntese, as florestas e selvas constituem grandes depósitos deste gás, o principal entre os que provocam o efeito estufa. O corte de árvores e a redução de áreas de mata têm o efeito contrário.
Segundo a FAO, cerca de 13 milhões de hectares de florestas são cortados a cada ano no mundo, com efeitos nas emissões de gases, mas também com danos à biodiversidade e à vida de milhões de pessoas. As florestas não são apenas carbono acumulado, disse Peter Saile, do programa de política internacional de florestas da governamental Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ), expondo um conceito que foi integrado no documento final. “É muito importante ter uma perspectiva mais ampla sobre os serviços ambientais das florestas e os benefícios complementares que sua preservação tem para a biodiversidade e as pessoas que ali vivem”, explicou.
Por sua vez, Gerhard Dieterle, do programa de investimento florestal do Banco Mundial, disse que os negociadores de um pacto sobre o clima devem “colocar a mudança climática dentro de uma agenda mais ampla de desenvolvimento sustentável”. Segundo o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), quase 18% das emissões de dióxido de carbono provêm do desmatamento e da degradação de florestas, uma proporção equivalente à contaminação causada pelo sistema de transporte mundial em seu conjunto, ou os Estados Unidos em particular. No Fórum também houve vozes que insistiram na necessidade de um manejo sustentável dos ecossistemas florestais com apoio às comunidades que os habitam.
No final de setembro do ano passado, as Nações Unidas e o governo da Noruega apresentaram o programa-piloto Redução de Emissões Provocadas pelo Desmatamento e pela Degradação das Florestas (REDD), que se espera ganhe forma nas negociações de Copenhague. Trata-se de o mundo rico pagar aos países em desenvolvimento para que estes não cortem suas florestas, mas, faltando menos de dois meses para a reunião na capital dinamarquesa, persistem os debates sobre a implementação do sistema e de sua efetividade. Algumas organizações não governamentais suspeitam que poderia beneficiar apenas governos e empresas.
Em conversa com o Terramérica, Thais Linhares, diretora da Agência Florestal do Brasil, explicou que o país criou, no ano passado, o Fundo Amazônia, no contexto da iniciativa REDD, para que o Estado pague pelas emissões evitadas em razão do menor desmatamento nesta vasta região de selva tropical. “Nossa expectativa é que, em Copenhague, avancemos para uma definição maior, para que os países possam captar recursos de mercado” destinados a mitigar a mudança climática por meio do freio ao desmatamento, afirmou. “O fundo é nossa grande estratégia nacional REDD e apoiamos outros projetos” de menor escala, acrescentou.
Entretanto, nem todos concordam que esta iniciativa serve para a preservação das florestas. A ativista Ana Filippini, do secretariado internacional do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais, disse ao Terramérica que “é difícil estar contra a iniciativa REDD em si mesma”. Porém, esse mecanismo é impulsionado por governos e empresas que são os que, definitivamente, têm a capacidade de mostrar ou certificar que se absterão de explorar a floresta. “É difícil que, para receber dinheiro, uma comunidade indígena possa demonstrar que não vai destruir a floresta, como pede a REDD”, alertou.
“Os que defendem esta iniciativa querem, inclusive, que os indígenas participem, mas, se têm tanto interesse em preservar as florestas e a vida das comunidades, por que não o fizeram até agora?”, perguntou. Filippini também questionou que, entre as propostas de reflorestamento debatidas no contexto do Congresso Florestal Mundial, estejam incluídas as monoculturas industriais “que têm um impacto negativo comprovado no solo, na água e no agravamento da mudança climática. As plantações florestais não são florestas, são massas de árvores de uma única espécie”. Estes são aspectos cruciais na contagem regressiva para o encontro de Copenhague.
Roberto Acosta, representante da Secretaria da Convenção sobre Mudança Climática, argumentou que as florestas podem contribuir para reduzir as emissões aumentando a absorção de carbono, o que permitiria agir de forma “imediata” para evitar os “impactos catastróficos” da mudança climática. As florestas devem ser monitoradas adequadamente, admitiu, e devem ser gerados projetos para fortalecer a capacidade técnica e financeira dos países em desenvolvimento em matéria de preservação, com participação de comunidades locais, ponto que considera “vital” para uma estratégia de sucesso.
Por sua vez, o norueguês Trond Gabrielsen, da Iniciativa Internacional de Clima e Florestas, de seu país, disse que reduzir os gases oriundos do desmatamento “é a via mais rápida para deter em 25% as emissões nos próximos anos com o mais baixo custo”. Também afirmou que “precisamos incluir a iniciativa REDD no futuro regime climático”, que deverá estabelecer em Copenhague compromissos para depois de 2012, quando termina a vigência do primeiro período de obrigações estabelecidas no Protocolo de Kyoto.
* A autora é correspondente da IPS.
Esta parece ser a principal conclusão deixada pelo XIII Congresso Florestal Mundial, realizado de 18 a 23 deste mês em Buenos Aires, com a presença de mais de quatro mil pessoas, entre acadêmicos, empresários, funcionários governamentais e de organismos multilaterais, e dirigentes de um amplo leque de organizações não governamentais.
“O XIII Congresso vê preocupado o impacto da mudança climática nas florestas e fortemente enfatiza o importante papel que têm na mitigação da mudança climática e a necessidade de as pessoas e o ecossistema se adaptarem a esse desafio”, diz um documento que será apresentado em dezembro na XV Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que acontecerá em Copenhague. Organizado pelo governo da Argentina, com patrocínio da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o Congresso teve seu eixo principal no vínculo entre floresta e mudança climática, do qual surgiu este documento.
A questão foi tratada no Fórum de Florestas e Mudança Climática, onde foram expostas estratégias para reduzir a quantidade de gases causadores do efeito estufa oriundos do desmatamento e da degradação das áreas florestais. O acúmulo desses gases que chegam à atmosfera por diferentes atividades humanas está elevando a temperatura do planeta, segundo a ciência. Como os vegetais absorvem carbono na fotossíntese, as florestas e selvas constituem grandes depósitos deste gás, o principal entre os que provocam o efeito estufa. O corte de árvores e a redução de áreas de mata têm o efeito contrário.
Segundo a FAO, cerca de 13 milhões de hectares de florestas são cortados a cada ano no mundo, com efeitos nas emissões de gases, mas também com danos à biodiversidade e à vida de milhões de pessoas. As florestas não são apenas carbono acumulado, disse Peter Saile, do programa de política internacional de florestas da governamental Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ), expondo um conceito que foi integrado no documento final. “É muito importante ter uma perspectiva mais ampla sobre os serviços ambientais das florestas e os benefícios complementares que sua preservação tem para a biodiversidade e as pessoas que ali vivem”, explicou.
Por sua vez, Gerhard Dieterle, do programa de investimento florestal do Banco Mundial, disse que os negociadores de um pacto sobre o clima devem “colocar a mudança climática dentro de uma agenda mais ampla de desenvolvimento sustentável”. Segundo o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), quase 18% das emissões de dióxido de carbono provêm do desmatamento e da degradação de florestas, uma proporção equivalente à contaminação causada pelo sistema de transporte mundial em seu conjunto, ou os Estados Unidos em particular. No Fórum também houve vozes que insistiram na necessidade de um manejo sustentável dos ecossistemas florestais com apoio às comunidades que os habitam.
No final de setembro do ano passado, as Nações Unidas e o governo da Noruega apresentaram o programa-piloto Redução de Emissões Provocadas pelo Desmatamento e pela Degradação das Florestas (REDD), que se espera ganhe forma nas negociações de Copenhague. Trata-se de o mundo rico pagar aos países em desenvolvimento para que estes não cortem suas florestas, mas, faltando menos de dois meses para a reunião na capital dinamarquesa, persistem os debates sobre a implementação do sistema e de sua efetividade. Algumas organizações não governamentais suspeitam que poderia beneficiar apenas governos e empresas.
Em conversa com o Terramérica, Thais Linhares, diretora da Agência Florestal do Brasil, explicou que o país criou, no ano passado, o Fundo Amazônia, no contexto da iniciativa REDD, para que o Estado pague pelas emissões evitadas em razão do menor desmatamento nesta vasta região de selva tropical. “Nossa expectativa é que, em Copenhague, avancemos para uma definição maior, para que os países possam captar recursos de mercado” destinados a mitigar a mudança climática por meio do freio ao desmatamento, afirmou. “O fundo é nossa grande estratégia nacional REDD e apoiamos outros projetos” de menor escala, acrescentou.
Entretanto, nem todos concordam que esta iniciativa serve para a preservação das florestas. A ativista Ana Filippini, do secretariado internacional do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais, disse ao Terramérica que “é difícil estar contra a iniciativa REDD em si mesma”. Porém, esse mecanismo é impulsionado por governos e empresas que são os que, definitivamente, têm a capacidade de mostrar ou certificar que se absterão de explorar a floresta. “É difícil que, para receber dinheiro, uma comunidade indígena possa demonstrar que não vai destruir a floresta, como pede a REDD”, alertou.
“Os que defendem esta iniciativa querem, inclusive, que os indígenas participem, mas, se têm tanto interesse em preservar as florestas e a vida das comunidades, por que não o fizeram até agora?”, perguntou. Filippini também questionou que, entre as propostas de reflorestamento debatidas no contexto do Congresso Florestal Mundial, estejam incluídas as monoculturas industriais “que têm um impacto negativo comprovado no solo, na água e no agravamento da mudança climática. As plantações florestais não são florestas, são massas de árvores de uma única espécie”. Estes são aspectos cruciais na contagem regressiva para o encontro de Copenhague.
Roberto Acosta, representante da Secretaria da Convenção sobre Mudança Climática, argumentou que as florestas podem contribuir para reduzir as emissões aumentando a absorção de carbono, o que permitiria agir de forma “imediata” para evitar os “impactos catastróficos” da mudança climática. As florestas devem ser monitoradas adequadamente, admitiu, e devem ser gerados projetos para fortalecer a capacidade técnica e financeira dos países em desenvolvimento em matéria de preservação, com participação de comunidades locais, ponto que considera “vital” para uma estratégia de sucesso.
Por sua vez, o norueguês Trond Gabrielsen, da Iniciativa Internacional de Clima e Florestas, de seu país, disse que reduzir os gases oriundos do desmatamento “é a via mais rápida para deter em 25% as emissões nos próximos anos com o mais baixo custo”. Também afirmou que “precisamos incluir a iniciativa REDD no futuro regime climático”, que deverá estabelecer em Copenhague compromissos para depois de 2012, quando termina a vigência do primeiro período de obrigações estabelecidas no Protocolo de Kyoto.
* A autora é correspondente da IPS.
LINKS:
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
(Envolverde/Terramérica)
Fonte: Mercado Ético
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