segunda-feira, 26 de outubro de 2009

AÇÕES CULTURAIS - Projeto dá oportunidade a jovens do semiárido

Os jovens desenvolvem diversas atividades em várias áreas, uma delas é a comunicação. Atualmente, eles estão finalizando um documentário sobre o beato José Lourenço (Foto: Antônio Vicelmo)

A padaria comunitária virou uma fonte de renda para os moradores de Ponta da Serra, no Crato (Foto: Antônio Vicelmo)

ONG Verde Vida desenvolve projeto social com jovens da zona rural do Crato e ganha apoio de entidade do exterior

Crato. O Nordeste seco, estorricado pelo sol causticante, é também o berço de ideias que florescem no meio do pedregulho. Assim é a catingueira, uma árvore que, apesar da adversidade, mantem-se viva no meio da Caatinga. O exemplo de resistência vem justamente do Sítio Catingueira, uma das áreas mais secas do Crato. Como a planta que se ergue altaneira, na terra árida, um grupo de jovens simples, pobres, filhos de agricultores, se destaca pela criatividade.

O Programa Ações Culturais para Povos Rurais, da ONG Verde Vida, com sede no Sítio Catingueira, foi indicado como semifinalista entre os 1.917 inscritos na oitava edição do Prêmio Itaú-Unicef 2009. A solenidade de premiação regional ocorreu no "Museu do Homem do Nordeste" em Recife, com a presença dos promotores do evento, avaliadores, integrantes das Comissões Técnicas Regionais e autoridades. O programa não conseguiu passar para a final, no entanto, para o presidente do "Verde Vida", Genivan Brasil, esta classificação abrirá portas para melhor interagir com outras instituições do gênero no País.

O projeto atende 150 crianças e adolescentes com faixa etária entre 5 e 17 anos, além do acompanhamento de 15 famílias e jovens que recebem apoio educacional. Na sede rural foram construídos uma quadra de esporte, parque infantil, refeitório e salas de aula. Tudo funciona em uma área de dois hectares, em meio a canteiros de frutas e verduras, uma pequena horta e criação de peixes ornamentais em tanques.

No Distrito de Ponta da Serra, funciona um núcleo equipado com computadores, ilha de edição, para a produção dos vídeos e suporte técnico das ações na área de comunicação. Quando a reportagem do Diário do Nordeste chegou ao local, os jovens estavam concluindo um vídeo sobre o Caldeirão do beato José Lourenço. O documentário faz parte do trabalho que é realizado na região com a finalidade de resgatar a cultura popular.

O coordenador do projeto, Marcos Antônio Xenofonte, lembra que "em 2004 estiveram na Alemanha quatro adolescentes que levaram um pouco da nossa cultura". Em 2007, foram convidadas 11 crianças e adolescentes do projeto para mais uma vez mostrarem os valores culturais, grandeza e a simplicidade de uma comunidade antes esquecida do sertão nordestino.

O "Verde Vida" recebe visitas de entidades sociais, poderes públicos e universidades, para pesquisas, estudos e intercâmbios, o que faz da ONG uma referência na ação com jovens no Cariri. Este projeto concorreu e foi selecionado em vários editais como Criança Esperança e Petrobras Cultural. Recebeu premiações como o Ponto de Mídia Livre pelo seu trabalho com comunicação e cultura.

História

Depois de trabalhar 10 anos com crianças de rua no Recife, o artista plástico Marcos Xenofonte voltou às origens, no Sítio Catingueira, a 30km do Crato, onde constatou que as crianças do local abandonavam a escola para trabalharem com os pais na roça, e as que permaneciam tinham baixo rendimento escolar. Não havia opções de lazer ou alternativas para o desenvolvimento das crianças na comunidade. Esta realidade o levou a ministrar oficinas de pinturas e artesanato para elas.

A experiência contou com 20 crianças, embora na comunidade existissem outras em condições de vulnerabilidade. Frequentar e obter boas notas na escola eram condições para participar do projeto. O convencimento das famílias não foi fácil. No começo houve resistências, que foram vencidas pelas próprias crianças que mostraram melhor desempenho na escola e elevação da autoestima. O projeto recebeu a visita da organização alemã Aktionskreis Pater Beda que passou a financiar as atividades já existentes e foram implantadas novas, como reforço escolar, capoeira, teatro, dança, coral, catequese, esporte, música e alimentação diária.

Parceiros institucionais foram surgindo como o Mesa Brasil do Serviço Social do Comércio (Sesc), unidade Crato, que doa alimentos com frequência, e a Prefeitura do Crato, por meio da Secretaria do Trabalho e da Ação Social, que repassa recursos por meio de convênio.

Hoje, o projeto se espalha por todo o município cratense, resgatando valores e mostrando para o mundo que em meio às inclemências do Nordeste seco e sem assistência, nascem também ideias criativas.

PADARIA COMUNITÁRIA
Intercâmbio oferece fonte de renda

Crato. Quem passa na estrada que liga Crato a Farias Brito, observa uma construção estilo europeu, que chama a atenção dos transeuntes. Ali funciona uma Padaria Comunitária, administrada por oito jovens, sob a orientação de um padeiro alemão. No momento, o instrutor é Chistian Cornilsen, um aposentado alemão, com 70 anos, que orienta a fabricação de pães, bolachas, biscoitos e bolos. O intercâmbio profissional tem objetivo, além de formar padeiros e padeiras para o mercado de trabalho, oferecer uma ocupação para alemães aposentados.

A iniciativa que segue os precipícios da economia solidária funciona como vitrine do projeto. A comunidade de Ponta da Serra está se habituando a comer produtos de farinha de trigo com receitas alemães. Estimulada com o sucesso da padaria, a coordenação do projeto já está pensando em agregar uma lanchonete que deve ser inaugurada até o fim do ano.

É um conceito diferente das tradicionais padarias da região, a começar pela automação. Seguindo o objetivo do projeto, em defesa da natureza, a padaria não utiliza lenha. Os fornos são alimentados com gás e energia elétrica. A cliente acompanha a fabricação dos alimentos por janelas de vidros. Os espaços são divididos com PVC.

A gerente da padaria, Marineide Alves, conhecida por "Duda", que já esteve na Alemanha e foi treinada em Salvador, Bahia, diz que a movimentação financeira está correspondendo à expectativa. Mas não é este o principal objetivo do projeto.

A prioridade, segundo afirma, é a formação de profissionais. "Muito mais importante do que o lucro é o capital humano. Os oito adolescentes que estão trabalhando na padaria vão sair daqui capacitados para trabalhar em qualquer panificadora", garante ela.

FIQUE POR DENTRO
Esporte e formação cultural são objetivos

O Projeto Verde Vida, dentro de sua programação pontual, há cinco anos oferece aulas de capoeira para os alunos da sede campestre no Sítio Catingueira. A partir de 2009, essa ação foi ampliada para a sede do distrito de Ponta da Serra. A ideia é oportunizar aos participantes, além da prática dos exercícios físicos propostos, informação dos fundamentos da manifestação esportiva e cultural, a história da influência da cultura ´afro´ na constituição da identidade. As aulas, que ocorrem semanalmente no Polo Edvardo Ribeiro e são ministradas pela professora Gabriela Rodrigues, já contam com dezenas de participantes da sede do distrito e de comunidades vizinhas. Jovens que passaram pelo projeto, hoje são profissionais pós-graduados e artesãos profissionais, universitários, absorvidos pelo mercado de trabalho e contribuindo para o desenvolvimento desta região.

Mais informações
Projeto Verde Vida - Ponta da Serra Crato: (88) 3521.6729
(85) 3523.9262
verdevidas@yahoo.com.br

ANTÔNIO VICELMO
REPÓRTER

Fonte: Jornal Diário do Nordeste. Caderno Regional. Fortaleza, 26 de outubro de 2009.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=683700

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