Em sua décima edição, a Romaria do Caldeirão acontece no domingo, destacando temas de defesa ambiental
Confessionário da Capela de Santo Inácio de Loyola, no Sítio Caldeirão, é marco na memória do povoado (Foto: ANTÔNIO VICELMO)
Crato - A Diocese do Crato promove, no domingo, a 10ª Romaria do Caldeirão, destinada a preservar a memória da experiência comunitária do Sítio Caldeirão, liderada pelo beato José Lourenço, destruída por forças policiais em 1937. O evento tem na coordenação o Fórum Araripense de Combate à Desertificação, uma entidade formada por ambientalistas, associações comunitárias e representantes de prefeituras, que tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável.
O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, de acordo com o agente da Cáritas Diocesana, Alex Josberto Andrade Sampaio, "é um espaço ideal para os gritos e clamores das nossas comunidades de base, expressos na carta política, a ecoar no palco da resistência da comunidade liderada pelo beato José Lourenço".
A romaria será a caixa de ressonância dos assuntos debatidos, esta semana, no Fórum Araripense, quando foram analisados o empobrecimento da terra, a perda da biodiversidade e da identidade cultural, a situação da agricultura familiar, o processo de desertificação, convivência com o semi-árido e a questão indígena e quilombola da região do Cariri, além de oficinas temáticas de educação contextualizada, gênero, agroecologia e economia solidária.
Alex explica que, ao longo de seus 10 anos de caminhada, o Fórum Araripense, que se reúne na primeira terça-feira de cada mês, vem sendo reconhecido e respeitado pelos setores públicos e sociedade civil como espaço democrático e legítimo de debates e compromissos para a convivência com o semi-árido, apresentando soluções técnicas e políticas, reforçando consensos para reatar os laços de fraternidade social.
Outro ponto discutido pelo Fórum Araripense que será levado para reflexão durante a romaria é o mapeamento das comunidades de quilombolas no Cariri, promovido pelo Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec). A iniciativa surgiu para acabar com o mito de que não existem negros nem indígenas na região. O Grunec já identificou cinco quilombos nos municípios de Porteiras, Jardim, Jati, Salitre e Várzea Alegre. Há informações do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) sobre a presença destas comunidades nos municípios de Crato, Brejo Santo e Aurora. Fontes informais apontam ainda a existência desses povos nos municípios de Assaré, Missão Velha, Mauriti e Potengi.
Segundo destaca o agente da Cáritas, ao visitar as regiões mais empobrecidas do Cariri, na zona rural e também nas periferias urbanas, é marcante a presença negra. Ele lamenta constatar que os índices de analfabetismo são maiores entre os negros e as oportunidades e salários são menores dependendo da cor da pele. "É a discriminação presente, ainda que, muitas vezes, esteja travestida".
O projeto, a partir do mapeamento, objetiva dar mais poder a essas comunidades, para que consigam, a partir do auto-reconhecimento, buscar meios de desenvolvimento com sustentabilidade, mitigando as desigualdades históricas
Sobre a romaria, Alex volta a destacar o objetivo do evento:lembrar a luta, a resistência e a caminhada de um povo que, de maneira ordeira, buscava a santificação por meio do trabalho agrícola, da oração e da penitência. Para o Caldeirão convergiam levas de romeiros vindos do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia, em busca de um pedaço de terra para plantar e viver. A comunidade rural auto-suficiente chegou a abrigar três mil pessoas, que não mais queriam trabalhar para os fazendeiros da região.
Celeiro agrícola
Os remanescentes lembram que ali funcionava engenho de rapadura, casa de farinha, tecelagem, carpintaria e oficina de ferreiro. Ao mesmo tempo em que crescia a fama do Caldeirão, transformado em celeiro agrícola do Cariri e santuário de oração do Nordeste, cresciam também as atenções das autoridades que viram no grupo social uma ameaça à ordem.
A invasão do Caldeirão ocorreu em 1936. Os seguidores do beato foram obrigados a abandonar a comunidade. Casas e plantações foram queimadas e saqueadas. Na oportunidade, não morreu ninguém. No ano seguinte, em cima da serra, a cerca de 20 quilômetros do Caldeirão, aconteceu o massacre, resultando na morte de mais de 800 seguidores do beato.
O remanescente da comunidade, Antônio Inácio da Silva, lembra que as tropas atacaram a população, destruindo casas e plantações. Os sertanejos resistiram ao ataque mas perderam no confronto. O beato José Lourenço conseguiu escapar e refugiou-se em Pernambuco, onde morreu em 1946.
REIVINDICAÇÕES
"A Romaria será a caixa de ressonância das reivindicações populares feitas no Fórum Araripense"
Alex Josberto Andrade
Agente da Cáritas Diocesana
FIQUE POR DENTRO
Beato foi um dos principais devotos de Padre Cícero
O beato José Lourenço foi um dos mais importantes seguidores de Padre Cícero. Em uma terra doada pelo religioso caririense quando ainda vivo, José Lourenço, movido por suas crenças religiosas, fundou a Comunidade do Caldeirão. Organizada em moldes socialistas, o povoamento logo atraiu contra si o ódio de todas as forças conservadoras do Nordeste. Era considerada perigosa pelos grandes proprietários de terra e pelo clero do Cariri. Deixava os fazendeiros sem a mão-de-obra barata e podia significar, na grotesca visão dos poderosos, um embrião do comunismo. No cotidiano das famílias seguidoras do beato imperava a solidariedade, uma vez que todos trabalhavam em proveito da coletividade. Plantavam e se lamentavam com os frutos da colheita.
Mais informações
Cáritas Diocesana
Rua Teófilo Siqueira, 631
Crato, (88) 3521. 8046
ANTÔNIO VICELMO
REPÓRTER
Fonte: Jornal Diário do Nordeste - Caderno Regional - Fortaleza, 18 de setembro de 2009.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=671907
Crato - A Diocese do Crato promove, no domingo, a 10ª Romaria do Caldeirão, destinada a preservar a memória da experiência comunitária do Sítio Caldeirão, liderada pelo beato José Lourenço, destruída por forças policiais em 1937. O evento tem na coordenação o Fórum Araripense de Combate à Desertificação, uma entidade formada por ambientalistas, associações comunitárias e representantes de prefeituras, que tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável.
O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, de acordo com o agente da Cáritas Diocesana, Alex Josberto Andrade Sampaio, "é um espaço ideal para os gritos e clamores das nossas comunidades de base, expressos na carta política, a ecoar no palco da resistência da comunidade liderada pelo beato José Lourenço".
A romaria será a caixa de ressonância dos assuntos debatidos, esta semana, no Fórum Araripense, quando foram analisados o empobrecimento da terra, a perda da biodiversidade e da identidade cultural, a situação da agricultura familiar, o processo de desertificação, convivência com o semi-árido e a questão indígena e quilombola da região do Cariri, além de oficinas temáticas de educação contextualizada, gênero, agroecologia e economia solidária.
Alex explica que, ao longo de seus 10 anos de caminhada, o Fórum Araripense, que se reúne na primeira terça-feira de cada mês, vem sendo reconhecido e respeitado pelos setores públicos e sociedade civil como espaço democrático e legítimo de debates e compromissos para a convivência com o semi-árido, apresentando soluções técnicas e políticas, reforçando consensos para reatar os laços de fraternidade social.
Outro ponto discutido pelo Fórum Araripense que será levado para reflexão durante a romaria é o mapeamento das comunidades de quilombolas no Cariri, promovido pelo Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec). A iniciativa surgiu para acabar com o mito de que não existem negros nem indígenas na região. O Grunec já identificou cinco quilombos nos municípios de Porteiras, Jardim, Jati, Salitre e Várzea Alegre. Há informações do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) sobre a presença destas comunidades nos municípios de Crato, Brejo Santo e Aurora. Fontes informais apontam ainda a existência desses povos nos municípios de Assaré, Missão Velha, Mauriti e Potengi.
Segundo destaca o agente da Cáritas, ao visitar as regiões mais empobrecidas do Cariri, na zona rural e também nas periferias urbanas, é marcante a presença negra. Ele lamenta constatar que os índices de analfabetismo são maiores entre os negros e as oportunidades e salários são menores dependendo da cor da pele. "É a discriminação presente, ainda que, muitas vezes, esteja travestida".
O projeto, a partir do mapeamento, objetiva dar mais poder a essas comunidades, para que consigam, a partir do auto-reconhecimento, buscar meios de desenvolvimento com sustentabilidade, mitigando as desigualdades históricas
Sobre a romaria, Alex volta a destacar o objetivo do evento:lembrar a luta, a resistência e a caminhada de um povo que, de maneira ordeira, buscava a santificação por meio do trabalho agrícola, da oração e da penitência. Para o Caldeirão convergiam levas de romeiros vindos do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia, em busca de um pedaço de terra para plantar e viver. A comunidade rural auto-suficiente chegou a abrigar três mil pessoas, que não mais queriam trabalhar para os fazendeiros da região.
Celeiro agrícola
Os remanescentes lembram que ali funcionava engenho de rapadura, casa de farinha, tecelagem, carpintaria e oficina de ferreiro. Ao mesmo tempo em que crescia a fama do Caldeirão, transformado em celeiro agrícola do Cariri e santuário de oração do Nordeste, cresciam também as atenções das autoridades que viram no grupo social uma ameaça à ordem.
A invasão do Caldeirão ocorreu em 1936. Os seguidores do beato foram obrigados a abandonar a comunidade. Casas e plantações foram queimadas e saqueadas. Na oportunidade, não morreu ninguém. No ano seguinte, em cima da serra, a cerca de 20 quilômetros do Caldeirão, aconteceu o massacre, resultando na morte de mais de 800 seguidores do beato.
O remanescente da comunidade, Antônio Inácio da Silva, lembra que as tropas atacaram a população, destruindo casas e plantações. Os sertanejos resistiram ao ataque mas perderam no confronto. O beato José Lourenço conseguiu escapar e refugiou-se em Pernambuco, onde morreu em 1946.
REIVINDICAÇÕES
"A Romaria será a caixa de ressonância das reivindicações populares feitas no Fórum Araripense"
Alex Josberto Andrade
Agente da Cáritas Diocesana
FIQUE POR DENTRO
Beato foi um dos principais devotos de Padre Cícero
O beato José Lourenço foi um dos mais importantes seguidores de Padre Cícero. Em uma terra doada pelo religioso caririense quando ainda vivo, José Lourenço, movido por suas crenças religiosas, fundou a Comunidade do Caldeirão. Organizada em moldes socialistas, o povoamento logo atraiu contra si o ódio de todas as forças conservadoras do Nordeste. Era considerada perigosa pelos grandes proprietários de terra e pelo clero do Cariri. Deixava os fazendeiros sem a mão-de-obra barata e podia significar, na grotesca visão dos poderosos, um embrião do comunismo. No cotidiano das famílias seguidoras do beato imperava a solidariedade, uma vez que todos trabalhavam em proveito da coletividade. Plantavam e se lamentavam com os frutos da colheita.
Mais informações
Cáritas Diocesana
Rua Teófilo Siqueira, 631
Crato, (88) 3521. 8046
ANTÔNIO VICELMO
REPÓRTER
Fonte: Jornal Diário do Nordeste - Caderno Regional - Fortaleza, 18 de setembro de 2009.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=671907
Um comentário:
NOTÍCIA ATUALIZADA SOBRE A AÇÃO EM BUSCA DA COVA COLETIVA DAS VÍTIMAS DO SÍTIO CALDEIRÃO:
DENÚNCIA: SÍTIO CALDEIRÃO, O ARAGUAIA DO CEARÁ – UMA HISTÓRIA QUE NINGUÉM CONHECE PORQUE JAMAIS FOI CONTADA...
"As Vítimas do Massacre do Sítio Caldeirão
têm direito inalienável à Verdade, Memória,
História e Justiça!" Otoniel Ajala Dourado
No CEARÁ, para quem não sabe, houve também um crime idêntico ao do “Araguaia”, contudo em piores proporções, foi o MASSACRE praticado por forças do Exército e da Polícia Militar do Ceará no ano de 1937, contra a comunidade de camponeses católicos do Sítio da Santa Cruz do Deserto ou Sítio Caldeirão, que tinha como líder religioso o beato JOSÉ LOURENÇO, seguidor do padre Cícero Romão Batista.
O CRIME DE LESA HUMANIDADE
A ação criminosa deu-se inicialmente através de bombardeio aéreo, e depois, no solo, os militares usando armas diversas, como fuzis, revólveres, pistolas, facas e facões, assassinaram mulheres, crianças, adolescentes, idosos, doentes e todo o ser vivo que estivesse ao alcance de suas armas, agindo como se ao mesmo tempo, fossem juízes e algozes.
A AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA PELA SOS DIREITOS HUMANOS
Como o crime praticado pelo Exército e pela Polícia Militar do Ceará foi de LESA HUMANIDADE / GENOCÍDIO / CRIME CONTRA A HUMANIDADE é considerado IMPRESCRITÍVEL pela legislação brasileira bem como pelos Acordos e Convenções internacionais, e por isso a SOS - DIREITOS HUMANOS, ONG com sede em Fortaleza - Ceará, ajuizou no ano de 2008 uma Ação Civil Pública na Justiça Federal contra a União Federal e o Estado do Ceará, requerendo que: a) seja informada a localização da COVA COLETIVA, b) sejam os restos mortais exumados e identificados através de DNA e enterrados com dignidade, c) os documentos do massacre sejam liberados para o público e o crime seja incluído nos livros de história, d) os descendentes das vítimas e sobreviventes sejam indenizados no valor de R$500 mil reais, e) outros pedidos
A EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO DA AÇÃO
A Ação Civil Pública inicialmente foi distribuída para o MM. Juiz substituto da 1ª Vara Federal em Fortaleza/CE e depois, redistribuída para a 16ª Vara Federal na cidade de Juazeiro do Norte/CE, e lá chegando, foi extinta sem julgamento do mérito em 16.09.2009.
AS RAZÕES DO RECURSO DA SOS DIREITOS HUMANOS PERANTE O TRF5
A SOS DIREITOS HUMANOS inconformada com a decisão do magistrado da 16ª Vara de Juazeiro do Norte/CE, apelou para o Tribunal Regional da 5ª Região em Recife, com os seguintes argumentos: a) não há prescrição porque o massacre do Sítio Caldeirão, é um crime de LESA HUMANIDADE, b) os restos das vítimas do Sítio Caldeirão não desapareceram da Chapada do Araripe a exemplo da família do Czar Romanov, que foi morta no ano de 1918 e encontrada nos anos de 1991 e 2007;
A SOS DIREITOS HUMANOS DENUNCIA O BRASIL PERANTE A OEA
A SOS DIREITOS HUMANOS, a exemplo dos familiares das vítimas da GUERRILHA DO ARAGUAIA, denunciou no ano de 2009, o governo brasileiro na Organização dos Estados Americanos – OEA, por violação dos direitos humanos perpetrado contra a comunidade do Sítio Caldeirão.
PROJETO CORRENTE DO BEM
A SOS DIREITOS HUMANOS pede que todo aquele que se solidarizar com esta luta que repasse esta notícia para o próximo internauta bem como, para seu representante na Câmara municipal, Assembléia Legislativa, Câmara e Senado Federal, solicitando dos mesmos um pronunciamento exigindo ao Governo Federal que informe a localização da COVA COLETIVA das vítimas do Sítio Caldeirão.
PAZ E SOLIDARIEDADE,
Dr. OTONIEL AJALA DOURADO
OAB/CE 9288 – 55 85 8613.1197 – 8719.8794
Presidente da SOS - DIREITOS HUMANOS
www.sosdireitoshumanos.org.br
sosdireitoshumanos@ig.com.br
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