domingo, 16 de janeiro de 2011

Estiagem

15/01/2011 - 07h04

Com clima oposto ao Sudeste, Nordeste tem 179 municípios em emergência por conta da seca

Carlos Madeiro
Especial para o UOL Notícias
Em Maceió

  • Imagem de satélite mostra os locais que mais sofrem com a seca no Nordeste em janeiro de 2011
    Imagem de satélite mostra os locais que mais sofrem com a seca no Nordeste em janeiro de 2011
Enquanto as fortes chuvas no Sudeste já mataram mais de 500 pessoas, o interior do Nordeste enfrenta um início de 2011 marcado pela estiagem. Levantamento feito pelo UOL Notícias nesta sexta-feira (14) aponta que 179 municípios estão em situação de emergência, homologada pela Defesa Civil Nacional, por conta da seca na região. A maioria deles está localizado na região do semiárido.
Somente este ano, 21 municípios decretaram emergência por um período de 90 dias –renováveis por igual período. De 2010 são 158 decretos ainda em validade, a maioria deles publicados em novembro.
Segundo balanço da Defesa Civil Nacional, o Ceará é o Estado com maior número de municípios: 81 ao todo. A Bahia vem em seguida, com 47, e a Paraíba tem 19. Entre os nove Estados nordestinos, apenas Alagoas, Maranhão e Rio Grande do Norte não têm município em situação de emergência por conta da seca.
Para amenizar a estiagem, medidas são tomadas em toda a região. A principal delas é coordenada pelo Exército, que fornece água por meio da Operação Pipa, com a contratação de caminhões-pipa que atendem a 600 municípios da região.

Municípios em emergência

Ceará81
Bahia47
Paraíba19
Pernambuco13
Piauí13
Sergipe6

2011 tem previsão de chuva na região

Segundo o professor de meteorologia da Universidade Federal de Alagoas e coordenador da rede EumetCast (sistema de disseminação de dados da Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos) no Brasil, Humberto Barbosa, apesar do grande número de municípios em emergência, a previsão de 2011 não é das piores.
“Hoje, a seca no sertão ainda é consequência do efeito do El Niño na estação chuvosa de fevereiro a maio de 2010 –o que reduziu a quantidade de chuvas no sertão. Entretanto, com a chegada do La Niña no final de 2010, que é oposto ao El Niño, trará um aumento das chuvas na estação chuvosa de 2011. Para os sertanejos, a simples menção ao La Niña é um sinal de boa noticia”, afirmou.
O excesso de chuvas em algumas áreas nordestinas (em especial zona da mata e litoral), somadas às tradicionais estiagens do sertão, fizeram com que o número de decretos de emergência e de situação de calamidade pública de municípios do Nordeste em 2010 batesse recorde e chegasse a 792.
Somente com as enchentes de junho, em Pernambuco e Alagoas, foram 26 municípios que decretaram calamidade pública e 34 ficaram em situação de emergência. No caminho inverso, no Ceará a seca causou perdas de aproximadas 50% na safra agrícola.
O professor alerta que, apesar da boa notícia, chuvas fortes podem cair nos Estados nordestinos este ano. “Ainda é cedo para prever se o La Niña neste ano terá uma força semelhante à da década de 1980. Se a potência do La Niña for de moderada a forte, como em 1985, pode trazer enchentes em junho/julho de 2011 nas regiões costeiras do Nordeste”, afirmou, ressaltando que tanto o La Niña como o El Niño são fenômenos naturais que ocorrem há milhares de anos. “Eles duram de 12 a 18 meses em média, em intervalos de dois a sete anos com diferentes intensidades.”
Segundo Barbosa, a estiagem prolongada causa graves danos à vegetação, que dificultam a sobrevivência do sertanejo durante a seca. “Observa-se a cobertura vegetal em geral decresce em resposta ao estresse hídrico. Este decréscimo é mais marcante no sertão, onde o mês de janeiro de 2011 mostra a resposta da vegetação à estação seca que é bem definida nesta região [julho a janeiro]. Esta resposta da vegetação pode ser usada como parâmetro indicativo da sazonalidade climática refletida na vegetação e como indicador de eventos climáticos extremos como El Niño”, finalizou.

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