quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Chuvas no Ceará - a falta de estrutura para emergências no interior

CHUVAS NO CEARÁ

Defesa Civil não está pronta para emergência no interior

18/1/2011 Clique para Ampliar
Passagem molhada em Tabuleiro do Norte, foi inundada com as águas da enchente do Rio Jaguaribe no inverno de 2009. A área continua oferecendo risco com novas chuvas 
FOTO: MELQUÍADES JÚNIOR
Os moradores dos Municípios não contam com estrutura adequada para emergência em caso de inundações

Limoeiro do Norte. Não precisa que comece a estação chuvosa para alerta nas áreas de risco se as próprias chuvas de pré-estação, desde dezembro, revelam o perigo recorrente. Os desastres causados com as chuvas no Rio de Janeiro e São Paulo servem de alerta para os cearenses. Nos últimos dois anos o Ceará esteve entre os oito Estados com maior número de desastres notificados. O impasse: em três anos, enquanto a coordenação Estadual de Defesa Civil cresceu e ganhou estrutura própria, as Prefeituras Municipais não têm dado a devida atenção às Coordenações Municipais. Sem estrutura, ou sede própria, os efetivos locais acumulam funções. E quem morava nas áreas de risco ontem padece no mesmo lugar hoje.

São poucos os Municípios do Ceará que têm uma estrutura física própria de Defesa Civil Municipal. "Em grande parte dos Municípios a Defesa Civil se resume a um funcionário da Prefeitura que já responde às vezes por outra função e que é nomeado para ser o coordenador municipal", afirma o coronel Leandro Nogueira, da Coordenação Estadual de Defesa Civil. É assim que, no papel, os 184 municípios do Ceará possuem Coordenação Municipal de Defesa Civil. Mas não na realidade.

Sem equipe

Um dos pré-requisitos para decreto de emergência ou de estado de calamidade pública, por exemplo, é que exista uma Coordenadoria Municipal funcionando, mediante portaria da Prefeitura, e com lei aprovada pela Câmara Municipal. O mal da carência de uma equipe propriamente dita de Defesa Civil é que, quando há repasse de recursos financeiros para assistência, são outros organismos da Prefeitura que, de fato, gerenciam. Em miúdos, é um órgão usando um dinheiro com recibo assinado por outro organismo.

"Às vezes é o secretário de Obras, ou de Ação Social etc. Isso não é o ideal. O correto é que o coordenador de Defesa Civil fique exclusivamente para tratar dos assuntos desta área no Município", diz coronel Leandro. Só Municípios grandes, como Juazeiro, Crato, Fortaleza e Caucaia, possuem estrutura física própria para a instituição que trata desse fim: prevenir, socorrer e proteger a sociedade de desastres, sejam naturais ou humanos. Mas, até em alguns destes, o trabalho tem o apoio direto do Corpo de Bombeiros.

Áreas de risco

E o que são, de fato, as áreas de risco no Ceará? De acordo com coronel Leandro, são principalmente as áreas dos Municípios cortadas por rios, próximas de mananciais, áreas de encosta, sopé de serra, e as áreas praianas com concentração de dunas. Mas uma área ressequida e distante de reservatórios de água ou sem estrutura de canais também se constitui em área de risco, com carências.

O cearense sabe muito bem o que é isso: entre secas e enchentes, foram ao menos 275 decretos de situação de emergência ou de calamidade pública entre 2008 e 2010. No ano passado, o grande problema foram os alagamentos, com um registro envolvendo abalo sísmico (em Sobral). Em 2009, foram as enchentes afetando multidões.

A Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec) recebeu, em 2009, notificações de desastres em 1.408 Municípios do País. Do Ceará, foram 68 notificações de desastres, colocando este Estado na 6ª posição. Em 2010, foram recebidas 746 notificações de desastres, dos quais 30 ocorreram no Ceará (8º no ranking nacional).

Desde 2007, a Coordenação Estadual de Defesa Civil passou a ter estrutura física própria, em Fortaleza, de responsabilidade do Corpo de Bombeiros Militar. São 50 agentes estaduais de Defesa Civil, e um efetivo de bombeiros em todo o Estado de 1.600 pessoas. Dos 20 agrupamentos no Estado, 13 estão no Interior, nos Municípios de Crato, Sobral, Crato, Crateús, Tauá, Guaramiranga, Limoeiro do Norte, Aracati, Quixeramobim, Juazeiro do Norte, Iguatu, Maracanaú, Caucaia e Horizonte. A Coordenação Estadual tem, inclusive, pressionado a Associação dos Prefeitos do Ceará (Aprece) para a importância de se estruturar as Coordenações Municipais. "Precisamos agora ampliar, e que também essa mesma preocupação com a estrutura seja feita pelos gestores municipais", diz coronel Leandro.

Centro-Sul

Até o fim deste mês, haverá reuniões de Coordenadorias Municipais de Defesa Civil de Iguatu e Icó com o objetivo de avaliar a situação atual do nível de reservatórios e de áreas de risco, além de definir ações caso ocorram na quadra invernosa deste ano, inundações e desalojamento de famílias das áreas ribeirinhas. "Já temos um plano traçado no ano anterior e vamos fazer algumas adaptações", frisou o integrante da Comdec de Icó, Gildomar Gonçalves. Nos demais Municípios ainda não há data prevista para planejamento das ações para este ano.

Na cidade de Icó, a maior preocupação é com o Rio Salgado. Em Iguatu, é com o Rio Jaguaribe. O tenente Marcos Acácio, da 1ª Seção do Corpo de Bombeiros, informou que a unidade atende a 14 Municípios da região e dispõe de um efetivo de 47 homens, oito viaturas e de um barco a motor.

Tábua de Chuvas

Aurora: 114mm

Marco: 73.2mm

Barbalha: 53.8mm

Lav. da Mangabeira: 53mm

Várzea Alegre: 37mm

Brejo Santo: 36mm

Juazeiro do Norte: 35mm

Baixio: 35mm

Itapipoca: 33.4mm

Martinópole: 33mm

Fonte: Funceme

MAIS INFORMAÇÕES 
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará - Rua Oto de Alencar, 215 Centro - Fortaleza (CE)
Fone: (85) 3101.4571/ fax: 3101.4582

Melquíades Jr./Honório Barbosa
Colaborador/Repórter



SEM ESTRUTURA

Juazeiro não tem locais para desabrigados

18/1/2011 Clique para Ampliar
O acumúlo de lixo às margens do Rio Salgadinho, em Juazeiro, aumenta a possibilidade de cheias 
FOTO: ELIZÂNGELA SANTOS
O coordenador Cícero Amorim afirma que dedica 24 horas do seu tempo para atender às famílias de Juazeiro

Juazeiro do Norte. A região do Cariri registrou o maior índice de chuvas ontem. A cidade de Aurora registrou 114 milímetros, mas a precipitação se distribui durante a noite, não causando maiores estragos na cidade. Em Juazeiro houve o registro de 35 milímetros, mas a preocupação aumenta a cada dia, já que a Defesa Civil do Município conta com apenas um integrante e a cidade classificou, desde julho do ano passado, 26 áreas de risco. A principal preocupação diz respeito ao acúmulo de lixo em áreas consideradas críticas. A cidade já conta com cerca de 8 famílias desabrigadas, segundo o Corpo de Bombeiros.

Uma campanha de conscientização foi preparada, segundo o coordenador da Defesa Civil do Município, Cícero Amorim, mas até o momento não houve condições de imprimir material para distribuir junto à população da cidade.

"Na próxima quarta-feira estarei reunido com representantes de algumas secretarias a fim de termos mais suporte para enfrentar a quadra chuvosa, principalmente".

Afirma que há necessidade de equipar o órgão na cidade para os casos de emergência. Não há locais onde possam ser levadas famílias desabrigadas e nem reservas de cestas básicas. Ele afirma que o trabalho da Defesa Civil é desenvolvido em parceria com vários órgãos, a exemplo do Corpo de Bombeiros, mas tem solicitado a participação da sociedade, dos empresários, para que seja possível desenvolver um trabalho educativo. Na semana passada, ele afirma que contou com voluntários para a retirada de lixo de áreas do Bairro Novo Juazeiro, onde os bueiros têm passagens estreitas. "O problema é que a gente tira em uma semana e na outra o lixo está lá novamente". Na ponte do Rio Salgado, passagem para estrada antiga do Horto, é comum as pessoas jogarem lixo na área. "Isso acarreta situações de cheias na cidade", diz o capitão Vieira Júnior. Ele destaca a importância da população se conscientizar sobre os riscos.

Amorim disse que tem sido difícil atender sozinho todas as pessoas. "Tenho feito o que posso, o que está ao meu alcance". Ele afirma ainda que chegou a ir nas áreas que registraram maiores problemas, como Timbaúbas, porém há riscos de desabamentos nos Bairros Antônio Vieira e Triângulos.

MAIS INFORMAÇÕES 
Corpo de Bombeiros do Município de Juazeiro do Norte
Rua das Flores, 1000, Bairro: Romeirão - Cariri/ Telefone: 193


Elizângela SantosRepórter
ZONA NORTE

Sobral tem plano de contingência

18/1/2011 Clique para Ampliar
Canal do parque Mucambinho aguarda limpeza e já está no plano da Defesa Civil para ações preventivas 
FOTO: WILSON GOMES
Para evitar cheias como nos anos de 2004 e 2009, Sobral planeja previamente ações para a estação deste ano

Sobral. O Município já coloca em ação o seu plano de contingência de pré-impacto, visando evitar que pontos considerados críticos em época de chuva possam trazer algum dano para a comunidade. Mas caso essa ação não dê resultado por consequência de uma quadra invernosa intensa, o coordenador da Defesa Civil deste Município, Jorge Vasconcelos Trindade, garante que será a vez de ativar a segunda etapa do programa de prevenções, que é o de impacto. "A partir daí, equipes já treinadas entrarão em ação para atender às pessoas afetadas pelas chuvas, a exemplo do que aconteceu em 2009", explica Jorge Trindade.

Por situações vivenciadas em 2004 e 2009, quando as cheias do Rio Acaraú deixaram centenas de famílias desabrigadas e desalojadas, Sobral hoje é uma cidade que conseguiu identificar todos os locais considerados áreas de risco. Entre os bairros monitorados pela Defesa Civil está Cidade José Euclides, Dom Expedito, Padre Palhano, Pedrinhas, Sinhá Sabóia e Sumaré, além do Centro e dos distritos de Aprazível, Aracatiaçu, Bonfim, Caracará e Jordão.

"Estamos realizando reuniões com essas comunidades para saber se, em caso de alagamento, as famílias afetadas têm para onde ir ou se será necessário disponibilizar abrigos", destaca o coordenador da Defesa Civil, acrescentando que os trabalhos serão intensificados caso existam ocorrências de alagamento e enchentes.

De acordo com Jorge Trindade, a Prefeitura deverá iniciar por toda esta semana um mutirão de limpeza, em todos os canais que cortam a cidade, Rio Acaraú, Parque da Cidade e Lagoa da Fazenda. "O mutirão também atingirá os bueiros e terrenos baldios", destaca Jorge Trindade. O mutirão deverá mobilizar todas as secretarias.

Sobre equipamentos disponíveis, ele ressalta que foi feita a aquisição de 60 cestas básicas e 100 colchonetes, bem como a compra de filtros para água. Todo esse material deverá ficar estocado, na sede da Defesa Civil. "Apesar das previsões iniciais apontarem chuvas acima da média, esperamos ocorrências bem menores que em 2009, haja vista que naquele ano a gente vinha de uma quadra invernosa bastante intensa, ao contrário do ano passado".

Defesa Civil de Sobral
Rua Mauricélio da Silva Ponte, 500, Bairro Derby - Zona Norte
Telefone: (88) 3613.2185/56

Wilson Gomes
Colaborador


SERTÃO CENTRAL

Cidades sem estrutura operacional

18/1/2011 Clique para Ampliar
GRUPAMENTO DE BOMBEIROS se esforça para atender ocorrências quando as calamidades chegam 
FOTO: ALEX PIMENTEL
Quixeramobim. Embora seja uma das regiões onde historicamente menos ocorrem chuvas no Estado, o Sertão Central não está estruturado para ações de assistência em calamidades. Nenhum dos Municípios possui equipes de Defesa Civil atuantes. A avaliação é feita pelo major do Corpo de Bombeiros, Naum Maurício Gomes, comandante da 4ª SB do 4º Grupamento de Bombeiros, com sede em Quixeramobim. Ele é o coordenador regional da Defesa Civil. A cidade esta situada numa das maiores bacias hídricas do Ceará. É cortada por dois grandes rios e dezenas de riachos.

O coordenador critica a atuação dos Conselhos Municipais. Geralmente estão desarticulados. Reuniões apenas quando surgem problemas graves. Poderiam ser evitados com a realização de ações preventivas. Ele cita o levantamento das áreas de risco como exemplo. Outras iniciativas úteis seriam o monitoramento dos riachos, bueiros e das construções irregulares nessas áreas. "Infelizmente, as pessoas não costumam dar muita importância à prevenção".

Discordância

O presidente do Conselho Municipal de Defesa Civil (Comdec) de Quixeramobim e coordenador neste Município, Marcos Machado, discorda do bombeiro militar. Segundo ele o mapeamento da cidade está levantado. As quatro áreas de risco são acompanhadas. Mas no momento não se configura nenhum quadro de intensificação das chuvas. A prioridade ainda é a estiagem. Ainda existem localidades necessitando amparo do carro-pipa para poderem consumir água potável. Esclareceu Machado, que chegando o inverno, o plano de contingência de Quixeramobim já está pronto. Além de locais definidos para evacuação das famílias, a Defesa Civil local possui até colchonetes e cobertores. As famílias afetadas pelas enchentes de 2009 foram cadastradas, estão recebendo habitações populares. Entretanto, das 23 casas cadastradas, até agora o Governo Federal liberou recursos apenas para a construção de oito. Cada unidade habitacional custa R$ 16 mil. "Também pagamos aluguel social para outras 11 famílias", acrescentou.

Crateús

Em Crateús, para o coordenador da Defesa Civil, João Bezerra de Sousa, a estrutura da Comissão no Município é deficiente. "Precisamos de estrutura adequada e necessária para estarmos aptos a atender à população em momentos de imprevistos e calamidade. Já solicitei várias vezes, mas não fui atendido". Sobre a estação chuvosa e em caso de enchentes, diz ainda que a Comissão possui um diagnóstico real da situação do Município e que conta sempre com a ajuda imediata da Guarda Civil Municipal e 40° Batalhão de Infantaria, além de outras instituições na cidade.

"Sabemos quais são as áreas de risco da cidade e na hora da necessidade mobilizamos as instituições e conseguimos atender". Mas lamenta: "Não basta só boa vontade, o ideal seria que tivéssemos um local para trabalhar, telefone, veículo, enfim, o mínimo de estrutura".

MAIS INFORMAÇÕES
Coordenadoria Regional da Defesa Civil - Sertão Central
Telefone: (88) 3441.1190/ Crateús: (88) 3692.3315/ (88) 9271.1068

Alex Pimentel/Silvania Claudino
Colaborador/ Repórter

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