CONCENTRAÇÃO
Industrialização no Interior ainda é desafio a vencer
Apesar dos avanços do setor no Ceará, iniciativas não chegam a todas as regiões, onde está maior parte da população
Fortaleza Apesar de ser a terceira economia do Nordeste, o modelo industrial no Ceará é concentrador, o que agrava as desigualdades econômicas entre a Região Metropolitana de Fortaleza e o restante do Estado. De acordo com dados do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Ceará (Indi), referentes a 2006 (veja mapa), mais da metade dos estabelecimentos no setor industrial (56,75%) estão na Capital. Outra boa parte das empresas é abocanhada pelos municípios da Região Metropolitana. Do Interior, apenas os polos de Sobral e Juazeiro do Norte se destacam, com 2,33% e 6,03%, respectivamente. Os demais municípios contam com apenas 22,32% das indústrias.
Apesar do crescimento verificado no setor industrial nos últimos anos, as iniciativas e o desenvolvimento não chegaram igualmente para todas as demais regiões, onde está a maior parte da população. Segundo Jair do Amaral Filho, professor titular em Desenvolvimento Econômico da Universidade Federal do Ceará (UFC), a desconcentração industrial ainda é frágil no Ceará e se resume a casos pontuais.
"Fora da Região Metropolitana, a região que tem um processo histórico importante de industrialização é o Cariri, especialmente Juazeiro do Norte, onde formou-se uma importante indústria de calçados sintéticos por micro e pequenas empresas. Fora isso, há casos esparsos e difusos de arranjos produtivos locais, como de confecções em Frecheirinha, metal-mecânico em Tabuleiro do Norte, calçados em Sobral (com a Grendene), móveis em Marco, este com uma forte concentração de empresas neste ramo industrial".
Incentivos
Segundo a pesquisa Munic 2009, divulgada semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 103 municípios cearenses que oferecem incentivos fiscais, 49 municípios (ou 47,57% do total) privilegiam a indústria. "Mas os municípios, em geral, têm um poder reduzido na oferta de incentivos fiscais, pois os principais impostos pagos pelas empresas industriais são dirigidos aos governos Federal e Estadual. No Ceará, o principal agente ofertante de incentivos é o Governo do Estado", afirma.
Para Eloísa Bezerra, economista do Ipece, "atualmente, é muito difícil se pensar em atração de empresas sem algum tipo de incentivo, sobretudo as direcionadas ao Interior, que possui uma menor infraestrutura. Mas a implementação de uma indústria numa economia incipiente faz seu Produto Interno Bruto (PIB) aumentar, isto é muito claro. A migração após o término dos incentivos pode até acontecer, mas isso vai depender da forma como tais benefícios forem aplicados", frisa.
Sustentabilidade
Dotada de melhor infraestrutura, logística e proximidade do mercado consumidor, a RMF é a principal escolha dos investidores, a despeito da política estadual de dar maiores incentivos para quem se instala longe de Fortaleza. "E com o anúncio e a efetivação dos grandes projetos industriais no Complexo do Pecém, reforçará a tendência de maior concentração da indústria nesta região", avalia.
Eloísa Bezerra pondera, no entanto, que a implementação de indústrias depende das potencialidades naturais, da formação de cadeias produtivas e o aporte de infraestrutura em cada município ou região.
"Ou seja, não é somente atrair iniciativas por atrair, tendo em vista que estes fatores constituem elementos que darão sustentabilidade aos empreendimentos. Há uma queixa, por parte de algumas empresas, sobre a aquisição de insumos, que são adquiridos fora do Estado, o que encarece os custos. Isto realmente é um limitante à sustentabilidade".
Outra característica observada no tipo de iniciativa industrial que se instala no Interior cearense é a produção de itens básicos. Na avaliação de Jair do Amaral, somente os incentivos não são suficientes para atrair setores de produção mais sofisticada. "Quando se trata de setores industriais intensivos em tecnologia, os investidores procuram, além dos incentivos, uma força de trabalho qualificada, bom sistema educacional e uma infraestrutura sofisticada em termos de acessos às redes de comunicação", pontua Jair do Amaral Filho.
Sobre esta questão, a economista do Ipece lembra que estão sendo feitos investimentos para melhorar a qualificação dos trabalhadores em diversos níveis. "A implementação dos Centros de Ensino Tecnológico (Centecs), aliados à ampliação de universidades federais, estaduais e, mais recentemente, as instituições particulares de ensino superior têm contribuído para uma melhor qualificação da mão-de-obra no Interior".
Dados do Indi, referentes a outubro de 2009, dão conta que 95% das iniciativas no setor industrial são de micros e pequenas empresas, fazendo com que este setor mereça maior atenção. "As micro e pequenas empresas constituem-se num potencial para atuarem mais fortemente na economia, sobretudo nas exportações que ainda estão em menor quantidade. Para isso, já existem linhas de financiamentos e qualificação direcionados às micro e pequenas empresas".
MAIS INFORMAÇÕES
Ipece
Av. General Afonso Albuquerque Lima, S/N, Cambeba - Fortaleza-CE
(85) 3101.3496
INSERÇÃO
Ceará pronto para investimentos
Fortaleza Enquanto o contraste entre a concentração das indústrias na Região Metropolitana de Fortaleza e as iniciativas esparsas no restante do Ceará permanece, o Governo do Estado diz buscar prover o Interior de políticas e infraestrutura necessárias para atrair investidores para as demais regiões. A meta é buscar desenvolver por igual todo o Estado e mostrar aos investidores que é possível encontrar condições de instalação não apenas nas áreas próximas à Capital.
"O Governo do Estado tem como prioridade na sua política de desenvolvimento econômico a desconcentração dos investimentos neste setor, porque entende que o crescimento econômico deve contemplar todas as regiões do Ceará", afirma Eduardo Diogo, diretor de desenvolvimento industrial da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece).
Na área de políticas de incentivo fiscal, ele destaca o Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI), criado em 1979 com o objetivo de incentivar, por meio de um pacote de benefícios fiscais, as empresas que tenham interesse em se instalar no Ceará. O Fundo privilegia as empresas que optam por se instalar no Interior cearense.
"Dentre os parâmetros para conceder benefícios, o FDI determina que quanto mais longe a empresa se instalar da Capital maior será a redução do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que pode variar até 75% do total do imposto a ser pago. Também há o critério de avaliação do Produto Interno Bruto (PIB) do município, isto é, quanto menor PIB municipal, maior será a isenção", explica Eduardo Diogo.
Descobrir potencial
Questionado sobre a postura ainda conservadora dos investidores de outros Estados, que mesmo com incentivos reduzidos preferem se instalar em Fortaleza e Região Metropolitana, onde já existe uma boa infraestrutura instalada e maior proximidade com os pontos de escoamento da produção, o diretor de desenvolvimento industrial da Adece aponta que as empresas já instaladas fora dessa zona preferencial mostram que cada região possui o seu potencial específico, nas mais variadas frentes produtivas.
"O Governo do Estado tem buscado desenvolver as vocações regionais através do incentivo à instalação de indústrias em regiões onde haja a identificação com a atividade da empresa e a oferta de mão-de-obra. Creio que o investidor está descobrindo o potencial do Interior cearense. Atualmente, polos industriais importantes estão consolidados, como o polo calçadista do Cariri e da Região Norte, o polo de produção de flores da Ibiapaba, os polos fruticultores do Vale do Jaguaribe, São Gonçalo do Amarante, além do polo moveleiro de Marco".
Infraestrutura
Com relação à presença mais intensiva de infraestrutura na área próxima à Capital, o diretor da Adece pondera que o Governo do Estado tem investido, nos últimos anos, na recuperação e construção de novas rodovias, apoia a construção de parques eólicos para a elevação da oferta de energia elétrica para fortalecer a infraestrutura do Interior cearense. "Além do mais, temos contado com a parceria das prefeituras municipais, que também tem investido na infraestrutura dos seus municípios. Atualmente, pode-se dizer que todas as regiões do Ceará estão preparadas para receber novos investimentos".
Ele defende ainda que a presença industrial é bem-vinda diante do impacto econômico desses empreendimentos. "Para se ter uma ideia do impacto econômico de uma empresa no Interior do Estado, na Zona Norte, em Sobral, a Grendene gera atualmente 23 mil empregos diretos, aquecendo as pequenas indústrias o comércio e os serviços de toda aquela região".
Karoline Viana
Repórter
Fonte: jornal Diário do Nordeste - Caderno Regional - http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=789274
REGIÃO NORTE
Indústria muda vidas no sertão cearense
23/5/2010
O casal Júlio César e Carmirene, com o filho de um ano, na porta da casa que estão construindo com o trabalho na fábrica de calçados, na localidade de Salgado dos Machado
WILSON GOMES
WILSON GOMES
Empresas como Doces Delícia, instalada no mini-distrito, abastece 70 cidades do Ceará e outras 20 no Piauí
SILVÂNIA CLAUDINO
SILVÂNIA CLAUDINO
Moradores trocam o trabalho no campo pelas linhas de montagem das fábricas, onde encontram novas perspectivasKaroline Viana/Wilson GomesRepórter/Colaborador
Fortaleza Mesmo com a concentração de indústrias nas regiões próximas à Capital, a presença de unidades fabris em cidades do Interior provocam um impacto relevante na economia local. Diante da pouca rentabilidade de outras atividades tradicionais nas cidades interioranas, como a agricultura, comércio e serviços, muitos trabalhadores tornam-se operários, trocando a enxada pela máquina.
Dentre as motivações para migrar para o setor industrial, estão a expectativa de ter uma atividade com carteira assinada e salário certo no fim do mês. Muitos sequer deixam seus locais de origem, exercendo seu ofício em cidades vizinhas. Aos poucos, vão adquirindo bens materiais até então impensáveis na realidade simples dessas comunidades, como eletrodomésticos, moto ou mesmo a tão sonhada casa própria.
Índices
De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), referente aos meses de janeiro a abril de 2010, as atividades que mais geraram empregos formais no Interior foram construção civil (com 8.138 vagas) e indústria de transformação (4.871 vagas). Enquanto isso, setores como comércio e serviços respondem, respectivamente, por 1.724 e 7.049 vagas.
Por sua vez, o Instituto do Desenvolvimento Industrial do Ceará (Indi), ligado à Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), aponta que, entre 1985 a 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) industrial cearense cresceu 153,6%, enquanto os setores de serviços e agropecuária apresentaram variações mais modestas, de 107,2% e 22,7%, respectivamente.
Moradora da localidade de Salgado dos Machado, entre os municípios de Sobral e Groairas, na Região Norte, Maria Carmirene da Silva Aires, de 28 anos, trabalha há 7 na fábrica de calçados Grendene como auxiliar de produção - o chamado "peão", no dizer dos trabalhadores da unidade.
Com formação no Ensino Médio, ela trabalhava como professora substituta da escola da localidade. Porém, não havia a segurança de um contrato fixo. Vinda de uma família de agricultores, ela sabia que havia poucas perspectivas de trabalho.
"Comecei a ver um monte de gente daqui ir trabalhar na fábrica, melhorar de vida, então resolvi tentar. Lá o dinheiro era certo, a gente recebe todo mês cesta básica e eles (os chefes) costumam manter o bom funcionário, que se dedica". O trabalho começa às 23h20 e termina às 6 horas do dia seguinte, de domingo a sexta, no setor de pintura dos calçados. Foi lá onde Carmirene conheceu o marido, Júlio César Aires Lopes, que hoje é analista do setor de serigrafia. "Ele começou trabalhando como peão, como eu, juntando lixo. Mas foram dando oportunidades, ele conseguiu crescer e melhorar de cargo. Tudo o que nós temos hoje é graças aos nossos empregos", ressalta.
Com o trabalho na fábrica, eles conseguiram comprar uma moto e estão iniciando a construção de uma casa na própria localidade. Preferem permanecer no sertão, onde possuem vínculos familiares e onde a vida ainda é mais tranquila. Apesar das conquistas, ela afirma que, no seu caso, é difícil conciliar o trabalho, em que troca o dia pela noite, com os cuidados da casa e do filho de 1 ano.
"Trabalhar de madrugada é o melhor horário, porque eu consigo de dia cuidar da casa, ficar com o meu filho, levá-lo ao médico. Mas às vezes é tanta coisa que tem dias que eu só consigo dormir umas três horas". A rotina é repetitiva e, por vezes, cansativa, mas ela acredita que cada trabalho tem a sua exigência. "Hoje Sobral é a cidade que é por causa da Grendene, vem gente não só dos distritos, mas até de outros municípios para trabalhar aqui. A gente percebe que o comércio cresceu, a renda da gente melhorou, eu consigo comprar mais coisas para a casa e para o meu filho".
Mudança de vida
A história de Carmirene não é única. O tema se repete praticamente entre os milhares de funcionários dessa empresa de calçados. Outro caso é o do casal Rosângela Teixeira Aguiar e Joaquim Venâncio, que também se conheceram no portão da fábrica, há cerca de oito anos. Casaram, tiveram filhos e construíram sua própria morada, um sonho de toda família.
Rosângela não trabalha mais lá, teve que pedir demissão para comprar o terreno onde hoje construíram o lar. O marido mudou de setor e de função. Antes era trocador de tinta, hoje ocupa a função de mecânico nível 2. "Não costumo revelar quanto ganhamos, mas com a função que meu marido passou a ocupar ele passou a ganhar um pouco mais de R$ 1 mil", disse Rosângela, que atualmente trabalha como auxiliar de serviços gerais em uma outra empresa.
"Temos outros objetivos como melhorar a qualidade da educação dos nossos quatro filhos. Já temos uma motocicleta, que compramos recentemente e está nos servindo muito", reforça Rosângela.
SERTÃO DOS INHAMUNS
Galpões ocupados por novas iniciativas
Silvânia Claudino
Especial para o Regional
Crateús Depois que o sonho de desenvolvimento com a instalação de uma "empresa de fora" não vingou, iniciativas locais acabaram ocupando a estrutura abandonada neste município. Situadas nos galpões do Governo do Estado, que foram construídos no início da década para a instalação de indústrias que vinham de outros Estados para o Ceará com incentivos fiscais, estão funcionando há cinco anos as indústrias locais Temperos Tina e Doces Delícia.
Toda a estrutura foi construída para a instalação do mini-distrito industrial na cidade, mas apenas a Jacareí Confecções, de São Paulo, funcionou no local durante três anos. Depois foi embora e a estrutura ficou praticamente abandonada. O empresário Osvaldo Melo, da Temperos Tina, cuja fábrica funcionava em sua residência, solicitou a ocupação de parte dos prédios ao Governo do Estado.
Desde 2004, a Temperos Tina ocupou parte dos prédios. E vem crescendo ano a ano, aumentando o leque de produtos e a produção. Ao todo, 20 empregos diretos são gerados pela indústria de temperos e condimentos. A empresa oferece uma linha de 27 produtos, que são distribuídos em 26 municípios da região, além dos mercados de Fortaleza e Teresina, no Piauí. O carro-chefe da produção de 35 toneladas mensais é o colorau, seguido pelo extrato de alho e molhos de pimenta. Canjica, fubá e gliz de milho compõem também o catálogo de produtos da indústria.
O negócio evoluiu e chamou a atenção de outros empresários para a instalação no local, que é amplo e próprio para a indústria. Outro chamativo é o fato de não terem custo com aluguel. "Pagamos apenas uma taxa acessível ao Governo do Estado", cita o empresário Roberto Gomes, da indústria de Doces Delícia, há 15 anos no mercado e cinco no mini-distrito. Mil litros de leite são adquiridos junto aos produtores locais diariamente pelo empresário, que processa e comercializa 40 toneladas de doce de leite todos os meses. Abastece 70 municípios do Estado e outras 20 no Piauí, com doces de leite pastoso, em tablete e misturados ao coco, goiaba e ameixa.
Para o operário de máquinas Ralison Bezerra, de 31 anos, o seu maior pagamento "é chegar ao supermercado e ver os produtos expostos, e pensar que fui eu que fiz". Ele trabalha há oito meses na máquina que limpa o milho, matéria-prima principal da Temperos Tina. Acredita no crescimento da indústria, da cidade e na instalação de novas iniciativas para expandir o mercado de trabalho e a geração de emprego para os jovens: "a cidade está crescendo", diz.
Aos 21 anos, Geison de Miranda está no seu primeiro emprego, após servir o Exército, e sonha em crescer na indústria Doces Delícia. Trabalha há dois anos como embalador e espera ser promovido para gerente de produção. "Já faço algumas atividades que tem a ver com a função que almejo e acredito que a minha experiência contará muito", declara. Queixa-se, porém, das poucas oportunidades de trabalho na região.
Os empresários salientam a importância do projeto "Incubadoras de Empresas", do qual participaram por três anos junto ao Centec, e a participação em feiras e eventos como impulsionadores do crescimento dos negócios. Inclusive estão em fase de preparação, junto com mais nove empresários da região, para participar da Feira Internacional da Indústria de Alimentos (Fispal), que acontece em junho em São Paulo.
Atualmente, outras três indústrias se afixaram no local: Iveste, que fabrica malhas e confecções, Provimel e Vidraçaria Senhor do Bonfim. Em julho, mais quatro estarão com suas atividades de transformação no mini-distrito, nas áreas de sorvete, vidraçaria e metalurgia.
Fortaleza Mesmo com a concentração de indústrias nas regiões próximas à Capital, a presença de unidades fabris em cidades do Interior provocam um impacto relevante na economia local. Diante da pouca rentabilidade de outras atividades tradicionais nas cidades interioranas, como a agricultura, comércio e serviços, muitos trabalhadores tornam-se operários, trocando a enxada pela máquina.
Dentre as motivações para migrar para o setor industrial, estão a expectativa de ter uma atividade com carteira assinada e salário certo no fim do mês. Muitos sequer deixam seus locais de origem, exercendo seu ofício em cidades vizinhas. Aos poucos, vão adquirindo bens materiais até então impensáveis na realidade simples dessas comunidades, como eletrodomésticos, moto ou mesmo a tão sonhada casa própria.
Índices
De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), referente aos meses de janeiro a abril de 2010, as atividades que mais geraram empregos formais no Interior foram construção civil (com 8.138 vagas) e indústria de transformação (4.871 vagas). Enquanto isso, setores como comércio e serviços respondem, respectivamente, por 1.724 e 7.049 vagas.
Por sua vez, o Instituto do Desenvolvimento Industrial do Ceará (Indi), ligado à Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), aponta que, entre 1985 a 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) industrial cearense cresceu 153,6%, enquanto os setores de serviços e agropecuária apresentaram variações mais modestas, de 107,2% e 22,7%, respectivamente.
Moradora da localidade de Salgado dos Machado, entre os municípios de Sobral e Groairas, na Região Norte, Maria Carmirene da Silva Aires, de 28 anos, trabalha há 7 na fábrica de calçados Grendene como auxiliar de produção - o chamado "peão", no dizer dos trabalhadores da unidade.
Com formação no Ensino Médio, ela trabalhava como professora substituta da escola da localidade. Porém, não havia a segurança de um contrato fixo. Vinda de uma família de agricultores, ela sabia que havia poucas perspectivas de trabalho.
"Comecei a ver um monte de gente daqui ir trabalhar na fábrica, melhorar de vida, então resolvi tentar. Lá o dinheiro era certo, a gente recebe todo mês cesta básica e eles (os chefes) costumam manter o bom funcionário, que se dedica". O trabalho começa às 23h20 e termina às 6 horas do dia seguinte, de domingo a sexta, no setor de pintura dos calçados. Foi lá onde Carmirene conheceu o marido, Júlio César Aires Lopes, que hoje é analista do setor de serigrafia. "Ele começou trabalhando como peão, como eu, juntando lixo. Mas foram dando oportunidades, ele conseguiu crescer e melhorar de cargo. Tudo o que nós temos hoje é graças aos nossos empregos", ressalta.
Com o trabalho na fábrica, eles conseguiram comprar uma moto e estão iniciando a construção de uma casa na própria localidade. Preferem permanecer no sertão, onde possuem vínculos familiares e onde a vida ainda é mais tranquila. Apesar das conquistas, ela afirma que, no seu caso, é difícil conciliar o trabalho, em que troca o dia pela noite, com os cuidados da casa e do filho de 1 ano.
"Trabalhar de madrugada é o melhor horário, porque eu consigo de dia cuidar da casa, ficar com o meu filho, levá-lo ao médico. Mas às vezes é tanta coisa que tem dias que eu só consigo dormir umas três horas". A rotina é repetitiva e, por vezes, cansativa, mas ela acredita que cada trabalho tem a sua exigência. "Hoje Sobral é a cidade que é por causa da Grendene, vem gente não só dos distritos, mas até de outros municípios para trabalhar aqui. A gente percebe que o comércio cresceu, a renda da gente melhorou, eu consigo comprar mais coisas para a casa e para o meu filho".
Mudança de vida
A história de Carmirene não é única. O tema se repete praticamente entre os milhares de funcionários dessa empresa de calçados. Outro caso é o do casal Rosângela Teixeira Aguiar e Joaquim Venâncio, que também se conheceram no portão da fábrica, há cerca de oito anos. Casaram, tiveram filhos e construíram sua própria morada, um sonho de toda família.
Rosângela não trabalha mais lá, teve que pedir demissão para comprar o terreno onde hoje construíram o lar. O marido mudou de setor e de função. Antes era trocador de tinta, hoje ocupa a função de mecânico nível 2. "Não costumo revelar quanto ganhamos, mas com a função que meu marido passou a ocupar ele passou a ganhar um pouco mais de R$ 1 mil", disse Rosângela, que atualmente trabalha como auxiliar de serviços gerais em uma outra empresa.
"Temos outros objetivos como melhorar a qualidade da educação dos nossos quatro filhos. Já temos uma motocicleta, que compramos recentemente e está nos servindo muito", reforça Rosângela.
SERTÃO DOS INHAMUNS
Galpões ocupados por novas iniciativas
Silvânia Claudino
Especial para o Regional
Crateús Depois que o sonho de desenvolvimento com a instalação de uma "empresa de fora" não vingou, iniciativas locais acabaram ocupando a estrutura abandonada neste município. Situadas nos galpões do Governo do Estado, que foram construídos no início da década para a instalação de indústrias que vinham de outros Estados para o Ceará com incentivos fiscais, estão funcionando há cinco anos as indústrias locais Temperos Tina e Doces Delícia.
Toda a estrutura foi construída para a instalação do mini-distrito industrial na cidade, mas apenas a Jacareí Confecções, de São Paulo, funcionou no local durante três anos. Depois foi embora e a estrutura ficou praticamente abandonada. O empresário Osvaldo Melo, da Temperos Tina, cuja fábrica funcionava em sua residência, solicitou a ocupação de parte dos prédios ao Governo do Estado.
Desde 2004, a Temperos Tina ocupou parte dos prédios. E vem crescendo ano a ano, aumentando o leque de produtos e a produção. Ao todo, 20 empregos diretos são gerados pela indústria de temperos e condimentos. A empresa oferece uma linha de 27 produtos, que são distribuídos em 26 municípios da região, além dos mercados de Fortaleza e Teresina, no Piauí. O carro-chefe da produção de 35 toneladas mensais é o colorau, seguido pelo extrato de alho e molhos de pimenta. Canjica, fubá e gliz de milho compõem também o catálogo de produtos da indústria.
O negócio evoluiu e chamou a atenção de outros empresários para a instalação no local, que é amplo e próprio para a indústria. Outro chamativo é o fato de não terem custo com aluguel. "Pagamos apenas uma taxa acessível ao Governo do Estado", cita o empresário Roberto Gomes, da indústria de Doces Delícia, há 15 anos no mercado e cinco no mini-distrito. Mil litros de leite são adquiridos junto aos produtores locais diariamente pelo empresário, que processa e comercializa 40 toneladas de doce de leite todos os meses. Abastece 70 municípios do Estado e outras 20 no Piauí, com doces de leite pastoso, em tablete e misturados ao coco, goiaba e ameixa.
Para o operário de máquinas Ralison Bezerra, de 31 anos, o seu maior pagamento "é chegar ao supermercado e ver os produtos expostos, e pensar que fui eu que fiz". Ele trabalha há oito meses na máquina que limpa o milho, matéria-prima principal da Temperos Tina. Acredita no crescimento da indústria, da cidade e na instalação de novas iniciativas para expandir o mercado de trabalho e a geração de emprego para os jovens: "a cidade está crescendo", diz.
Aos 21 anos, Geison de Miranda está no seu primeiro emprego, após servir o Exército, e sonha em crescer na indústria Doces Delícia. Trabalha há dois anos como embalador e espera ser promovido para gerente de produção. "Já faço algumas atividades que tem a ver com a função que almejo e acredito que a minha experiência contará muito", declara. Queixa-se, porém, das poucas oportunidades de trabalho na região.
Os empresários salientam a importância do projeto "Incubadoras de Empresas", do qual participaram por três anos junto ao Centec, e a participação em feiras e eventos como impulsionadores do crescimento dos negócios. Inclusive estão em fase de preparação, junto com mais nove empresários da região, para participar da Feira Internacional da Indústria de Alimentos (Fispal), que acontece em junho em São Paulo.
Atualmente, outras três indústrias se afixaram no local: Iveste, que fabrica malhas e confecções, Provimel e Vidraçaria Senhor do Bonfim. Em julho, mais quatro estarão com suas atividades de transformação no mini-distrito, nas áreas de sorvete, vidraçaria e metalurgia.
Fonte: jornal Diário do Nordeste - Caderno Regional - http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=789282
CENTRO-SUL
Maquinário substitui enxada
O esforço e o pouco retorno da atividade agrícola fez com que dois agricultores tentassem a sorte na fábrica
Honório Barbosa
Repórter
Iguatu A implantação de unidades fabris vem mudando a paisagem local e praticamente criou uma massa operária, que até então era inexistente ou muito reduzida nesta região. Essas empresas passaram a absorver mão-de-obra urbana e rural. Alguns agricultores migraram para os centros urbanos, mas outros permanecem morando no campo. Mas uma coisa é certa: trocaram a enxada pelas ferramentas modernas.
Dois exemplos de jovens trabalhadores rurais que saíram do campo e encontraram ocupação em indústrias nesta cidade: o gerente de produção Geraldo José da Silva e o operário Márcio Alves de Barros. Ambos trabalham na indústria de móveis tubulares Tubform, a maior unidade do Nordeste e uma das maiores do Brasil.
Superação
São histórias de sonho, esforço e busca de uma melhor qualidade de vida. Geraldo da Silva trabalhava com o pai, José Antonio da Silva, no plantio e colheita de algodão, no Sítio Santa Maria, em Antonina do Norte. Começou cedo, aos 9 anos de idade. "Na agricultura, a gente faz de tudo, limpa, planta, colhe e debulha milho e feijão, mas o forte era o algodão. É um trabalho pesado".
O que se ganha é suficiente somente para sobreviver. Sem terra própria, o agricultor arrendava terras e tentava conseguir o sustento da família. A crise do algodão tirou de vez a esperança da família. O jeito foi vir para Iguatu, uma cidade maior. Aqui, os Silva tentaram de novo sobreviver do serviço agrícola, mas as dificuldades continuaram.
Em 1994, aos 15 anos, Geraldo Silva bateu à porta da Tubform, que estava iniciando suas atividades. "Pedi uma oportunidade porque queria trabalhar", lembra. O proprietário Edvane Matias ficou em dúvida, mas a esposa influenciou na decisão e um novo operário foi contratado. "No mesmo dia comecei", contou. "Fui em casa, troquei de roupa e voltei para trabalhar". Geraldo Silva começou na função de serviços gerais e logo passou a ser ajudante na linha de produção. Foi despachante. Ganhou aos poucos a confiança do então gerente da fábrica, Liberalino Lopes. Em 2002, passou ao cargo de gerente de produção. No início, a fábrica produzia 120 peças por mês e tinha 10 operários. Hoje, produz 70 mil unidades mensais e tem 250 operários, trabalhando em três turnos.
Ao chegar a Iguatu, Geraldo lembra que seu sonho era comprar uma bicicleta. Hoje, ele tem casa própria, um carro e ajudou os pais a comprar um lar. "Tive a confiança e o apoio de Edvane Matias. Jamais imaginei alcançar o que conquistei". Entre a vida no campo e na área urbana, compara: "A diferença é a qualidade de vida, que é melhor na cidade".
Márcio Alves de Barros nasceu no Sítio Barra, nas proximidades do Rio Trussu, zona rural de Iguatu. Na roça, desde os 10 anos começou ajudando o pai, limpando as áreas de cultivo, plantando e colhendo milho, feijão e arroz. Estudava pela manhã na Escola de Ensino Fundamental Antônia Maria das Neves, onde cursou até a 8º série.
O primeiro trabalho foi com o irmão, no cultivo de arroz irrigado. "É um trabalho duro, que exige muito esforço. O pior é que os custos de produção são elevados e o preço do produto mal cobre as despesas". Permaneceu na zona rural até os 21 anos de idade, mas seguindo o caminho de outros jovens, Márcio Barros procurou alternativa de ocupação e renda na cidade.
Na roça, os jovens não encontram perspectiva. A maioria das famílias não dispõe de propriedade rural ou são pequenas áreas, de herança, dividida com outros parentes. Não permitem ampliar a produção.
Em 2006, Márcio Barros conseguiu o primeiro emprego, aos 21 anos. Em face da indicação de um tio, começou como lixador, na linha de produção de móveis tubulares. São quatro anos de trabalho seguido como operário de fábrica. Cumpre uma jornada das 14 às 22 horas. Hoje, exerce a função de encarregado da produção de cromo.
"Estou satisfeito com o trabalho", disse Barros. "Aqui a gente tem um salário certo". O sonho dele é continuar na fábrica e alcançar nova função com melhor remuneração. "Quero crescer na indústria, que é uma empresa sólida e em expansão. O meu desejo é sempre aprender e fazer cada vez melhor", ressalta o operário.
Márcio não considera pesado o serviço como operário. "Na roça, o trabalho é muito mais difícil", disse. Casado há três anos, tem um filho e já conseguiu comprar uma casa no Sítio Barra, próximo onde morava com os pais, quando era agricultor. "Escolhi morar no campo porque é mais calmo e mais seguro". Diariamente, ele percorre oito quilômetros entre a localidade onde mora e a fábrica, mas faz o trajeto de moto.
CARIRI
Setor demanda maior capacitação
Diferente de outros tempos, entrar numa indústria do Cariri hoje exige formação. Calçados é setor de destaque
Elizângela Santos
Repórter
Juazeiro do Norte Aos 18 anos, Francisco Diassis Barbosa da Silva, hoje com 46, era agricultor quando saiu do Interior da Paraíba. Decidiu vir para Juazeiro do Norte, onde já morava um irmão. Ele decidiu investir no ofício de metalúrgico, após passar por vendedor no Centro da cidade. Há cerca de 25 anos, quando chegou ao município juazeirense, imaginava uma cidade maior e mais desenvolvida do que sua terra, Manaíra.
Praticamente sem escolaridade, Diassis afirma que antes era bem mais fácil conseguir emprego em uma empresa. Na verdade, chegou a contar com a camaradagem dos amigos. Um momento de mudanças. A instabilidade climática tinha a ver com a sua insatisfação de viver no roçado. Era um dinheiro incerto e pouco, já que precisa de chuva para plantar. Ano de seca é bem mais difícil.
Juazeiro do Norte atualmente conta com grandes indústrias. O setor de calçados é o de maior destaque. A Singer do Brasil, fabricante de máquinas de costura, se instalou há cerca de uma década na cidade. No Cariri, outra grande indústria é a Grendene, no Crato. São empresas que se destacam pela grande quantidade de absorção de mão-de-obra jovem.
Para Diassis, esse é outro momento que requer das pessoas um maior preparo para essa nova realidade de desenvolvimento. Juazeiro do Norte é uma cidade mais voltada para comercial, tem obtido ao longo dos anos uma amplitude maior para o setor industrial.
Com três filhos, todos escolarizados, as oportunidades estão mais facilitadas. "A cidade me abriu as portas e pude ter mais segurança para dar uma melhor condição de vida para os meus filhos e aqui pretendo continuar até me aposentar". A tranquilidade do campo ainda é almejada, mas a nova escola de vida, que é a fábrica onde trabalha, o empolga mais. "Ainda tenho vontade de voltar para a roça. Não achava ruim aquela vida. Era bom, mas pena que não me dava uma segurança financeira para eu me planejar", lembra.
As oportunidades, em duas décadas, mudaram muito na cidade. Está tudo diferente e mais moderno. Ele percebe que pessoas sem um nível melhor de escolaridade ficam sobrando no mercado. Atualmente, para o metalúrgico paraibano, a roça seria praticamente o seu único destino, caso não tivesse a escola da cidade, que foi a fábrica que o recebeu para trabalhar como operário.
Honório Barbosa
Repórter
Iguatu A implantação de unidades fabris vem mudando a paisagem local e praticamente criou uma massa operária, que até então era inexistente ou muito reduzida nesta região. Essas empresas passaram a absorver mão-de-obra urbana e rural. Alguns agricultores migraram para os centros urbanos, mas outros permanecem morando no campo. Mas uma coisa é certa: trocaram a enxada pelas ferramentas modernas.
Dois exemplos de jovens trabalhadores rurais que saíram do campo e encontraram ocupação em indústrias nesta cidade: o gerente de produção Geraldo José da Silva e o operário Márcio Alves de Barros. Ambos trabalham na indústria de móveis tubulares Tubform, a maior unidade do Nordeste e uma das maiores do Brasil.
Superação
São histórias de sonho, esforço e busca de uma melhor qualidade de vida. Geraldo da Silva trabalhava com o pai, José Antonio da Silva, no plantio e colheita de algodão, no Sítio Santa Maria, em Antonina do Norte. Começou cedo, aos 9 anos de idade. "Na agricultura, a gente faz de tudo, limpa, planta, colhe e debulha milho e feijão, mas o forte era o algodão. É um trabalho pesado".
O que se ganha é suficiente somente para sobreviver. Sem terra própria, o agricultor arrendava terras e tentava conseguir o sustento da família. A crise do algodão tirou de vez a esperança da família. O jeito foi vir para Iguatu, uma cidade maior. Aqui, os Silva tentaram de novo sobreviver do serviço agrícola, mas as dificuldades continuaram.
Em 1994, aos 15 anos, Geraldo Silva bateu à porta da Tubform, que estava iniciando suas atividades. "Pedi uma oportunidade porque queria trabalhar", lembra. O proprietário Edvane Matias ficou em dúvida, mas a esposa influenciou na decisão e um novo operário foi contratado. "No mesmo dia comecei", contou. "Fui em casa, troquei de roupa e voltei para trabalhar". Geraldo Silva começou na função de serviços gerais e logo passou a ser ajudante na linha de produção. Foi despachante. Ganhou aos poucos a confiança do então gerente da fábrica, Liberalino Lopes. Em 2002, passou ao cargo de gerente de produção. No início, a fábrica produzia 120 peças por mês e tinha 10 operários. Hoje, produz 70 mil unidades mensais e tem 250 operários, trabalhando em três turnos.
Ao chegar a Iguatu, Geraldo lembra que seu sonho era comprar uma bicicleta. Hoje, ele tem casa própria, um carro e ajudou os pais a comprar um lar. "Tive a confiança e o apoio de Edvane Matias. Jamais imaginei alcançar o que conquistei". Entre a vida no campo e na área urbana, compara: "A diferença é a qualidade de vida, que é melhor na cidade".
Márcio Alves de Barros nasceu no Sítio Barra, nas proximidades do Rio Trussu, zona rural de Iguatu. Na roça, desde os 10 anos começou ajudando o pai, limpando as áreas de cultivo, plantando e colhendo milho, feijão e arroz. Estudava pela manhã na Escola de Ensino Fundamental Antônia Maria das Neves, onde cursou até a 8º série.
O primeiro trabalho foi com o irmão, no cultivo de arroz irrigado. "É um trabalho duro, que exige muito esforço. O pior é que os custos de produção são elevados e o preço do produto mal cobre as despesas". Permaneceu na zona rural até os 21 anos de idade, mas seguindo o caminho de outros jovens, Márcio Barros procurou alternativa de ocupação e renda na cidade.
Na roça, os jovens não encontram perspectiva. A maioria das famílias não dispõe de propriedade rural ou são pequenas áreas, de herança, dividida com outros parentes. Não permitem ampliar a produção.
Em 2006, Márcio Barros conseguiu o primeiro emprego, aos 21 anos. Em face da indicação de um tio, começou como lixador, na linha de produção de móveis tubulares. São quatro anos de trabalho seguido como operário de fábrica. Cumpre uma jornada das 14 às 22 horas. Hoje, exerce a função de encarregado da produção de cromo.
"Estou satisfeito com o trabalho", disse Barros. "Aqui a gente tem um salário certo". O sonho dele é continuar na fábrica e alcançar nova função com melhor remuneração. "Quero crescer na indústria, que é uma empresa sólida e em expansão. O meu desejo é sempre aprender e fazer cada vez melhor", ressalta o operário.
Márcio não considera pesado o serviço como operário. "Na roça, o trabalho é muito mais difícil", disse. Casado há três anos, tem um filho e já conseguiu comprar uma casa no Sítio Barra, próximo onde morava com os pais, quando era agricultor. "Escolhi morar no campo porque é mais calmo e mais seguro". Diariamente, ele percorre oito quilômetros entre a localidade onde mora e a fábrica, mas faz o trajeto de moto.
CARIRI
Setor demanda maior capacitação
Diferente de outros tempos, entrar numa indústria do Cariri hoje exige formação. Calçados é setor de destaque
Elizângela Santos
Repórter
Juazeiro do Norte Aos 18 anos, Francisco Diassis Barbosa da Silva, hoje com 46, era agricultor quando saiu do Interior da Paraíba. Decidiu vir para Juazeiro do Norte, onde já morava um irmão. Ele decidiu investir no ofício de metalúrgico, após passar por vendedor no Centro da cidade. Há cerca de 25 anos, quando chegou ao município juazeirense, imaginava uma cidade maior e mais desenvolvida do que sua terra, Manaíra.
Praticamente sem escolaridade, Diassis afirma que antes era bem mais fácil conseguir emprego em uma empresa. Na verdade, chegou a contar com a camaradagem dos amigos. Um momento de mudanças. A instabilidade climática tinha a ver com a sua insatisfação de viver no roçado. Era um dinheiro incerto e pouco, já que precisa de chuva para plantar. Ano de seca é bem mais difícil.
Juazeiro do Norte atualmente conta com grandes indústrias. O setor de calçados é o de maior destaque. A Singer do Brasil, fabricante de máquinas de costura, se instalou há cerca de uma década na cidade. No Cariri, outra grande indústria é a Grendene, no Crato. São empresas que se destacam pela grande quantidade de absorção de mão-de-obra jovem.
Para Diassis, esse é outro momento que requer das pessoas um maior preparo para essa nova realidade de desenvolvimento. Juazeiro do Norte é uma cidade mais voltada para comercial, tem obtido ao longo dos anos uma amplitude maior para o setor industrial.
Com três filhos, todos escolarizados, as oportunidades estão mais facilitadas. "A cidade me abriu as portas e pude ter mais segurança para dar uma melhor condição de vida para os meus filhos e aqui pretendo continuar até me aposentar". A tranquilidade do campo ainda é almejada, mas a nova escola de vida, que é a fábrica onde trabalha, o empolga mais. "Ainda tenho vontade de voltar para a roça. Não achava ruim aquela vida. Era bom, mas pena que não me dava uma segurança financeira para eu me planejar", lembra.
As oportunidades, em duas décadas, mudaram muito na cidade. Está tudo diferente e mais moderno. Ele percebe que pessoas sem um nível melhor de escolaridade ficam sobrando no mercado. Atualmente, para o metalúrgico paraibano, a roça seria praticamente o seu único destino, caso não tivesse a escola da cidade, que foi a fábrica que o recebeu para trabalhar como operário.
Fonte: jornal Diário do Nordeste - Caderno Regional - http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=789289
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