Graziela Wolfart
do IHU On-Line
03/06/2009 - 14:56:11
Em entrevista concedida por e-mail para a IHU On-Line, a economista inglesa, residente nos Estados Unidos, Hazel Henderson, afirma que sente a necessidade de uma nova economia e uma nova cultura do consumo que fossem mais condizentes com a sustentabilidade do planeta e declara que ajuda a promover isso com seus programas de televisão e sites - http://www.ethicalmarkets.tv/ e http://www.ethicalmarkets.com/. No Brasil, o endereço é http://www.mercadoetico.com.br/. Para ela, a principal limitação do pensamento econômico convencional, focado nos mercados e no PIB, é o “seu foco no dinheiro, que não tem valor intrínseco”. E explica: “O dinheiro é informação, uma invenção útil para rastrear as transações humanas com outros seres humanos e com a natureza, que são os ativos realmente valiosos. A ciência econômica está focada no materialismo e é patriarcal, visto que não valoriza o trabalho não-remunerado das mulheres e o trabalho voluntário nas comunidades”.
Henderson ainda acrescenta que, “quando os manuais de economia forem corrigidos e todos os custos sociais e ambientais da produção forem incluídos nos preços aos consumidores, perceberemos que a produção e o comércio locais e regionais são mais eficientes”. E continua: “O comércio mundial pode deixar de transportar bens e passar a intercambiar serviços - porque é melhor trocar receitas do que tortas e biscoitos. Nós, humanos, adoramos compartilhar arte, poesia, literatura, filmes, ideias e invenções uns com os outros. Isto é comércio mundial sustentável, que ajuda a desenvolver a solidariedade e consciência humanas”.
Hazel Henderson é colunista internacional e consultora de desenvolvimento sustentável. Como editora das publicações Futures (Reino Unidos) e WorldPaper (EUA), ela participa de muitos conselhos, inclusive do Worldwatch Institute e do Fundo Calvert de Investimento Social, ajudando a criar os Indicadores da Qualidade de Vida Calvert-Henderson. Foi assessora da National Science Foundation e dos US Office of Technology Assessment, de 1974 até 1980. Seu trabalho pode ser conferido na página www.hazelhenderson.com. Dos seus vários livros, foram publicados no Brasil Transcendendo a Economia (São Paulo: Cultrix, 1991), Construindo um mundo onde todos ganhem (São Paulo: Cultrix, 1996) e Além da globalização: modelando uma economia global sustentável (São Paulo: Cultrix, 1999).
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Neste momento de crise global da economia capitalista, quais são as possibilidades e os limites de pensar uma economia que leve em conta a sustentabilidade da terra?
Hazel Henderson - O capitalismo está evoluindo rumo a níveis mais elevados de consciência em decorrência do colapso de seu maluco cassino global. Minha empresa, a Ethical Markets Media (Mercado Ético, no Brasil), defende a posição de que os mercados não podem existir durante muito tempo sem confiança, transparência, honestidade e prestação de serviço aos consumidores. Todos nós vemos a verdade desta posição agora. Assim, líderes econômicos e financeiros do Brasil, como, por exemplo, os do Instituto Ethos, muitas pessoas entrevistadas no programa de TV Mercado Ético e faculdades de administração de empresas, como a Amana Key, estão tomando a iniciativa de mudar o capitalismo e de tornar as empresas e os investidores mais responsáveis pela sustentação da Terra. Há iniciativas semelhantes nos Estados Unidos, no Canadá, na União Europeia, no Japão e na China. Os consumidores precisam de mais informações sobre produtos sustentáveis e precisam rejeitar as noções errôneas do materialismo e da acumulação que, pressupondo-se que as necessidades básicas estejam satisfeitas, não levam à felicidade.
IHU On-Line - Quais os desafios impostos pela globalização para o consumo sustentável?
Hazel Henderson - A globalização da produção e do consumo acarretou muito desperdício de energia no transporte e muita destruição da biodiversidade. Quando os manuais de economia forem corrigidos e todos os custos sociais e ambientais da produção forem incluídos nos preços aos consumidores, perceberemos que a produção e o comércio locais e regionais são mais eficientes. O comércio mundial pode deixar de transportar bens e passar a intercambiar serviços - porque é melhor trocar receitas do que tortas e biscoitos. Nós, humanos, adoramos compartilhar arte, poesia, literatura, filmes, ideias e invenções uns com os outros. Isto é comércio mundial sustentável, que ajuda a desenvolver a solidariedade e consciência humanas.
IHU On-Line - A partir dos novos indicadores de desenvolvimento sustentável e de qualidade de vida, quais seriam os novos conceitos de progresso e prosperidade para nossa época?
Hazel Henderson - Precisamos corrigir o PIB e incluir nele todos os custos e benefícios sociais e ambientais. O Brasil propôs isto na 1ª Conferência Internacional sobre a Implementação de Indicadores de Sustentabilidade e Qualidade de Vida realizada em Curitiba em 2003. Em 2007, o Parlamento Europeu realizou a Conferência Para Além do PIB, que eu tive a honra de ajudar a organizar, e meus Indicadores de Qualidade de Vida, junto com o Grupo Calvert, são atualizados regularmente em http://www.calvert-henderson.com/.
IHU On-Line - A senhora percebe a existência de uma dicotomia entre consumo ético e a economia capitalista da forma como está constituída hoje?
Hazel Henderson - Sim. Não pode haver consumo ético a menos que todos os custos sociais e ambientais sejam incluídos nos preços. A publicidade deveria ser regulamentada para ser veraz e não manipular os cidadãos apelando para o medo, a cobiça, a inveja e a vaidade, mas conscientizá-los a respeito dos imperativos da sustentabilidade. Em 2003, fundei a EthicMark for Advertising that Upflifts the Human Spirit and Society [Marca Ética para a Publicidade que Eleva o Espírito Humano e a Sociedade]. Nosso Terceiro Prêmio Anual será apresentado no Centro David Cooperriders para os Negócios como Agentes do Benefício Mundial na Universidade Case Western em junho.
IHU On-Line - Quais as principais limitações do pensamento econômico convencional, focado nos mercados e no PIB?
Hazel Henderson - Seu foco no dinheiro, que não tem valor intrínseco. O dinheiro é informação, uma invenção útil para rastrear as transações humanas com outros seres humanos e com a natureza, que são os ativos realmente valiosos. A ciência econômica está focada no materialismo e é patriarcal, visto que não valoriza o trabalho não remunerado das mulheres e o trabalho voluntário nas comunidades.
IHU On-Line - Quais seriam as mudanças necessárias para pensarmos em uma nova economia global que promova a justiça e a sustentabilidade em todos os níveis, do pessoal e local ao global?
Hazel Henderson - Para promover uma economia humana justa e sustentável, temos de deixar de lado Wall Street, Londres, Frankfurt e Tóquio, os chamados “centros financeiros”. Eles se revelaram como corruptos e destruidores da riqueza real nas comunidades e nos ecossistemas. Já que agora podemos nos comunicar de tantas formas novas, podemos deixar para trás o dinheiro e os grandes bancos e fazer comércio em nível local usando apenas a informação. Vemos todos os sistemas locais de escambo, bem como os sites de eBay, Craiglist, Freecycle, Microplace, Global Giving e outros. Podemos apoiar a agricultura local, os mercados de agricultores, intercâmbios livres e refazer nossos países para torná-los economias locais de fabricação caseira. Estas são as melhores redes de segurança - à medida que reformamos e regulamentamos o capitalismo no mundo inteiro.
IHU On-Line - Quais os principais desafios para a prática do consumo ético em nossos dias?
Hazel Henderson - Os antigos centros financeiros e seus autoproclamados “senhores do universo” ainda têm muitos lobistas e influenciam os políticos. Precisamos expulsar esses cambistas dos templos de nosso setor público e dos governos. Os meios de comunicação de massa ainda são apoiados por anunciantes que promovem mais consumo e desperdício. Podemos voltar nossa atenção para a mídia local e novas empresas que promovam produtos e serviços sustentáveis. Também precisamos de mais emissoras de rádio e televisão públicas e educativas.
(IHU On-Line)
Fonte: Mercado Ético
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