terça-feira, 29 de novembro de 2011

Caatinga preservada

Trabalho preserva caatinga nas obras de transposição do São Francisco

Biólogos lutam para preservar espécies vegetais na área de caatinga. Grupo resgata amostras de plantas e sementes.


O vai e vem dos caminhões e as máquinas não param, quilômetros de vegetação já foram desmatados desde que as obras da transposição começaram. Entre tantos operários, uma turma especial segue na linha de frente pela vida.

O grupo não mede esforços para realizar uma pesquisa coordenada pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, que se estende por 402 quilômetros no eixo norte e 220 quilômetros no eixo leste.
A elaboração do inventário florístico e o resgate de espécies permitem o reconhecimento da flora na região degradada. Nada passa despercebido, sementes são coletadas, árvores medidas e amostras de flores são colhidas. Tudo é registrado com a ajuda de um GPS, aparelho que registra a localização exata de cada planta.
O trabalho começou em 2008 e conta com a participação de biólogos e estudantes dos cursos de ciências biológicas, zootecnia, agronomia e engenharia agrícola e ambiental. Trabalhadores rurais também fazem parte do projeto que tem como objetivo, conhecer e preservar o bioma caatinga.
Assista ao vídeo com a reportagem completa e saiba como funciona os estudos dentro da universidade: http://g1.globo.com/economia/agronegocios/vida-rural/noticia/2011/11/trabalho-preserva-caatinga-nas-obras-de-transposicao-do-sao-francisco.html

Técnicas sustentáveis para a produção rural

Pasto agroecológico é novidade no Sertão




Porto da Folha (SE) - Pequenos produtores do sertão sergipano estão aprendendo a inovar com sustentabilidade. A tecnologia pasto agroecológico tem aumentado a produção e preservado o meio ambiente na região. A tecnologia é disseminada pelos consultores dos Frutos da Floreta, projeto desenvolvido pelo Instituto de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável (Icoderus), que conta com total apoio do Programa Petrobras Ambiental e tem como parceiro o Sebrae.

O pasto agroecológico é formado por árvores nativas, que além de gerar sombra serve para alimentar os animais. Um bom exemplo é o caso do mata pasto, que nasce com a chuva. Na maioria das vezes o produtor utiliza herbicidas para matá-lo. Indiretamente o consumidor acaba ingerindo no leite resquícios desses agrotóxicos. Mas se o mata pasto for cortado pela raiz, triturado e colocado no silo por um período mínimo de três semanas, ele se transforma num alimento nutritivo e saboroso para os animais.


Outro ponto positivo é que eles servem de corredores ecológicos, principalmente para os pássaros. “Além de preservar o ecossistema, reduzir gastos com ração e evitar a utilização de venenos. O pasto agroecológico tem melhorado a produtividade do leite”, explica o engenheiro florestal Ronaldo Fernandes, coordenador técnico do projeto.  “Já capacitamos 15 produtores com essa nova tecnologia. Os bons resultados que eles estão obtendo está chamando a atenção dos outros empreendedores rurais, e mais 20 pessoas já demonstraram interesse em conhecer a tecnologia”, explica.

Um bom exemplo é o caso do pequeno criador Manuel Soares Cardoso, que conseguiu um aumento de aproximadamente 20% na produtividade leiteira do seu rebanho bovino. Manuel Soares é integrante da Associação Comunitária dos Produtores Rurais da Lagoa do Rancho, em Porto da Folha, e há seis meses tem adotado a tecnologia do pasto agroecológico. “Utilizo vegetações nativas para alimentar o gado e outros animais. Estou economizando com a compra de milho e soja para ração. O mais interessante é que os animais preferem o pasto”, comenta Manuel.

No início, os vizinhos de Manuel até criticaram a opção dele pela novidade.  Diziam que a utilização da vegetação nativa para alimentar os animais era coisa de produtor preguiçoso, que não queria ter trabalho, e que os animais poderiam até morrer comendo esses matos. “Depois que viram que dava certo, que aumentei a produtividade e reduzi custos, ficaram interessados em aprender essa nova técnica”, explica. Além do leite bovino, Manuel trabalha com apicultura e cria porco e galinha. “A vegetação nativa também é o melhor alimento das abelhas. Alguém já soube de apiário que sobreviveu em pastos só com capim?”, questiona o produtor. 

Quem também aderiu à tecnologia do pasto agroecológico foi o produtor Edinildo Rodrigues de Medeiros, dono de uma pequena propriedade rural no povoado Lagoa da Entrada, em Porto da Folha. Além do leite de gado, Edinildo também trabalha com apicultura e planta palma. Ele é integrante da Associação dos Apicultores de Porto da Folha e somente há 30 dias vem utilizando à catingueira e outras vegetações nativas para alimentar os animais. “Estou satisfeito, a economia com a compra de ração está sendo ótima, os animais estão se alimentando bem, mas ainda não deu para perceber o aumento da produtividade de leite, pois tem pouco tempo que aderi ao pasto agroecológico”, diz o produtor.


Mon, 28 Nov 2011


http://www.tosabendo.com/conteudo/noticia-ver.asp?id=178855

Agroecologia no Semiárido


Agricultores do semiárido alagoano recebem da Codevasf kits para produção agroecológica de alimentos




imageUnidade PAIS doada pela Codevasf para instalação em Piranhas
A produção agroecológica de alimentos no semiárido alagoano será fortalecida a partir desta sexta-feira, 25 de novembro, com a entrega de 25 kits do programa Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS) doados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) a agricultores familiares de assentamentos da reforma agrária no povoado Juá, município de Delmiro Gouveia. A entrega dos kits está marcada para às 15h no povoado. No local, haverá uma unidade demonstrativa do PAIS já instalada.

Para o superintendente regional da Codevasf em Alagoas, Antônio Nélson de Azevedo, a instalação de unidade agroecológica no sertão alagoano demonstra a vocação da região do semiárido para produção de alimentos. “Há uma imagem de que o semiárido brasileiro é um local inapropriado para agricultura ou agropecuária. Isso é um erro grave. Com a aplicação correta de técnicas de manejo de solo e água, aliada a saberes milenares da agroecologia, com respeito e conhecimento das condições climáticas e de solo, o sertão pode tornar-se um polo de produção de alimentos”, destacou.

Ele ainda afirmou que a entrega dos kits adquiridos pela Codevasf integra a estratégia de desenvolvimento regional da companhia de fortalecer a agricultura familiar no Baixo São Francisco alagoano.

Participarão da cerimônia de entrega dos kits aos agricultores, além do superintendente regional da Codevasf em Alagoas, a vice-prefeita de Delmiro Gouveia, Ziane Costa, que representará o prefeito Luiz Carlos Costa, representantes da Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário de Alagoas (Seagri/AL), do SEBRAE/AL, da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Delmiro Gouveia (Coofadel), do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Delmiro Gouveia, vereadores, entre outros.

PAIS
O PAIS é uma tecnologia social criada pelo Sebrae com o objetivo de promover técnicas mais próximas da cultura tradicional natural, com isenção de agrotóxicos e aproveitamento integral de recursos, resultando numa dependência mínima de insumos externos à propriedade rural.

O kit PAIS é composto por um sistema de irrigação que possui uma bomba para captação de água de uma fonte já existente na propriedade. A água captada fica armazenada numa caixa de água de 5 mil litros e, por gravidade, através de mangueiras de irrigação, será transportada para irrigação das hortas do sistema PAIS utilizando o sistema de gotejamento e microaspersão.

2ª Conferência Estadual do Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário


Feira agroecológica e exposição na 2ª Conferência Estadual de Desenvolvimento Rural

29 de Novembro de 2011

Durante a 2ª Conferência Estadual do Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário, que será realizada entre nos dias 5 e 6 de dezembro, serão realizadas, no anel interno do Parque Solon de Lucena (Lagoa), em João Pessoa, uma feira agroecológica e uma exposição de produtos e serviços.
A conferência, promovida pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca (Sedap), ocorrerá no Cine Bangüê do Espaço Cultural.
Durante a conferência será definido um documento final sobre os temas debatidos pelos grupos de trabalho, que abordarão temas como capacitação, formação profissional, educação formal e informal, crédito, fomento, subsídios, legislação, infraestrutura, logística, mercados governamentais e livres, comercialização e feiras, pesquisa e desenvolvimento, agroindústria, mapa de oportunidades, comunicação e marketing e políticas públicas. O objetivo é criar uma política de desenvolvimento rural sustentável e solidário que contemple os setores produtivos, as forças sociais e as diversidades territoriais da Paraíba.
Na conferência haverá debates sobre irrigação, bovinocultura, caprinovinocultura, piscicultura e aquicultura, apicultura e meliponicultura, atividades não agrícolas, algodão, cana-de-açúcar, horticultura orgânicos/agroecológicos e fruticultura. Também serão discutidos temas transversais, como territórios rurais, assistência técnica e extensão rural, ciência, tecnologia, inovação, reforma agrária e matriz energética.
As empresas vinculadas à Sedap – Emater, Emepa, Empasa e Interpa – são parceiras na realização da conferência. Mais informações sobre o evento podem ser obtidas na Sedap (Avenida João da Mata, s/nº, Bloco II, 3º. Andar – Centro Administrativo – bairro de Jaguaribe, em João Pessoa).
Fonte: Governo da Paraíba

Artigo: Manejo de bacias hidrográficas

A água, os cientistas e as tecnologias de manejo de bacias hidrográficas

Publicado em novembro 24, 2011 por 


Confesso, para começar, que ando um pouco cansado desta história ‘hilariante’ que envolve as discussões sobre o novo Código Florestal. Além dos políticos, dos ambientalistas e dos ruralistas, até os cientistas se envolveram mal nessa batalha, que tem tudo para terminar com cheiro de água podre. Mas o uso do cachimbo acaba entortando a boca e aqui estou eu de novo, batendo bumbo, como diz o Henrique Cortez, nosso anfitrião aqui no Portal EcoDebate.
Com respeito aos cientistas, vale lembrar que os tempos atuais, com a ampliação do horizonte científico e com a rapidez com que as descobertas se multiplicam, não há mais lugar para a existência de pessoas querendo ser novas versões de Leonardo da Vinci.
Infelizmente, nas discussões do Código Florestal, vemos a qualificação de cientista como sendo uma pessoa apta a dar palpites sobre assuntos para os quais não têm preparo prévio. Vemos biólogos, por exemplo, falando em comportamentos de ciclos hidrológicos em bacias hidrográficas, não de maneira genérica, o que ainda poderia ser aceitável, mas com ares de que transmitem conhecimentos científicos. Tal comportamento é grave, pois pode estar passando para a sociedade uma versão equivocada dos fenômenos hidrológicos. Ao colocarem a mata ciliar como ícone da salvação de nascentes e cursos d’água, podem induzir os produtores rurais a acreditarem que elas são suficientes, provocando o desprezo dos trabalhos de conservação em outras áreas de importância para o abastecimento dos aquíferos subterrâneos. O mesmo erro, repetido à exaustão, é o que nomeia topos de morros como sendo as áreasde recarga de aquíferos. Em resumo, nas versões vendidas (até por muitos cientistas de outras especialidades), se protegidos os topos e as áreas ciliares, a produção de água estará garantida. A bacia hidrográfica passa a ser, nestas versões, apenas um acidente geográfico, servindo de endereço para os cursos d’água.
As chuvas, ao atingirem a superfície de uma pequena bacia hidrográfica, por exemplo, precisam ter a maior parte possível dos seus volumes de água retidos e infiltrados nos pontos de queda. Não há nenhuma lógica em justificar a mata ciliar como elemento de retenção de enxurradas (água + partículas de solo arrastadas). É como usar analgésico para aliviar a dor em vez de antibiótico para curar a infecção. E o manejo de bacias hidrográficas, multidisciplinar, tem o objetivo básico de analisar o comportamento hidrológico da bacia e propor tecnologias de conservação adequadas às condições físicas e socioeconômicas existentes e reinantes.
O manejo de bacias está em consonância com a Lei 9.433 (Lei das Águas) que diz que a bacia deve ser a unidade básica de planejamento para produção e uso de água. Se quiserem apontar a mata ciliar e de topo como unidades fundamentais para a fauna e a biodiversidade, tudo bem, não é minha especialidade e não discuto, mas deixem de lado muitas ilações que são feitas com relação a suas importâncias hídricas. Aí existem prós e contras que precisam ser analisados caso a caso e por quem entende do assunto. Num sistema já alterado pela atividade humana, os fluxos de energia, responsáveis pelo desenvolvimento do ciclo hidrológico em determinada área, não se comportam mais como no antigo estado natural e alguns capões de mata aqui ou ali podem ter comportamentos muito diversos daqueles esperados, com base na memória passada.
Há muitos casos de pequenas bacias que, ao serem novamente cobertas com florestas, formando uma ilha de vegetação no meio de áreas exploradas, acabam por secar os cursos d’água previamente existentes. Já discutimos isso aqui no EcoDebate, no artigo “A vegetação, o solo e a água em pequenas bacias hidrográficas”, publicado em 19/10/2011.
Há muitas tecnologias de conservação capazes de fazer com que ecossistemas hidrológicos funcionem bem, mesmo na ausência de florestas, pois elas, felizmente, não têm mais a primazia absoluta de proteção de recursos hídricos. No caso de áreas rurais, eu mesmo acabo de publicar um livro sobre os fundamentos hidrológicos de conservação de nascentes, com exemplos de tecnologias aplicáveis. O Álvaro Rodrigues dos Santos, por sua vez, já publicou recentemente, aqui no EcoDebate, uma série de artigos apontando soluções aplicáveis ao meio urbano, visando retenção de enxurradas em seus pontos de origem.
O jornalista André Trigueiro, em uma série de programas de televisão, com o título de Cidades e Soluções, tem mostrado inúmeras tecnologias de conservação ambiental, incluindo as relacionas com o uso racional da água, que merecem ser vistos e analisados. Não há nenhuma necessidade, portanto, de ficarmos a mercê de legislações que generalizam soluções para um território cheio de especificidades ambientais. Não há nenhuma razão, também, para tirarmos os problemas ambientais das respectivas áreas tecnológicas e jogarmos nas promotorias e nos juizados. Já temos uma massa de cientistas (relacionados com o assunto) e de profissionais capazes de realizar excelentes trabalhos de conservação ambiental. É só acreditar nisso e substituir parte da fiscalização por inovações e assistência técnica.
Como há grande preocupação com o pensamento do mundo sobre nossas decisões, vale mencionar que em regiões montanhosas de países como Portugal, Espanha e França há rios com ótimas vazões, e límpidos, provenientes de regiões que cultivam a terra em encostas íngremes, até nas áreas ripárias. Mantêm casas e outras benfeitorias aí, sem os danos hidrológicos catastróficos que são previstos por aqui. Basta, primeiramente, que as cidades parem de jogar todo o esgoto diretamente nos cursos d’água e que programas de assistência técnica repassem, aos produtores rurais, as tecnologias apropriadas ao uso racional da terra, dentro de programas de zoneamento ecológico e de políticas agrícolas adequadas aos vários ecossistemas brasileiros.
Osvaldo Ferreira Valente é engenheiro florestal, especialista em hidrologia e manejo de pequenas bacias hidrográficas e professor titular, aposentado, da Universidade Federal de Viçosa (UFV); colaborador e articulista do EcoDebate.valente.osvaldo@gmail.com
EcoDebate, 24/11/2011
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Artigo: Bacias Hidrográficas


O geobiossistema bacia hidrográfica

Publicado em novembro 9, 2011 por 


A interação permanente entre o meio físico e os ecossistemas terrestre e aquático precisa ser analisada através de um enfoque interdisciplinar.
As bacias hidrográficas representam a primeira expressão mais visível do meio físico. Resultam da decomposição dos substratos rochosos através de processos de intemperismo.
A bacia hidrográfica é um conceito integrador que precisa ser entendido de forma simples. É uma piscina em escala grande e natural dentro da qual se situam cidades e áreas rurais. E onde tudo que acontecer com uma propriedade rural ou um núcleo urbano afeta os demais elementos da mesma piscina.
As modernas técnicas de avaliação das bacia hidrográficas utilizam as classificações pedológicas e climáticas disponíveis, associando ainda fatores como declividade, cobertura vegetal e ocupação e ação antrópica.
A associação destes elementos e o uso das técnicas de sensoriamento remoto e tratamento digital de imagens de satélite, dentro de um contexto multidisciplinar, permitiu a transferência e a evolução de conceitos. Hoje, é disseminada a concepção do conceito de “paisagem” como expressão do agenciamento dinâmico e superficial dos conjuntos territoriais.
Ou seja, não é mais apenas a bacia hidrográfica que oferece a face mais visível do meio físico, e sim a paisagem integradora do conjunto sistêmico com os demais fatores, a expressão conjunta das interações compreendidas ou ainda difusas.
Este agrupamento, capaz de expressar homogeneidades ou realçar diferenciações físicas espaciais e temporais no meio terrestre, origina a conceituação de “geobiossistemas” como unidades territoriais, geográficas ou cartográficas de mesma paisagem, definidas por características estatísticas do meio natural físico, químico ou biológico, hierarquizadas por um mesmo sistema de relações.
Para compreensão e entendimento da evolução das bacias hidrográficas, além da profunda e íntima relação com o clima, é preciso entender as interações com o relevo e a influência dos parâmetros hidrológicos do balanço hídrico.
Por balanço hídrico se compreende o conjunto de fenômenos posteriores às precipitações pluviométricas. A água que chove sobre uma determinada bacia hidrográfica tem 3 caminhos básicos: o primeiro caminho é sofrer infiltração nos terrenos, que depende das taxas de infiltração, dos materiais constituintes dos solos (materiais arenosos tem elevada permeabilidade e materiais com predomínio de argilas tem baixa permeabilidade).
A segunda alternativa é sofrer “run off”, expressão que significa escoamento superficial. Quanto maior for a declividade, maior é o escoamento superficial, e, portanto, menores as infiltrações e menor a decomposição das rochas que origina os solos.
E a terceira é passar pelo processo de evapotranspiração, ou seja evaporação superficial. O balanço hídrico é a quantidade de água disponível pela ação das chuvas, menos as águas que infiltram nos terrenos, subtraídas também as águas que sofrem evapotranspiração.
A água disponível para o sistema de drenagem superficial é o material proveniente da chuva que sofre escoamento superficial.
E as taxas maiores ou menores de infiltração, que dependem da quantidade de chuva e do relevo do local, influenciam na formação de maiores ou menores perfis de solo.
Tudo isto ocorre no contexto da bacia hidrográfica. Na ausência deste elemento delimitador do recurso natural, é adotado o conceito de geobiossistema para representar um conjunto de relações responsáveis pela sustentação da flora e da fauna no meio biológico e pelas interações com a agricultura, a pecuária, o armazenamento de água, as obras de infra-estrutura e edificações humanas.
Sem que suas características naturais sejam alteradas, a bacia hidrográfica que é um geobiossistema natural, intuittivo e básico funciona como filtro de purificação das águas superficiais ou freáticas que se infiltram em profundidade e formam os aqüíferos subterrâneos ou águas subterrâneas, armazenadas dentro da rocha.
O manejo agrícola inadequado produz erosão nos solos que constituem uma bacia hidrográfica e resultam nos processos de assoreamento dos recursos hídricos superficiais, aumentando as condições para ocorrência de enchentes e alagamentos.
A disposição inadequada de resíduos perigosos ou não inertes nos solos propicia a degradação progressiva do ecossistema afetado.
O conhecimento da unidade básica de paisagem bacia hidrográfica, geobiossistema natural e intuitivo, é um bom exemplo da multidisciplinariedade dos estudos ambientais. Esta concepção é importante para diversas áreas do conhecimento humano. A bacia hidrográfica é lentamente renovável, sendo determinante na formação das paisagens.
As bacias hidrográficas estão presentes em todas as atividades humanas e seu uso racional, economicamente viável e ambientalmente sustentável exige conhecimento prévio de suas características e limitações.
Todo estudo do meio físico necessita detalhamento das características, aptidões e limitações dos elementos da paisagem. E o elemento integrador por natureza, o geobiossistema natural e intuitivo são as bacias hidrográficas e sua distribuição geográfica e ocorrência.
Dr. Roberto Naime, colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 09/11/2011
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Seminário “Recaatingamento: O valor da Caatinga em pé”


O valor da Caatinga em pé

Publicado em 26/11/2011 - 7:06 por Maristela Crispim



Juazeiro (Ziziphus joazeiro) espécie típica da Caatinga que permanece verde o ano inteiro Foto: Cid Barbosa
O Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) realiza, de 29 de novembro a 01 de dezembro de 2011, o Seminário “Recaatingamento: O valor da Caatinga em pé”, no Centro de Cultura João Gilberto, em Juazeiro (BA).
Com o objetivo de apresentar o que está sendo pesquisado e colocado em prática acerca da preservação e recuperação da Caatinga, o seminário será organizado em forma de palestras e debates sobre preservação, combate à desertificação, sequestro de carbono e comunidades tradicionais.
Ainda haverá o lançamento do vídeo com a experiência do Projeto Recaatingamento, uma iniciativa do Irpaa, com patrocínio da Petrobras, através do Programa Petrobras Ambiental (PPA).
No último dia haverá uma visita às comunidades recaatingueiras, uma oportunidade de conhecer a experiência na prática. Podem participar do evento, estudantes, camponeses, técnicos de organizações não-governamentais (ONGs), técnicos governamentais, pesquisadores, políticos e a comunidade em geral.
Informações: www.irpaa.org

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Valor da Natureza

VALORANDO A NATUREZA: ECONOMIA AMBIENTAL OU ECONOMIA ECOLÓGICA?

Sérgio Gomes Tôsto (1)
João A. Mangabeira (2)
Lauro Charlet Pereira(3)
[EcoDebate] Um bem ou um serviço ecossistêmico tem grande importância para o suporte às funções que garantem a sobrevivência das espécies. De uma forma geral, todas as espécies de animais e de vegetais dependem dos serviços ecossistêmicos e dos recursos naturais para sua existência. Essa importância traduz-se em valores associados aos bens ou aos recursos ambientais, que podem ser valores morais, éticos ou econômicos.
Há algum tempo, acreditava-se que os recursos ambientais, dada a sua enorme abundância, nunca iriam se exaurir e, assim, não se via necessidade de valorá-los economicamente. O valor atribuído ao meio ambiente era zero ou infinito, ou seja, eram considerados bens gratuitos e não entravam na contabilidade econômica, apesar de serem usados na produção de bens e de serviços. Hoje em dia esta questão está bem clara e há uma unanimidade de que ecossistemas têm valor porque mantêm a vida na Terra e geram os serviços necessários para satisfazer as necessidades humanas, materiais e não materiais, assim, o valor dos serviços ambientais ecossistêmicos nunca é zero e pode ser muito elevado.
Conhecer o valor dos serviços ecossistêmicos é útil para sua efetiva gestão, o que, em alguns casos, pode incluir incentivos econômicos para sua preservação. A valoração dos serviços ecossistêmicos pode ser considerada como um conjunto de informações úteis necessárias para a gestão do capital natural e a sua organização é necessária para orientar a tomada de decisões envolvendo o uso dos ativos do capital natural.
Exercida em conjunto com instrumentos financeiros e arranjos institucionais podem permitir aos indivíduos capturar o valor dos ativos dos ecossistemas, podendo assim, produzir efeitos favoráveis em termos de gestão sustentável do capital natural.
Há duas correntes de pensamento econômico que trata a questão da valoração dos serviços ecossistêmicos.
A corrente da Economia Ambiental que é considerada a principal resposta da Economia Neoclássica à problemática ambiental, representa uma resposta ao questionamento da sociedade sobre o papel dos ecossistemas na dinâmica econômica e no bem-estar. Considerando a economia como um sistema fechado, no qual se analisam os fluxos monetários, de trabalho e de renda entre as pessoas e as unidades produtivas (empresas), a teoria econômica tradicional falhava ao não identificar que as matérias primas necessárias para serem transformadas em bens de consumo e, consequentemente, para gerar renda, vinham da natureza – e que tais recursos eram ilimitados. Igualmente, não se preocupou com o fato de que a natureza é o depósito final para todos os resíduos gerados pelas atividades produtivas – ou percebeu como ilimitada a capacidade da natureza em absorver tais resíduos. A partir da década de 60, com o aparecimento de grandes problemas ambientais, alguns em escala global, os economistas começaram a perceber que a teoria econômica era falha ao não incorporar os recursos naturais. No entanto, a percepção corrente era de que os problemas ambientais ocorriam porque os recursos naturais não faziam parte do mercado. Eles eram bens comuns, que não apresentavam direitos de propriedade bem definidos e, portanto, não faziam parte das tomadas de decisões dos agentes econômicos, sendo, como consequência, utilizados até a exaustão.
Para estes economistas, portanto, a solução estava em internalizar os recursos naturais no mercado e nas decisões dos agentes econômicos. Para isso, foram desenvolvidos diversos métodos de valoração monetária dos recursos naturais e criadas agências ambientais, pelos governos, para regulamentar o uso dos bens difusos e atribuir responsabilidades aos usuários/poluidores da natureza. Contudo, a internalização dos recursos naturais no mercado não foi e não é suficiente para amenizar os impactos ambientais, porque apesar de inserir os mesmos nas decisões dos agentes econômicos, continua partilhando uma visão da economia como sistema fechado. Ou seja, os recursos monetários continuam sendo a moeda comum de comparação entre os diversos valores, e o crescimento de uma economia se mede pela quantidade de dinheiro que circula no sistema.
A outra corrente de pensamento denominada de Economia Ecológica ampliou este campo de análise ao entender o sistema econômico como um sistema aberto. Isto é, a economia ecológica incorpora a análise econômica tradicional, mas entende que estas relações entre empresas e pessoas não podem ocorrer indefinidamente, uma vez que existem limites impostos pelos ecossistemas que afetam esta relação, como a extração de recursos naturais e a obtenção de energia necessária para a produção destes bens de consumo. Além de existirem limites na capacidade dos ecossistemas de absorverem os resíduos gerados pelo sistema econômico. De acordo com a terceira lei da termodinâmica, a lei da entropia, por mais que os processos de reciclagem ganhem eficiência, existe sempre perda de material e energia ao longo da cadeia de produção.
Nenhuma atenção se dá ao fato de que existem limites para a obtenção dos recursos naturais para serem transformados em bens de consumo, da mesma forma como a natureza apresenta limites para a absorção de resíduos. Para isso, é necessário ver a economia como um sistema aberto. Isso é o que propõe a economia ecológica, que a economia seja vista como um sistema aberto à entrada de materiais (recursos naturais) e energia e à saída de resíduos (resíduos sólidos, líquidos e energia dissipada), e que existem limites para a reprodução de tais recursos e serviços. A Economia Ecológica não ignora a Economia Ambiental, mas a engloba dentro de um sistema mais amplo que é a natureza, em outras palavras, a Economia Ecológica reconhece a interdependência entre os sistemas econômicos e ecológicos.
(1Doutor em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente e Pesquisador A da Embrapa Monitoramento por Satélite.
(2Doutor em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente e Pesquisador A da Embrapa Monitoramento por Satélite.
(3Doutor em Planejamento Ambiental e Pesquisador A Embrapa Meio Ambiente.
EcoDebate, 16/11/2011
[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]


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