TÉCNICA DE AMONIZAÇÃO
Alternativas de convivência com o semiárido
Técnica desenvolvida pela Embrapa Semiárido transforma mato seco em alimento para manter atividade pecuária
Quixadá. Seca não se combate, a gente convive com ela. Acreditando nesta máxima, os proprietários da Fazenda Sitiá, situada a pouco mais de 15km do Centro de Quixadá, estão apostando em uma técnica pouco conhecida no interior do Ceará, a amonização ou amoniação.
Desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na década de 1990, a amonização é uma alternativa para a alimentação do rebanho. Adicionando amônia em solução aquosa ao mato seco, encontrado em abundância nesta época do ano, os fazendeiros estão produzindo toneladas de forragem para a criação de gado, caprinos e ovinos.
Nova tecnologia
O processo transforma as palhadas e os restos de cultivos em forrageira nutritiva para os animais ruminantes. A amônia, resultante do processo de hidratação da ureia, em forma de gás, atua nas partes mais fibrosas do vegetal seco, rompendo a ligação lignina-hemicelulose-celulose, deixando maior a superfície de exposição para a ação dos micro-organismos do rúmen.
A reação aumenta em pelo menos 20% a digestibilidade do material tratado, enquanto o teor de proteína bruta é elevado em mais de 50%. Ainda garante uma boa preservação devido a ação fungistática do produto químico. O baixo custo associado é outra vantagem. Um quilo da forragem amoniada custa, em média, R$ 0,20.
Já pequenos produtores dedicados à agropecuária consideram estas técnicas, mais simples, muito complicadas. Misturar o mato triturado à solução de amônia preparada com ureia, de olho na proporção da dissolução com a água; armazenar por alguns dias e esperar a reação e a dispersão do gás tóxico é de assustar e desencorajar quem está acostumado a esperar chover, plantar, colher e guardar. Somente com auxílio de um profissional especializado seria possível desenvolver a técnica proposta pela Embrapa Semiárido para os períodos críticos da escassez de forragem.
Primeira experiência
Mas o advogado Juvenal Arruda Furtado contrariou as expectativas. Os filhos e a esposa, Kátia Furtado, não podiam contar mais com o auxílio de um benfeitor sertanejo, responsável pela manutenção da fazenda. Vender a herança por quase nada não estava nos planos da família. Então ele resolveu se tornar fazendeiro. Deparou-se logo com o inverno fraco deste ano. Precisava de uma solução, senão os bichos iriam morrer de fome. Pesquisou na internet e encontrou no portal da Embrapa várias delas. Aproveitar o mato seco era uma saída.
Sem qualquer experiência de convívio no campo, juntamente com a esposa e a cunhada, Alcilone Silveira, botou os pés na massa, literalmente. Eles cumpriram à risca as orientações do manual. Os trabalhadores da fazenda construíram uma meda, uma espécie de caixa com dimensões específicas revestida com plástico polietileno. Jogaram o mato triturado dentro e depois a solução de ureia. Juntos, patrões e empregados compactaram as camadas, pisoteando-as como quem produz vinho. Quinze dias depois, o silo foi aberto e o "banquete vegetal" começou a ser servido para os animais da fazenda.
Segundo Furtado, na primeira meda foram investidos R$ 600,00. Todavia, os custos iniciais podem ser cortados pela metade. Ele reconhece ter havido alguns exageros. Além da quantidade em excesso de lona plástica, usou seis filas de arame galvanizado para vedar a meda. Também comprou máscaras para evitar intoxicação com o gás na hora da abertura do silo. Não foi necessário, pois o vento dispersou o perigo rapidamente. Os bichos estão se acostumando com a nova proteína vegetal. Para melhorar o sabor, ele acredita que vai ser necessário apenas triturar um pouco mais o mato e rever a medida da solução aquosa.
Resultados
Enquanto o advogado comemora os resultados, o novo gerente da fazenda fica impressionado. Ao longo dos 40 anos de vida na roça, Antonio Costa não imaginava um dia poder transformar capim e arbustos, que geralmente eram queimados, em alimento nutritivo para os animais. Se soubesse disso antes não teria passado tanta dificuldade nas épocas de seca brava. No princípio, ele atendia meio desconfiado as orientações dos patrões. Às vezes ficava até chateado, afinal poderiam não estar acreditando na sua experiência de agricultor. "Quem havia de imaginar uma coisa dessas dando certo", comenta.
Na opinião de Juvenal Furtado, alternativas existem, mas é preciso acreditar nelas. Embora tenha passado a maior parte da vida na Capital, longe dos problemas sertanejos, quando resolveu dedicar parte do seu tempo às tarefas rurais, reconheceu a necessidade de conhecer os problemas gerados pela irregularidade do ciclo invernoso. Se a seca é um monstro tão temido, porque as pessoas continuam insistindo em morar no sertão? Para ele, a maior dificuldade não está na seca, mas nos hábitos mantidos ao longo dos anos. É preciso mudar esses costumes. A amonização é um exemplo viável.
O engenheiro agrônomo Moacir da Silva, do escritório regional da Ematerce, em Quixadá, concorda. Com praticamente 40 anos de experiência no campo, ele diz que a técnica é pouco conhecida no Sertão Central. Faltam divulgação e interesse dos agricultores e pecuaristas, além de ainda não ser utilizada pela Ematerce. Ao saber da experiência realizada na Fazenda Sitiá, através da reportagem, o agrônomo demonstrou interesse em conhecê-la. Pretende reunir um grupo para a visita.
MAIS INFORMAÇÕES
Fazenda Sitiá - Quixadá (CE) - (85) 9994.4246
Embrapa Semiárido - Petrolina (PE)
(87) 3862.1711
Alex Pimentel
Colaborador
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