domingo, 3 de outubro de 2010

Irrigação no Sertão

CEARÁ - CENTRO-SUL

Irrigação gera frutos em tempos de seca

2/10/2010 Clique para Ampliar
Em áreas de várzeas de rios e açudes, produtores como Arnaud Nogueira estão fazendo oásis no sertão e colhendo o que em outras regiões foi perdido com a estiagem
WILSON GOMES
Enquanto a maioria dos agricultores lamenta a perda do plantio, outros continuam trabalhando e esperam a colheita

Quixelô. "Não é só falar de seca/Não tem só seca no sertão". O refrão da música "Orós 2", composta por João do Vale e interpretada pelo cancioneiro popular, serve de inspiração para mostrar que na caatinga cearense há também produção irrigada, principalmente nos vales e várzeas de rios e açudes. Em pleno ano de seca, quando o sol começa aquecer mais ainda a terra, muitos agricultores produzem e colhem grãos.

Esse cenário que contrasta com a perda da lavoura de sequeiro ocorrida no primeiro semestre deste ano ocorre em muitas áreas na região Centro-Sul. Enquanto a maioria dos agricultores lamenta a perda do plantio e sobrevivem graças aos recursos do Garantia Safra, Bolsa Família e aposentadorias rurais, outros continuam trabalhando e vivem a expectativa da colheita de grãos em breve.

O seco cinzento e esbranquiçado, da vegetação típica da caatinga, e o verde das áreas onde há irrigação contrastam lado a lado. É o caso das localidades de Santa Felícia, no Município de Acopiara, e Paus de Leite do Faé, em Quixelô. As duas são favorecidas pelo vale do Rio Faé, mas a água não consegue chegar a todas as roças.

Nas terras onde há irrigação, o clima é de trabalho e de alegria. O produtor Antonio Souza mostra com entusiasmo o poço enorme que tem na propriedade e o preparo de uma área de plantio irrigado de feijão.

"Aqui ninguém para, trabalha o ano todo", disse. "Já colhi uma safra e vou tirar outra em outubro próximo". O verde ocupa a maior parte da paisagem que divide a estrada de terra.

"A seca deste ano foi grande, mas para nós não castiga muito, não", disse o agricultor aposentado, Pedro Lima.

O jovem produtor rural, Arnaud Nogueira, trabalha na irrigação e limpeza de um hectare de terreno, onde planta feijão irrigado. Espera colher 1.800 sacas de 60 quilos do produto. "Hoje o preço está bom, conseguimos vender por cerca de R$ 140 a saca", disse. "Espero que em outubro permaneça nesse mesmo valor".

O preço do grão atual favorece o plantio e dá lucro para os agricultores. Entretanto, o feijão tem a característica de oscilar de valor de um mês para outro, mas neste ano a escassez do produto mantém a cotação em alta.

O agricultor José Alves Pereira, na localidade de Paus de Leite do Faé, faz a irrigação em dias alternados de uma área de meio hectare, onde produz feijão-de-corda. Do alto, no alpendre da casa, a esposa observa o trabalho do marido. A água vem de um poço localizado na propriedade. "Por enquanto ninguém tem de reclamar", disse. "Quem quer trabalhar não falta serviço por aqui".

Autossuficiente

Açudes existentes nas localidades de Umari e Santa Felícia, em Acopiara, fazem da região um oásis em pleno sertão. Não há necessidade de carro-pipa. A rede de água sai dos reservatórios e percorre a estrada de terra, abastecendo cada casa ao longo da vila.

O repórter, desavisado, pergunta no meio do caminho: "o caminhão-pipa traz água para as casas?". O produtor Souza responde, pegando no braço do repórter e apontando para o chão: "Meu filho, a água passa aqui, na estrada, e vai direto para as casas". Recentemente a água do Açude Carnaubinha foi liberada para abastecer o vale do Faé e a cidade de Quixelô. Duas passagens molhadas transbordaram recentemente e a água que escorre pelas terras antes seca muda o cenário local do sertão. O verde surge e contrasta com o cinza das matas nativas da caatinga seca.

HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER

Nenhum comentário: