ESPECIAL SERTÃO DO JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE (12/9/2010)
As cores e a vida para além da seca
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Nos açudes ainda com água, aves como a galinha-d´água procuram se refrescar do calor no sertão dos Inhamuns
Em meio à mata branca, despontam árvores que mantêm as folhas. É comum vê-las com raízes profundas nos terreiros, garantindo sombra e frescor
Aqui e ali, as plantas resistem à sequidão e colorem a paisagem. As flores rebentam em tons rosáceos, mesmo tendo perdido as folhas
No alto das árvores desfolhadas, o imponente carcará procura alimento, símbolo da crueza nos tempos de estiagem
Bioma único, a caatinga é tida como um meio infértil, seco e sem vida, quando na verdade possui um ambiente rico de caracteres próprios
A caatinga não é tristeza e solidão. É feita de homens, bichos e plantas que buscam o equilíbrio da convivência com o meio
O Ceará parece feito de muitas Caatingas. Uma riqueza bela e resistente, porém em degradação
"Se pode olhar, vê. Se pode ver, repara". Em meio a tudo que já foi dito e escrito sobre a Caatinga, necessário é seguir a prédica do Livro dos Conselhos e abrir os olhos para perceber a diversidade que ela encerra. E quando os olhos se acostumam com a luz intensa do sol e o azul doído do céu, deparamo-nos com ambientes de diversos matizes, climas e espécies, que até para quem nasceu e viveu no sertão pode passar despercebido.
Há quem olhe para a Caatinga como um deserto infértil, triste e desolador, que impõe aos que nela habitam uma luta ingrata pela sobrevivência. Mas foi devassando sertões, serras e litoral, que encontramos uma realidade para além do solo rachado e de uma vegetação pretensamente sem vida. Um meio feito de homens, bichos e plantas que habitam um bioma único, porém degradado num processo que, aí sim, pode transformá-lo num deserto.
Nos Inhamuns, as folhas das árvores já deram lugar aos espinhos, e seus caules e galhos ganharam a coloração branco-acinzentada que dá nome ao bioma. Os cactos também se impõem: verdes, altos e espinhentos. Mas na paisagem dominada pela mata branca, emerge de quando em vez árvores verdes de copas frondosas, isoladas, para as quais as cabras e bodes se colocam em dois pés para alcançar as folhas.
O homem também tira proveito dessas espécies que se mantêm verdes por meio de suas raízes profundas. É difícil chegar numa casa do sertão em que não haja um pé de juazeiro, algaroba ou até o exótico nim indiano plantado no terreiro, oferecendo sombra e conforto térmico para os que nela se abrigam. A sensação é de um outro clima embaixo destas árvores, onde sopra um ventinho fresco e agradável.
Nas lagoas e açudes que ainda sobrevivem à evaporação, encontramos garças salpicando a paisagem de branco em revoadas. Procuram consolo para o calor intenso, dividindo o espaço com as reses que correm apressadas em direção aos reservatórios. No topo dos galhos retorcidos, as terras dos sertões de Canindé são devassadas por imponentes carcarás, gaviões e urubus, que buscam o alimento nos seres que não suportam as condições da estiagem.
Em Catirina, a cerca de 30km de Tejuçuoca, a monotonia do marrom do mato seco é quebrada por plantios de leucena e palma forrageira, que segundo os produtores são um verdadeiro "banco proteico" para os animais no período seco. Quando bem manejada a palma dá o ano inteiro, sendo aproveitado também o fruto.
Em Irauçuba, área com um dos mais avançados processos de desertificação, a diversidade da fauna é ameaçada pela ação dos caçadores. Na BR-222, comunidade de Tabuleiro do Julião, um homem acompanhado dos filhos exibia um tatu-peba. Com a condição de não se identificar, ele disse que a espécie é muito apreciada pelos caminhoneiros e que iria vendê-lo a R$ 20,00, "para dar de comer a esses meninos". Francisco Moura Cavalcante, do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, conta que muitos driblam a fiscalização do Ibama carregando a arma em pedaços, escondida nas roupas.
Outra situação que ainda permanece é o corte de lenha para produção de carvão e as queimadas para a limpeza do terreno. Mas também há bons exemplos, como as coivaras ecológicas, que utilizam o mato que seria queimado para adubar o solo, enriquecendo o mesmo.
Saindo para o Maciço de Baturité, encontramos uma paisagem diferente da face da serra voltada para o litoral: o sol do final do dia cobria de amarelo a paisagem ressequida, onde se podia ver lavouras perdidas. Um contraste com a queda de temperatura à medida em que se sobe a serra, mas que entre o final da manhã e início da tarde não diminui o sol forte na pele.
No litoral, a paisagem é dominada pelos cajueiros. Em período de florada, exibem uma coloração escura. Algumas plantações ainda guardam o verde da pouca chuva do semestre anterior, mas que não foi suficiente para elas se desenvolverem. A terra é mais arenosa, o que dificulta a retenção da água. Assim são as muitas caatingas que se dão a conhecer, quando nos dispomos e ver e reparar.
Karoline VianaRepórter
"Se pode olhar, vê. Se pode ver, repara". Em meio a tudo que já foi dito e escrito sobre a Caatinga, necessário é seguir a prédica do Livro dos Conselhos e abrir os olhos para perceber a diversidade que ela encerra. E quando os olhos se acostumam com a luz intensa do sol e o azul doído do céu, deparamo-nos com ambientes de diversos matizes, climas e espécies, que até para quem nasceu e viveu no sertão pode passar despercebido.
Há quem olhe para a Caatinga como um deserto infértil, triste e desolador, que impõe aos que nela habitam uma luta ingrata pela sobrevivência. Mas foi devassando sertões, serras e litoral, que encontramos uma realidade para além do solo rachado e de uma vegetação pretensamente sem vida. Um meio feito de homens, bichos e plantas que habitam um bioma único, porém degradado num processo que, aí sim, pode transformá-lo num deserto.
Nos Inhamuns, as folhas das árvores já deram lugar aos espinhos, e seus caules e galhos ganharam a coloração branco-acinzentada que dá nome ao bioma. Os cactos também se impõem: verdes, altos e espinhentos. Mas na paisagem dominada pela mata branca, emerge de quando em vez árvores verdes de copas frondosas, isoladas, para as quais as cabras e bodes se colocam em dois pés para alcançar as folhas.
O homem também tira proveito dessas espécies que se mantêm verdes por meio de suas raízes profundas. É difícil chegar numa casa do sertão em que não haja um pé de juazeiro, algaroba ou até o exótico nim indiano plantado no terreiro, oferecendo sombra e conforto térmico para os que nela se abrigam. A sensação é de um outro clima embaixo destas árvores, onde sopra um ventinho fresco e agradável.
Nas lagoas e açudes que ainda sobrevivem à evaporação, encontramos garças salpicando a paisagem de branco em revoadas. Procuram consolo para o calor intenso, dividindo o espaço com as reses que correm apressadas em direção aos reservatórios. No topo dos galhos retorcidos, as terras dos sertões de Canindé são devassadas por imponentes carcarás, gaviões e urubus, que buscam o alimento nos seres que não suportam as condições da estiagem.
Em Catirina, a cerca de 30km de Tejuçuoca, a monotonia do marrom do mato seco é quebrada por plantios de leucena e palma forrageira, que segundo os produtores são um verdadeiro "banco proteico" para os animais no período seco. Quando bem manejada a palma dá o ano inteiro, sendo aproveitado também o fruto.
Em Irauçuba, área com um dos mais avançados processos de desertificação, a diversidade da fauna é ameaçada pela ação dos caçadores. Na BR-222, comunidade de Tabuleiro do Julião, um homem acompanhado dos filhos exibia um tatu-peba. Com a condição de não se identificar, ele disse que a espécie é muito apreciada pelos caminhoneiros e que iria vendê-lo a R$ 20,00, "para dar de comer a esses meninos". Francisco Moura Cavalcante, do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, conta que muitos driblam a fiscalização do Ibama carregando a arma em pedaços, escondida nas roupas.
Outra situação que ainda permanece é o corte de lenha para produção de carvão e as queimadas para a limpeza do terreno. Mas também há bons exemplos, como as coivaras ecológicas, que utilizam o mato que seria queimado para adubar o solo, enriquecendo o mesmo.
Saindo para o Maciço de Baturité, encontramos uma paisagem diferente da face da serra voltada para o litoral: o sol do final do dia cobria de amarelo a paisagem ressequida, onde se podia ver lavouras perdidas. Um contraste com a queda de temperatura à medida em que se sobe a serra, mas que entre o final da manhã e início da tarde não diminui o sol forte na pele.
No litoral, a paisagem é dominada pelos cajueiros. Em período de florada, exibem uma coloração escura. Algumas plantações ainda guardam o verde da pouca chuva do semestre anterior, mas que não foi suficiente para elas se desenvolverem. A terra é mais arenosa, o que dificulta a retenção da água. Assim são as muitas caatingas que se dão a conhecer, quando nos dispomos e ver e reparar.
Karoline VianaRepórter
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