Festival internacional celebra a sanfona no semi-árido nordestino
Uma tempestade incomum para os padrões da caatinga varreu as vizinhas Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) nas horas que antecederam a abertura do 1º Festival Internacional da Sanfona, na noite de ontem (17-03-09).
Diante de um blecaute na maior mancha urbana do semi-árido nordestino, carros de som saíram para anunciar o concerto gratuito do acordeonista italiano Mirco Patarini no teatro João Gilberto, em Juazeiro, nome que homenageia o rebento musical mais famoso da cidade. O pequeno teatro, que abriga não mais que 300 pessoas, lotou.
Mas o festival ainda não contagiou as duas cidades-sede. Por enquanto está restrito ao velho Grande Hotel de Juazeiro, às margens do Velho Chico, onde os convidados vão chegando, enchendo os salões e corredores de música e trocando idéias musicais, na completa informalidade. Quem quiser ouvir boas histórias, especialmente sobre Luiz Gonzaga e Sivuca, deve rumar para lá. Ontem, o pesquisador José Nobre, fundador do museu fonográfico Luiz Gonzaga, em Campina Grande, Paraíba, falou sobre o rei do baião e mostrou gravações raras.
No dia 18-03, às 19h, aconteceu a palestra sobre Sivuca, apresentada por sua filha única, Flávia Barreto, e pelo jornalista Fernando Gasparini. A partir de 19-03, o festival ganha novos contornos. O mestre Dominguinhos estava sendo esperado. Ia de carro --já que se recusa a entrar num avião-- de João Pessoa, capital da Paraíba. E Elba Ramalho, a grande estrela da festa, participa do show e gravação de DVD do ídolo local, o sanfoneiro Targino Gondim, idealizador e curador do festival, em apresentação para convidados no teatro João Gilberto.
O festival finalmente toma Juazeiro no final de semana, com apresentações campais e gratuitas de Elba, Dominguinhos, Renato Borghetti, as orquestras "sanfônicas" de Aracaju e Recife e outros sanfoneiros de diversas partes do Brasil. O evento ainda conta com oficinas durante o dia no teatro João Gilberto e exposições num shopping em Petrolina.
Independente
Em seu primeiro ano, o Festival Internacional da Sanfona conseguiu uma robustez rara em festivais independes nascentes, graças ao patrocínio de duas grandes empresas, Natura e Petrobras. A ideia nasceu em 2005 como "Barca do Forró Ecológico", conforme conta Targino. Seria um evento itinerante e grandioso que aconteceria ao longo do rio São Francisco, mas acabou engavetado pois tornou-se inviável. O produtor soteropolitano Celso Carvalho abraçou o projeto, ajudou a formatá-lo e a viabilizá-lo, tendo como sedes fixas Juazeiro e Petrolina.
Nos próximos dias a promessa é mostrar as afinidades entre acordeão, harmônica, gaita, sanfona, pirrita e outros apelidos diversos pelos quais é conhecido Brasil afora o instrumento que é a razão do evento --além da "fisarmonica", nome italiano da sanfona de Mirco Patarini, que, apesar de prodígio, ainda não topou improvisar com o xaxado solto dos sanfoneiros locais.
Fonte: Folha Online (http://www.olhardireto.com.br/colunas/coluna.asp?cod=20321)
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