quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Gestão de Águas no Ceará

Eixão das Águas deve estar concluído em julho de 2011

23/9/2010 Clique para Ampliar
Trechos I, II e III do Eixão das Águas oferecerão adutoras para abastecimento de pequenas vilas

Iguatu. Até julho do próximo ano, a maior obra brasileira em extensão de canais de distribuição de água, o Eixão das Águas, deverá estar concluída. A previsão é do coordenador de Infraestrutura da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Fernando Ciarline. Essa nova data amplia em seis meses a estimativa feita pelo governador Cid Gomes, em março de 2009, quando houve a inauguração dos trechos I, II e III da adutora que vai transferir água do Açude Castanhão até o Complexo Portuário e Industrial do Pecém (CPIP).

O Eixão é um projeto que já dura uma década e é formado por conjuntos de estação de bombeamento, canais, sifões, adutoras e túneis, que realizam a transposição das águas do Açude Castanhão, numa extensão total de 255km, para reforçar o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza indo até o CPIP, além de fazer a integração das bacias hidrográficas da região do Jaguaribe com outros rios e reservatórios.

Uma novidade que está em processo de licitação é o projeto que prevê a construção, ao longo do Eixão, de pequenos ramais de adutora, cisternas e caixas de distribuição de água para atender, pelo menos, 80 comunidades rurais, nos trechos I, II e III. A ideia do governo é abastecer as pequenas vilas e atender a demanda de moradores que sofrem com a escassez de água, eliminando a dificuldade de coleta no próprio canal. "Esse é um problema que está sendo resolvido para acabar com o sofrimento das famílias que enfrentam falta de água", destacou Ciarline.

Etapas

A obra está dividida em cinco etapas. A IV está em execução e tem previsão de ser concluída em janeiro do próximo ano. Começou em novembro de 2008 e está orçada em R$ 157 milhões, de acordo com informações da SRH. Vai fazer a ligação do Açude Pacajus até o Gavião, onde está a Estação de Tratamento de Água (ETA), da Cagece, e que abastece Fortaleza e Região Metropolitana.

Atualmente, a água chega ao Gavião por bombeamento, mas após a conclusão da etapa IV, a transferência será por gravidade. A V e última etapa do mega projeto foi dividida em dois lotes e também está em execução. O primeiro segmento vai do Açude Gavião até a ETA Oeste. Serão investidos R$ 96 milhões com previsão de ser concluída em julho de 2011. Vai fornecer água para Caucaia, parte de Fortaleza e para um projeto turístico instalado em Cumbuco.

O segundo lote da V etapa prevê investimentos de R$ 150 milhões e também deverá ser concluído em julho do próximo ano. As obras começaram em janeiro passado. Com a conclusão deste último segmento, as águas captadas pelas chuvas no sertão, por meio dos rios Salgados e Jaguaribe, chegarão finalmente até o Porto do Pecém, assegurando o funcionamento do complexo industrial que está em instalação naquela área.

Fernando Ciarline ressaltou que os recursos investidos nas IV e V etapas são oriundos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal, com contrapartida do Governo do Estado. O coordenador de infraestrutura da SRH observou que o andamento da obra está praticamente dentro do programa inicial. "São três meses de atraso decorrentes de questões burocráticas, mas nada de anormalidade", frisou. Revelou, entretanto, que atualmente algumas questões estão sendo resolvidas com os descendentes de índios Tapebas, em Caucaia. "São problemas que estão sendo analisados e resolvidos e acreditamos que a obra não vai sofrer paralisação por esses motivos", espera Ciarline.

Hidroagrícola

O projeto prevê que a transposição de água do Castanhão por meio do Eixão vai possibilitar o surgimento de um polo de desenvolvimento hidroagrícola nas áreas de tabuleiro da bacia do Rio Jaguaribe.

São atendidos projetos de irrigação, como o Projeto Tabuleiros de Russas. Serão beneficiados mais de 10 mil hectares de terras férteis e favoráveis à agricultura irrigada nas chamadas "manchas de solo de chapada".

A previsão dos técnicos da SRH é que a obra vai assegurar o abastecimento humano de água da Capital por, pelo menos, 30 anos, bem como de todas as comunidades ao longo de seu trajeto, beneficiando e potencializando o desenvolvimento local dos municípios de Alto Santo, Jaguaribara, Morada Nova, Ibicuitinga, Russas, Limoeiro do Norte, Ocara, Cascavel, Chorozinho, Pacajus, Horizonte, Itaitinga, Pacatuba, Maranguape, Maracanaú, Caucaia, Fortaleza e São Gonçalo.

Extensão

255 Quilômetros é a extensão do Eixão das Águas, o maior canal da história do Ceará que garantirá abastecimento para beber, plantar e gerar emprego. Divide-se em cinco trechos

MAIS INFORMAÇÕES
Secretaria de Recursos Hídricos - SRH
Fortaleza (CE)
(85) 3101. 4057

Honório Barbosa
Repórter

Nova legislação para resíduos sólidos

Responsabilidades para todos nós

26/9/2010 Clique para Ampliar
De acordo com a Resolução Conama Nº 416/2009, para cada pneu novo comercializado para o mercado de reposição, as empresas fabricantes ou importadoras devem dar destinação adequada a um pneu inservível, o que é reforçado pela Política de Resíduos Sólidos 
FOTO: KID JÚNIOR

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Muitos artesãos encontram na sucata inspiração para os seus trabalhos 
FOTO: MIGUEL PORTELA

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Há pessoas que ainda jogam lixo na rua acreditando que pagam impostos para manter a cidade limpa 
FOTO: VIVIANE PINHEIRO

O Brasil vive a expectativa de ver minimizados os danos causados pelo lixo, mas todos devem se engajar

No dia 2 de agosto passado, o presidente Lula sancionou, após 20 anos de tramitação, a Lei Nº 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, com princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes relativos à gestão integrada de resíduos sólidos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.

Ela estabelece, entre outros princípios, os da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; o do reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania.

Entre os instrumentos postos para a sua execução, estão os planos de resíduos sólidos; a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa; o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; o monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária; a educação ambiental; e os incentivos fiscais, financeiros e creditícios.

A Lei também estabelece que, na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a ordem de prioridade não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.

Planos

A elaboração do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) é condição para os municípios terem acesso a recursos da União, ou por ela controlados, destinados a empreendimentos e serviços relacionados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos, ou para serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal finalidade.

Ela estabelece que serão priorizados os municípios que optarem por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão dos resíduos sólidos, incluída a elaboração e implementação de plano intermunicipal, ou que se inserirem de forma voluntária nos planos microrregionais de resíduos sólidos; e os que implantarem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis.

Responsabilidades

Mas o grande destaque desta Lei está na instituição da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a ser implementada de forma individualizada e encadeada, abrangendo os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos.

Essa responsabilização tem por objetivo compatibilizar interesses entre os agentes econômicos e sociais e os processos de gestão empresarial e mercadológica com os de gestão ambiental, desenvolvendo estratégias sustentáveis; promover o aproveitamento de resíduos sólidos, direcionando-os para a sua ou outras cadeias produtivas e reduzir a geração de resíduos sólidos, o desperdício de materiais, a poluição e os danos ambientais.

Da mesma forma, deve incentivar a utilização de insumos de menor agressividade ao meio ambiente e de maior sustentabilidade; estimular o desenvolvimento de mercado, a produção e o consumo de produtos derivados de materiais reciclados e recicláveis; propiciar que as atividades produtivas alcancem eficiência e sustentabilidade; e também incentivar as boas práticas de responsabilidade socioambiental.

Os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes têm responsabilidade que abrange investimento no desenvolvimento, na fabricação e na colocação no mercado de produtos que sejam aptos, após o uso pelo consumidor, à reutilização, à reciclagem ou a outra forma de destinação ambientalmente adequada; cuja fabricação e uso gerem a menor quantidade de resíduos sólidos possível; e divulgação de informações relativas às formas de evitar, reciclar e eliminar os resíduos sólidos associados a seus respectivos produtos.

Da mesma forma, são responsáveis pelo recolhimento dos produtos e dos resíduos remanescentes após o uso, assim como sua subsequente destinação final ambientalmente adequada, no caso de produtos objeto de sistema de logística reversa; e compromisso de, quando firmados acordos ou termos de compromisso com o município, participar das ações do plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, no caso de produtos ainda não inclusos no sistema de logística reversa.

Embalagens

A nova Lei estabelece, ainda, que as embalagens devem ser fabricadas com materiais que propiciem a reutilização ou a reciclagem. Dessa forma, cabe aos responsáveis assegurar que sejam: restritas em volume e peso às dimensões requeridas à proteção do conteúdo e à comercialização do produto; projetadas de forma a serem reutilizadas de maneira tecnicamente viável e compatível com as exigências aplicáveis ao produto que contêm; recicladas, se a reutilização não for possível.

São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) e do Sistema Único de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa), ou em normas técnicas; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

Proibições

Pela nova Lei, é proibida a destinação ou disposição final de resíduos sólidos ou rejeitos em praias, no mar ou em quaisquer corpos hídricos; in natura a céu aberto, excetuados os resíduos de mineração. Também é proibida a queima a céu aberto ou em recipientes, instalações e equipamentos não licenciados para essa finalidade.

Igualmente são proibidas, nas áreas de disposição final de resíduos ou rejeitos, a utilização dos rejeitos dispostos como alimentação; catação; criação de animais domésticos; e fixação de habitações temporárias ou permanentes. Outra proibição da Lei diz respeito à importação de resíduos sólidos perigosos e rejeitos, bem como de resíduos sólidos cujas características causem dano ao meio ambiente, à saúde pública e animal e à sanidade vegetal, ainda que para tratamento, reforma, reúso, reutilização ou recuperação.

De acordo com a Lei, a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos deverá ser implantada em até quatro anos após a sua data de publicação, ou seja, agosto de 2014.

Já a exigência de elaboração dos planos estadual e municipal de gestão integrada de resíduos sólidos entra em vigor dois anos após a data de publicação da Lei, em outras palavras, em agosto de 2012.

ENTREVISTA

*Gemmelle Oliveira Santos

"As pessoas precisam saber que ganhos a cidade e o meio ambiente terão"

Qual a sua avaliação sobre a situação atual dos resíduos sólidos no País?

Apesar dos avanços faço uma avaliação ruim pois é majoritária a quantidade de pessoas (da sociedade, do poder público e dos órgãos ambientais) que vê o tema com repulsa. Certamente, algumas cidades no Brasil assumem a questão dos resíduos sólidos como um tema-chave, promovem campanhas de educação ambiental, incentivam a redução do consumo desenfreado, implantam sistemas de coleta seletiva e reciclagem, reconhecem e melhoram a vida dos catadores, aproveitam o gás gerado em áreas de disposição, mitigam diversos impactos sociais e ambientais, etc, mas esses locais ´são pontos fora da curva´, ou seja, são exceções. Mas, na maioria das cidades o cenário é bem diferente.

Quais são os principais impactos ambientais do acúmulo de lixo, na forma de lixões?

Dispor os resíduos sólidos num lixão é uma prática fácil, de baixo custo e comum à maioria das cidades brasileiras, especialmente as de pequeno porte. As consequências dessa ação aparecem, no mínimo, no meio social, ambiental e econômico, tanto no presente, quanto no futuro e em áreas próximas ou distantes do lixão. Surgem doenças por micro e macrovetores, poluição e/ou contaminação dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, degradação da paisagem, poluição do ar por gases de efeito estufa, além do fato de os lixões abrigarem catadores que buscam, entre os resíduos e animais, o que comer e/ou o que vender. Com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, essa prática, o lançamento in natura a céu aberto, será proibida e as prefeituras terão que se adequar.

Qual é o primeiro passo a avançar para minimizar os impactos da produção / consumo / geração de resíduos no ambiente?

Não há um único caminho para resolvermos todos os problemas advindos da questão dos resíduos sólidos. Precisamos de ações individuais e coletivas, atitudes em nossas residências e também na indústria, participação do órgão ambiental e interesse nas prefeituras. Ações que permitam às pessoas refletirem sobre a necessidade de reduzirmos esse consumismo insano, paralelamente às ações voltadas à coleta seletiva dos materiais, ao reúso, à reciclagem. Precisamos também de ações que levem ao aterro sanitário apenas o rejeito de uma cadeia produtiva e não ´o todo´, como vem acontecendo.

Como os sistemas de coleta seletiva podem ser eficientes?

Eu diria que o primeiro passo para se evitar o fracasso de um programa de coleta seletiva é o planejamento e desenvolvimento de um programa permanente e contínuo de educação ambiental. As pessoas precisam saber porque vão participar, que ganhos indiretos ou diretos a cidade e o meio ambiente terão com a iniciativa delas. Paralelamente, é necessário acertar o destino final adequado para os materiais e também como e onde esses resíduos serão transportados e/ou armazenados/processados. É necessário também saber se há mercado para os recicláveis ou se a economia ecológica, sozinha, é capaz de lidar com esse quantitativo. Após essas etapas, vem a compra e/ou confecção dos recipientes padrões da coleta seletiva, dimensionados para os pontos de coleta da e a inserção dos catadores (alfabetizados, capacitados, uniformizados, associados) nessa cadeia.

*Professor do IFCE

Maristela Crispim
Editora

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Em discussão: Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

20/09/2010 14:40:05

Cúpula tenta tirar planos pró-ODM do papel

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Líderes de diversos países se reúnem entre esta segunda e quarta-feira, em Nova York, numa cúpula que debaterá o que pode ser feito nos próximos cinco anos para assegurar que sejam cumpridos os ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, uma série de metas que as nações da ONU se comprometeram a atingir até 2015, abrangendo temas como renda, educação, saúde, meio ambiente e igualdade entre os sexos). O encontro faz parte da 65ª Assembleia Geral das Nações Unidas.


O rascunho do documento final da Cúpula dos ODM indica que os chefes de Estado vão renovar as promessas de se esforçar para que as metas sejam alcançadas. Uma das mensagens principais é que todos devem fazer sua parte — os países avançados devem ajudar com recursos regulares e apoio técnico, as nações em desenvolvimento devem incorporar os ODM em seus planos, a iniciativa privada deve incluir as metas em seus planos de responsabilidade corporativa.
Às vésperas da cúpula, porém, a ONU divulgou um relatório que indica que um dos maiores desafios é justamente ir além da promessa. O documento lista vários compromissos assumidos e não cumpridos integralmente pelos países doadores, sobretudo pelos 23 membros do Comitê de Cooperação para o Desenvolvimento, que inclui Estados Unidos, França, Alemanha, Japão, Reino Unido, Espanha e Itália, entre outros.
Uma das promessas diz respeito exatamente a uma das metas dos Objetivos do Milênio, já prevista em documentos anteriores da ONU: destinar o equivalente a 0,7% do PIB para ajuda ao desenvolvimento. Isso significaria, em valores de 2009, a US$ 272,2 bilhões. Mas no ano passado os 23 países não chegaram nem à metade desse valor: doaram US$ 119,6 bilhões (0,31% do PIB) — ainda assim, um recorde, de acordo com o relatório, intitulado “A aliança mundial para o desenvolvimento em uma conjuntura crítica”.
“As incertezas econômicas não podem ser uma desculpa para desacelerar nossos esforços por desenvolvimento ou voltar atrás em compromissos internacionais de prover ajuda”, escreve o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no prefácio da publicação. “É justamente o contrário: a incerteza é um motivo para acelerar o cumprimento desses esforços e compromissos”, contrapõe. “Ao investir nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, investimos no crescimento econômico global; ao nos centrarmos nas necessidades dos mais vulneráveis, selamos a fundação para um amanhã mais sustentável e próspero.”
Não por acaso, a versão prévia do documento final da Cúpula dos ODM cita várias vezes a necessidade de dar maior transparência à cooperação internacional e reforçar a prestação de contas (tantos dos países doadores quanto dos países em desenvolvimento).
“Nós encorajamos fortemente todos os doadores a estabelecer, o mais brevemente possível, um cronograma que mostre como eles pretendem atingir seus objetivos, em consonância com seu respectivo processo de alocação de recursos. Nós frisamos a importância de mobilizar maior apoio interno nos países desenvolvidos para o cumprimento de seus compromissos, incluindo incentivo à conscientização pública, fornecendo indicadores sobre eficiência da ajuda e demonstrando resultados tangíveis”, afirma a prévia do documento a ser assinado pelos líderes globais.
(PNUD Brasil)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Romarias no Cariri

FESTA DA PADROEIRA

Despedida à Mãe das Dores

16/9/2010 Clique para Ampliar
Ao meio-dia de ontem, católicos participaram da solenidade na Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores. O momento é um dos mais emocionantes da romaria 
FOTOS: ELIZÂNGELA SANTOS
O conselho do Padre Cícero para louvar a Mãe das Dores é renovado a cada ano durante a Festa da Padroeira de Juazeiro

Juazeiro do Norte - Uma grande multidão se despediu da padroeira de Juazeiro, ontem, durante o encerramento da Romaria de Nossa Senhora das Dores. A "Despedida dos Romeiros" é um dos momentos mais emocionantes da programação, antes da grande procissão no final da tarde. Um saldo positivo da romaria, segundo os organizadores, acontece com a melhoria da segurança na cidade, com diminuição de 40% das ocorrências registradas durante o período.

Este ano, a romaria trouxe como tema os 100 anos da cidade, "Juazeiro do Centenário: Terra de Oração e Trabalho". O esquema de segurança, que contou com a instalação de cinco câmeras na Basílica de Nossa Senhora das Dores e nas áreas do Socorro e do Santuário dos Franciscanos, auxiliou no trabalho, além do policiamento ter sido reforçado com mais de 500 homens. A segunda maior romaria do ano na cidade reuniu cerca de 400 mil pessoas em 15 dias. A despedida contou com a presença do bispo diocesano, dom Fernando Panico, e do arcebispo de Maceió (AL), dom Antônio Muniz.

Essa é uma das romarias mais festejadas. A visitação se torna mais intensa na Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores e no Socorro. Este ano, a coordenação da Operação Romeiro seguiu o mesmo esquema de trabalho com os barraqueiros, que deverá continuar durante a Romaria de Finados, em novembro, a maior do ano. A presença de devotos vindos do Estado de Alagoas nesse período se destaca. Muitos fiéis de cidades devastadas pelas enchentes aproveitaram a romaria para agradecer por terem sobrevivido às catástrofes. Padre Paulo Lemos, administrador da Matriz, considera o saldo de todo o trabalho desenvolvido bem positivo.

Ele destaca que a movimentação na cidade começou cedo, já a partir do dia 7 de setembro, em virtude do feriado nacional. O padre ressalta a forma como foi conduzido todo o processo de segurança. Do lado externo da igreja, foram instaladas câmeras para monitorar a área do Horto, com capacidade de captação de imagens de até 700 metros de distância.

No final da celebração da despedida, cânticos e lágrimas dos romeiros marcam o momento. "Se temos alegria em chegar, fica a saudade, a gente sai mais feliz e ao mesmo tempo quer ficar por aqui", diz o romeiro Antônio Mendes da Silva, veterano com 67 viagens para a cidade. Ele é ex-presidente dos Romeiros de Alagoas, uma organização que atua com fiéis do Padre Cícero naquele Estado, hoje presidida por Quitéria Oliveira. Atua na orientação da viagem a Juazeiro. "Orientamos os motoristas a terem cuidado com os romeiros. Que distribuam crachás a todos, com identificação, para eles não se perderem na multidão", diz ele. Esse trabalho continua em Alagoas com os encontros dos romeiros do Padre Cícero.

As ruas de Juazeiro estiveram lotadas. Ônibus de vários Estados nordestinos preencheram os espaços dos postos de combustíveis, ruas e locais de maior visitação, a exemplo do Santuário do Sagrado Coração de Jesus, no bairro Salesiano. O estacionamento após o Centro de Apoio ao Romeiro também foi monitorado. As fotos como lembrança dos locais marcantes, santinhos, terços, quadros e até as mudas de juazeiro, distribuídas dentro do projeto Árvore do Centenário, foram erguidos para a bênção final, antes dos visitantes irem para casa. De oito Estados do Nordeste e Tocantins, que registraram a chegada na sala de informações da Igreja, estiveram 559 fretantes, com 25.066 romeiros. Os dois Estados com maior número são Pernambuco, com 11.048 fiéis, e Alagoas, com 11.478.

Enquete 
O que achou da romaria?

"Sonhei estar em Juazeiro do Norte e vim pela primeira vez. Sinto saudade e quero ainda ter a oportunidade de voltar de novo."

Maria de Lurdes Ferreira
64 anos
Dona-de-casa

"A gente sai daqui com mais alegria do que quando chegou, com o Espírito Santo, Mãe das Dores e Padre Cícero."

Antônio Mendes da Silva
61 anos
Pedreiro

MAIS INFORMAÇÕES 

Secretaria da Paróquia
Rua Padre Cícero, 147,Centro
Juazeiro do Norte
(88) 3511.2202

Elizângela Santos
Repórter

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Semiárido no Ceará

Semiárido em transição

12/9/2010 Clique para Ampliar
Clique para Ampliar
Os caminhos da reportagem
A convivência com o semiárido ainda é um desafio a vencer. Lançado há mais de 10 anos por uma mobilização da sociedade civil organizada, por meio da Articulação do Semiárido (ASA), o paradigma ainda se coloca na ordem do dia, lançando sobre as comunidades sertanejas e governos a sentença da mitológica Esfinge: "decifra-me ou devoro-te".

Nesta peleja entre vida e morte, observa-se uma fase de transição entre dois modelos: no primeiro, estão famílias desmobilizadas, "vítimas da seca", à espera da água da emergência, a grande maioria. No segundo, as comunidades mobilizam-se por meio de Organizações Não Governamentais (ONGs), pastorais sociais da Igreja Católica, Sindicatos de Trabalhadores Rurais. São protagonistas do próprio destino e descobrem formas de conviver com a aridez do sertão, utilizando tecnologias apropriadas à região. Estas ainda são minoria.

A cisterna de placas para captar água de chuva é o símbolo da convivência com o semiárido. Mas também tem a cisterna de calçadão, o Projeto Mandala, a barragem subterrânea e, agora, a cisterna "Chapéu do Padre Cícero", desenvolvida por uma comunidade de Nova Olinda, que combina as três primeiras técnicas.

É sabido que em todo segundo semestre de cada ano, a estiagem é uma certeza no semiárido brasileiro. Nos períodos em que as chuvas se precipitam abaixo da média histórica, como observa-se em 2010, a estiagem configura-se como seca, prenunciada em seca verde já nos primeiros seis meses do ano. Os prejuízos na agricultura e na pecuária são inevitáveis.

O Ceará chega em pleno setembro somente com média de 66% de sua capacidade total de reserva hídrica. Até dezembro, a escassez de água só tende a aumentar. Para mostrar como as populações rurais estão enfrentando a seca, o Diário do Nordeste traz esta edição especial do Caderno Regional, resultado das viagens de mais de 6 mil quilômetros, entre idas e vindas, por mais de 50 municípios feitas por oito repórteres e correspondentes.

As matérias traduzem como agricultores, donas de casa, crianças, jovens, pequenos produtores vivem neste velho sertão novo. São questões antigas de escassez de água convivendo com estratégias novas para superar o problema. Estas estratégias, em muitos casos, ainda são pontuais. E vem a contradição: a cisterna de placa, lançada para libertar o sertanejo da emergência dos governos, precisa do carro-pipa oficial para ter água. Para muitas famílias que ainda não podem ser protagonistas da própria história, a cisterna de placa ainda não provou sua real eficácia.

Porém, são nas manifestações pontuais do povo do sertão que os repórteres também puderam constatar que o paradigma de convivência com o semiárido é uma realidade viável. O funcionamento do Projeto Mandala, um verdadeiro oásis no sertão, prova ser possível superar, ao menos em parte, as dificuldades da seca. Tanto é assim que fatos inusitados acontecem: o pequeno produtor "Zé Padre" cultiva morango em plena Nova Olinda, a partir da ampliação da cisterna.

O mais incrível é perceber, pelos olhos dos repórteres, a criatividade de muitos sertanejos para superar as adversidades da estiagem. Que o diga o agricultor Aldemir Mendes, do Município de Independência, que, para evitar o calor e a aridez do solo na plantação, construiu cultivos suspensos em canteiros improvisados dentro de carcaças de geladeira.

É a convivência com o semiárido sendo recriada pela ação de muitos josés, marias, joões, que mostram ser possível brotar a vida na região em suas mais variadas manifestações. O antigo padrão do flagelo da seca toma novos contornos. Além da sociedade civil organizada, governos também entram no cenário com aportes públicos, a exemplo de programas como Garantia Safra e Bolsa Família.

E o semiárido segue sua fase de transição e só o tempo dirá quando será o final. O velho sertão novo tem ainda muitas famílias desmobilizadas, algumas choram diante da falta d´água, mas também tem comunidades protagonistas que, diante da sentença da Esfinge, escolhem decifrar os mistérios da Caatinga e conviver com ela na perspectiva da sustentabilidade.

Valéria FeitosaEditora do Regional