Mãos que fazem história
Vidas do barro
ESSENCIALMENTE FEMININO, O ARTESANATO EM CERÂMICA É TEMA DESTA PRIMEIRA EDIÇÃO DA SÉRIE DE REPORTAGEM COM ARTESÃS CEARENSES. DURANTE 65 DIAS, A EQUIPE DO EVA PERCORREU TODAS AS REGIÕES DO CEARÁ OUVINDO MULHERES QUE MOLDAM SUAS VIDAS COM AS PRÓPRIAS MÃOS
Deus criou o homem a partir do barro. Depois, injetou-lhe o sopro da vida. A explicação bíblica para a origem humana rende discussões de ordem científica e teológica. No Ceará, esse mesmo barro tem papel incontestável: é ele quem dá vida a famílias inteiras, tendo à frente mulheres de uma força extraordinária, muito além dos músculos.
Por meio da terra, elas produzem peças de cerâmica, seja para uso doméstico ou decorativo. Tudo feito com o contorno das próprias mãos, habilidade e singela beleza. Numa tradução mais real, o ofício significa a pura sobrevivência.
Em todas as regiões do Estado, mulheres de diferentes condições sociais e faixas etárias têm, em comum, o talento de transformar a terra nesse artesanato de origem indígena. Até crianças ensaiam os primeiros moldes nessa arte.
O trabalho com o barro no território cearense é tão forte que proporcionou o maior número de Mestras da Cultura Tradicional do Estado na área de artesanato.
Por meio da cerâmica, o título, concedido pelo Governo do Estado, chegou às mãos de Branca (Ipu), Lúcia Pequeno (Limoeiro do Norte), Maria de Lourdes Cândido (Juazeiro do Norte) e Francisca do Nascimento (Viçosa do Ceará). Todas com trajetórias contadas nesta edição.
Destacamos também, entre outras artesãs, discípulas das mestras. Maria Cândido, filha de Maria de Lourdes, é exímia artista popular, enquanto Vanusa é a única das herdeiras de Francisca a seguir seus passos. Clara, sobrinha de Branca, é talentosa ceramista do Ipu. Em Missão Velha, no Cariri, Corrinha tornou-se revelação na terra de tradicionais louceiras. Com braços fortes e sensibilidade à flor da pele, já contou sua história num poema de cordel.
Em Cascavel, no Litoral Leste, as mulheres da família Muniz são referências na produção com relevo rendado, comandadas pela matriarca Raimunda. No Sertão dos Inhamuns, as irmãs Marilene, Tante e Sandra vivem da agricultoras no período das chuvas e da cerâmica na estiagem.
A arte de Benedita também brota em Caridade. Numa das regiões mais secas do Ceará, ela desenvolve louças com relevos florais de delicadeza ímpar. Uma prova que, nesta terra, "em se plantando tudo dá", com boas colheitas de criatividade, exemplos de persistência e amor pelo trabalho.
GERMANA CABRAL E CRISTINA PIONEREDITORA E REPÓRTER
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