Olá Amigos do Blog do Semiárido!
Abaixo transcrevo E-mail enviado pelo Prof. Ladislau Dowbor, falando de suas últimas publicações e trazendo a resenha do novo livro de Chris Anderson.
Abraço a todos e boa semana!
Suely
Caros amigos,
Tres novidades:
Foi publicada na revista  CiberTeologia, o artigo Sustentabilidade Urbana  (em espanhol), em que trabalhamos três dinâmicas estruturais poderosas nas  metrópoles: a demográfica, a ambiental e a social refletindo sobre um caminho  sustentável de convivência cidadã.
Em Artigos Online, está  disponível a versão em inglês do artigo Da Propriedade Intelectual à Economia do  Conhecimento, Intellectual Property to  the Economy of Knowledge (Oct.2009 – 30 p).
Abaixo, uma nota minha sobre  excelente livro de Chris Anderson (aquele que escreveu A Longa Cauda), sobre  novas dinâmicas de prêços que tendem para zero: ajuda muito a entender a nova  economia. A nota está também disponível em Dicas de Leitura no site (http://dowbor.org).
Abraço, Ladislau  Dowbor
Grátis, o futuro dos preços
Chris Anderson / Ed. Campus, São  Paulo  2010
(Original inglês, Free, the future of a radical price,  2010)
Chris Anderson é autor muito conhecido por sua excelente obra anterior, The  Long Tail (no Brasil, A Longa Cauda) em que mostrou que as novas tecnologias de  informação e comunicação mudavam as regras do marketing, ao possibilitar manter  em estoque virtual inúmeras obras criativas muito depois de se esgotar o surto  de vendas do lançamento. Apesar de pensarem mais nos Best Sellers, os  intermediários do processo precisariam passar a pensar em Long Sellers. E para  os usuários, isto siginfica ter acesso não só ao que está no Blockbuster, mas ao  conjunto de iniciativas da chamada economia criativa, revitalizando os nichos de  demanda diferenciada.
Anderson escreve muito “pé no chão”, digamos assim, com uma visão pragmática,  recorrendo muito a consultas com os que estão abrindo novos caminhos. Na  presente obra, ele sistematiza os argumentos em torno da economia da gratuidade.  Não por alguma razão ideológica ou idealista: mostra bem que se trata  simplesmente de bom senso econômico.
Os jovens têm muito tempo e pouco dinheiro. Os mais velhos têm pouco tempo e  bastante mais dinheiro. Os primeiros não se incomodam em rodear as barreiras  artificiais com que as corporações mais ou menos oligopolizadas tentam impedir o  acesso gratuito, e na realidade o conseguem rapidamente. As corporações entram  numa corrida inútil de proibições, tecnologias de travamento e até de apelos  patéticos na mídia, do tipo “seja ético”, como se formar oligopólios e cartéis  fosse ético. Quando a reprodução é virtualmente gratuita, ou tende para isto,  querer cobrar se torna mais caro do que assegurar o acesso gratuito e encontrar  outras formas de equilibrar as contas.
Os mais velhos têm pouco tempo e mais dinheiro. Em geral vão pagar por uma  versão mais sofisticada do mesmo produto gratuito, pois ganham em competência e  ritmo de produção, e muitas empresas descobriram que assegurar gratuidade geral,  e cobrar por serviços avançados e especializados referentes ao mesmo produto  permite perfeitamente sobreviver. E entrar em guerra com a imensa maioria, e em  particular com a nova geração, não é o ideal para uma empresa. O próprio Bill  Gates, na citação trazida por Anderson, se refere a piratas dos seus produtos  com certa diplomacia: “se estão roubando, nós queremos que eles roubem os  nossos” (“as long as they’re goint to steal it, we want them to steal  ours”.(102) Até ali já chegou a luz das novas regras do jogo, na nova  economia.
Chris Anderson parte de uma clara distinção, entre a economia de bens  materiais (os átomos), e a economia da criatividade (os bits). O que gera  desacertos é tentar aplicar as regras dos bens materiais, do século XX fabril, à  economia da criatividade. O bem material, quando apropriado por alguém, deixa de  ser propriedade de outro: é um “bem rival”, no jargão da economia. Um bem  criativo não é apropriado, é compartilhado, e quem o tinha no início não o  perde. Isto não significa que o valor econômico do bem deixa de existir, e sim  que a natureza da transação e a incidência da remuneração mudam. São novas  regras. Achar bandidos de um lado ou de outro não resolve.
Quando a internet permite a conectividade quase gratuita de inúmeros pequenos  comerciantes que passam a racionalizar os seus negócios, é óbvio que as empresas  telefônicas – em particular com o que cobram no Brasil – ficam indignadas, pois  os seus lucros se baseiam em proibir o livre acesso, de forma a que seja  obrigatório passar por elas. É compreensível neste sentido, do ponto de vista  delas, a guerra que travam contra a ampliação do acesso. Mas por outro lado, se  considerarmos que o acesso à banda larga torna mais produtivos zilhões de  atividades, precisamos pesar o que perdem alguns oligopólios e o que ganha a  sociedade. Manter as coisas mais caras para privilegiar uns poucos não tem muito  sentido. Interessa, a prazo, a produtividade sistêmica mais elevada da  sociedade. No caso da abertura do acesso, avalia Anderson, “os ganhadores são  muito mais numerosos do que os perdedores. A gratuidade desarticula, sem dúvida,  mas tende a deixar os mercados mais eficientes no seu rastro”. (the winners far  outnumber the loses. Free is disruptive, to be sure, but it tends to leave more  efficient markets in its wake” (134) Em termos econômicos, trata-se aqui da tão  mencionada destruição criativa, que de repente os oligopólios esqueceram.
O caso da Enciclopédia Britânica e da Wikipedia é neste sentido interessante:  sai muito mais econômico captar o imenso capital acumulado de conhecimento da  sociedade, nos mais diversos aspectos, inicialmente disperso, mas agora  sistematizado. A contribuição para o nível geral de conhecimento da sociedade é  imensa, os verbetes estão permanentemente atualizados (quem já comprou a  Britânica sabe o peso da poeira), e as perdas de uma empresa que não soube  evoluir para novas modalidades é simplesmente compreensível. Em todo caso, são  incomparavelmente menores do que os ganhos sociais. Em termos de PIB, não  aparece a Wikipedia, porque é gratuita e se baseia no prazer das pessoas fazerem  uma coisa útil. Mas o valor-conhecimento (que o Pib não mede) é imenso. (“it’s  shrinking the value we can measure (direct revenue), even as it’s hugely  increasing the value we can’t (our collective knowledge)”. (130) Compensaria  cobrar de cada pessoa que consulta a Wiki? Segundo Jimmy Wales, o criador, os  estudos e pesquisas que o acervo permite viabilizam as contas.
É claro que “não há almoço grátis”, e Anderson repete isto várias vezes. Mas  muito posto de gasolina não cobra o cafezinho e não perde com isto. Ou seja,  temos de deixar um pouco de lado o histerismo ideológico que denuncia a  pirataria, e pensar na lógica dos processos econômicos. A universalização do  acesso gratuito à banda larga seria um escândalo? Claro que as infraestruturas e  a gestão da banda larga têm custos. Mas deve-se cobrar de cada uso? A banda  larga é a avenida onde trafegam os conhecimentos. São ondas eletromagnéticas,  espectro que aliás é público, não foi criado por nenhuma telefônica nem pela  ABERT. Por isso são concessões de uso de recurso público. O acesso livre à banda  larga é tão natural como a minha livre circulação na rua. A rua também tem  custos, mas travar o acesso, cobrar o meu passeio, resultaria em perda de valor  social, ainda que significasse enriquecimento de alguns.
Na realidade, a dificuldade não é propriamente intelectual, e sim de postura.  A economia da criatividade é nova, e toda a nossa formação, do que é econômico  ou não, do que é ético ou não, prendem-se a outros tempos. Anderson neste livro  simples e divertido, mas muito bem documentado, nos ajuda a fazer a transição  para uma outra lógica. “Ideias, escreve o autor, não podem ser travadas para  sempre”. 
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