domingo, 28 de março de 2010

Matéria Especial do Jornal Diário do Nordeste sobre as nossas Rendeiras - "Mãos que fazem história"




Caros amigos do Blog do Semiárido,

Convido vocês a se encantarem com essas matérias sobre as nossas rendeiras no Caderno Eva, do Jornal Diário do Nordeste desse domingo (28-03-10). A começar pelos títulos, passando pela sensibilidade das jornalistas e culminando nas histórias maravilhosas ali contadas, tudo é especial e vale a pena ser lido e visto. Abaixo reproduzo algumas das matérias, mas sugiro acessar o link do caderno (http://diariodonordeste.globo.com/caderno.asp?codigocaderno=6) e ver tudo que tem lá, inclusive os vídeos produzidos durante o trabalho de pesquisa.
Para mim, essa é também uma forma de homenagear D. Francisca Bernardino, minha querida avó materna. Ela era uma rendeira do Sertão de Quixadá, que foi para a "cidade grande", mas continuou sua arte. Uma das lembranças mais doces que trago da vida é vê-la sentada na frente da almofada, no meio da porta de casa, à tarde, depois da lida na cozinha, traçando aqueles desenhos mágicos, mexendo nos bilros com vitalidade e destreza, enfiando os alfinetes e realmente criando o belo. Ela até tentou me ensinar, mas não eu não levava jeito mesmo... Minha avó era uma artista, nas rendas e na vida. Que saudade da Vó Fransquinha, de nossas tardes em casa e de nossas viagens pelo Sertão!
Com essa sugestão, desejo uma semana maravilhosa a todos vocês!

Abraço!
Suely


A arte de criar o belo





28/3/2010 Clique para Ampliar

O luxo impera na casa simples de dona Zeta, rendeira tradicional de Juritianha, distrito de Acaraú. Ela exibe a toalha de banquete, em renda de bilro, produzida por 12 artesãs 
MARÍLIA CAMELO
FAZER RENDA NO LITORAL OU NO SERTÃO DO CEARÁ É OFÍCIO E, ACIMA DE TUDO, ARTE. NA SEGUNDA EDIÇÃO DA SÉRIE "MÃOS QUE FAZEM HISTÓRIA", O EVA MOSTRA A TRADIÇÃO DAS RENDAS DE BILRO, LABIRINTO E FILÉ, PASSADA, QUASE SEMPRE, DE MÃE PARA FILHA

Com muita paciência e habilidade, as rendeiras criam, nas almofadas ou grades de labirinto e filé, peças de extrema delicadeza. Somente o amor ao trabalho justifica tanta dedicação, pois a "renda", agora com significado financeiro, na maioria das vezes, não compensa .

O som dos bilros ecoa mais forte em localidades de Aquiraz, Cascavel, Beberibe, Pindoretama, Trairi e Acaraú. Rendeiras como Francisca, Mestra da Cultura, Neci, Santa e Zeta abriram as portas de casa ou locais de trabalho para nos revelar suas vidas.

Durante a prosa, demonstravam, com orgulho, o complexo emaranhado dos fios na almofada. Difícil aos nossos olhos, porém simples pelas suas habilidades naturais.

Tão fascinante quanto a renda de bilro é o labirinto. Precisamos ficar atentas para entender como essas mulheres, num desafio à paciência, transformam o tecido, nu e cru, no belo. É tradicional nas praias de Aracati, Icapuí, Beberibe e Cascavel.

De sorriso largo e coração aberto, dona Bia, de Majorlândia, é um raro exemplo de persistência nesse ofício. Maria de Lourdes, em Icapuí, com espírito renovador, faz labirinto utilizando a juta. Teté, de Canoa Quebrada, aos 94 anos, resiste à modernidade da pacata vila de pescadores de outrora. É até atração turística. Para nossa surpresa, conhecemos em Araripe, no Cariri, Toinha, que tem o labirinto como uma das ocupações.

Embrenhando-nos pelo sertão, chegamos ao Vale do Jaguaribe, onde homens e mulheres produzem o filé. Na Serra dos Bastiões, em Iracema, um dos resquícios de quilombola do Ceará, encontramos dona Sinhá. Sua especialidade é fazer tela, a base para os pontos do filé.

No entanto, é em Fortaleza onde mora Perpétua Martins, responsável pela reinvenção dessa renda com linhas coloridas e design contemporâneo.




GERMANA CABRAL / CRISTINA PIONER
EDITORA / REPÓRTER

De volta para a tradição

28/3/2010 Clique para Ampliar
Raimunda Lúcia Lopes coordena o Grupart, no distrito de Canaan. Professora municipal, ela cursou faculdade de Pedagogia e pós-graduação em Gestão Escolar 
PATRÍCIA ARAUJO

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Na sala de Ester, o cenário é diversificado: há uma rede de dormir armada, feijão e, nas paredes, imagens de santos, fotografias dos filhos, netos e do Papa
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Com toda paciência, Raimunda Lúcia Lopes, 60 anos, ensinava a crianças do pré-escolar numa escola da zona rural de Trairi, Litoral Oeste. Na sala, é visível sua dedicação pelo ofício. Nesse cenário, a encontramos, em maio passado, para conversar sobre outra paixão: a renda de bilro. Coordenadora do Grupo das Produtoras Rurais de Artesanato de Timbaúba (Grupart), Raimundinha conseguiu reunir mulheres, há mais de uma década, para resgatar o trabalho na almofada.

A rendeira é a segunda dos 15 filhos do casal de agricultores Zélia e Antônio Caboquinho. Como a mais velha das seis mulheres, tomou para si muita responsabilidade. Lutou na roça e ajudou a criar os irmãos mais novos. Contudo sempre estudou.

No início, com professores particulares em Timbaúba. Depois, em Fortaleza, onde concluiu o segundo grau. Dividia o tempo entre os livros e as costuras para uma fábrica de confecções. "Quando fui para Fortaleza, levei minha almofada e, nas horas vagas, fazia renda. Nos fins de semana, saía pela cidade vendendo a minha produção e a da família", recorda.

Em 1997, foi a São Paulo visitar um tio. Dessa viagem, só retornou, em definitivo, cinco anos depois: "Lá, ganhei a vida como bordadeira e costureira". Não havia tempo para produzir renda, porém sua mãe enviava as peças para ela vender. "Comecei a aplicar renda nas roupas, criando desenhos próprios. Era um sucesso", recorda.

Fazer companhia aos pais, com mais de 80 anos, foi o que a trouxe de volta. Mesmo assim, não se aquietou. Ao sentir falta de uma escola, começou a campanha para construi-la. No início, dava aula sob uma puxada de palha. Seu pai doou o terreno e o prédio foi erguido com a ajuda de voluntários alemães e da comunidade.

De maio para cá, o cenário mudou. A escola acaba de ser fechada por falta de alunos. "Surgiram outras nas proximidades", justifica. Agora, o prédio abriga a sede do Grupart e, em breve, o projeto "Renascer com a arte", destinado a jovens para resgatar a cultura da renda de bilro.

Neste ano, Raimundinha se aposenta como professora, atividade da qual já está afastada. Dificilmente ficará parada. Nem mesmo a deficiência física a impede de fazer algo que deseja, a exemplo de quando decidiu criar 10 sobrinhos, sem nunca ter sido casada.

"Aos três anos, tive paralisia infantil e fiquei três meses sem andar. Na adolescência, era muito complexada. Após uma cirurgia, em 1972, e sessões de fisioterapia, consegui andar sem muletas, libertando-me do complexo. Sou muito feliz".




FRAGMENTOS 

Desfiles de moda e feiras


HÁ POUCO mais de uma década, 20 rendeiras do distrito de Canaan, em Trairi, tendo à frente Raimunda Lúcia Lopes, resolveram formar um grupo. "Muitas delas já estavam trabalhando com linha grossa. Reunimos duas representantes de 10 comunidades, conseguimos uma verba do governo estadual e compramos a matéria-prima", diz Raimundinha. Como não tinham experiência em comercialização, o grupo acabou após quatro anos. "Chegamos a exportar para a Espanha, mas levamos um calote". Mesmo assim, ela deu continuidade ao trabalho com as rendeiras de Timbaúba. Hoje, são 15 de 10 famílias. Trabalham com linha grossa em peças de vestuário, cama e mesa. Em breve, usarão também linha fina, resgatando, principalmente, a renda em metro.

Participam de feiras e já fizeram três desfiles no município e um catálogo. Desde 2001, recebem apoio da Prefeitura de Trairi, do Sebrae e da Ceart. "Porém precisamos também de ajuda financeira para comprar material, pois não temos capital de giro", ressalta a coordenadora.




Ester, a rainha de Canaan


Maria Rosa da Silva, a Ester, 70 anos, lembra dos cascudos que levava da mãe para aprender a fazer renda de bilro. "Ela foi carrasca comigo. Acabei aprendendo com uma tia mais branda", recorda. Em seguida, muda de assunto, revelando a luta para conquistar a guarda de dois netos, hoje com 11 e 14 anos: "A mãe deixou eles bebê para eu criar, depois quis eles só para maltratar. A Justiça tomou os filhos dela e consegui de volta".

A casa onde mora, no Alagadiço, em Canaan, distrito de Trairi, é cheia de plantas e santos. "Todo dia me ajoelho, peço para as pessoas se respeitarem, se amarem. Hoje, o mundo é mesquinho, as pessoas só lembram de si", lamenta.

Ester nunca frequentou a escola, só sabe assinar o nome, mas é dona de sabedoria espiritual invejável. Não por acaso, é conhecida pelo nome da personagem bíblica judia que se tornou rainha e colocou em risco a vida para salvar compatriotas.




Família


Após 28 anos de casada, o marido viajou a Brasília dizendo que iria ajudar na construção da casa de uma filha, durante quatro meses. Nunca mais voltou. Desesperada, Ester diz ter movido "céus e terra" para localizá-lo. Nem mesmo a filha dava retorno, mas as cartas nunca voltavam. Decidiu enviar uma registrada, então teve a certeza de que fora abandonada.

Com nove filhos legítimos, trabalhou duro para sustentá-los sozinha. Três concluíram a faculdade, os demais não a fizeram por falta de interesse. "Fiquei muito na almofada para poder comprar anel de formatura", comenta.

Além de fazer renda, foi parteira e merendeira escolar. Vive com os filhos adotivos, numa casa construída com o dinheiro obtido por meio do artesanato. "Consegui tudo porque sei a hora certa de vender, perto do Natal, por exemplo", finaliza.




Vestida de sonhos


O sonho de se vestir de noiva no dia do casamento, quando tinha 13 anos, foi possível graças ao seu trabalho com a renda de bilro. Raimunda Freitas dos Santos está viúva há três anos, mas não esquece a emoção do dia do casamento com o agricultor Geraldo. "A gente casava de véu e grinalda. Hoje, ninguém dá valor a isso", lamenta a artesã, nascida e criada em Canaan.

Aos 70 anos e aposentada, continua firme no ofício que garantiu o sustento dos oito filhos. Ajudou-a tanto que agora até acha graça das surras que levava da mãe Faustina para aprender. "Trabalhava muito, entrava pela noite, com luz de lamparina, e meu marido ia oferecer em Fortaleza", lembra. Atualmente, prefere vendê-las para a Associação dos Artesãos e Agricultores de Canaan (Artecan). Das três filhas, apenas uma, Maria Lúcia, segue a sua profissão.

Com 23 netos e seis bisnetos, gostaria de ter estudado. Ainda tentou o Mobral, contudo só sabe assinar o nome. "Casei muito cedo, mas não me arrependo". Até hoje sabe aproveitar bem as horas de folga. Vai à missa, às festas do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, adora dançar quadrilha e integra o grupo de idosos "Sorrindo para a vida".

Dom de ensinar

28/3/2010 Clique para Ampliar
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Albertina orgulha-se da renda feita em Mundaú e incentiva jovens a trabalharem na almofada. Ao lado, apresenta três de suas ex-alunas no ofício: Monaliza Santos, 12 anos, Monaliza Farias, 15 e Maria Eliete Santos, 13 
PATRÍCIA ARAUJO

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Sob uma árvore, em Alagadiço, Canaan, distrito de Trairi, mulheres e até crianças se reúnem todas as tardes para fazer renda. Um dos destaques é Maiara Barbosa, 12 anos. No ofício desde os 8, já revela admiração pelo trabalho
A simplicidade e o desapego são visíveis na vida de Albertina Roque de Holanda, 78 anos, rendeira da Praia de Mundaú, em Trairi, Litoral Oeste. Sua casa tem acomodações pequenas que abrigam o marido, o neto, sua mulher e o bisneto Luquinha. Ao se desculpar pelo lugar onde mora, Albertina lembra que, certa vez, uma irmã lhe perguntou se havia feito voto de pobreza. Então, lhe respondeu: "não, eu sempre fui pobre".

Mostra-se, porém, muito orgulhosa quando começa a falar de sua relação com a renda de bilro. Natural de Itapipoca, aprendeu o ofício entre os 7 e 8 anos. "Nessa idade, comprava lápis e folha de papel para desenhar o papelão", recorda. A mãe, Ana Francisca, a Naninha, já falecida, era quem levava a produção da família para vender em Fortaleza. Albertina lembra do capricho da mãe que só fazia bicos de renda branca.

Ainda menina, aos 12, foi trabalhar com a irmã mais velha numa casa de família na Capital, onde passou três anos e meio. Voltou para Trairi e casou-se, há 55 anos, com o agricultor Estevão Holanda Neto: "Naquela época a gente casava com quem a família queria. Porém o amor veio depois. Temos um filho, três netos e um bisneto".

Após o matrimônio, voltou a estudar numa escola do antigo Mobral. Alfabetizou-se pelas ondas do rádio, concluindo a 5ª série. Gostou tanto que passou a ensinar a outras pessoas por meio da Rádio Assunção.

Quando era doméstica aprendeu a cozinhar, fazer bolos e roscas. Ficou famosa na comunidade por ser excelente em tudo na arte culinária. No entanto, a verdadeira paixão é a renda de bilro.




Persistência


"A vontade que tenho dentro de mim é fazer renda todo o dia". Não só isso, mas colaborar para que a tradição não se acabe em Mundaú. Durante seis anos, ensinou o ofício a crianças da creche local.

Enquanto falava da experiência, uma das ex-alunas passa na calçada. "Taí uma das que aprendeu comigo", apresenta. Monaliza, 12 anos, busca mais duas colegas para demonstrarem toda a habilidade no bilro, fruto das aulas de Albertina, porém não prometem continuar na almofada.

Aposentada por idade, Albertina lamenta: "As jovens de hoje não querem mais trabalhar com a renda. Acham sem futuro, mas tenho muita esperança que mudem de ideia", diz.




FRAGMENTOS 

Casa da mulher rendeira


AlÉm de cozinhar, bordar, costurar, colaborar com a Igreja Católica e fazer renda, Albertina preside a Casa da Rendeira de Mundaú há cinco anos. Ela é responsável por receber as encomendas, comprar as linhas e repassar os trabalhos às 53 associadas.

Por conta da função, viaja muito, representando as artesãs locais, principalmente para participar de feiras. Já foi, por exemplo, a Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. De vez em quando, está em Fortaleza. "Agora, vivo no mundo. Gosto dessa função. Só acho ruim porque meu ouvido dói durante o voo". Na sua opinião, tudo é válido para divulgar os artigos produzidos em Mundaú, principalmente os de vestuário. "Primamos pela qualidade. O resultado tem sido muito bom", comemora, ao lembrar que já fizeram cursos de aperfeiçoamento ministrados pelo Sebrae e pela Ceart.




Histórias em livro


As rendeiras estão em toda parte neste pacato distrito de Trairi e já viraram até tema de livro. "Tecendo rendas e vidas - artesãs de Canaan" foi escrito pela cientista política Rosa de Lima Cunha que viveu a infância na localidade, onde aprendeu o ofício com a mãe. Para escrevê-lo, contou com a colaboração da arquiteta Cheila Gomes.

Residente em Brasília, Rosa retornou à Canaan, após aposentada, a fim de iniciar um trabalho de organização dessas mulheres da almofada de bilros. Foi criada uma associação, resultando na eliminação do atravessador. Assim, evitou-se a venda de peças por qualquer preço. Podiam valer um quilo de feijão, um material escolar, dependendo da necessidade no momento. Hoje, as artesãs participam de feiras e vendem por meio da entidade.

O sustento da família Costa

28/3/2010 Clique para Ampliar
A artesã Veca e sua filha adolescente Carolina, que também aprendeu a fazer renda, seguindo a tradição da família 
MARÍLIA CAMELO

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Mulher de pescador, Santa aprendeu a fazer renda de bilro aos 10 anos com a avó. Seu maior diferencial na Prainha é trabalhar apenas com a linha fina
Cuidar da casa, da família, dos animais, fazer renda de bilro e vendê-la. Além disso, é faxineira numa residência de veraneio. Precisa mais? O dia de Eveline da Costa, a Veca, começa, às 4 da madrugada, para lavar roupa e adiantar o almoço. Afinal, às 11h30min, deixa a casa, na Praia do Japão, e segue a pé, no percurso de 1 km, rumo ao Centro das Rendeiras da Prainha, em Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza.

"Chego lá em 30 minutos de passo apressado" diz. O expediente só termina às 17 horas. Quando consegue vender alguma coisa, a artesã volta para casa feliz. Porém, isso nem sempre acontece. No box, tanto oferta peças de sua autoria quanto de colegas. Outra alternativa de Veca é a faxina, realizada às sextas-feiras, pela qual ganha R$ 240,00 por mês.

Apesar de ter o dia corrido, Veca, 42 anos, não demonstra cansaço. A caçula dos três filhos, Carolina, 16 anos, ajuda a mãe na almofada de bilro, embora demonstre pouco interesse pelo artesanato. A adolescente prefere, nas horas vagas, ir à lan house. Contudo, o desejo de Veca mesmo é ver os filhos dedicados aos estudos, não seguindo seu exemplo. Ela parou na 8ª série. Sabe, porém, que para alcançar esse objetivo precisa-se de muita coragem e determinação.

O marido José Clóvis da Costa, o Tó, pescador, nem todo dia consegue garantir o peixe da família. A sorte é que os dois garotos estão encaminhados. Caio César, 21 anos, encontra-se no Exército, com farda impecável cuidada pela mãe. Artur, 17, estuda e trabalha numa barraca de praia.

O dinheiro ganho com a renda foi fundamental para a aquisição da casa própria, de seis cômodos. O clima é de litoral, porém mais parece um sítio. Tem cachorro, pato, galinha, entre outros animais, criados num jardim cheio de plantas e fruteiras, a exemplo de coco, banana e caju.

Veca também comemora a compra da televisão: "Há 22 anos, quando casei, ficava na janela da casa do vizinho. Era uma humilhação. Hoje tenho dois aparelhos de TV".

Filha de mãe solteira, foi criada pela avó materna, Maria Anunciada, com quem aprendeu o ofício. "Aos 7 anos, já produzia e passei a ajudar as minhas irmãs com o meu trabalho", diz. Por parte de pai, é neta de uma das mais tradicionais rendeiras da Prainha, dona Nenzinha, já falecida.

Atualmente, o único período que ela dispõe para fazer renda é à noite, quando retorna do Centro das Rendeiras. Janta e se apega na almofada. Às vezes, entra pela madrugada. Para concluir uma toalha de bandeja leva até cinco dias. A peça é vendida, em média, por apenas R$10,00. E assim, Veca contribui para continuar a tradição das rendeiras de Aquiraz.




FRAGMENTOS 

Novo Centro


Até novembro deste ano, Maria Cleide Costa é presidente da Associação das Rendeiras da Prainha. Durante sua gestão, tem como principal objetivo a inauguração do novo Centro das Rendeiras, cujas obras estão paralisadas há mais de um ano.

O prazo inicial de três meses, prometido pela Prefeitura de Aquiraz, foi descumprido. E até o momento não há nova data anunciada para a inauguração do espaço, onde funcionava a antiga sede. "Segundo a Prefeitura, está sendo aguardada uma verba que vem de Brasília", afirma Cleide. Criada há 30 anos, a Associação reúne 80 artesãs, sendo que 23 trabalham no

Centro. "Nossa casa é aqui, onde ficamos de 8 às 17 horas", diz Cleide. Para atrair os clientes, elas aceitam até pagamento com cartão de crédito. Também valem-se de acordos com guias de turismo e bugueiros (comissões sobre as vendas). Na próxima alta estação, em julho, esperam repetir o bom movimento de janeiro. Melhor ainda se já estiverem no novo Centro.




Paciência de uma santa mulher


Aos 73 anos, ela mantém o corpo esbelto e os cabelos branquinhos como suas criações. Maria da Cunha Henrique, a dona Santa, ganhou o apelido ainda na infância, por ter nascido "gordinha e mole". Hoje, o nome combina com o seu jeito de ser: uma senhora simpática, paciente e de fala mansa.

Dona Santa é uma das raras mulheres que produz renda com linha fina na Prainha. Desenvolvendo um trabalho minucioso e demorado, passa 15 dias para fazer a toalha de bandeja (40 por 50 cm), vendida pelo valor der R$ 50,00, mais que o dobro do cobrado por uma similar de linha comum.

A perfeição do artigo compensa o investimento, disso ela não duvida. Porém, nem todo dia há cliente interessado em adquirir a renda de valor agregado no Centro das Rendeiras, onde Santa tem box. Mesmo assim, não desiste da paixão por essa matéria-prima. "Aqui na Prainha só tem eu e outra rendeira trabalhando miúdo. Como é um serviço que leva muito tempo, ninguém tem paciência", explica.




Apaixonada


Nascida na Prainha, Santa mudou-se para o Iguape, praia vizinha, onde morou com a avó. Aos 10 anos, já fazia renda. Tinha 16 quando retornou a sua terra. Dois anos depois, estava casada com o pescador, atualmente aposentado, José Atanásio Henrique.

O namoro durou apenas três meses. Já a paixão pelo marido permanece após 54 anos de união. "Ele é um gatão de olhos azuis, lindos", derrete-se, com um largo sorriso.

O casal teve seis filhos, mas apenas três se criaram, sendo duas mulheres. Até hoje não se conforma com a vida de pescador que o marido levava. "Ele passava de três a quatro dias no mar, e eu ficava preocupada, sem ter o que comer, só com a água no pote. Muitas vezes, voltava sem nada. Por isso, minhas rendas sempre ajudavam, e muito, no sustento da nossa família", recorda.

A rendeira estudou somente até a quarta série primária, porém diz ter sido o suficiente. Dá para fazer as contas e vender as peças, dela e de outras artesãs, sem problemas. Apenas deixa o trabalho às quartas-feiras, das 14 às 17 horas, quando participa de um grupo de idosos. Lá tem merenda, farda, exercícios, oração, forró e até passeios a Fortaleza.

Embora admita cuidar da saúde, apresenta alguns problemas, como pressão alta e labirintite. Por isso, evita todo tipo de comida gordurosa. Nada, contudo, que a deixe sem ânimo. Todo ano, em novembro, Santa vai a Juazeiro do Norte, na região do Cariri, de excursão, participar da romaria do Padre Cícero.

Católica, confessa não passar muito tempo ajoelhada rezando. Contudo não esconde a sua fé. Afinal, recorre sempre aos santos para amenizar as preocupações diárias.

Na pista da esperança

28/3/2010 Clique para Ampliar
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Aos 58 anos, Neide divide o tempo entre o trabalho com a renda e a presidência da Associação dos Moradores do Sítio Ema 
MARÍLIA CAMELO

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Dona Lica continua fazendo renda aos 86 anos. Sua perseverança é exemplo para a filha Neide
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No Centro de Artesanato do Morro Branco, Olinda sempre faz fotos ao lado de turistas. "Muitos me mandam pelo Correio", diz a artesã 
PATRÍCIA ARAUJO
Todos os dias, três rendeiras se reúnem para trabalhar no Centro de Artesanato do Sítio Ema, em Pindoretama, Litoral Leste, à beira da CE-040. Uma delas é Francisca Maria Lima, ou Neide, 58 anos, que coordena a atividade. Quando recebe encomendas, pelo menos outras 10 mulheres se juntam ao grupo. O número é pequeno, considerando a tradição de outrora na localidade.

"Esse trabalho vai se acabar. O pessoal de hoje prefere emprego na Prefeitura", revela Neide. E confessa que só continua por um motivo: amor. "Se fosse para eu me vestir, andava pelada. Se fosse para eu comer, morria de fome", compara.

Contudo orgulha-se da ocupação que lhe acompanha desde o nascimento. A mãe, Maria Lima, dona Lica, pagou a sua parteira com o dinheiro vindo da dedicação na almofada.

Neide aprendeu o ofício com a mãe, aos sete anos, e nunca mais parou. A renda ajudou a criar seus filhos. Dos oito gerados, seis estão vivos. Um deles ficou sob os cuidados de uma tia que não pôde engravidar.

Em sua casa, a poucos metros do Centro de Artesanato, mora com Lica, três filhos e três netos. Abrigava, ainda, o ex-marido, de quem estava separada havia 10 anos. Ele faleceu em novembro de 2009 devido a problemas de saúde. Hoje, considera-se viúva.

A rendeira tem poucos momentos de lazer, entre eles cita o curso de alfabetização para adultos, à noite, no qual diz aprender um pouquinho a cada dia. Há quatro anos, tenta melhorar a escrita e a memória.

"Eu costumo sempre engolir as letras quando escrevo", revela Neide, que só tinha a 4ª série primária. Aos sábados, o entretenimento é no encontro do grupo da terceira idade Raio de Luz. Nessa tarde, todos dançam, brincam, rezam e, às vezes, passeiam.




Compromissos


Em 2000, Neide chegou a se candidatar ao cargo de vereadora pelo PPS, porém ficou na suplência. Não pretende repetir a experiência. "Posso até ajudar outros candidatos, mas eu, nunca mais", promete. Divide o tempo entre a almofada e a presidência da Associação dos Moradores do Sítio Ema. É ainda secretária do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pindoretama e participa de movimentos sociais, como o "Grito da Terra". Aguarda, em breve, conseguir a aposentadoria como agricultora rural.

Entre tantos compromissos, o que mais deseja é continuar na renda até ficar velhinha, a exemplo de dona Lica. Com orgulho, Neide nos apresenta a mãe. Aos 86 anos, a senhora de cabelos branquinhos ainda trabalha na almofada diariamente, sem precisar de óculos. Adora fazer bicos de renda. Quando perguntamos se podíamos tirar uma foto sua, ela indaga: "Vão querer bater retrato dessa coruja velha, tão feia?", soltando uma gargalhada.

Da infância, Lica recorda que aprendeu a fazer renda aos sete anos. Mas, às vezes, lhe falha a memória. Fala com saudades do marido João Feliciano, pescador, falecido em 1991, com quem teve seis filhos. Apenas quatro vingaram. Todos foram batizados como Francisco ou Francisca. Promessa do pai, devoto fervoroso. A mesma fé herdada por Neide, que costuma visitar a basílica dedicada a São Francisco na cidade de Canindé, Sertão cearense.




Música para atrair clientes


Ela costuma chamar atenção dos turistas cantando "Olê, mulher rendeira", enquanto conversa, posa para fotos e demonstra como se faz renda na almofada de bilro. Francisca Moreira Borges dos Santos, a dona Olinda, 61 anos, está há dois com um box no Centro de Artesanato de Morro Branco, em Beberibe, Litoral Leste. Antes, tinha uma barraca de palha, onde permaneceu oito anos.

Quando decidiu vender renda, chegou a enfrentar o sol diariamente para oferecê-la na praia. "Passei vários anos sendo camelô. Os donos de barraca não queriam que ficasse por lá. Perdi muito artigo porque deixava com o turista e, quando voltava para pegar o dinheiro, ele tinha ido embora. Levava o maior calote", diz.

Olinda começou a fazer renda aos 10 anos, aprendendo com a mãe Raimunda, já falecida. "Ela ensinou as sete filhas e muitas netas". Além de continuar no ofício, revende peças de outras artesãs, a exemplo das seis irmãs. Entre os artigos, blusas, saídas de banho, toalhas de mesa e bandeja.




Agradecida


Olinda é dessas pessoas que enxergam longe, apesar da perda da visão do olho esquerdo por conta de um câncer, em 2005. Dos anos para trás, lembra o sofrimento de até ter passado fome como forma de agradecer a Deus a vida que tem hoje. "Choro de felicidade. Sou muito feliz em ver meus filhos tudo criado e bem educado. Tenho 16 netos e uma casa boa, antes morava numa de taipa. Por meio do meu trabalho, consegui muita coisa", comemora.

Com Edmundo dos Santos, vendedor de água de coco, teve 10 filhos, oito vivos. A única mulher, Erivanda, é professora de Educação Física. Dos homens, dois são professores, dois, taxistas e três, bugueiros.

No box, conta com o auxílio da neta Naiane, 18 anos, criada por Olinda desde os três, após a morte da mãe. "Ela sabe fazer renda, mas prefere se dedicar à faculdade de Educação Física", orgulha-se a rendeira, que cursou até a 5ª série do primário. E completa: "o dinheiro que ganho aqui ajuda a pagar os estudos da minha neta".

Aposentada e católica, Olinda só para no domingo. Em definitivo, nem pensar: "Só quando eu morrer. Mesmo assim, desejo que meu manto seja todo feito de renda de bilro". 


No capricho de Zeta

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A renda é feita sobre uma almofada com enchimento de materiais variados, como palha de bananeira.
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Ivanilda Holanda, da Praia da Baleia, trabalha tanto com a linha fina quanto com a tradicional 
FOTOS: MARÍLIA CAMELO/ PATRÍCIA ARAUJO

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Na praia de Almofala, em Itarema, Maria Irene integra o grupo de rendeiras do Projeto Tamar
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Betinha, 54 anos, produz grande parte dos desenhos usados pelas rendeiras da Prainha
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Zeta desenha, tece, lava e engoma. À direita, peças produzidas pelo seu grupo de rendeiras
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Na Praia da Baleia, Catarina, 9 anos, se destaca entre as rendeiras da família Paiva. A menina confessa gostar mais de fazer renda do que estudar
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Na Praia da Baleia, em Itapipoca, Ana Maria, cria os desenhos, faz a renda e ainda ministra cursos para rendeiras
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Fazer o desenho, furar o papelão, tecer a renda, engomar e passar. O trabalho de Maria José do Nascimento Silva, a dona Zeta, 60 anos, é completo e perfeito. Residente no distrito de Juritianha, em Acaraú, Litoral Oeste, ela coordena um grupo de 20 rendeiras, sendo responsável pelo controle de qualidade das peças. Cada uma mais bem feita que a outra.

Tanta experiência não é por acaso. Zeta começou a fazer renda aos cinco anos, tendo a mãe, Rita, como professora. Inicialmente, aprendeu o modelo "bebezinho". E assim foi crescendo, aprimorando o ofício. Hoje até ministra cursos.

Quando não estava na roça, ajudando os pais, se dedicava à almofada. "Na época, dona Luiza Távora, primeira-dama do Ceará, começou a incentivar o artesanato, e passei a fornecer para a Central de Artesanato".

Jovem namoradeira, casou com um primo legítimo aos 24 anos. "Desde os 16, palestrava com alguns rapazes. Mas não era como esses namoros de hoje, que já começam escandalosos", relembra.

Além da renda, Zeta tem outra paixão: os 13 netos, com idade entre nove meses e 13 anos, que praticamente moram com ela. O carinho e a paciência com eles têm razão de ser. Do casamento com o agricultor Manoel não gerou filhos. "Meu sonho era ter dez. Não sei se era eu ou ele que não podia. Nunca procuramos a causa para nenhum ficar triste e com desgosto", afirma, lembrando que adotaram dois: Zilma, também rendeira, e Antônio.

Numa casa de tijolo, ainda sem reboco, de seis compartimentos, Zeta vive com simplicidade. O casal possui um sítio onde planta milho, feijão e mandioca. Pelo menos, três vezes por ano, dedica-se à farinhada, prática comum entre os trabalhadores rurais, valorizada até hoje pela rendeira.

Da roça para a almofada, a mudança é grande. Mesmo assim, não perde o fio da meada. Feito, principalmente, de linha fina, o seu artigo leva mais tempo para ser concluído e, por isso, tem valor agregado.

Quando chegamos a sua casa, ela estava envolvida na finalização de uma toalha de banquete, com 3,5 por 2 metros. Sob encomenda, a peça foi feita em tiras por 12 rendeiras e custa R$ 1.900,00, valor dividido entre elas. "Se apenas uma de nós se meter a fazer, não consegue terminá-la em menos de um ano", calcula a rendeira, que apura por mês, em média, R$ 100,00.




Exclusivo


Um dos orgulhos de Zeta é o desenho exclusivo que conseguiu desenvolver do perfil de Nossa Senhora a partir de uma fotografia. Agora, faz com facilidade e ensinou a outras artesãs. "Foram sete dias para eu tomar jeito. Quase endoideço, mas consegui", diz.

E assim ela vai se dedicando ao ofício. "Eu costurava, porém abandonei a máquina para ficar só na renda. Sinto muito prazer quando as pessoas elogiam o trabalho do nosso grupo", afirma a artesã, que cursou até a 5ª série primária. Seu exemplo contagia uma das netas, Thais, 13 anos, que promete dar continuidade à tradição em Juritianha. "Eu já faço renda e vou aprender a desenhar", revela a garota.




Com vista privilegiada


Da varanda de sua casa, no alto de um morro, ela tem o privilegio de apreciar a paisagem litorânea da Praia da Baleia. É lá também que Ivanilda Holanda, 32 anos, no ofício desde os 10, produz sua renda.

O turismo local motivou a fundação da Associação das Artesãs da Praia da Baleia, há 10 anos. A prioridade é o trabalho com a linha fina, que dá forma a toalhas e centros de mesa, entradas de banho, jogo americano e outras peças para a casa.

"Acho o resultado mais bonito, porém é mais trabalhoso e demorado para ser feito do que com a linha tradicional", pondera a artesã.

Contudo, quando o design do produto ou o cliente exige uma linha mais grossa, Ivanilda se dedica com a mesma satisfação e cuidado. Casada com o pescador Carlos Antônio do Nascimento, 35 anos, tem três filhos, entre 8 e 14 anos. Além de artesã, mãe e dona de casa, voltou a estudar à noite e faz de tudo para não perder as aulas do 3º ano do ensino médio. "Levo até os meus filhos comigo quando meu marido está no mar".




Pela preservação das tartarugas


"Fui eu mesma quem fiz?" Essa é a indagação de Maria Irene da Silva Sales, 36 anos, toda vez que finaliza uma peça de renda de bilro. De tão bonita, nem acredita ser fruto das próprias mãos. Mas é a pura verdade para Irene e mais 19 mulheres de pescadores da Praia de Almofala, em Itarema, Litoral Oeste. Elas integram a iniciativa do Projeto Tamar/Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade que, desde 1999, valoriza as rendeiras locais.

Irene tinha dez anos quando fez renda pela primeira vez, iniciada pela mãe Maria Eliete, 51 anos, também do projeto. "Parei por algum tempo e voltei a tomar gosto pela almofada quando o grupo começou. Trabalho quatro horas por dia", diz.

Na produção exclusiva, há toalhas de lavabos e panos de bandeja com desenhos de tartarugas marinhas, símbolo do projeto que luta pela preservação do animal. As peças também podem ser encontradas nas lojas do Tamar em estados como Bahia e São Paulo.




Conquistas


Casada há 16 anos, a rendeira mora com o marido, o pescador José Genário do Nascimento, e os três filhos adolescentes, na localidade de Saquinho. A casa de cinco cômodos ainda não está rebocada, porém é própria. "Construímos, em boa parte, com o dinheiro da minha renda. Ele também me ajuda nas despesas de casa, pois meu marido não tem salário certo e chega a passar um mês no mar pescando lagosta".

Para o futuro, deseja que os filhos continuem os estudos e consigam um bom emprego. "Que eles tenham a oportunidade que não tive, pois só cursei até a 5ª série". No entanto, não reclama do ofício. "Com o artesanato, minha vida melhorou muito. Tenho orgulho dele". O exemplo, contudo, dificilmente será seguido pela filha Amanda, 15 anos: "Ela não quer aprender, nunca nem tentou. Deixo que ela mesma escolha qual profissão deseja seguir".




Peças com novo design


"Eu agora sou - como é que se diz? - designer de rendas de bilro", define-se Ana Maria André Alves, 47 anos, residente na Praia da Baleia, em Itapipoca. Rendeira, ela já foi presidente da Associação das Artesãs da Praia da Baleia e, atualmente, dedica-se a criar desenhos para rendas feitas com linha fina.

Defensora dessa inovação no tradicional ofício, já fez cursos de aperfeiçoamento pelo Sebrae e pela Ceart, assim como passou a ministrá-los. "É um diferencial e podemos ganhar um pouco mais de dinheiro. "Ana das rendeiras", como é conhecida, já foi a várias feiras divulgando o produto local. Em 2008, esteve em Brasília, onde conta ter feito sucesso por usar um vestido com o artesanato genuinamente cearense.

Ana Maria estudou até a 4ª série, o que julga suficiente para se manter. Casou há 18 anos com o pescador Francisco Inácio e tem sete filhos: "É até pouco, minha mãe gerou 16", compara. Para ajudar nas despesas de casa, ainda trabalha como diarista em casas de veraneio. "Dizem que minha peixada é muito boa".

No Litoral Oeste, a tradição da renda de bilro permanece viva em várias cidades. No entanto, é mais raro encontrar quem trabalhe com a linha fina, matéria-prima usada por rendeiras entrevistadas em Acaraú, Almofala e Baleia




Desenhista da almofada


Por trás de toda a renda de bilro sempre tem um desenho, uma inspiração. Na maioria das vezes, as rendeiras compram os riscos prontos para colocar na almofada. Na Prainha, em Aquiraz, Elisabete de Castro, a Betinha, 54 anos, é uma dessas artistas. Por meio de sua habilidade e paciência, cria e vende os desenhos pelo valor, em média, de R$ 5,00. Confessa preferir fazer a renda, mas como são poucas as mulheres que se dedicam a essa etapa, o jeito é mesmo criá-los. E como são interessantes!

Segundo a artesã, é preciso ter muito cuidado para não comprometer a trama. Para começar o ritual criativo, ela risca no papel, depois repassa para o papelão e, por último, perfura o mesmo. Esse é fixado com espinhos de mandacaru na almofada. Com a linha e os bilros em mãos, o trabalho começa a ser executado.

Betinha revela ter feito diferentes desenhos. A partir deles já criou biquínis, bolsas, borboletas e até uma vela de jangada. Suas peças são comercializadas no Centro das Rendeiras da Prainha, onde também desenha, faz renda e atende aos clientes.




O som da família Paiva


A monotonia Maria Ecelsa, 45, e Maria Liduina, 36, aprenderam a arte com a mãe, Raimunda, já falecida. Francisca, surda-muda, tem a fama de ser a mais rápida. Sua sobrinha Catarina, 9 anos, é outro destaque. Na almofada, a garota exibe parte da renda que está produzindo para si mesma.

A família continua trabalhando com a linha tradicional, pois nenhuma delas se adaptou com a fina, embora tenham feito até cursos com a inovação. Além de levar mais tempo, avaliam que o preço pago pela peça com essa matéria-prima não compensa. Uma toalha de bandeja demora 30 dias para ficar pronta e custa R$15,00. "Ninguém consegue viver desse jeito", diz Ecelsa.

Fonte: jornal Diário do Nordeste. Caderno Eva. Fortaleza, 28 de março de 2010. - http://diariodonordeste.globo.com/caderno.asp?codigocaderno=6

3 comentários:

dilia disse...

adorei ver a materia das rendeiras do nordeste eu tembem acho o trabalhho muito lindo e inportante seria muito bom se essa maravilha nunca se acabasse.

Anônimo disse...

Amei esta materia pois nos aqui do Rio de Janeiro damos muito valor este tipo de trabalho.Minha Tia tem 83 anos e faz renda de birro desde de criança,mas nos sobrinhos ninguem consegue ter a paciencia de ficar virando os birros.
Gostaria que voces me mandace para meu email modelos de gola ,de frente da blusa e tambem da costa.Pois estou interessada.Estao de parabéns.Obrigada ,MARIA APARECIDA

Meu email romacidas@yahoo.com.br.

Anônimo disse...

Amei esta materia pois nos aqui do Rio de Janeiro damos muito valor este tipo de trabalho.Minha Tia tem 83 anos e faz renda de birro desde de criança,mas nos sobrinhos ninguem consegue ter a paciencia de ficar virando os birros.
Gostaria que voces me mandace para meu email modelos de gola ,de frente da blusa e tambem da costa.Pois estou interessada.Estao de parabéns.Obrigada ,MARIA APARECIDA

Meu email romacidas@yahoo.com.br.