Tito Drago, da IPS
10/11/2009 - 16:23:20
A reunião convocada pela Organização das Nações Unidas em Barcelona para preparar a conferência sobre mudança climática de dezembro, em Copenhague, terminou na sexta-feira (6/11) sem muitas esperanças sobre os resultados que terá essa instância-chave para o futuro da humanidade. Isso porque o governo de Barack Obama pisou no freio em seus sinais a favor de aderir aos acordos internacionais sobre mudança climática e com isso reduziu as esperanças de uma sensível mudança no curto prazo em relação à atitude negativa de seu antecessor, George W. Bush. O presidente norte-americano aparece enquadrado pelo Senado, onde têm forte influência os grandes consórcios multinacionais em campanha para que tudo continue como está.
A atitude que tomar a delegação oficial dos Estados Unidos será crucial para o sucesso ou o fracasso da 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15), que acontecerá entre 7 e 18 do próximo mês, na capital dinamarquesa, e tentará desenhar um tratado para redução das emissões de gases que provocam o efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. Os Estados Unidos são o segundo maior emissor de gases contaminantes do mundo, superados apenas pela China ultimamente, e Washington não assinou o Protocolo de Kyoto, acordado em 1997, que entrou em vigor em 2005, e expira em 2012, para frear o ritmo do aquecimento do planeta.
Os gases contemplados nesse texto são dióxido de carbono (CO²), metano, óxido nitroso, hexafluoreto de enxofre, hidrofluorocarbonetos e perfluorocarbonetos. O acordo obriga os 37 países industrializados que o ratificaram a reduzir suas emissões de gás de efeito estufa em 5,2% em relação aos níveis de 1990 e até 2012. A reunião da Dinamarca foi convocada, precisamente, para estabelecer um novo tratado que substitua o assinado em Kyoto (Japão).
Em Barcelona estiveram presentes delegados de 175 países. Entre eles destacaram-se Brasil e China ao expressarem com vigor a necessidade de fortalecer os acordos para deter a contaminação do planeta e enfrentar a mudança climática. O representante chinês, Wu Wei, pediu que as nações industriais se comprometam de verdade na redução de suas emissões para poderem avançar rumo a um acordo para o período 2013-2020. Alguns delegados sugeriram que a crise econômico-financeira global dificulta o cumprimento dos acordos, mas a delegação espanhola afirmou o contrário e deu como exemplo o que ocorre neste país.
O uso mais eficiente da energia e o aumento da sua produção a partir de fontes renováveis mostram que a Espanha poderá cumprir o estabelecido no Protocolo de Kyoto. Outro problema que lançou uma sombra sobre a reunião foi a opinião negativa do negociador-chefe da Comissão Européia para a aplicação do Protocolo de Kyoto, Artur Runge-Metzger, dada informalmente nos corredores a um grupo de jornalistas. O representante deste órgão executivo da UE disse ser muito provável que em Copenhague não se consiga incluir a aplicação de sanções aos países que não cumprirem os objetivos assumidos.
A maioria dos delegados presentes em Barcelona concordou em manifestar sua previsão de que em Copenhague se conseguirá um acordo “politicamente vinculante”, mas não um que seja legal, já que para isso se exigirá mais tempo e negociações. Alicia Montalvo, diretora do Escritório Espanhol para Mudança Climática, qualificou de “frustrante” o fato de se estar prevendo que em Copenhague não será assinado um tratado devido à posição dos Estados Unidos. Ao ser perguntada em entrevista coletiva quando seria possível assiná-lo, no caso de as previsões se concretizarem, respondeu que “o mais rápido possível”, sem dar prazos.
Mas Montalvo poderá impulsionar essa assinatura nos próximos meses, pois quando a Espanha assumir a presidência temporária da União Européia, em janeiro, ela passará a integrar a troika que dirigirá as negociações do bloco. Mas, apesar destes sinais desanimadores, o secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, Ivo de Boer, disse aos jornalistas na sexta-feira que ainda é possível um grande acordo em Copenhague. Apesar de reconhecer que existem grandes dúvidas. Também expressou certo otimismo sobre a futura posição dos Estados Unidos, pois disse acreditar que o governo de Obama finalmente se comprometerá a financiar os programas ambientais das nações do Sul.
Esses países em desenvolvimento - disse - necessitam de ajudas no valor de US$ 10 bilhões anuais para controlarem suas emissões e melhorar suas estratégias de desenvolvimento sustentável. Ao ser consultado se em Copenhague se conseguirá algum compromisso importante, respondeu que se chegará a “um contexto, seguramente político”, que incluirá compromissos de redução de emissões dos países desenvolvidos até 2020 e limitações nas nações do Sul. Também destacou que o Protocolo de Kyoto é o único mecanismo legal para combater a mudança climática e que continuará sendo útil até que a comunidade internacional aprove outro instrumento legal.
De forma paralela à reunião oficial houve manifestações de organizações não-governamentais que apóiam e reclamam medidas para garantir um desenvolvimento sustentável. Uma delas foi o Greenpeace, que estendeu uma faixa de 600 metros quadrados sobre a parte externa da histórica catedral da Sagrada Família cobrando dos participantes do encontro a adoção de decisões urgentes para combater a mudança climática. Cerca de 20 membros do Greenpeace colocaram a faixa onde se lia: “Líderes mundiais, tomem a decisão de salvar o mundo”, e outra menor, pedindo “Save the climate-Salvem o clima”, na torre de Antonio Gaudí, projetada no final do século XIX e começo do XX.
A organização não-governamental também criticou explicitamente o primeiro-ministro espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, por sua “falta de liderança”, porque “nem mesmo sendo o anfitrião em Barceliona” conseguiu evitar que sua posição fosse “a segunda pior pontuação de todos os chefes de governo. Além disso, Juan López de Uralde, diretor do Greenpeace Espanha, divulgou o chamado Guia de Política Climática, segundo o qual esse trabalho demonstra que “no momento não há líderes climáticos nos países industrializados”. O governo espanhol deixou claro na reunião que pretende cumprir o Protocolo de Kyoto, apesar de aumentar as emissões de CO² até 37% até 2012.
Ao começar o encontro de Barcelona, os países africanos boicotaram os primeiros debates protestando contra as fracas promessas das nações industrializadas de reduzir sua emissões de dióxido de carbono.
(IPS/Envolverde)
Fonte: Mercado Ético
http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/barcelona-aumenta-a-descrenca-sobre-cop-15/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=mercado-etico-hoje
10/11/2009 - 16:23:20
A reunião convocada pela Organização das Nações Unidas em Barcelona para preparar a conferência sobre mudança climática de dezembro, em Copenhague, terminou na sexta-feira (6/11) sem muitas esperanças sobre os resultados que terá essa instância-chave para o futuro da humanidade. Isso porque o governo de Barack Obama pisou no freio em seus sinais a favor de aderir aos acordos internacionais sobre mudança climática e com isso reduziu as esperanças de uma sensível mudança no curto prazo em relação à atitude negativa de seu antecessor, George W. Bush. O presidente norte-americano aparece enquadrado pelo Senado, onde têm forte influência os grandes consórcios multinacionais em campanha para que tudo continue como está.
A atitude que tomar a delegação oficial dos Estados Unidos será crucial para o sucesso ou o fracasso da 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15), que acontecerá entre 7 e 18 do próximo mês, na capital dinamarquesa, e tentará desenhar um tratado para redução das emissões de gases que provocam o efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. Os Estados Unidos são o segundo maior emissor de gases contaminantes do mundo, superados apenas pela China ultimamente, e Washington não assinou o Protocolo de Kyoto, acordado em 1997, que entrou em vigor em 2005, e expira em 2012, para frear o ritmo do aquecimento do planeta.
Os gases contemplados nesse texto são dióxido de carbono (CO²), metano, óxido nitroso, hexafluoreto de enxofre, hidrofluorocarbonetos e perfluorocarbonetos. O acordo obriga os 37 países industrializados que o ratificaram a reduzir suas emissões de gás de efeito estufa em 5,2% em relação aos níveis de 1990 e até 2012. A reunião da Dinamarca foi convocada, precisamente, para estabelecer um novo tratado que substitua o assinado em Kyoto (Japão).
Em Barcelona estiveram presentes delegados de 175 países. Entre eles destacaram-se Brasil e China ao expressarem com vigor a necessidade de fortalecer os acordos para deter a contaminação do planeta e enfrentar a mudança climática. O representante chinês, Wu Wei, pediu que as nações industriais se comprometam de verdade na redução de suas emissões para poderem avançar rumo a um acordo para o período 2013-2020. Alguns delegados sugeriram que a crise econômico-financeira global dificulta o cumprimento dos acordos, mas a delegação espanhola afirmou o contrário e deu como exemplo o que ocorre neste país.
O uso mais eficiente da energia e o aumento da sua produção a partir de fontes renováveis mostram que a Espanha poderá cumprir o estabelecido no Protocolo de Kyoto. Outro problema que lançou uma sombra sobre a reunião foi a opinião negativa do negociador-chefe da Comissão Européia para a aplicação do Protocolo de Kyoto, Artur Runge-Metzger, dada informalmente nos corredores a um grupo de jornalistas. O representante deste órgão executivo da UE disse ser muito provável que em Copenhague não se consiga incluir a aplicação de sanções aos países que não cumprirem os objetivos assumidos.
A maioria dos delegados presentes em Barcelona concordou em manifestar sua previsão de que em Copenhague se conseguirá um acordo “politicamente vinculante”, mas não um que seja legal, já que para isso se exigirá mais tempo e negociações. Alicia Montalvo, diretora do Escritório Espanhol para Mudança Climática, qualificou de “frustrante” o fato de se estar prevendo que em Copenhague não será assinado um tratado devido à posição dos Estados Unidos. Ao ser perguntada em entrevista coletiva quando seria possível assiná-lo, no caso de as previsões se concretizarem, respondeu que “o mais rápido possível”, sem dar prazos.
Mas Montalvo poderá impulsionar essa assinatura nos próximos meses, pois quando a Espanha assumir a presidência temporária da União Européia, em janeiro, ela passará a integrar a troika que dirigirá as negociações do bloco. Mas, apesar destes sinais desanimadores, o secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, Ivo de Boer, disse aos jornalistas na sexta-feira que ainda é possível um grande acordo em Copenhague. Apesar de reconhecer que existem grandes dúvidas. Também expressou certo otimismo sobre a futura posição dos Estados Unidos, pois disse acreditar que o governo de Obama finalmente se comprometerá a financiar os programas ambientais das nações do Sul.
Esses países em desenvolvimento - disse - necessitam de ajudas no valor de US$ 10 bilhões anuais para controlarem suas emissões e melhorar suas estratégias de desenvolvimento sustentável. Ao ser consultado se em Copenhague se conseguirá algum compromisso importante, respondeu que se chegará a “um contexto, seguramente político”, que incluirá compromissos de redução de emissões dos países desenvolvidos até 2020 e limitações nas nações do Sul. Também destacou que o Protocolo de Kyoto é o único mecanismo legal para combater a mudança climática e que continuará sendo útil até que a comunidade internacional aprove outro instrumento legal.
De forma paralela à reunião oficial houve manifestações de organizações não-governamentais que apóiam e reclamam medidas para garantir um desenvolvimento sustentável. Uma delas foi o Greenpeace, que estendeu uma faixa de 600 metros quadrados sobre a parte externa da histórica catedral da Sagrada Família cobrando dos participantes do encontro a adoção de decisões urgentes para combater a mudança climática. Cerca de 20 membros do Greenpeace colocaram a faixa onde se lia: “Líderes mundiais, tomem a decisão de salvar o mundo”, e outra menor, pedindo “Save the climate-Salvem o clima”, na torre de Antonio Gaudí, projetada no final do século XIX e começo do XX.
A organização não-governamental também criticou explicitamente o primeiro-ministro espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, por sua “falta de liderança”, porque “nem mesmo sendo o anfitrião em Barceliona” conseguiu evitar que sua posição fosse “a segunda pior pontuação de todos os chefes de governo. Além disso, Juan López de Uralde, diretor do Greenpeace Espanha, divulgou o chamado Guia de Política Climática, segundo o qual esse trabalho demonstra que “no momento não há líderes climáticos nos países industrializados”. O governo espanhol deixou claro na reunião que pretende cumprir o Protocolo de Kyoto, apesar de aumentar as emissões de CO² até 37% até 2012.
Ao começar o encontro de Barcelona, os países africanos boicotaram os primeiros debates protestando contra as fracas promessas das nações industrializadas de reduzir sua emissões de dióxido de carbono.
(IPS/Envolverde)
Fonte: Mercado Ético
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