sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O que esperar de Copenhague

Foto: Leticia Freire

04/12/2009 - 17:16:55
Henrique Andrade Camargo, Mercado Ético


Nações apresentarão suas metas, mas propostas podem não ser o suficiente

É sempre bom reforçar que um pouco de meta é muito melhor do que não ter meta nenhuma. Claro que isso não quer dizer que esse pouco seja suficiente. Imagino que as negociações climáticas da COP15, que começam na segunda-feira (7/12), em Copenhague, vão seguir esse roteiro.

As principais nações do mundo já apresentaram publicamente o que vão (ou não) colocar nas mesas de negociações. O Brasil surpreendeu, sendo o primeiro entre os BRICs a anunciar que tipo de medidas planeja para contribuir com a mitigação das mudanças climáticas. Apesar de ser uma proposta controversa, com diversos pontos dúbios e obscuros, como a previsão de emissões de CO2 pelo país em 2020 e como serão financiadas as medidas para diminuir essas emissões, o governo brasileiro não tinha nenhuma obrigação legal (mas, sim, dever moral) de propor metas. O país, ao contrário das nações mais desenvolvidas, não tem culpa da maior parte do carbono já concentrado na atmosfera.

O fato é que a iniciativa brasileira pressionou outros governantes que evitavam o assunto. Não demorou muito e os EUA, a China e a Índia, três dos grandes poluidores do planeta, também disseram o que vão levar a Copenhague.

Mas de acordo com o Fórum Humanitário Global, organização dirigida pelo ex-secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan, as metas até então apresentadas não são suficientes para evitar um grande desastre. Para a entidade, ainda é preciso um pouco mais de esforço das nações mais ricas para que o planeta siga na rota da sustentabilidade de maneira mais consistente.

As metas divulgadas até agora, se cumpridas, podem significar um aumento de 5% na concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Esse volume causaria uma elevação da temperatura média da superfície terrestre acima dos 2°C, considerada a marca segura para se evitar os piores cenários. Como lembra Annan, as mudanças climáticas já são altamente perigosas mesmo com um aquecimento global médio inferior a 1°C.

Mas se o ex-diretor-geral da ONU acha que um pouco mais de esforço bastaria para chegar a um acordo desejável, James Hansen, cientista climático que dirige o Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA, acredita que o acordo como vem sendo desenhado será um completo desastre. Para ele, seria melhor que se começasse a fazer um outro, novinho em folha.

A verdade é que as nações desenvolvidas são resistentes em assumir suas responsabilidades na concentração de carbono na atmosfera. Um exemplo pouco (ou nada) divulgado, foi uma declaração do presidente da República Tcheca, Václav Klaus, que esteve na semana passada no Brasil. Em reunião com o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, Klaus queria saber o motivo da empolgação do brasileiro em ir para a COP15. Mendes disse que aquela poderia ser uma oportunidade para garantir recursos dos países ricos para a preservação da floresta. O tcheco, incrédulo, disse que não podia acreditar em seus ouvidos.

Outro ponto que causa agonia é a derrota pré-anunciada da conferência. A última delas foi feita nesta quinta-feira (3/12), pelo presidente Lula e pela chanceler alemã, Angela Merkel. Eles disseram que não vai ser desta vez que um acordo ideal sairá do papel. Apesar disso, a chanceler considera que haverá avanço em Copenhague.
Mas soa suficientemente bem um avanço que não garanta a segurança de centenas de milhões de pessoas que vivem nos países mais pobres? Mesmo não sendo eles os culpados pelo caos climático, serão os que mais vão sofrer com o aquecimento global.

Isso não parece justo para mim. E para você?

(Mercado Ético)

FONTE: http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/o-que-esperar-de-copenhague/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=mercado-etico-hoje

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