sexta-feira, 17 de julho de 2009

Bolsa Família e Microcrédito - um casamento possível

Sobre o Crediamigo, Néri destaca que o programa já é usado no Rio de Janeiro


ESPECIALISTA DEFENDE - Bolsa Família poderia servir como seguro

Um casamento ainda não institucionalizado, que tende a dar certo. É assim que o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Néri, vê o futuro da relação entre o programa de microcrédito Crediamigo e o programa social do governo Lula Bolsa Família. Os dois programas foram temas de debate, ontem, na sede do Banco do Nordeste (BNB), em Fortaleza, durante o Fórum BNB de Desenvolvimento, que segue até hoje, no Passaré.

Crítico abertamente declarado do Programa Fome Zero, Néri se diz ´fã´ do Bolsa Família que, para ele, poderia se transformar num grande seguro a ser usado para atender a população mais pobre em situações de crise. ´Melhor do que abater o Imposto de Renda é dar o Bolsa Família para o pobre, mas de forma temporária, usando a infra-estrutura que o programa já tem´, propõe.

Programa revolucionário

Para o pesquisador da FGV, o programa é uma revolução diante de seu alcance e da relação entre a educação dos filhos e o acesso ao benefício. O pesquisador destacou ainda o baixo custo do programa. ´Ele custa apenas 0,4% do nosso PIB (Produto Interno Bruto) e atende quase toda a população brasileira´, reforça.

Falando do Crediamigo, Marcelo Néri diz que o programa é ´exemplo por achar riqueza no meio da pobreza´.

Programa de microcrédito de referência no país e na América Latina, o Crediamigo teve sua tecnologia exportada para o Rio de Janeiro onde está implementado, em caráter experimental, desde março.

´A gente tem que dar crédito às políticas que merecem. O Bolsa e o Crediamigo são dois marcos do Brasil nas áreas econômica e social e também pelo fato de o Nordeste está exportando tecnologia para o Sudeste´, diz o professor.

Até 2003 o lucro mensal de quem entrava no Crediamigo era de R$ 1.212,00, hoje esse valor cresceu para R$ 1.727,00. Antes de 2003 a operação inicial do cliente, ou seja, antes de tomar o empréstimo, era R$ 1.500,00. Em 2008 o lucro inicial é de R$ 1.097,00.

´Isso mostra que chega-se mais na base a cada ano´, observa o pesquisador.

Néri destaca o alto índice de adimplência dos clientes incluídos no programa.

´Mesmo com a crise, a taxa de inadimplência do Crediamigo está hoje em 1,13%´, friza. Para Néri não existe melhor política social do que oferecer um posto de trabalho eficiente a um indivíduo.

Crise mundial

Embora reconheça que a crise financeira mundial não chegou muito forte ao Brasil, Marcelo Néri acredita na capacidade do país para superar seus reflexos. ´Temos um conjunto de políticas sociais excelentes e com a vantagem de respeitar as regras de mercado´, ressalta o pesquisador, que pondera: ´Podemos jogar melhor´, diz. Segundo ele, uma das formas de melhorar as defesas do país contra a crise é baixar os juros mais rapidamente.

Para o professor da FGV, o momento de crise é visto como oportunidade de inovar políticas públicas e tirar lições das dificuldades. ´O ganho transitório do Bolsa Família pode contribuir para diminuir as diferenças regionais´, exemplifica. Como no programa, Néri diz que o Brasil precisa ter o olhar sobre os mais pobres para reduzir as desigualdades de maneira mais geral.

Caráter permanente

A secretária Nacional de Renda de Cidadania Substituta, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Camile Sahb Mesquita, entende que o cadastro do Bolsa Família poderia ser utilizado para atender a população em situações de calamidade, entretanto, ela lembrou que a proposta do programa é permanente.

´Falam que o Bolsa (Família) dá o peixe e não ensina a pescar. Mas, o importante no programa é a articulação que ele tem com saúde e educação. Isso é fundamental´, defende.

Ângela Cavalcante
Repórter

Fonte: Jornal Diário do Nordeste - Caderno Negócios. Fortaleza, 17 de julho de 2009.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=655095

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