domingo, 12 de dezembro de 2010

Alternativas para o Semiárido

Joias do Cariri


12/12/2010 
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A modelo Charlenne Campos veste casaco Arefeito para Canela, blusa e short com paetês Jô-Iola. As joias são da coleção Geopark Araripe e a sandália, da Lela.
FOTOS: MARÍLIA CAMELO / ESDRAS GUIMARÃES

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Mônica Estevão Bezerra, presidente da Assossiação dos Lapidários, Artesãos e Ourives da Região do Cariri visita o geossítio Riacho do Melo, em Barbalha
FOTOS: MARÍLIA CAMELO

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A exuberante Chapada do Araripe, no sul do Ceará, serve de inspiração para coleção de joias com Pedra Cariri, uma das matérias-primas mais abundante s no Geopark Araripe

De importância cultural, histórica e ecológica inquestionável, a região do Cariri acaba de ganhar produtos com o selo Geo. São criações artesanais que levam a marca do Geopark Araripe, iniciativa realizada pelo Sebrae-CE. Entre os artigos lançados, estão as joias tendo como principal matéria-prima a pedra cariri. 

O Eva foi ao Sul do Ceará para conhecer os lapidários e ourives que criaram a coleção. Com as peças, realizamos um editorial de moda nos cenários dos geossítios Pedra Cariri, Pontal de Santa Cruz e Riacho do Meio. Uma viagem e tanto, que proporcionou esta edição especial.

NATUREZA LAPIDADA

Refugo da Pedra Cariri, encontrado nas mineradoras de Nova Olinda, é nova matéria-prima para associação de lapidários e ourives

Mesmo sendo natural de Juazeiro do Norte, a presidente da Associação de Lapidários, Artesãos Minerais e Ourives da Região do Cariri (Alamoca), Monica Estevão Bezerra, só conhecia a exuberante natureza da Chapada do Araripe por fotografias. No início de novembro passado, porém, teve a oportunidade de visitar alguns geossítios integrantes do Geopark Araripe com um objetivo: desenvolver coleção de joias inspirada na fauna, flora e riqueza geológica da região.

Resultado da Vivência Geopark Araripe, a iniciativa foi ao encontro de um antigo desejo de Mônica: lapidar a pedra cariri, tão farta na Região. "Sempre pensei nisso, porém não tínhamos maquinário adequado. Mas agora conseguimos", afirma ela, demonstrando a técnica desenvolvida. 

Na verdade, o que o projeto fez foi unir uma vocação natural do município (quem nunca ouviu falar do ouro de Juazeiro?) com o potencial turístico e ambiental do Sul do Ceará. "Fiquei de boca aberta ao ver essa beleza natural tão perto de mim", afirma Mônica, referindo-se às cachoeiras, às florestas e às áreas de mineração.

Passado o impacto inicial, Mônica e mais cinco associados participaram da confecção dos produtos, sob consultoria do designer Érico Gondim Oliveira. E o melhor, segundo a presidente: a matéria-prima é ecologicamente correta, ou seja, fruto do refugo das mineradoras de Nova Olinda.

"Para nós, desenvolver essa coleção foi muito gratificante. Pela ótima receptividade que tivemos durante a 1ª Conferência Latino-Americana e Caribenha de Geoparques, realizada recentemente. Vejo que estamos no caminho certo".

Fique por dentro

Associação reforça a tradição do ouro de Juazeiro

Anéis de formatura, pingentes, medalhas, coroas para imagens de santos, artigos personalizados, enfim, uma variedade de peças que ficaram conhecidas como "ouro de Juazeiro", principalmente o de 14 quilates.

A tradição vem de longe. Segundo historiadores, em 1756, foi criada a Companhia de Ouro das Minas de São José do Cariri, após a descoberta de uma jazida de ouro no atual município de Missão Velha. De propriedade do Padre Cícero, as minas do Coxá prometiam, no início, ser um rico filão em cobre, porém não vingou. No entanto, essa descoberta atraiu muitos mineiros e ourives para a região do Cariri. Por isso, mesmo com escassez do minério, vários deles se instalaram em Juazeiro, que começava a se desenvolver sob as bênçãos do Padre Cícero.

Hoje, apesar de distante de mineradoras de metais, Juazeiro tornou-se um importante polo do setor. Há quatro anos, uma entidade reúne parcela de centenas de profissionais que atuam na área: a Associação de Lapidários, Artesãos Minerais e Ourives da Região do Cariri (Alamoca). São 28 integrantes, sendo cinco lapidários e 23 ourives. "Aqui é uma escola. A gente aprende todo dia. Sonhamos em ser cada vez mais profissionais", diz a presidente Mônica Bezerra . Além do trabalho em ouro, realizado nas oficinas dos próprios ourives, no galpão da entidade são criados artigos em pedras, como pingentes e objetos de decoração.

"Com exceção do diamante, trabalhamos com vários tipos de pedra. O mercado é extenso. Vendemos para vários estados brasileiros e até para o exterior", afirma Mônica. FOTO: ESDRAS GUIMARÃES

Emoção

"Fiquei de boca aberta quando me deparei com a beleza natural do Geopark Araripe. Tudo tão perto de mim e eu não conhecia"

Mônica Bezerra
Presidente da Alamoca

Saiba mais sobre a Pedra Cariri

No Geossítio Pedra Cariri, a 3Km de Nova Olinda, na CE-166, é possível observar os fósseis, abundantes no local: peixes, algas, vegetais e insetos (grilos, formigas de asas, lacraias, besouros, mariposas, baratas, etc). Eles foram preservados dentro da pedra cariri. De cor amarelada ou cinza-claro e com finas lâminas subparalelas, o calcário foi denominado pelos especialistas como "Membro Crato da Formação Santana"

Nos 10m de altura da pedreira, essa rocha sedimentar formada de carbonato de cálcio está ora laminada (com fósseis) e ora maciça, misturada com um arenito cinzento bem fino. O geossítio registra um rico conjunto de seres vivos do período cretáceo (cerca de 112 milhões de anos) que vivia num lago raso de águas aparentemente doces e calmas, margeado por grande variedade de vegetação

A facilidade para achar fósseis bem conservados nesse geossítio faz com que muitos queiram levá-los para casa. Mas, no Brasil, a apropriação desse material exige autorização do órgão governamental competente, o Departamento Nacional de Proteção Mineral

O uso da pedra cariri na construção civil local é comum tanto em edificações do século XIX como nas atuais. Em algumas cidades da Bacia do Araripe, como Santana do Cariri e Nova Olinda, é fácil encontrar estruturas ou acabamentos aparentes feitos com a pedra

FONTE: GEOPARK ARARIPE

Para a confecção das joias, a Alamoca aproveita os materiais desperdiçados pelas mineradoras durante o processo de beneficiamento da pedra cariri em Nova Olinda. O primeiro passo para a lapidação é deixar a pedra de molho por alguns minutos. Ela absorve bem a água, ficando mais fácil fazer o processo inicial. Com auxílio de uma faca, abre-se a pedra cujas camadas formam placas de diferentes cores. Tem o aspecto de uma massa folheada. A beleza está nos desenhos de plantas, insetos e animais

Com a serra elétrica, pode-se dar o formato desejado à pedra. Nesse processo, é fundamental o uso de água, que cai em conta-gotas, semelhante ao que acontece com o soro hospitalar. Em seguida, passa-se para a lixa elétrica, utilizada para o acabamento do formato da pedra. O esmeril deixa o mineral liso, proporcionando o polimento necessário. Para conservar o brilho natural da pedra, usa-se lixa d´água seca. "Quando a gente conclui, o resultado é impressionante. Fica muito lindo. O brilho dela é impecável", afirma Mônica Estevão Bezerra, presidente da Alamoca

Terminado o processo de lapidação, as pedras são encaminhadas para os ourives. Elas são mescladas com metais, linha, couro e tecido para a confecção de pingentes e braceletes, dentre outros produtos

FONTE: ALAMOCA

GERMANA CABRAL
EDITORA´

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