Ex-vilão, sol vira esperança de crescimento no semiárido cearense Do céu que sempre castigou pela seca no Estado, espera-se agora que venha o desenvolvimento pela energia solar Danilo Fariello, enviado especial a Tauá (CE) | 05/08/2011 16:33
Um mito centenário prevê que o sertão viraria mar algum dia. No semiárido cearense, a principal expectativa que vem dos céus agora é outra, e muito melhor do que fim do mundo e inundação pregados por Antonio Conselheiro em Canudos no século 19. Agora é do sol incessante – que sempre esteve sobre as cabeças dos cearenses e parecia castigante durante os meses de seca mais brava – que vem uma grande esperança de desenvolvimento econômico.
Foto: Divulgação
Cidade de Tauá e região têm esperança de que usina solar traga desenvolvimento acelerado
Foi na cidade de Tauá (CE), na microrregião dos Inhamuns, que a MPX, do grupo EBX de Eike Batista, decidiu instalar a primeira usina de energia solar do País. Inaugurada a usina para gerar o primeiro megawatt ontem, espera-se agora que a construção (e os empregos por ela gerados) seja incessante até que se ocupe todo o parque disponível e sejam instalados 50 MW de geração.
Tanta energia disponível – embora a um preço ainda elevado para os padrões nacionais – coloca a cidade em polvorosa. Com frequência, o jatinho de Eike vem e vai à cidade – distante longos 400 quilômetros de Fortaleza por estrada - e prenuncia que aquele lugar encravado no semiárido não está esquecido do mundo desenvolvido.
Pela cidade, com quase 60 mil habitantes, muito se fala da usina e os benefícios que ela pode trazer. “As feiras de ciências nas escolas no último ano foram temáticas sobre a energia solar, sendo que antes a gente tratava mais de questões agrícolas”, diz Victor Cavalcante Motta, presidente da união municipal dos estudantes.
O iG esteve na cidade no ano passado e mostrou experiências de combate à degradação do solo e iniciativas isoladas de desenvolvimento, como o fornecimento de tecido de algodão para produção de tênis franceses por uma associação de moradores, a Adec. Porém, um ano depois, a expectativa é de que uma grande fábrica da gaúcha, a Aniger, se instale na cidade para produzir totalmente calçados para empresas estrangeiras como a Nike. Procurada. a Aniger não confirma, mas não nega a instalação da planta.
Segundo o prefeito da Tauá, Odilon Aguiar, serão construídos inicialmente dois galpões de 10 mil metros quadrados cada e poderão ser oferecidos até 1 mil novos empregos nessa indústria. “É um novo momento que floresce na cidade”, afirmou.
Sol como fonte de desenvolvimento
Como a produção de calçados é uma indústria manufatureira com relativamente baixo valor agregado, a expectativa do governo do Estado é de que empresas com produção mais complexa também cheguem à região para desfrutar da energia solar.
Francisco Zuza de Oliveira, presidente da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), quer criar uma espécie de selo que indique que as empresas da região têm comprometimento ambiental, pelo uso da energia renovável. “Isso ajuda a vender os produtos”, afirmou.
Mas, como o preço da energia solar ainda é cara (até 50% mais do que a energia hidrelétrica), considera-se a possibilidade de se criar um fundo com incentivos para atrair novas empresas.
Além da usina da MPX em Tauá, a Adece firmou um acordo com a empresa Bom Sol Energia Renováveis, ligada ao grupo Sky Solar, da China, para instalar painéis de energia solar para suprir necessidades de irrigação de pequenos produtores no sertão. Neste caso, trata-se de experiências de tamanho muito menor do que a maior (e primeira) usina solar da América Latina, a da MPX.
Expectativa da grande virada
Mas, para políticos e moradores da região, o sertão vai crescer mesmo quando perceberem que logo ali abaixo daquele solo há uma imensidão de minerais com quartzo, matéria-prima fundamental para a construção de placas fotovoltaicas da energia solar.
A região espera que o acordo anunciado ontem entre MPX e GE – por enquanto de fornecimento de equipamentos importados e criação de um centro de pesquisa no local – resulte em uma indústria de placas para fornecer para toda a América Latina.
“Temos expectativa de que, no futuro, esse potencial possa ser explorado”, diz Edmilson Junior, presidente da vizinha Quixeramobim, onde já existe uma indústria de calçados.
“Queremos trazer toda a cadeia produtiva para construção dessas placas”, diz Zuza, da Adece, entidade ligada ao governo do Ceará. O presidente da GE para a América Latina diz, porém, que a construção de fábrica no sertão ainda está no radar, mas pode ocorrer se os trabalhos do centro de pesquisa tiverem sucesso. “Mas ainda temos muito a desenvolver antes.”
O repórter viajou a convite da MPX
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