fotografia
Sertão à francesa
Publicado em 18 de agosto de 2011
O sertão em preto e branco nas fotografias do cearense Tiago Santana: livro de coleção francesa reúne trabalhos publicados nos livros do fotógrafo "Benditos" (2000) e "O Chão de Graciliano"
A 17ª edição da tradicional coleção francesa Photo Poche, traz o trabalho do cearense Tiago Santana. Até hoje, o único brasileiro participante era Sebastião Salgado
O Brasil está sendo brindado em Paris com o lançamento da 17ª edição da coleção francesa Photo Poche Société, uma das mais prestigiadas do gênero da fotografia, comandada há trinta anos pelo mítico Robert Delpire, editor de grandes nomes como Henri Cartier-Bresson e Robert Frank, e cuja recém-edição traz o trabalho de um brasileiro.A conquista não é inédita. Em 1999, o primeiro fotógrafo brasileiro a integrar a coleção criada pelo Centre National de la Photographie, em 1982, cuja ressonância mundial fez da publicação um dos projetos editoriais mais difundidos e respeitado np meio, foi um mineiro de Aimorés: Sebastião Salgado.Mas, agora, um novo nome brasileiro, aliás, cearense, mais precisamente, caririense, protagoniza esse momento histórico para a fotografia nacional. Tiago Santana assina o número 17 da coleção Photo Poche, intitulado "Sertão". O clássico resumo da obra condensa os dois primeiros livros de Santana: "Benditos", lançado no ano de 2000, e "O Chão de Graciliano", em 2006. Os ensaios dramaticamente espontâneos e lapidados em composições assimétricas, chegaram às mãos de Robert Delpire em 2007.O post de 19 x 12 cm é, literalmente, um pretinho básico, bem ao gosto parisiense. E, como manda a tradição, a coleção de bolso traz, na capa negra e brilhante, o título impresso em letras brancas, serifadas e entre aspas, antecedendo a identificação do autor em caixa alta. Publicado dentro da série temática "Sociedade", a mesma na qual o trabalho de Sebastião Salgado foi incluído, o Photo Poche hoje é impresso pela Actes Sud, editora francesa com sede em Arles.VitrineO primeiro lançamento em terras brasileiras de "Sertão" acontece, hoje, aqui em Fortaleza, às 19 horas, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB). Às vésperas do Dia Mundial da Fotografia, e integrando a programação dos "Encontros de Agosto", promovido pelo Fórum da Fotografia do Ceará, com apoio do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará, o professor Rubens Fernandes Junior ministrará palestra com o tema "A Internacionalização da Fotografia Brasileira"."Esse livro nasceu por conta da minha história com publicações. Minha irmã e meu cunhado moram lá. Eu também já morei lá, então tenho certa ligação. Certa vez, eles deram ´Benditos´ e ´O Chão de Graciliano´ de presente para um amigo fotógrafo, Jehsong Baak, que, por sua vez, era, e é, amigo de Robert Delpire. Foi ele quem apresentou os livros a Delpire", conta Tiago, recordando a trajetória que antecedeu sua chegada à Coleção Photo Poche.O novo livro de Tiago Santana tem 144 páginas e 71 fotografias, realizadas entre 1992 e 2006, com introdução do escritor cubano Eduardo Manet (o texto está em francês)."Há cerca de quatro anos tive o primeiro contato com Robert Delpire. Estive na França, visitei sua editora (Editions Delpire), porque queria muito conhecer essa lenda viva. Um senhor de 80 e tantos anos, simples, maravilhoso, o editor mais importante da fotografia que existe! Nessa visita, ele folheando e comentando meus livros, olhou para mim e perguntou: você quer fazer um Photo Poche? Falei: ´claro, claro que quero!´", recorda, Tiago, ainda respirando fundo.Fotografia documentalO título do livro, "Sertão", foi escolhido pelo próprio Delpire. A fotografia documental da vida sertaneja, tão respeitosa e sofisticadamente retratada pela lente angular de 28 mm, a preferida por Tiago Santana, agora ganha o mundo.A dimensão que alcançará isso tudo, somente a história dará conta de revelar no futuro. O que se descortina a partir de agora, em escala global, são os rostos sisudos, desenhados pela lida de sol a sol, a secura externa de espíritos plenos de religiosidade endêmica, que transita tanto como pano de fundo como personagem principal."Na minha época, essa coleção era a referência para uma geração de fotógrafos que aprenderam fotografia olhando esses livros, eles eram muito cobiçados, tenho vários. Vale lembrar que não havia internet, e que, praticamente, não existia livro de fotografia brasileiro. Essa é considerada a coleção de fotografia mais importante do mundo, seu projeto, a ideia de ser um livro pequeno, acessível, de qualidade e com o mesmo formato há 30 anos! Era um sonho ter os livros. Agora é um sonho estar na coleção, nunca imaginei", diz Santana.Uma das peculiaridades que mais chamam atenção no trabalho de Tiago Santana é a proximidade que ele conquista entre os interlocutores. A sensação do espectador é que há um acordo tácito e prévio, definido entre fotógrafo e fotografado, que revela uma intimidade invisível, generosa, consensual."Meu trabalho, de certa forma, tinha uma visibilidade restrita. Agora, com esse livro, haverá uma visibilidade lá fora. Por isso, optei por colocar coisas que já estavam consolidadas, porque os dois livros fazem parte do mesmo projeto, do mesmo universo, no caso, o sertão. Aliás, o título foi Delpire quem sugeriu. Ele tinha várias opções, mas escolheu essa porque, na França, o imaginário do universo do Sertão é muito instigante", destaca.FOTOGRAFIA "Sertão - Coleção Photo Poche Fotografias"Tiago SantanaActes Sud144 páginas71 fotos2011SAIBA MAIS - PerfilTiago Santana nasceu no Crato, em 1966. É fundador da Editora Tempo d´Imagem (1994), especializada em livros de fotografia. Em 2000, publicou "Benditos", e, em 2006, "O Chão de Graciliano". Foi contemplado com a Bolsa Vitae de Arte; com o prêmio Marc Ferrez de Fotografia; prêmio Conrado Wessel de Ensaio Fotográfico; prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA); prêmio O Melhor da Fotografia no Brasil; prêmio Porto Seguro Brasil de Fotografia. Participa de importantes acervos e coleções.MAIS INFORMAÇÕES:Lançamento do livro "Sertão" (Coleção Photo Poche), de Tiago Santana. Às 19 horas, no CCBNB (Rua Floriano Peixoto, 941 - Centro). Preço: R$ 40. Contato: (85) 3464.3108
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