Convívio harmonioso com o semiárido vira chave para manter jovens no campo
ONG pernambucana mostra que o clima precisa ser aliado, e não rival, para a permanência da população no meio rural. Nordeste também sofre com êxodo de jovens com destino às cidades
Publicado em 08/09/2011, 18:14
São Paulo - Mais do que conter a saída de jovens das áreas rurais, uma ONG trabalha no intuito de aproximar a juventude da região do semiárido de Pernambuco da realidade local. Colocando o clima de semiaridez como um aliado, e não inimigo, a entidade trabalha a favor da sobrevivência na lida no campo e na vida, principalmente dos jovens.
Para Edinalva Conceição de Oliveira, coordenadora do programa Juventude, Arte e Cultura da ONG Caatinga, o objetivo da entidade é trabalhar as possibilidades de a juventude local poder permanecer no campo, reconhecendo direitos e deveres, mas também convivendo com as condições do clima, para que assim conquiste uma vida digna no campo.
Estudos baseados em dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que havia 660 mil jovens a menos no campo em 2010 em comparação com 10 anos antes. Em 2000, o Brasil contava com 6,1 milhões de jovens no campo, ante 5,5 milhões em 2010. A parcela de pessoas de 16 a 24 anos que vive no campo diminuiu de 18% para 16%.
O desafio está colocado para todas as regiões do país, mas em áreas como o Norteste, o problema tem agravantes. "A ONG surgiu para que os agricultores familiares, principalmente os jovens, consigam conviver harmoniosamente com as condições de semiaridez do ambiente em que vivemos. E usando isso a seu favor", destaca Edinalva.
Aluna do curso de artesanato, Luciana Ribeiro, da cidade de São José do Egito, também no semiárido pernambucano, conta que, por muitas vezes, pensou em se mudar para a cidade na tentativa de buscar melhores condições de trabalho e de renda. No entanto, ela adiou a decisão por tempo indeterminado.
Os motivos para isso foram dois. O primeiro envolve seus avós, com quem ela vive, que ainda não permitem que a jovem saia da propriedade. O segundo é que, com as técnicas de artesanato ensinadas pela ONG, a renda da família aumentou "consideravelmente", considera Luciana.
A ONG Caatinga nasceu em 1988 para desenvolver um modelo agroecológico voltado às famílias de agricultores da região do semiárido brasileiro. Hoje a entidade atende a dez municípios com ações voltadas a técnicas agroecológicas, na eliminação do uso de agrotóxicos
De volta para casa
Constatado pelos técnicos que desenvolvem ações na região, a retorno de jovens às propriedades da família já é uma realidade na região. Edinalva relata que há vários casos de alunos da ONG que, após a formação em um dos cursos oferecidos pela entidade, chegou a tomar o rumo de centros urbanos em busca de outras oportunidades, mas que, surpresos com o que encontraram, decidiram pelo retorno.
Ilsamar Lima de Barros, também aluna do curso de artesanato da ONG, conta que nunca teve vontade de tentar a vida na cidade, ainda mais depois de participar dos cursos que são oferecidos para os jovens da região, mas que tem muito amigos chegaram a optar pela cidade, se arrependeram e acabaram regressando.
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