sábado, 31 de outubro de 2009

XI Mostra Sesc Cariri de Cultura


A XI Mostra Sesc Cariri de Cultura acontecerá de 13 a 20 de novembro de 2009 nas cidades de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Nova Olinda, e de 21 a 26 de novembro de 2009 em Fortaleza.

"Em 1999, foi criada, no Crato, a Mostra Sesc Cariri de Teatro, a partir do Projeto de Desenvolvimento e Consolidação do Teatro no Cariri, desenvolvido pelo Departamento Regional do Sesc no estado do Ceará em parceria com o Departamento Nacional do Sesc.

Desde a sua primeira edição, a Mostra foi estruturada com uma perspectiva de, a longo prazo, tornar-se uma referência nacional no âmbito das artes cênicas, ao mesmo tempo em que abriria frentes amplas para a coexistência de diversas linguagens artísticas e múltiplas manifestações culturais na região do Cariri.

Nesses anos o projeto cresceu em todas as direções. Ampliou a sua extensão para as cidades vizinhas, passando a ter Crato e Juazeiro do Norte como pólos principais, além de programações itinerantes em 15 municípios; aumentou ano a ano a quantidade de apresentações e de espaços onde elas acontecem; abandonou o caráter competitivo, tornando-se mais democrática; deixou de restringir-se às artes cênicas, para englobar as mais diversas formas de manifestações e linguagens artísticas.

Em virtude dessa ampliação, teve seu nome modificado para Mostra Sesc Cariri de Cultura. Sua estrutura foi dividida em cinco núcleos: Artes Cênicas, Música, Artes Plásticas, Literatura e Audiovisual, incorporando, além de manifestações artísticas, os hábitos, costumes e crenças do Cariri e de cada região do Brasil, elementos que formam a pluralidade e, ao mesmo tempo, determinam a singularidade do nosso País."


sexta-feira, 30 de outubro de 2009

II Festival UFC de Cultura


De 9 a 13 de novembro, a UFC volta a ser palco de uma das mais intensas programações artístico-culturais do Estado. Será realizado o II Festival UFC de Cultura, que este ano homenageia Patativa do Assaré.

Com o tema "Ecos Nordeste, Cultura e Desenvolvimento" , o evento promete repetir o sucesso de sua primeira edição, ocorrida em maio do ano passado. A programação completa estará disponível a partir desta quinta-feira (22), no site oficial do Festival, que será lançado na mesma data.

Durante cinco dias, música, cinema, literatura, fotografia, artes plásticas, teatro e artesanato – do popular ao erudito – estarão juntos nos três campi de Fortaleza, em três turnos. A proposta é aproveitar o ambiente universitário para mostrar um pouco do Ceará e do Nordeste aos próprios cearenses, mantendo vivos tradição, folclore e traços característicos de nossa gente.

Além disso, pretende-se lançar um olhar sobre o Nordeste urbano, inserido no contexto nacional e internacional, com os desafios das grandes metrópoles.

O poeta Patativa, homenageado do evento, será lembrado em uma mostra no Museu de Arte da UFC (MAUC), com fotografias de Tiago Santana, xilogravuras de João Pedro e curadoria e textos do Diretor do MAUC, Pedro Eymar Barbosa. Além disso, será lançado o livro "100 anos de Patativa", uma coletânea de artigos acadêmicos sobre a vida e a obra de nosso mais importante poeta popular.

Os shows musicais são outro destaque do Festival. Já confirmaram presença atrações de renome nacional, como Mundo Livre S/A, Spok Frevo Orquestra, Ítalo e Reno, Orquestra Eleazar de Carvalho, Daniel Gonzaga e Lucas Santana. Isso sem contar com apresentações de grupos regionais, como Groovytown, Samba de Rosas, Batuqueiros da Caravana Cultural, Poesia Remix, Banda Cabaçal Fulô da Aurora, Ibadã e Tambor das Marias, dentre vários outros.

Aberta ao público, toda a programação do Festival tem por objetivo resgatar a história e as artes tradicionais do Nordeste, além de dar visibilidade à produção contemporânea e, principalmente, proporcionar a integração entre a Universidade e a sociedade – um dos maiores desafios da UFC.

Por isso, o evento ainda abrirá espaço a debates sobre temas relevantes para o Ceará, trazendo grandes nomes da arte e do pensamento brasileiro. Para falar sobre "A Reconstrução das cidades nas metrópoles", foi convidado o arquiteto cearense Fausto Nilo. Já sobre "Desenvolvimento regional e microcrédito" , o Presidente do Banco do Nordeste (BNB), Roberto Smith, proferirá palestra.

Um dos maiores intelectuais na área de urbanismo e consultor do Banco Mundial para o tema, Robert Cervero, tem presença garantida com a palestra "O urbanismo sustentável: a criação habitável, viável e socialmente justa para cidades do futuro". Os "caminhos da esquerda latinoamericana" serão abordados em conferência do Presidente do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais, Emir Sader.

Os cinéfilos também poderão participar de uma programação exclusiva durante o Festival. Com o objetivo de reforçar o audiovisual no Estado, a Casa Amarela Eusélio Oliveira abrigará uma mostra de curtas e longas-metragens sobre o Nordeste, de autoria de diretores cearenses, pernambucanos, mineiros e cariocas. Além disso, serão realizadas oficinas (xilogravura e monotipia), lançamentos de livros, apresentações de dança e teatro de rua e muito mais.

O Festival UFC de Cultura é realizado em parceria com a ADUFC e patrocínio do Governo do Estado, Prefeitura de Fortaleza, Assembleia Legislativa do Ceará, BNB, Banco do Brasil e Funcap. Toda a programação é gratuita. Mais informações podem ser obtidas no site oficial do evento (http://www.festivalufcdecultura.ufc.br/).

Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da UFC - (fone: 85 3366 7331)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Cultura de Paz




O texto abaixo, escrito por mim, foi publicado no Livro "Cultura de Paz: do conhecimento à sabedoria", organizado por Kelma Socorro Lopes de Matos, Verônica Salgueiro do Nascimento e Raimundo Nonato Júnior. Fortaleza: Edições UFC, 2008.


DESENVOLVIMENTO, LIBERDADE E PAZ
Por Suely Salgueiro Chacon

INTRODUÇÃO

Este artigo parte do pressuposto que os conflitos em grande parte têm hoje sua origem na total falta de respeito pela vida humana, e na conseqüente exclusão de uma parcela cada vez maior da população dos sistemas social, político e econômico em todo o mundo. A pobreza extrema, a fome e a falta de liberdade, vista inclusive como falta de acesso aos serviços básicos e às informações, são algumas das características comuns de pessoas excluídas não só no Brasil e em outros países da América Latina, da África e da Ásia, mas também na América do Norte e Europa, consideradas regiões mais ricas.

A superação desse estado de coisas deve ser precedida por uma ampla revisão nos processos de desenvolvimento de todos os países. A chamada “globalização” possibilitou um crescimento do poder econômico em todo mundo, e ao mesmo tempo em que concentrou mais riquezas nas mãos de poucas pessoas em determinados espaços. O dinheiro passou a se reproduzir sem qualquer base produtiva real. E embora a renda crescesse em todo mundo, os empregos sumiam numa velocidade superior à capacidade de governos e pessoas se adaptarem às novas tecnologias e às novas relações surgidas no âmbito do mercado financeiro.

Para encontrar alternativas a esse processo não se pode pensar hoje em desenvolvimento sem pensar na perspectiva da paz, e da recuperação do sentido maior de ser humano, das relações entre os seres, do respeito pela vida em sua mais ampla concepção. Ou seja, em todo o mundo os fazedores de políticas, os cientistas e cada um de nós precisa repensar suas prioridades e atitudes, se colocando em uma nova perspectiva de relação com os demais seres.

Lições positivas que mostram a viabilidade dessa mudança existem de várias formas, com base em diferentes iniciativas, mas aqui buscamos entender as idéias revolucionárias de dois economistas: Amartya Sen e Muhammad Yunus. Eles ensinaram ao mundo que não pode haver desenvolvimento real se existe parte substancial da população excluída do crescimento econômico e, por conseqüência, destituída de seus direitos como seres humanos, e seres políticos inseridos em uma sociedade, não apenas em um “mercado”.

É peculiar estudar o resultado da implementação de suas idéias, pois a economia como ciência vem há muito tempo articulando maneiras de respaldar o crescimento econômico, sem tanto se preocupar com sua adequada distribuição.

Amartya Sen e Muhammad Yunus resgatam os fundamentos dessa ciência que sempre teve em seu cerne a preocupação com a melhor distribuição dos recursos escassos, de modo a atender as necessidades de todos. Mas que se desviou desse objetivo essencial para criar modelos que legitimassem ideologias baseadas na competição e na exploração entre os seres humanos, exclusivamente.

Assim, partindo da premissa de que a ciência tem a responsabilidade de contribuir para a melhoria da vida de todos, e não apenas de alguns, a economia pode ser vista de uma nova perspectiva, e viabilizar novas propostas de crescimento econômico sem exclusão, com base na solidariedade e na Paz.

Para discutir essas idéias este artigo se divide em duas partes. Antes de conhecermos no segundo tópico as idéias de Sen e Yunus, um primeiro tópico procura deixar claro a base de nossa argumentação: o homem precisa se enxergar como uma espécie, e ser solidário aos seus semelhantes. Só assim encontraremos o caminho para que as relações humanas se transformem e vivamos uma nova cultura de Paz.


1 NOVAS POSSIBILIDADES PARA A CIÊNCIA

A principal indagação para que nos percebamos como espécie é: o que é ser humano? Essa simples interjeição nos leva a uma profunda reflexão sobre o que temos feito com nossa casa, o Planeta Terra. O homem foi se distanciando da sua real condição de ser pertencente a uma espécie, a espécie humana, que habita na natureza e dela faz parte. Achando-se acima de tudo e de todos, inclusive de seus semelhantes, o homem foi instituindo um “reinado” que privilegia a sensação de ter, em detrimento da plenitude do ser.

Segundo Arendt (1997: Cap. 1), seremos sempre seres humanos, onde quer que estejamos, mas a condição humana nos é dada pela natureza, que condiciona nossa existência, permitindo nossa sobrevivência na Terra. Essa é uma constatação tão óbvia que nos tem passado despercebida e seguimos destruindo o que nos sustenta e, concomitantemente, nos destruindo.

Nós precisamos (re)aprender a olhar a natureza e descobrir as respostas para nossas angústias de “seres modernos”, tecnológicos e solitários. A natureza está gritando, querendo mostrar-nos como podemos ser felizes simplesmente e viver em harmonia, em paz, e ainda usufruir de tudo que a inteligência humana criou, sem precisar devastá-la, nem deixar tantos de fora dos benefícios do progresso.

Ao longo da história, os diferentes modos de produção foram fortalecendo a exploração e a dominação da natureza pelo homem e do próprio homem pelo homem. (Ostrovitianov, et al, 1972) Aí está o cerne de toda a crise de valores que vivemos hoje, da violência, dos conflitos banais. E é com a superação desse modelo que podemos buscar novas possibilidades de promover a Paz.

Se, de um lado, o homem evoluiu extraordinariamente em termos científicos e tecnológicos, de outro teve uma involução do ponto de vista social e ambiental. Nunca houve na história uma parcela tão grande da população mundial vivendo em tão grave estado de miséria, fome, humilhação e exclusão, sem perspectivas de encontrar uma forma digna de vida, ou mesmo de sobrevivência.

Centrou-se toda discussão sobre desenvolvimento na perspectiva econômica, deixando-se de lado a essência de tudo: o próprio ser humano e a natureza, responsável pela vida. É certo que o crescimento econômico, aliado a evolução científica e tecnológica, é um ponto chave para melhorar a qualidade de vida. Porém, um crescimento concentrado, direcionado para poucos, que deixa de fora a maior parte da população e destrói a natureza não pode garantir um processo de desenvolvimento justo e harmonioso.

O homo faber, fazedor e fabricante, não tem tempo para contemplar a natureza, pois isso não está de acordo com o “princípio da utilidade” (Arendt, 1997: 318). O pescador moderno, por exemplo, não precisa mais conhecer o mar e o céu, ele tem muito aparelhos para fazer isso por ele, ele é um ser tecnológico bem equipado, não tem tempo de conhecer os segredos do céu e por eles se guiar. Por isso também prefere técnicas que permitam uma captura rápida da sua mercadoria (o peixe, um ser vivo que precisa se reproduzir), não importando se pequenos peixinhos e outros espécimes venham junto e morram, eles não têm utilidade...

A discussão aqui proposta busca evidenciar as novas propostas de entender o mundo que começam a tomar forma e força, especialmente no âmbito da ciência econômica. É importante lembrar que estamos discutindo no âmbito das relações sociais em um espaço “globalizado”, mediado por processos informacionais intensivos em tecnologia (Chacon e Chacon, 1998). As mudanças tecnológicas que permitiram essa desconfiguração econômica e social e os conflitos que estamos presenciando hoje se deram de modo rápido, não permitindo à sociedade armar mecanismos de proteção que permitissem sobreviver nesse novo contexto de exploração. A evolução cultural se dá de maneira mais lenta que a tecnológica.

As conseqüências desse “modelo” de existência foram se engendrando ao longo da história conhecida da humanidade, e se exacerbaram com as possibilidades ampliadas de consumo em massa. Na medida em que os bens se tornam descartáveis, o homem explora cada vez mais a natureza e seus semelhantes para garantir que uma minoria privilegiada possa acumular e consumir, enquanto a maioria da humanidade é cada vez mais excluída e explorada, assim como a própria natureza.

O aumento do desmatamento, a desertificação, a falta de água, as mudanças climáticas, bem como a fome a exclusão, a exploração irracional do trabalho humano, inclusive de crianças, a falta de respeito aos idosos e todas as formas de racismo e preconceito são exemplos do que nós mesmos fizemos ao nosso Planeta e aos nossos semelhantes. Isso tudo resulta em uma falta de liberdade cada vez maior para o ser humano. E liberdade significa mais do que não estar preso. Liberdade é também ter acessos, especialmente à informação que pode transformar a vida de cada um.

Assim como a falta de cuidado com o meio ambiente tem levado ao aumento das catástrofes ambientais, a incapacidade da economia tradicional de compreender as transformações ocorridas nas relações de produção levou ao surgimento de pessoas denominadas de desnecessários. Os desnecessários são pessoas que não conseguem participar do sistema produtivo nem mesmo de forma marginal. Eles não têm acesso ao mínimo necessário para se prepararem para realizar seja o que for para o seu sustento. Muitos não são nem mesmo considerados existentes. Não têm registro de nascimento, nunca estudaram, não têm informações ou esperança de encontrar uma vida digna. Pessoas esquecidas pelo sistema.

Ao longo da história da civilização, o papel da ciência tem sido cada vez mais o de legitimar esse processo exploratório e destrutivo. Contudo, cresce e ganha força a discussão no meio cientifico de novos modelos, alternativos e, acima de tudo, comprometidos com a responsabilidade real da ciência diante do mundo que herdamos, assumindo o compromisso de resgatar uma vida digna para todos, inclusive para as próximas gerações.

Algumas propostas vêm sendo discutidas e têm ganhado força na medida em que mais pessoas levantam a voz para mostrar que precisamos mudar nossa relação com a natureza e com nossos semelhantes. Acima de tudo, percebemos que uma só ciência não é capaz de produzir todas as respostas. E começamos um novo aprendizado: trabalhar juntos, de forma complementar e interdisciplinar. Esse é o cerne da proposta do desenvolvimento sustentável.

O desenvolvimento que seja sustentável enseja valores como justiça social, segurança ambiental e viabilidade econômica com adequada distribuição de renda. Vamos além quando ressaltamos pontos essenciais: a Solidariedade (entre os seres no presente e entre gerações) e a Participação (todos são responsáveis). Tudo isso se traduz pelo que denominamos de Ética do Outro. Ou seja, precisamos perceber nossa condição humana a partir do diálogo e da percepção das necessidades e anseios de nossos semelhantes. Quando conseguimos nos perceber no Outro, começamos a nos perceber como espécie. O ato de cuidar do Outro se tona natural. O resultado é benéfico para todos. (CHACON, 2007)

Esse contexto exige a adaptação das ciências tradicionais como a economia, que deve buscar novas formas de lidar com os desafios impostos pela rápida mudança global ocorrida, especialmente no sentido de incluir verdadeiramente a todos. Dentre as ações propostas para essa transformação, a ciência econômica começa a perceber que pode ser uma aliada na solução de problemas ambientais e especialmente na inclusão social. Os cientistas que defendem essa premissa têm desenvolvidos modelos que mostram novas possibilidades, dentre os quais se destacam a economia solidária e as teorias sobre a importância do desenvolvimento local e do desenvolvimento humano pleno. No próximo item veremos como idéias alternativas podem se tornar transformadoras quando postas em prática sem preconceito.


2 COMBATE À EXCLUSÃO, PROMOÇÃO DA LIBERDADE, DESENVOLVIMENTO E PAZ

Aqui conheceremos as idéias de dois economistas que escolheram entender as relações humanas e descobrir formas de contribuir para a erradicação da miséria, da fome e da exploração dos seres humanos. Ambos ganharam o Prêmio Nobel por seu trabalho. Um ganhou o prêmio de Economia, o outro o prêmio da Paz. Os dois ajudaram a transformar o modo de pensar de muitos e conseguiram por em prática suas idéias, criando uma nova visão para a ciência econômica e para a forma de fazer políticas públicas. Os dois contribuem para o desenvolvimento, para a ampliação da liberdade e dos direitos humanos e para a Paz.

Quando o professor de economia de Havard, Amartya Sem, ganhou o Prêmio Nobel de Economia, em 1998, potencializou a corrida para combater a pobreza e a miséria no mundo. Em 30 anos, foi a primeira vez que o prêmio de economia escolheu um trabalho voltado para a questão do bem-estar social.

As pesquisas de Sen têm como foco buscar evidências que tragam um novo entendimento do mundo sobre fome e miséria. Ele foge do pensamento econômico tradicional, que diz que a falta de comida é a questão fundamental da fome. Para Sen essa é uma visão simplificada e limitadora. Em seus estudos sobre os países pobres da Ásia e da África, ele percebeu que a falta de alimentos durante as crises de fome não era maior que em outras épocas. O mais surpreendente foi constatar que havia alimentos! O problema era que eles não estavam acessíveis a todos, pois as pessoas que passavam fome não tinham dinheiro para comprar comida.

Assim, para Sen, a fome deve ser combatida com políticas econômicas que possam traduzir essa realidade e forneçam as condições para que as populações carentes tenham de fato acesso aos benefícios do crescimento. Que tenham acesso a uma melhor renda, que tenham poder de compra e condições reais de desenvolvimento humano.
Os líderes mundiais e as principais instituições internacionais começaram a perceber, a partir da notabilidade de Sen, que não seria possível o alcance do desenvolvimento sem que fossem construídos mecanismos eficazes e eficientes para o combate à fome, à pobreza e à exclusão. Ou seja, o bem-estar do ser humano deve ser prioridade, assim como a busca de soluções para acabar com a “globalização da pobreza”.

O que Sen defende é simples: as pessoas precisam retomar sua condição de agentes. Isso significa resgatar o direito à liberdade essencial, criar a possibilidade de ter acesso às condições de vida digna para todos, o que é um direito humano inalienável. Ele escreve:

O desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços públicos e intolerância ou interferência excessiva de Estados repressivos. (SEN, 2000:18)

A partir dessa nova orientação sobre o desenvolvimento, várias medidas efetivas foram postas em prática em todo o mundo, nas diferentes instâncias de poder. As Organizações das Nações Unidas – ONU, como órgão balizador das relações internacionais, tomou a frente desse processo e modificou a metodologia de cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, baseando-se nas recomendações de Amartya Sen. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD determinou que os anos de 2001 a 2010 seriam a Década de combate à pobreza e à fome. As suas pesquisas levaram à criação de novos índices para medir a pobreza, mais amplo e mais condizente com os aspectos primordiais dos direitos humanos. Diversos encontros foram promovidos pelo Banco Mundial em todo mundo, e seu Relatório Anual de 2000 dedicou-se totalmente ao “ataque à pobreza”.

Essas idéias de Amartya Sen contrariam a chamada economia ortodoxa, que vem dominando o processo de definição das políticas econômicas no mundo. Essa corrente privilegia o mercado, a competição, a exploração e a concentração de renda. Com a crise financeira mundial que explodiu em outubro de 2008 parece claro o definitivo fracasso dessa linha limitada de pensamento. As idéias de pensadores como Sen são mais uma vez evidenciadas, e mostram as alternativas a esse modelo, reforçando o pensamento econômico que se volta prioritariamente para o ser humano, e não apenas para as formas de obter mais lucro.

E no bojo das discussões e ações implementadas nessa nova perspectiva, alguns novos instrumentos de política econômica começaram a ser utilizados para a atenuação da pobreza. Dentre eles, o microcrédito, mecanismo de financiamento do empreendedorismo para os excluídos, foi um dos mais divulgados e implantados por todo o mundo em desenvolvimento.

E o criador do microcrédito, o economista Muhammad Yunus, de Bagladesh, foi o ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2006. Os organizadores do prêmio enfatizam assim uma premissa fundamental: não é possível haver paz sem que haja desenvolvimento, e não há desenvolvimento se persistir a pobreza, a fome e a exclusão.

A “história” do professor de economia da Universidade de Chitagong, em Bagladesh, Muhammad Yunus, é bem conhecida por quem trabalha com microcrédito. Vendo diariamente a miséria nas ruas de sua cidade, o prof. Yunus resolveu emprestar seu próprio dinheiro àquelas pessoas que não teriam nunca acesso ao sistema normal de crédito, e viviam, via de regra, na dependência de agiotas, que lhes tiravam quase tudo que conseguiam ganhar. Sua experiência começou com mulheres, que logo demonstraram que a idéia daria certo. Compraram mercadorias, revenderam-nas e pagaram o empréstimo, conseguindo assim dar o passo inicial para uma melhoria real de vida.

Como o sucesso obtido inicialmente, Yunus se entusiasmou, levando a idéia adiante para, em 1977, fundar o Grameen Bank. Yunus convenceu o Banco Central de Bagladesh a criar um banco que emprestaria dinheiro aos pobres, com condições especiais que lhes permitisse o acesso ao crédito.

Hoje o Grameen Bank possui um grande ativo, milhares de agências, milhões de acionistas, e atua em quatro continentes e dezenas de países, com o apoio da ONU e do Banco Mundial. O banco é a referência mundial na área de microcrédito, tendo se tornado uma enorme potência que não só ajuda no combate à pobreza, mas também dá lucro, pois a taxa de inadimplência é baixíssima, compensando as taxas de juros diferenciadas.

Os créditos são garantidos por um seguro, mas a razão apontada para a baixa inadimplência é o sistema criado para a concessão do crédito. Trata-se de um crédito solidário, ou seja, os tomadores de empréstimo, geralmente pessoas muito pobres que pegam valores entre US$ 50 e US$ 500, só podem efetuar o negócio com o aval de um grupo de tomadores, sendo os financiamentos concedidos a grupos solidários de 5 (cinco) pessoas, que se tornam automaticamente acionistas do banco. Esse grupo, que faz parte de um grupo maior garante o empréstimo como um todo. Assim, se um dentro do grupo não pagar, os demais são responsáveis pelo pagamento, e assim por diante.

Esse sistema tem dado tão certo que tem atraído atenção no mundo todo e até bancos comerciais de peso internacional começam a se interessar pela idéia. O fato é que o fruto do trabalho começado em Bagladesh é hoje o espelho para as ações mundiais de combate a pobreza e promoção do desenvolvimento. No Brasil não vem sendo diferente e várias experiências têm sido bem sucedidas por todo país.

O pioneirismo no Brasil se deu sob a orientação da rede de Centros de Apoio aos Pequenos Empreendedores – CEAPEs, que tinha como missão a melhoria da qualidade de vida pelo acesso ao crédito orientado, como estratégia de combate à pobreza sem assistencialismo, atuando com o microcrédito em quase todo o país. O CEAPE nasceu de um programa piloto do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) com a Acción International realizada pelo Rio Grande do Sul em 1986, através do Projeto de Apoio às Atividades Econômicas Informais de Mulheres e Famílias de Baixa Renda.

Outro órgão importante foi o Banco da Mulher, vinculado ao Women’s World Banking, e com apoio do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e da GTZ (Agência Alemã de Cooperação Técnica), que tem sede no Rio de Janeiro e tem como finalidade fazer crescer e apoiar a participação da mulher no mercado de trabalho. Percebe-se a grande importância de instituições internacionais nas primeiras iniciativas no Brasil. Hoje também se pode constatar a atuação dos órgãos governamentais, como BNDES, que conta com uma linha de crédito voltada especialmente para o microcrédito, e Banco do Nordeste, com o Crediamigo, além dos Governos Estaduais.

Mas o próprio Yunnus alerta sempre para o risco de transformar uma experiência vitoriosa em mais uma panacéia mundial. É importante destacar que o microcrédito é um instrumento de combate à pobreza e exclusão social que valoriza a capacidade de iniciativa na criação de condições de desenvolvimento de pequenos negócios, permitindo a plena inserção no mundo do trabalho, dando acima de tudo dignidade às pessoas e aumentando sua auto-estima.


CONCLUSÃO

Diante das lições de êxito de propostas não tradicionais como as apresentadas aqui, podemos perceber que é possível sim, conquistar uma forma alternativa de organização social e produtiva. Um modelo que privilegie a pessoa, a harmonia com a natureza e a Paz.

Para o alcance efetivo dessa proposta, alguns pontos essenciais devem ser destacados: o resgate da cultura é fundamental para despertar a auto-estima do povo; a ação com base nos territórios, no local é a forma de se contrapor à exclusão provocada pelo processo conhecido como “globalização”. Além disso, a economia precisa definir rapidamente novas formas de medir a riqueza, e novos indicadores de sustentabilidade e qualidade de vida precisam ser institucionalizados (educação; emprego; uso de novas fontes de energia; uso da água; biodiversidade; cultura; saúde; direitos humanos; segurança; lazer; moradia).

E, além disso, para que haja de fato desenvolvimento, liberdade e Paz, um conjunto de ações deve ser implementado para garantir isto. O papel do Estado é fundamental no sentido de viabilizar as condições necessárias para a efetiva eliminação da exclusão social, e não apenas para sua amenização. Os mecanismos emergenciais são necessários, mas não podem se transformar em um fim. A geração de riquezas e a sua adequada distribuição deve ser assim um dos objetivos das políticas públicas.
Resta destacar o papel preponderante da ciência econômica na construção de um novo paradigma mundial de desenvolvimento, como mostrado por Sen e Yunus. Esse paradigma vem se fortalecendo na medida em que promove a mudança efetiva e positiva na qualidade de vida da população mais carente, inserindo-a e garantindo as condições essenciais para a Paz.

Cabe ainda refletirmos sobre o que podemos fazer como espécie para reverter esse processo de autodestruição que nos auto-impingimos. Muitos já se mobilizam em busca de alternativas para que possamos viver em harmonia. É preciso perceber nossa responsabilidade com o nosso semelhante hoje e no futuro, e nos comprometermos com uma transformação real, para que todos se beneficiem. Garantir o acesso de todos à informação e a uma vida digna é o mínimo, e pode ser cobrado de governantes, mas a responsabilidade ética de mudar de atitude começa em cada um de nós.


BIBLIOGRAFIA

ARENDT, Hannah. A condição humana. 8a Ed. Revista. Tradução de Roberto Raposo. Prefácio de Celso Lafer. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.

CHACON, Wagner e CHACON, Suely Salgueiro. Capitalismo, globalização, hegemonização cultural e poder simbólico. Revista do Centro de Ciências Administrativas. Ano 5, No. 5. 125-142. Fortaleza: UNIFOR, 1998.

CHACON, Suely Salgueiro. O Sertanejo e o caminho da s águas: políticas públicas, modernidade e sustentabilidade no semi-árido. Fortaleza: BNB, 200. Série Teses e Dissertações. Vol. 8.

SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.

SEN, Amartya. Desigualdade reexaminada. Trad. Ricardo Doninelli Mendes. Rio de Janeiro: Record, 2001.

SEN, Amartya. Sobre ética e economia. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Cia. das Letras, 1999.

YUNUS, Muhammad e JOLIS, Alan. O banqueiro dos pobres. Trad. Maria Cristina Guimarães Cupertino. São Paulo: Atlas, 2000.

Câmara aprova projeto sobre mudança do clima

Iolando Lourenço, da Agência Brasil
28/10/2009 - 15:22:34

A Câmara dos Deputados aprovou há pouco projeto de lei que trata das políticas de mudanças climáticas. Os deputados aprovaram o texto apresentado pelo deputado Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), relator da proposta na comissão especial que analisou o projeto de autoria do deputado Sarney Filho (PV-MA).

O relator apresentou várias mudanças. Entre elas, a que estabelece que o governo terá que definir metas quantificáveis e verificáveis quanto à redução na emissão de gases do efeito estufa. O projeto segue agora à apreciação do Senado.

Outra mudança apresentada por Mendes Thame e aprovada pelos deputados determina como uma das linhas de atuação o uso de incentivos fiscais e tributários para estimular o consumo de produtos ambientalmente corretos. O relator estabeleceu também que os chamados créditos de carbono são títulos mobiliários negociáveis em bolsas de valores e de mercadorias e futuros.

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) disse que o projeto melhora a longo prazo as políticas climáticas do país. “O projeto visa a passar progressivamente o Brasil por uma sociedade de baixo carbono. Ele contém algumas orientações sobre mudança de frota do governo federal, sobre medidas que o governo deve tomar. Prevê também que temos de produzir até 25 % da energia de fontes renováveis. Enfim, tem uma série de boas sugestões que o Brasil pode aceitar e levar adiante.”

Segundo ele, o Legislativo queria ter uma posição sobre as políticas climáticas. “Essa será uma posição que o governo vai considerar quando estiver em Copenhague.” Gabeira disse que o Congresso melhorou o texto original. “Estamos agora com uma boa proposta para o momento. Precisamos avançar muito.”

(Agência Brasil)

Fonte: Mercado Ético
http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/camara-aprova-projeto-sobre-mudanca-do-clima/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=mercado-etico-hoje

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Florestas - Muito mais que depósitos de carbono

Marcela Valente, da Terramérica
26/10/2009 - 19:41:43



As florestas e selvas do mundo são muito mais do que instrumentos para armazenar carbono e abrandar o aquecimento global, alertaram especialistas e ativistas aos governos que negociam um pacto para enfrentar a mudança climática. As florestas abrigam dois terços da diversidade biológica da Terra, proporcionam serviços vitais de fornecimento de água e alimentos, e sustentam a identidade cultural e espiritual de 1,6 bilhão de pessoas, muitas delas de povos ancestrais que devem sobreviver em seus hábitat.

Esta parece ser a principal conclusão deixada pelo XIII Congresso Florestal Mundial, realizado de 18 a 23 deste mês em Buenos Aires, com a presença de mais de quatro mil pessoas, entre acadêmicos, empresários, funcionários governamentais e de organismos multilaterais, e dirigentes de um amplo leque de organizações não governamentais.

“O XIII Congresso vê preocupado o impacto da mudança climática nas florestas e fortemente enfatiza o importante papel que têm na mitigação da mudança climática e a necessidade de as pessoas e o ecossistema se adaptarem a esse desafio”, diz um documento que será apresentado em dezembro na XV Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que acontecerá em Copenhague. Organizado pelo governo da Argentina, com patrocínio da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o Congresso teve seu eixo principal no vínculo entre floresta e mudança climática, do qual surgiu este documento.

A questão foi tratada no Fórum de Florestas e Mudança Climática, onde foram expostas estratégias para reduzir a quantidade de gases causadores do efeito estufa oriundos do desmatamento e da degradação das áreas florestais. O acúmulo desses gases que chegam à atmosfera por diferentes atividades humanas está elevando a temperatura do planeta, segundo a ciência. Como os vegetais absorvem carbono na fotossíntese, as florestas e selvas constituem grandes depósitos deste gás, o principal entre os que provocam o efeito estufa. O corte de árvores e a redução de áreas de mata têm o efeito contrário.

Segundo a FAO, cerca de 13 milhões de hectares de florestas são cortados a cada ano no mundo, com efeitos nas emissões de gases, mas também com danos à biodiversidade e à vida de milhões de pessoas. As florestas não são apenas carbono acumulado, disse Peter Saile, do programa de política internacional de florestas da governamental Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ), expondo um conceito que foi integrado no documento final. “É muito importante ter uma perspectiva mais ampla sobre os serviços ambientais das florestas e os benefícios complementares que sua preservação tem para a biodiversidade e as pessoas que ali vivem”, explicou.

Por sua vez, Gerhard Dieterle, do programa de investimento florestal do Banco Mundial, disse que os negociadores de um pacto sobre o clima devem “colocar a mudança climática dentro de uma agenda mais ampla de desenvolvimento sustentável”. Segundo o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), quase 18% das emissões de dióxido de carbono provêm do desmatamento e da degradação de florestas, uma proporção equivalente à contaminação causada pelo sistema de transporte mundial em seu conjunto, ou os Estados Unidos em particular. No Fórum também houve vozes que insistiram na necessidade de um manejo sustentável dos ecossistemas florestais com apoio às comunidades que os habitam.

No final de setembro do ano passado, as Nações Unidas e o governo da Noruega apresentaram o programa-piloto Redução de Emissões Provocadas pelo Desmatamento e pela Degradação das Florestas (REDD), que se espera ganhe forma nas negociações de Copenhague. Trata-se de o mundo rico pagar aos países em desenvolvimento para que estes não cortem suas florestas, mas, faltando menos de dois meses para a reunião na capital dinamarquesa, persistem os debates sobre a implementação do sistema e de sua efetividade. Algumas organizações não governamentais suspeitam que poderia beneficiar apenas governos e empresas.

Em conversa com o Terramérica, Thais Linhares, diretora da Agência Florestal do Brasil, explicou que o país criou, no ano passado, o Fundo Amazônia, no contexto da iniciativa REDD, para que o Estado pague pelas emissões evitadas em razão do menor desmatamento nesta vasta região de selva tropical. “Nossa expectativa é que, em Copenhague, avancemos para uma definição maior, para que os países possam captar recursos de mercado” destinados a mitigar a mudança climática por meio do freio ao desmatamento, afirmou. “O fundo é nossa grande estratégia nacional REDD e apoiamos outros projetos” de menor escala, acrescentou.

Entretanto, nem todos concordam que esta iniciativa serve para a preservação das florestas. A ativista Ana Filippini, do secretariado internacional do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais, disse ao Terramérica que “é difícil estar contra a iniciativa REDD em si mesma”. Porém, esse mecanismo é impulsionado por governos e empresas que são os que, definitivamente, têm a capacidade de mostrar ou certificar que se absterão de explorar a floresta. “É difícil que, para receber dinheiro, uma comunidade indígena possa demonstrar que não vai destruir a floresta, como pede a REDD”, alertou.

“Os que defendem esta iniciativa querem, inclusive, que os indígenas participem, mas, se têm tanto interesse em preservar as florestas e a vida das comunidades, por que não o fizeram até agora?”, perguntou. Filippini também questionou que, entre as propostas de reflorestamento debatidas no contexto do Congresso Florestal Mundial, estejam incluídas as monoculturas industriais “que têm um impacto negativo comprovado no solo, na água e no agravamento da mudança climática. As plantações florestais não são florestas, são massas de árvores de uma única espécie”. Estes são aspectos cruciais na contagem regressiva para o encontro de Copenhague.

Roberto Acosta, representante da Secretaria da Convenção sobre Mudança Climática, argumentou que as florestas podem contribuir para reduzir as emissões aumentando a absorção de carbono, o que permitiria agir de forma “imediata” para evitar os “impactos catastróficos” da mudança climática. As florestas devem ser monitoradas adequadamente, admitiu, e devem ser gerados projetos para fortalecer a capacidade técnica e financeira dos países em desenvolvimento em matéria de preservação, com participação de comunidades locais, ponto que considera “vital” para uma estratégia de sucesso.

Por sua vez, o norueguês Trond Gabrielsen, da Iniciativa Internacional de Clima e Florestas, de seu país, disse que reduzir os gases oriundos do desmatamento “é a via mais rápida para deter em 25% as emissões nos próximos anos com o mais baixo custo”. Também afirmou que “precisamos incluir a iniciativa REDD no futuro regime climático”, que deverá estabelecer em Copenhague compromissos para depois de 2012, quando termina a vigência do primeiro período de obrigações estabelecidas no Protocolo de Kyoto.

* A autora é correspondente da IPS.
LINKS:
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
(Envolverde/Terramérica)
Fonte: Mercado Ético

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

AÇÕES CULTURAIS - Projeto dá oportunidade a jovens do semiárido

Os jovens desenvolvem diversas atividades em várias áreas, uma delas é a comunicação. Atualmente, eles estão finalizando um documentário sobre o beato José Lourenço (Foto: Antônio Vicelmo)

A padaria comunitária virou uma fonte de renda para os moradores de Ponta da Serra, no Crato (Foto: Antônio Vicelmo)

ONG Verde Vida desenvolve projeto social com jovens da zona rural do Crato e ganha apoio de entidade do exterior

Crato. O Nordeste seco, estorricado pelo sol causticante, é também o berço de ideias que florescem no meio do pedregulho. Assim é a catingueira, uma árvore que, apesar da adversidade, mantem-se viva no meio da Caatinga. O exemplo de resistência vem justamente do Sítio Catingueira, uma das áreas mais secas do Crato. Como a planta que se ergue altaneira, na terra árida, um grupo de jovens simples, pobres, filhos de agricultores, se destaca pela criatividade.

O Programa Ações Culturais para Povos Rurais, da ONG Verde Vida, com sede no Sítio Catingueira, foi indicado como semifinalista entre os 1.917 inscritos na oitava edição do Prêmio Itaú-Unicef 2009. A solenidade de premiação regional ocorreu no "Museu do Homem do Nordeste" em Recife, com a presença dos promotores do evento, avaliadores, integrantes das Comissões Técnicas Regionais e autoridades. O programa não conseguiu passar para a final, no entanto, para o presidente do "Verde Vida", Genivan Brasil, esta classificação abrirá portas para melhor interagir com outras instituições do gênero no País.

O projeto atende 150 crianças e adolescentes com faixa etária entre 5 e 17 anos, além do acompanhamento de 15 famílias e jovens que recebem apoio educacional. Na sede rural foram construídos uma quadra de esporte, parque infantil, refeitório e salas de aula. Tudo funciona em uma área de dois hectares, em meio a canteiros de frutas e verduras, uma pequena horta e criação de peixes ornamentais em tanques.

No Distrito de Ponta da Serra, funciona um núcleo equipado com computadores, ilha de edição, para a produção dos vídeos e suporte técnico das ações na área de comunicação. Quando a reportagem do Diário do Nordeste chegou ao local, os jovens estavam concluindo um vídeo sobre o Caldeirão do beato José Lourenço. O documentário faz parte do trabalho que é realizado na região com a finalidade de resgatar a cultura popular.

O coordenador do projeto, Marcos Antônio Xenofonte, lembra que "em 2004 estiveram na Alemanha quatro adolescentes que levaram um pouco da nossa cultura". Em 2007, foram convidadas 11 crianças e adolescentes do projeto para mais uma vez mostrarem os valores culturais, grandeza e a simplicidade de uma comunidade antes esquecida do sertão nordestino.

O "Verde Vida" recebe visitas de entidades sociais, poderes públicos e universidades, para pesquisas, estudos e intercâmbios, o que faz da ONG uma referência na ação com jovens no Cariri. Este projeto concorreu e foi selecionado em vários editais como Criança Esperança e Petrobras Cultural. Recebeu premiações como o Ponto de Mídia Livre pelo seu trabalho com comunicação e cultura.

História

Depois de trabalhar 10 anos com crianças de rua no Recife, o artista plástico Marcos Xenofonte voltou às origens, no Sítio Catingueira, a 30km do Crato, onde constatou que as crianças do local abandonavam a escola para trabalharem com os pais na roça, e as que permaneciam tinham baixo rendimento escolar. Não havia opções de lazer ou alternativas para o desenvolvimento das crianças na comunidade. Esta realidade o levou a ministrar oficinas de pinturas e artesanato para elas.

A experiência contou com 20 crianças, embora na comunidade existissem outras em condições de vulnerabilidade. Frequentar e obter boas notas na escola eram condições para participar do projeto. O convencimento das famílias não foi fácil. No começo houve resistências, que foram vencidas pelas próprias crianças que mostraram melhor desempenho na escola e elevação da autoestima. O projeto recebeu a visita da organização alemã Aktionskreis Pater Beda que passou a financiar as atividades já existentes e foram implantadas novas, como reforço escolar, capoeira, teatro, dança, coral, catequese, esporte, música e alimentação diária.

Parceiros institucionais foram surgindo como o Mesa Brasil do Serviço Social do Comércio (Sesc), unidade Crato, que doa alimentos com frequência, e a Prefeitura do Crato, por meio da Secretaria do Trabalho e da Ação Social, que repassa recursos por meio de convênio.

Hoje, o projeto se espalha por todo o município cratense, resgatando valores e mostrando para o mundo que em meio às inclemências do Nordeste seco e sem assistência, nascem também ideias criativas.

PADARIA COMUNITÁRIA
Intercâmbio oferece fonte de renda

Crato. Quem passa na estrada que liga Crato a Farias Brito, observa uma construção estilo europeu, que chama a atenção dos transeuntes. Ali funciona uma Padaria Comunitária, administrada por oito jovens, sob a orientação de um padeiro alemão. No momento, o instrutor é Chistian Cornilsen, um aposentado alemão, com 70 anos, que orienta a fabricação de pães, bolachas, biscoitos e bolos. O intercâmbio profissional tem objetivo, além de formar padeiros e padeiras para o mercado de trabalho, oferecer uma ocupação para alemães aposentados.

A iniciativa que segue os precipícios da economia solidária funciona como vitrine do projeto. A comunidade de Ponta da Serra está se habituando a comer produtos de farinha de trigo com receitas alemães. Estimulada com o sucesso da padaria, a coordenação do projeto já está pensando em agregar uma lanchonete que deve ser inaugurada até o fim do ano.

É um conceito diferente das tradicionais padarias da região, a começar pela automação. Seguindo o objetivo do projeto, em defesa da natureza, a padaria não utiliza lenha. Os fornos são alimentados com gás e energia elétrica. A cliente acompanha a fabricação dos alimentos por janelas de vidros. Os espaços são divididos com PVC.

A gerente da padaria, Marineide Alves, conhecida por "Duda", que já esteve na Alemanha e foi treinada em Salvador, Bahia, diz que a movimentação financeira está correspondendo à expectativa. Mas não é este o principal objetivo do projeto.

A prioridade, segundo afirma, é a formação de profissionais. "Muito mais importante do que o lucro é o capital humano. Os oito adolescentes que estão trabalhando na padaria vão sair daqui capacitados para trabalhar em qualquer panificadora", garante ela.

FIQUE POR DENTRO
Esporte e formação cultural são objetivos

O Projeto Verde Vida, dentro de sua programação pontual, há cinco anos oferece aulas de capoeira para os alunos da sede campestre no Sítio Catingueira. A partir de 2009, essa ação foi ampliada para a sede do distrito de Ponta da Serra. A ideia é oportunizar aos participantes, além da prática dos exercícios físicos propostos, informação dos fundamentos da manifestação esportiva e cultural, a história da influência da cultura ´afro´ na constituição da identidade. As aulas, que ocorrem semanalmente no Polo Edvardo Ribeiro e são ministradas pela professora Gabriela Rodrigues, já contam com dezenas de participantes da sede do distrito e de comunidades vizinhas. Jovens que passaram pelo projeto, hoje são profissionais pós-graduados e artesãos profissionais, universitários, absorvidos pelo mercado de trabalho e contribuindo para o desenvolvimento desta região.

Mais informações
Projeto Verde Vida - Ponta da Serra Crato: (88) 3521.6729
(85) 3523.9262
verdevidas@yahoo.com.br

ANTÔNIO VICELMO
REPÓRTER

Fonte: Jornal Diário do Nordeste. Caderno Regional. Fortaleza, 26 de outubro de 2009.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=683700

Frente Municipalista debate sobre lixo, saneamento e água

Lixão de iguatu, problema comum em várias cidades. A Frente sugeriu a criação de consórcios públicos (Foto: Honório Barbosa)

A Frente Municipalista inclui cidades das regiões Centro-Sul e Inhamuns. São várias cidades que participam da entidade

Várzea Alegre. Saneamento básico, formação de consórcios entre municípios para destino de resíduos sólidos e abastecimento de água. Esses são três assuntos que dominam o debate na Frente Municipalista Sul do Ceará. Mobilizados em reuniões mensais, prefeitos, secretários de Estado e representantes de instituições federais discutem temas de interesse comum e procuram em conjunto soluções para os principais problemas que afetam as cidades.

A maioria das cidades não dispõe de aterros sanitários e os lixões quase sempre são instalados nas margens de rodovias estaduais, agredindo o meio ambiente. O saneamento básico cobre apenas 15% das cidades das regiões do Cariri e Centro-Sul, enquanto o serviço de abastecimento de água chega a 60% nessas duas regiões, segundo dados divulgados pela Frente. Os esgotos sem tratamento escorrem para rios, açudes públicos e lagoas, causando sérios problemas ambientais.

O municipalismo avança na região Sul do Ceará. A Frente inclui cidades das regiões Centro-Sul e Inhamuns. São 43 municípios que participam da entidade, criada em junho passado. A ideia vem dando certo. "A cada reunião trazemos temas de interesse coletivo", explicou o presidente da Frente, prefeito de Várzea Alegre, Zé Hélder Máximo. "Os debates são esclarecedores e há orientações e encaminhamentos para os prefeitos".

Uma das ideias apresentadas e discutidas para solucionar o antigo problema dos lixões é a formação de consórcios públicos entre municípios vizinhos. O tema foi abordado pelo secretário estadual das Cidades, Joaquim Cartaxo, e deve fazer parte dos debates nos próximos encontros da entidade. "A Frente cria um outro patamar de discussão e faz com que problemas comuns sejam discutidos de forma coletiva. A formação de consórcios públicos pode equacionar vários problemas".

Ele mostrou ainda que os investimentos do Estado nos municípios dependem da capacidade de organização e de apresentação de projetos. "Quando isso acontece, as cidades recebem recursos. Sem dúvida, os programas coletivos que envolvem vários municípios em busca de soluções comuns serão apoiados".

No mais recente encontro, realizado no Teatro Municipal Salviano Arraes Saraiva, na cidade do Crato, a questão ambiental relacionada com o destino do lixo, saneamento e abastecimento de água para comunidades rurais foram debatidos e passaram a compor a pauta de prioridade da Frente. Participaram 34 municípios.

O presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Danilo Forte, mostrou preocupação com a falta de tratamento para os esgotos que contaminam o meio ambiente em face das obras de transposição do Rio São Francisco. "Nosso esforço é implantar obras de saneamento em todos os municípios que receberão as águas da transposição. Não adianta essa água chegar aqui com qualidade e ser contaminada por água servida, por falta de esgotamento".

Qualidade de água

Danilo Forte disse que o projeto de transposição prevê o fornecimento de água de qualidade. "Infelizmente, do jeito que está a situação nos traz preocupação". A política de saneamento prevê o atendimento aos municípios que são banhados por rios que receberão as águas do São Francisco. No Ceará, são os rios Salgado e Jaguaribe e reabastecimento do Açude Castanhão.

Apesar de obras realizadas nos últimos anos, por meio do Projeto São José e de outros programas sociais, ainda há centenas de comunidades rurais desprovidas de sistema de abastecimento de água tratada. Muitas comunidades ainda dependem de carro-pipa e da retirada de água em poços e açudes. Nesses casos não há tratamento e a água é de baixa qualidade.

Outra tema abordado foi a construção de moradias populares, pelo o Programa de Habitação de Interesse Social.

Mais informações
Frente Sul Municipalista
Várzea Alegre
(88) 3541. 1864
e-mail: frentesulceara@hotmail.com

HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER

Fonte; Jornal Diário do Nordeste. Caderno Regional. Fortaleza, 26 de outubro de 2009.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=683708

domingo, 25 de outubro de 2009

Saiba o que fazer com o lixo doméstico


O Brasil produz, atualmente, cerca de 228,4 mil toneladas de lixo por dia, segundo a última pesquisa de saneamento básico consolidada pelo IBGE, em 2000. O chamado lixo domiciliar equivale a pouco mais da metade desse volume, ou 125 mil toneladas diárias.

Do total de resíduos descartados em residências e indústrias, apenas 4.300 toneladas, ou aproximadamente 2% do total, são destinadas à coleta seletiva. Quase 50 mil toneladas de resíduos são despejados todos os dias em lixões a céu aberto, o que representa um risco à saúde e ao ambiente.

Mudar esse cenário envolve a redução de padrões sociais de consumo, a reutilização dos materiais e a reciclagem, conforme a "Regra dos Três Erres" preconizada pelos ambientalistas.

A idéia é diminuir o volume de lixo de difícil decomposição, como vidro e plástico, evitar a poluição do ar e da água, otimizar recursos e aumentar a vida útil dos aterros.

Tempo de decomposição dos resíduos


Coleta Seletiva

Veja abaixo quais os tipos de lixo que podem ser reciclados:

Fonte: Instituto Akatu

Caso não haja coleta seletiva em seu bairro ou condomínio, procure as cooperativas de catadores e os Postos de Entrega Voluntária (PEVs).

O Grupo Pão de Açúcar também possui pontos de coleta nos supermercados em todo o país. A iniciativa está sendo ampliada para outras bandeiras do grupo, como a rede Extra.

Outros locais que recebem lixo reciclável em algumas capitais brasileiras


DESCARTAR

Lâmpadas Fluorescentes

Apesar de economizar energia, as lâmpadas fluorescentes contêm metais pesados. Enquanto estão intactas, elas não oferecem risco durante o manuseio. Contudo, quando rompidas, liberam vapor de mercúrio, que é absorvido principalmente pelos pulmões, causando intoxicação. Dependendo da temperatura do ambiente, o vapor pode permanecer no ar por até três semanas. Por isso, é recomendável que as lâmpadas sejam armazenadas em local seco, dentro das embalagens originais, protegidas contra eventuais choques.

No contato com lâmpadas quebradas, é necessário o uso de avental, luvas e botas plásticas. Os cacos devem ser coletados com cuidado, para evitar ferimentos, e colocados em embalagem lacrada.

No Brasil, são usadas cerca de três lâmpadas fluorescentes por habitante a cada ano. Isso significa que cerca de 80 milhões de lâmpadas fluorescentes são descartadas no mesmo período, o que equivale a aproximadamente 1.600 kg de mercúrio.

As lâmpadas fluorescentes devem ser separadas do lixo orgânico e dos materiais tradicionalmente recicláveis, como vidro, papel e plásticos. Se o destino dessas lâmpadas for o aterramento, o mercúrio se infiltrará no solo, atingindo mananciais e a cadeia alimentar humana.

Veja alguns endereços de empresas que reciclam lâmpadas fluorescentes

Pilhas e baterias

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) classifica como lixo perigoso as pilhas e as baterias que apresentem, em suas composições, substâncias tóxicas como mercúrio, chumbo e cádmio, pois podem contaminar o solo e a água, além de, em contato com o homem, causar dano ao cérebro, rins e pulmões.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) determina que esses produtos sejam entregues pelos usuários aos estabelecimentos que os comercializam.
O Conama também estabeleceu limites nos níveis de metais para a fabricação, importação e comercialização de pilhas e baterias. Por isso, os fabricantes nacionais reduziram a carga poluente de alguns produtos, permitindo seu descarte no lixo comum.

- Não podem ser descartadas no lixo comum: baterias com níquel cádmio utilizadas em celulares, telefones sem fio e outros aparelhos com sistemas recarregáveis; baterias de chumbo ácido usadas em algumas filmadoras de modelo antigo e em veículos; e pilhas de óxido de mercúrio, usadas em instrumentos de navegação e aparelhos de instrumentação e controle.

- Podem ser descartadas no lixo comum: pilhas secas (dos tipos zinco-manganês ou alcalina-manganês), utilizadas em aparelhos como máquinas fotográficas, rádios, brinquedos, entre outros; e pilhas e baterias portáteis (tipo lithium, lithium ion, zinco-ar, niquel metal, hidreto, pilhas e baterias botão ou miniatura), encontradas em jogos, brinquedos, ferramentas elétricas portáteis, informática, lanternas, equipamentos fotográficos, rádios, aparelhos de som, relógios, agendas eletrônicas, barbeadores, instrumentos de medição, de aferição e equipamentos médicos.

Anualmente são vendidas cerca de 800 milhões de baterias e pilhas no Brasil. Se um milhão de consumidores conscientes derem a elas o tratamento de descarte adequado, 30 milhões de pilhas serão desviados dos lixões e aterros.

Medicamentos

Deixe os remédios que estiverem fora de prazo em drogarias e farmácias (inclusive as de manipulação), e entregue restos de medicamentos que ainda podem ser utilizados nos Centros de Saúde. Esses locais estão obrigados a atender à Resolução nº 358, de 29 de abril de 2005, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde
Óleo de cozinha

A simples atitude de não jogar o óleo de cozinha usado direto no lixo ou no ralo da pia também pode contribuir para diminuir o aquecimento global, pois sua decomposição emite metano, um dos principais gases que causam o efeito estufa.

O óleo deve ser acondicionado em sacos plásticos ou em uma garrafa PET e encaminhado a empresas que o transformam em produto de limpeza ou biodiesel. O material também pode ser levado para Organizações Não-Governamentais, que o encaminham para as empresas.

Algumas lojas do Pão de Açúcar na Região Metropolitana de São Paulo também passaram a receber óleo de cozinha (a lista está disponível no site http://www.grupopaodeacucar.com.br/).

O óleo também pode ser utilizado, pelo próprio consumidor, para se fazer sabão. Confira a receita:

Ingredientes:

• 5 litros de óleo de cozinha usado
• 200 mililitros de amaciante
• 2 litros de água
• 1 quilo de soda cáustica em escama

Modo de preparo:

Com cuidado, ponha a soda em escamas no fundo de um balde plástico. Depois, adicione a água fervendo e mexa até diluir a soda. Acrescente o óleo e continue mexendo. Misture bem o amaciante. Jogue a mistura em uma forma. No dia seguinte, cortar as barras de sabão.

Consumo Consciente

Algumas atitudes simples podem fazer a diferença no volume de lixo produzido. Além de preservar o ambiente, mudar certos padrões de consumo também traz benefícios para o seu bolso.

Eletrodomésticos e eletrônicos

Ao substituir computadores, eletrodomésticos e celulares, lembre-se que conhecidos, instituições de ensino, ONGs e bazares beneficentes podem se beneficiar desse material.

Saiba para onde enviar PCs e celulares antigos

Lixo orgânico

Se você tem plantas em casa, transforme o lixo orgânico em adubo. Acomode o resto de comida em um recipiente, revolva e umedeça o material e adicione serragem ou folhas secas. O adubo é obtido após dois ou três meses. Se houver cheiro desagradável por causa da decomposição, jogue cal, que corrige o processo de acidificação. Caso você more em apartamento e por isso não tenha espaço para colocar o recipiente, reúna-se com seus vizinhos e monte, com eles, uma composteira na parte externa do prédio.

Papel

Prefira usar papel reciclado. Cada brasileiro gasta, em média, duas árvores com o papel que utiliza anualmente. Se esse papel fosse reutilizado ou enviado para reciclagem, a cada ano, uma árvore e meia seria poupada. Também seriam economizados 2.000 litros de água e 120 litros de petróleo. Caso 10 milhões de brasileiros fizessem o mesmo, 15 milhões de árvores seriam poupadas, além de uma quantidade de água suficiente para abastecer uma cidade com 200 mil habitantes e 1,2 bilhão de litros de petróleo.

Tinta para impressão

Cada cartucho de tinta requer o uso de cinco litros de petróleo em sua fabricação e demora cerca de 50 anos para se degradar na natureza. Por isso, vale a pena usar cartuchos reciclados.

Embalagens

Ao comprar produtos não-perecíveis, dê preferência às embalagens maiores ou a granel, assim como às linhas que contam com refil. E lembre-se que sempre é possível fazer novo uso de embalagens PET e frascos de vidro, antes de descartá-los.
No futuro, os chamados bioplásticos – plásticos obtidos a partir da cana-de-açúcar e de outras substâncias de origem vegetal – deverão substituir as embalagens existentes. Eles possuem a vantagem de ser provenientes de fontes renováveis. Enquanto isso não ocorre, trocar os sacos de plástico pelos de papel é uma opção.

Desodorante pessoal e de ambiente

O mercado ainda fabrica alguns desodorantes em aerossol que emitem clorofluorcarbono – CFC – um gás que destrói a camada de ozônio (responsável pela filtragem de raios solares nocivos à saúde, como o ultravioleta). Portanto, repare se o rótulo contém a frase “sem CFC”.

Detergente

Utilize sempre produtos de limpeza biodegradáveis, ou seja, que podem ser destruídos pelos microorganismos existentes na água. Ao adquirir produtos químicos, verifique se a embalagem é reciclável e se o rótulo possui informações sobre a composição química e o fabricante. Evite produtos com cloro, formaldeído e solventes derivados de petróleo (tricloroetileno, metileno, benzeno, nitro-benzeno etc), que podem poluir o solo, o ar e a água.

Grande parte dos detergentes disponíveis no mercado também possui fosfatos em sua formulação, substâncias que, ao atingir rios e lagos, levam ao crescimento exagerado de algas que consomem o oxigênio da água. Aos poucos, os fosfatos vêm sendo substituídos por carbonato e silicato de sódio, menos nocivos ao ambiente.
Uma alternativa ecológica ao detergente é usar o sabão em pedra dissolvido previamente em água quente. O produto é atóxico, fabricado a partir de matérias-primas renováveis (óleos e gorduras) e biodegradável.

Receita de detergente ecológico


Água sanitária

A água sanitária é composta de cloro, substância que ameaça animais e microorganismos presentes no solo e nos rios, onde é despejada. Procure trocar o produto pelo vinagre (que ajuda a desengordurar) e bicarbonato de sódio. Se o objetivo for branquear suas roupas, deixe-as ensaboadas com sabão de coco no sol, ou coloque-as de molho na água com meio copo de bórax (substância atóxica encontrada em farmácias).

Sabão em pó

Quanto maior o efeito branqueador do sabão em pó, maior o dano à natureza. Também possui fósforo em sua composição, para neutralizar o cálcio e o magnésio e melhorar a sua eficiência. Prefira o sabão em pó de coco, ou as marcas que não contêm fosfatos.

Desinfetante

A maioria dos desinfetantes tem efeito tóxico para o meio ambiente. Você pode fazer um produto natural para limpar seu banheiro.




Consultoria: Nélio Bizzo, mestre em biologia e doutor em educação, professor da Faculdade de Educação da USP, Pesquisador do CNPq e autor de livros e artigos científicos

Reportagem: Página 3 Pedagogia & Comunicação e UOL Ciência e Saúde

FONTE: UOL Ciência
http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ambiente/lixo/consumo.jhtm

sábado, 24 de outubro de 2009

Conferência da Terra - 2010


INSA - Semana Nacional de Ciência e Tecnologia


Mudanças Climáticas, Migracões e Saúde: cenários para o Nordeste, 2000-2050


Em novembro de 2008 durante a Conferência Regional sobre Mudanças Climáticas e o Nordeste, a CEDEPLAR/UFMG e a FIOCRUZ, lançaram o estudo: "Mudanças Climáticas, Migracões e Saúde: cenários para o Nordeste, 2000-2050". O principal objetivo da pesquisa é mapear algumas das conseqüências socioeconômicas das mudanças climáticas sobre a região Nordeste do país. Um dos pontos centrais do estudo é identificar, a partir de uma escala temporal que vai até 2050, como o novo clima poderá influenciar o movimento migratório das populações nordestinas. A região nordeste é uma das mais afetadas pelas mudanças climáticas. Abaixo o link para acesso ao arquivo digital da publicação.

http://www.cedeplar.ufmg.br/pesquisas/migracoes_saude/MIGRACAO_E_SAUDE_NORDESTE.pdf

Para mais informações sobre o projeto também é possível acessar o link abaixo:

http://www.cedeplar.ufmg.br/pesquisas/projetos-concluidos/migracoes-e-saude.php


A Embaixada do Reino Unido apoiou a pesquisa.

Gabriela Góes
Consultant

Climate Change Communication Programme
British Embassy, Brasilia
Tel + 55 61 3329 2392 (FTN 8455 2392)
Fax + 55 61 3329 2369 (FTN 8455 2369)

www.ukinbrazil.fco.gov.uk
Visit our blogs at http://blogs.fco.gov.uk

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Mudanças Climáticas - Aumenta a onda de refugiados ambientais

Lester Brown*

23/10/2009 - 15:36:36

A civilização do início do século XXI está encurralada entre o avanço dos desertos e a elevação do nível do mar. Se considerarmos a superfície de terras biologicamente produtivas habitáveis por comunidades humanas, a Terra está encolhendo. O aumento da densidade demográfica, antes causada apenas pelo crescimento da população, agora também é alimentado pelo implacável avanço dos desertos, e logo poderá ser afetado pelo aumento previsto do nível do mar. Na medida em que a extração excessiva esgota as reservas aquíferas, milhões mais se veem forçados a se reassentar em busca de água.

A expansão do deserto na África subsaariana, principalmente nos países do Sahel, causa o deslocamento de milhões de pessoas, obrigando-as a seguirem para o sul ou emigrarem para a África do norte. Já em 2006, uma conferência da Organização das Nações Unidas sobre desertificação realizada em Túnis estimou que para 2020 até 60 milhões de pessoas poderão emigrar da África subsaariana para a África setentrional e a Europa. Este fluxo está em curso há muitos anos.

Em meados de outubro de 2003, as autoridades da Itália descobriram um barco que se dirigia a esse país transportando refugiados procedentes da África. A embarcação esteve à deriva mais de duas semanas, ficou sem combustível, alimentos e água. Muitos dos passageiros morreram. No começo, os cadáveres foram jogados na água. Mas, após algum tempo, os sobreviventes ficaram sem forças para levantar os corpos. Deste modo, vivos e mortos compartilharam o bote. Um socorrista descreveu o que viu como “uma cena do inferno de Dante” Alighieri.

Acredita-se que os refugiados eram somalianos embarcados na Líbia. Mas os sobreviventes não revelaram seu país de origem para não serem enviados de volta. Ignora-se se eram refugiados políticos, econômicos ou ambientais. Estados falidos como a Somália expulsão sua população por causa desses três fatores. Ali há um desastre ecológico, com excesso de população, excesso de pastoreio e, como consequência, uma desertificação que destrói sua economia pastoril. Talvez o maior fluxo de emigrantes somalianos se dirija para o Iêmen, outro Estado falido. Estima-se que em2008 foram 50 mil os migrantes e solicitantes de asilo que chegaram a esse país, 70% mais do que em 2007.

E durante os primeiros três meses de 2009, o fluxo migratório foi até 30% superior ao de igual período do ano passado. Estes números simplesmente se somam às pressões já insustentáveis sobre a terra e os recursos hídricos do Iêmen, acelerando seu declive. No dia 30 de abril de 2006, um homem que pescava nas águas de Barbados descobriu um bote à deriva com os cadáveres de 11 homens jovens “Praticamente mumificados” pelo sol e pelo sal do oceano Atlântico.

Ao aproximar-se o fim, um passageiro deixou um bilhete entre os corpos: “Gostaria de enviar dinheiro para minha família em Basada (Senegal). Por favor, me perdoem e adeus”. Aparentemente, seu autor integrava um grupo de 52 pessoas que partiram desse país africano às vésperas do Natal em um bote com destino às ilhas Canárias, ponto usado como trampolim para a Europa. Devem ter viajado cerca de 3.200 quilômetros. A travessia terminou no mar do Caribe. Este barco não foi o único, durante o primeiro fim de semana de setembro de 2006, a polícia interceptou botes da Mauritânia com quase 1.200 pessoas a bordo.

Para muitos moradores de países da América Central, incluídos Honduras, Guatemala, Nicarágua e El Salvador, o México costuma ser a porta de entrada para os Estados Unidos. Em 2008, as autoridades mexicanas de imigração registraram 39 mil detenções e 89 mil deportações. Na cidade de Tapachula, na fronteira entre Guatemala e México, homens jovens em busca de trabalho esperam ao longo das vias férreas um lento trem de carga que atravessa a cidade em sua rota para o norte. Alguns conseguem subir, outros não.

O abrigo Jesús, o Bom Pastor abriga 25 amputados que perderam o equilíbrio e caíram sob um trem quando tentavam abordá-lo. Para esses jovens, “este é o fim de seu sonho americano”, disse a diretora do abrigo, Olga Sánchez Martinez. Outra voluntária dessa instituição, Flor Maria Rigoni, qualificou os emigrantes que tentam subir nos três de “kamikazes da pobreza”. Hoje é comum encontrar cadáveres nos litorais de Itália, Espanha e Turquia. São cadáveres de migrantes desesperados.

A cada dia, muitos mexicanos arriscam a vida no deserto do Arizona, tentando conseguir trabalho nos Estados Unidos. Em média, cerca de cem mil, ou mais, abandonam anualmente suas áreas rurais, onde aram terras muito pequenas ou muito afetadas pela erosão para que possam obter seu sustento. Dirigem-se a cidades mexicanas ou tentam cruzar ilegalmente a fronteira para os Estados Unidos. Muitos dos que tentam atravessar o deserto do Arizona morrem sob o sol abrasador. Desde 2001, a cada ano são encontrados, em média, 200 cadáveres ao longo da fronteira do Estado do Arizona.

Com a vasta maioria dos 2,4 bilhões de pessoas que se somarão ao mundo até 2050 nascendo em países onde os lençóis freáticos já estão diminuindo, é provável que os refugiados hídricos se tornem um fenômeno comum. Serão encontrados mais comumente em regiões áridas e semi-áridas, cuja população esgota o fornecimento de água e afunda na pobreza hidrológica. As aldeias do noroeste da Índia são abandonadas na medida em que esses lençóis de água se esgotam e a população já não tem como se abastecer. Milhões de moradores do norte e do ocidente da China e de certas áreas do México podem ter de se deslocar devido à falta desse líquido.

O avanço dos desertos encurrala as populações em expansão em uma área geográfica menor do que nunca. Nos anos 30, as tempestades de areia deslocaram três milhões de pessoas nos Estados Unidos. Agora, o deserto que avança nas províncias chinesas afetadas por um fenômeno semelhante pode expulsar dezenas de milhões. A África também sofre este problema. O deserto do Saara empurra as populações de Marrocos, Túnis e Argélia para o norte, em direção ao mar Mediterrâneo. Em um esforço desesperado para adaptar a agricultura à seca e à desertificação, o Marrocos reestrutura o setor com base em estudos geográficos, substituindo os cultivos de cereais por vinhas e hortas que usam menos água.

No Irã, as aldeias despovoadas por culpa do avanço dos desertos ou pela falta de água já são milhares. Nas proximidades de Damavand, pequeno povoado a uma hora de carro de Teerã, 88 aldeias foram abandonadas. E na medida em que o deserto se apodera do território da Nigéria, os produtores agropecuários se veem obrigados a se mudar, apertados em uma área cada vez menor de terra produtiva. Os refugiados devido à desertificação costumam acabar em cidades, e muitos em assentamentos ilegais. Outros emigram.

Na América Latina, os desertos se expandem e obrigam as pessoas a se instalar no Brasil e no México. O fenômeno no Brasil afeta 66 milhões de hectares de terras, em boa parte concentradas no noroeste do país. No México, com uma cota muito maior de terras áridas e semi-áridas, a degradação da terra agrícola agora se estende a 59 milhões de hectares. A expansão do deserto e a escassez de água causam o deslocamento de milhões de pessoas, mas a elevação dos mares promete expulsar muitas mais no futuro, devido à concentração da população mundial em cidades costeiras e em deltas de rios onde se cultiva arroz.

Os números podem chegar a centenas de milhões, oferecendo outra poderosa razão para estabilizar tanto o clima quanto a população. No final, a dúvida que desperta a elevação do nível do mar é se os governos são suficientemente fortes para suportar a pressão política e econômica de reassentar contingentes de população na medida em que os países sofrem fortes perdas de casas e fábricas no litoral. A opção parece simples: reverter estes problemas ou deixar-se superar por eles. IPS/Envolverde

* Lester R. Brown é fundador do Earth Policy Institute. Este artigo é uma adaptação do Capitulo 2 de seu livro “Plan B 4.0: Mobilizing to save civilization” (Plano B 4.0: Mobilizando-se para salvar a civilização), Nova York: W.W. Norton & Company 2009, desnível no site www.earthpolicy.org/index.php?/books/pb.

(Envolverde/IPS)

Fonte: Mercado Ético

DNOCS - PROGRAMAÇÃO DE CENTENÁRIO

22/10/2009

Recursos federais destinados ao Dnocs aumentam 48%
Referência na política de sustentabilidade do semiárido, o Dnocs chega ao centenário com balanço positivo


Autoridades FEDERAIS, do Estado e dos municípios participaram da solenidade que marcou o centenário (Foto: SILVANA TARELHO)

AÇUDE CASTANHÃO destaca-se como uma das principais obras nos recursos hídricos no semiárido (Foto: A. CAPIBARIBE NETO)


Fortaleza. Durante as comemorações realizadas ontem, no auditório do Banco do Nordeste - Passaré (BNB), em alusão ao centenário do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), o diretor do Banco do BNB, Luis Carlos Everton de Farias, anunciou os investimentos em parceria com a instituição. Para o próximo ano, o banco vai disponibilizar R$ 4 bilhões e o valor torna-se como uma "obrigação" de ser aplicada para desenvolver e estimular os projetos de convivência com o semiárido brasileiro.

Além de ter feito o anúncio para 2010, Luiz Carlos Farias ressaltou que aumentaram os investimentos neste setor. Só em 2008, o BNB já disponibilizou, junto ao Dnocs, R$ 2,7 bilhões. Para este ano, o consolidado é de R$ 3,7 bilhões. Um aumento estimado em 48% a mais de investimentos. "O BNB é obrigado a aplicar os recursos para melhorar a condição de vida no semiárido. A instituição está de parabéns por tudo o que fez nos 100 anos e ainda vai fazer relacionado aos recursos hídricos nos Estados atendidos", disse o diretor do BNB.

Para o diretor do Dnocs, Elias Fernandes Neto, o centenário da instituição é o resultado das ações empreendidas para promover a sustentabilidade no semiárido brasileiro. Conforme destacou, essas ações tornam-se o meio indutor de desenvolvimento para as unidades das federações beneficiadas com as obras de construção de açudes, barragens, perímetros irrigados, além de outros projetos realizadas como consequência da melhoria dos recursos hídricos.

Um dos principais exemplos citados por Elias, durante seu pronunciamento no auditório do BNB, foi o destaque para as chamadas "grandes obras" idealizadas pelo Dnocs, muito antes de a instituição completar 100 anos, como é o caso do Açude Castanhão, considerado o maior reservatório para múltiplos usos no País.

"As ações do Dnocs nos nove Estados do Nordeste e mais em Minas Gerais redesenharam a economia de cada um, fortalecendo o semiárido para que as famílias tenham condições de se manter em suas cidades sem se preocupar com a problemática da falta d´água e não precisar mais de carro-pipa.

Mesmo sabendo da importância da instituição, embora tenha corrido o risco de tornar-se extinta, Fernandes ressaltou que ainda há muitos desafios a serem cumpridos e que é preciso "melhorar" o equipamento. De acordo com o diretor, os avanços estão relacionados às melhorias do quadro de funcionários, estrutura física do prédio - que já foi reformado - e, principalmente, a manutenção da qualidade e do controle da água pelo Dnocs no Interior.

Inaugurações

"O Governo do Estado também tem dado apoio para que novas obras sejam realizadas, como é o caso do Açude Taquara, que será inaugurado até o fim desse ano; e o Açude Figueiredo, com previsão para ser concluído até agosto do próximo ano", diz Elias Fernandes.

Para Celso Veiga, que já passou pela diretoria geral do Dnocs e hoje ocupa a presidência do Instituto de Gestão das Águas, no Rio Grande do Norte, a instituição tem uma importância principalmente pela experiência que adquiriu na gestão de recursos hídricos, como meio para promover a sustentabilidade das regiões do semiárido brasileiro e do povo nordestino, especificamente. "E essa importância também se reflete no controle e na qualidade da água para essa região".

Durante a programação do centenário, foram lançados o Atlas dos Perímetros Irrigados, o Atlas da Piscicultura e o Atlas das Barragens, além da edição especial da revista Conviver, sobre a trajetória do Dnocs nos seus 100 anos de existência, que deve ser publicada e distribuída na próxima semana. Foi apresentado, também, pelo Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o trabalho de restauração da Flora Brasiliensis, que reúne textos informativos e gravuras detalhadas sobre mais de vinte mil espécies da fauna nativa.

O encerramento da solenidade foi feito pelo ministro da Previdência Social, José Pimentel. Em breve discurso, destacou e definiu que o Dnocs é, certamente, "uma indústria de fazer água na região Nordeste".

O QUE ELES PENSAM
Nordeste e Dnocs têm história comum

Atualmente, olhamos para o Nordeste como área irrigada e em constante processo de desenvolvimento. Com as obras realizadas ao longo desses 100 anos de atuação do Dnocs, todos os Estados melhoraram a qualidade da água e têm a possibilidade de melhorar ainda mais o PIB de cada um, com os investimentos que são feitos na região.
Elias Fernandes
Diretor Geral do Dnocs

A história do Dnocs se confunde com a do próprio Nordeste. O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas teve o papel importante para a qualidade e o controle da água na região e, como a sede da instituição se encontra no Ceará, o Estado foi um dos mais beneficiados. Da quase totalidade da reserva de água na região, o Estado do Ceará detém mais da metade.
Eudoro Santana
Ex-diretor geral do Dnocs

O Dnocs, em relação à Bahia, tem uma importância para a construção de barragens e aproveitamento e controle da água para o Estado. Mas temos o desafio de modernizar a instituição, com a contratação de novos funcionários, estar revitalizado para projetar o Nordeste como realmente precisa.
Osanah Rodrigues Setúval
Coordenador Estadual do Dnocs (BA)

Acompanho a atuação do Dnocs desde quando ainda estava na Faculdade de Agronomia e fui convidado para estagiar na Piscicultura. Hoje, percebo o esforço que o Dnocs fez para melhorar a condição de vida no semiárido. Como também vi o esforço da instituição para evitar sua extinção, como queriam nos últimos 50 anos.
Ari Gadelha Alencar Araripe
Ex-diretor geral do Dnocs (1974)

Mais informações:
Dnocs
Av. Duque de Caxias. 1.700, Centro
Fortaleza (CE)
www.dnocs.gov.br

RECURSOS HÍDRICOS

Interligação de bacias é destacada piscicultura

Fortaleza. Um dos destaques apontados pelo diretor geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Elias Fernandes, estão relacionados aos projetos desenvolvidos pela instituição em diversas áreas da região Nordeste, como a interligação do Rio São Francisco às Bacias do Nordeste Setentrional. Além disso, Elias Fernandes destacou a produção de tilápia e, mais precisamente, o Estado do Ceará como o maior produtor desse peixe no País. Estiveram presentes ao evento, os coordenadores estaduais do Dnocs da Paraíba, Piauí, Minas Gerais e Bahia.

"O que é produzido de peixe pelo Dnocs transforma-se em símbolo da piscicultura no País", diz Fernandes. Só no Centro de Pesquisa em Aquicultura Rodolpho Von Ihering, no município de Pentecoste (CE) podem ser produzidas 100 mil larvas por dia, o que garante peixe para o consumo humano, para as pesquisas e para o povoamento de lagoas, rios e açudes.

Outro destaque do Centro de Pesquisa é a hipofisação, que consiste na reprodução artificial de alevinos, cuja técnica é genuinamente nordestina e garante milhares de peixes de várias espécies. O trabalho do Centro de Pesquisa de Pentecoste se multiplicou pelo Nordeste. Atualmente, são 11 estações de piscicultura criadas em vários Estados. Todas têm o mesmo objetivo: produzir alevinos e povoar reservatórios públicos e privados, garantindo o desenvolvimento da atividade e das oportunidades no campo.

"Todas as imagens dos açudes simbolizam o avanço, a continuidade dos projetos com o objetivo da garantia de água", ressalta Elias Fernandes.

Outro destaque é com relação aos perímetros irrigados. Em toda a região Nordeste são 38 perímetros que produzem frutas, grãos e hortaliças, além de produtos pecuários que garantem alimento para milhares de famílias e abastecem o mercado consumidor, movimentando o agronegócio. Os perímetros são divididos em lotes destinados a pequenos, médios e grandes produtores, além de empresas e técnicos agrícolas. A maioria dos perímetros irrigados mantém quantidade, qualidade e diversidade produtiva chegando, inclusive, a comercializar com o mercado internacional, como é o caso do Tabuleiros de Russas, na região jaguaribana cearense, que exporta melancia. Outro exemplo é o perímetro Brumado, no município de Livramento de Nossa Senhora, no Interior da Bahia, onde a manga ocupa 85% das áreas irrigadas, abastecendo mercados brasileiros e estrangeiros.

PISCICULTURA

100 mil larvas de tilápia são produzidas diariamente pelo Centro de Pesquisas em Aquicultura Rodolpho Von Ihering, em Pentecoste (CE)

MAURÍCIO VIEIRA
REPÓRTER

Fonte: Jornal Diário do Nordeste. Caderno Regional. Fortaleza, 22 de outubro de 2009.

Ceará - Cai 50% área do plantio de arroz

A notícia abaixo pode parecer ruim para a maioria, especialmente para os produtores. Mas eu a considero ótima. Não faz sentido produzir arroz no Sertão do Ceará! É água demais para para uma cultura só. Temos outras culturas mais econômicas, que melhor se adaptam ao solo e ao clima do Semiárido. Pensemos nisto.
Abraço a todos!
Suely


CENTRO-SUL (22/10/2009)

CULTIVO DE ARROZ irrigado na Lagoa do Barro Alto, onde os produtores amargam queda no preço do produto (Foto: HONÓRIO BARBOSA)

As várzeas de Iguatu e de Quixelô, na região Centro-Sul, são as maiores produtoras de arroz irrigado do Ceará

Iguatu. Os agricultores concluíram o plantio de arroz irrigado nas várzeas do Açude Orós, do Rio Jaguaribe e da Lagoa do Barro Alto. A área plantada neste ano sofreu uma queda de 50%, em relação a 2008, segundo estimativa dos produtores rurais. Três fatores contribuíram para a redução do plantio: baixo preço de comercialização, elevado custo de produção e inundação das áreas tradicionais de cultivo em decorrência das cheias dos açudes e lagoas.

A estimativa de queda pela metade da área cultivada em relação ao ano passado é confirmada pelo escritório regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão do Ceará (Ematerce), nesta cidade. As várzeas de Iguatu e de Quixelô, na região Centro-Sul, são as maiores produtoras de arroz irrigado do Ceará. Daí a importância econômica para esses dois municípios. A redução afeta a economia regional, gerando diminuição de receita no campo.

No ano passado, houve o inverso. A área cultivada foi ampliada em 60% em relação a 2007, chegando a 2 mil hectares. Tradicionalmente, o cultivo de arroz irrigado começa em julho e prossegue até fins de setembro, mas, neste ano, o período chuvoso foi prolongado e o plantio se estendeu um pouco mais. A produtividade média é de 6 mil quilos por hectare. A produção para a safra deste ano deverá ser de apenas 60 mil toneladas, isto é, metade da colheita de 2008.

O cultivo é feito nas lagoas de Barro Alto, Iguatu; nas várzeas do Rio Jaguaribe, nas regiões de Cardoso, Quixoá, Santa Rosa e nas tradicionais vazantes do Açude Orós. Em face da cheia dos reservatórios, muitas terras férteis ficaram inundadas. A colheita, na maioria das áreas, começa em dezembro e deverá ser concluída até a primeira quinzena de janeiro próximo.

Nesta mesma época no ano passado, o preço da saca de 60kg do arroz em casca, novo, era comercializado por R$ 40,00, mas hoje está por apenas R$ 30,00. Uma queda de 25% que deixou os produtores tristes e revoltados. "Do jeito que está não compensa mais produzir arroz", disse o agricultor, Marconi Chagas Silva, que plantou na localidade de Várzea Grande, no distrito de José de Alencar, três hectares. "No ano passado, plantei um pouco mais do que o dobro", lembra.

Além da queda do preço de comercialização da saca do arroz, o custo de energia elétrica, segundo os produtores, inviabilizam a produção. "Está muito elevado e não há incentivo", disse Silva. "Se o quadro atual persistir, no próximo ano haverá mais redução da área de cultivo", prevê. "Por aqui todos estão desestimulados".

O agrônomo da Ematerce, Jaime Uchoa, que há mais de duas décadas acompanha a produção de arroz nas várzeas de Iguatu, confirma a queda da área de cultivo em pelo menos 50%. "O Orós está cheio, as áreas produtivas estão encobertas e o preço atual não favorece a produção", frisou. "Não entendemos o porquê da queda de preço, pois estamos na entressafra". Ele acredita que os empresários das indústrias de beneficiamento de arroz mantêm um preço definido em decorrência de acordo prévio. "O preço caiu para os produtores, mas não para os consumidores, nos mercantis e mercearias", observou. "Parece que há um cartel do setor". Essa mesma desconfiança têm os agricultores.

Custos de insumos

"Infelizmente, houve neste ano uma queda do plantio", disse o secretário de Agricultura de Iguatu, Valdeci Ferreira. "No ano passado, a situação era favorável". Ferreira também concorda que, com o preço praticado atualmente, a cultura torna-se inviável em decorrência dos elevados custos dos insumos, em particular da energia elétrica utilizada na irrigação. "As várzeas são áreas próprias para o cultivo de arroz, de cultura de ciclo curto", disse. E por que os agricultores insistem na atividade se o lucro é pouco? Uchoa tem a resposta: "Não há alternativa e o jeito é o agricultor arriscar, enfrentar a situação na esperança de que a situação vai melhorar até a colheita".

IRRIGADO

1.000 hectares é a área estimada de produção de arroz irrigado nas várzeas do Açude Orós, município de Iguatu, um dos maiores produtores do Estado

Mais informações
Ematerce em Iguatu
(88) 3581.9478
Sec. de Agricultura de Iguatu
(88) 3581.6527

HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER

Fonte: Jornal Diário do Nordeste. Caderno Regional. Fortaleza, 22 de outubro de 2009.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=682293